11 de outubro de 2021

Queremos aparecer, isso não é detalhe

 

Por Alexandre Lucas, Colunista

O Cultura Viva enquanto política pública e posteriormente como política de estado, o qual ficou conhecido a partir dos Pontos de Cultura, é substancialmente uma metodologia e campo de disputar para repensar a relação da sociedade civil e o poder público, no tocante, ao reconhecimento, o aparecimento e a legitimação do protagonismo dos sujeitos e de suas organizações, nos territórios e nos lugares.

O Cultura Viva coloca em evidência o conflito, as contradições e a fragilidade do conceito de gestão democrática e participativa, em especial, no âmbito dos municípios, onde as disputas são mais acirradas.

Reconhecer o papel e o protagonismo dos movimentos sociais na deliberação das políticas públicas, no controle social e no aparecimento da comunicação institucional continua sendo um desafio, um espaço para ser conquistado.

Decolonizar parece ser um termo conveniente para romper com uma lógica de pensamento hegemônico de política pública baseada na negação deliberada do aparecimento das vozes e ações oriundas da sociedade civil, o indeferimento do conflito e da contradição com tática política de silenciamento dos movimentos sociais e o equivocado discurso de gestão democrática e participativa que não se sustenta quando se apresentam  as vozes das  contraposições, das discordâncias e das oposições.

A democracia não é um conjunto de iguais, pelo contrário, é um caminho divergente. É na divergência que se constrói a democracia, dito de outra forma, é com a  participação de diversos e divergentes  sujeitos e organizações sociais que se constrói uma gestão democrática e participativa. Não se constrói democracias entre iguais, pelo contrário se alicerça a ditadura ou distanciamento do conceito democracia que não é uno, mas que está longe ser um conjunto de compreensões de iguais.

O Cultura Viva enquanto perspectiva de política pública e de movimento social tem muito para nos ensinar sobre gestão democrática e participativa. Precisamos ficar atentos e desmascarar as tentativas constantes de ataques à democracia ventiladas e orquestradas de forma mais nítida e robustas pela direita representada por um discurso que elege a participação e a democracia como inimigas.

Por lado os setores do campo democrático e progressista, incluindo setores da esquerda, precisam aprofundar o debate sobre a necessidade do protagonismo dos sujeitos e de suas organizações na construção e deliberação das políticas públicas, tendo em vista que é notório, ainda, uma visão romanceada de democracia por alguns setores, baseada em concepções negacionistas do conflito, da contradição e da luta de classes.  O diálogo e o consenso não é em hipótese alguma uma homogeneidade numa sociedade dividida antagonicamente em classes sociais irreconciliáveis.

Qual a necessidade do protagonismo dos sujeitos e de suas organizações na deliberação das políticas públicas? Se queremos aprofundar os mecanismos de participação e de acessibilidade das políticas públicas, minimamente os espaços, os micros espaços de poder, precisam ser compartilhados. Neste sentido é preciso também mudar a direção do holofote da comunicação institucional, democratizar a comunicação é um ato político, que orienta quem deve protagonizar as narrativas.

Historicamente, os sujeitos e suas organizações foram excluídos do direito de participar e decidir sobre as políticas públicas e consequentemente de aparecer enquanto construtores da democracia. Isso não é  um detalhe, é uma deliberação.

Participar, decidir e aparecer é indispensável para que os movimentos sociais ocupem outro lugar na esfera da política pública. Afinal, é sempre importante entender que a comunicação cumpre uma função política central na ocupação dos espaços de poder e isso nunca foi detalhe.         

10 de outubro de 2021

Após salvar o Brasil da Covid, ciência recebe do governo um cuspe na cara

(FOTO/ Reprodução).

O corte de R$ 600 milhões nos recursos previstos para o Ministério da Ciência e Tecnologia reforça o equívoco de quem afirma que o governo Bolsonaro acabou. Pelo contrário, ele segue a todo vapor no seu principal objetivo: desconstruir o país para reconstruí-lo à sua imagem e semelhança. E na realidade paralela do bolsonarismo, ciência muitas vezes é um problema, não a solução.

Entidades científicas avisam que a tungada - realizada pelo Congresso Nacional a pedido do ministro da Economia, Paulo "Ilhas Virgens" Guedes - reduzirá o financiamento e, por conseguinte, a produção de conhecimento no Brasil. No ano em que a ciência nos salvou do charlatanismo, do curandeirismo e do negacionismo, ela recebe um cuspe na cara como agradecimento.

O Brasil ficou menor durante a pandemia porque o governo e seus aliados deram as costas para médicos e cientistas, promovendo tratamentos e remédios ineficazes, atacando o isolamento social, afirmando que vacinas transformariam pessoas em jacarés ou matariam adolescentes, fazendo experimentos em cobaias humanas.

O epidemiologista Pedro Hallal, da Universidade Federal de Pelotas, calcula que mais de 400 mil das 600 mil mortes foram desnecessárias.

O bolsonarismo elabora seus planos visando às suas necessidades políticas e econômicas, da reeleição ao lucro fácil. Qualquer entrave colocado no caminho de seus objetivos é atacado violentamente. Nesse contexto, a ciência, que expõe as mentiras de Bolsonaro, tem sido asfixiada - o orçamento do CNPq, que financia a pesquisa nacional, neste ano, é 38% do que era em 2013.

A tragédia é que Bolsonaro está nos condenando a um apagão de conhecimento nas próximas décadas, uma vez que projetos científicos não são ligados e desligados do dia para a noite. A redução no orçamento para pesquisa não apenas atrapalha processos em andamento, mas desestimula os novos cientistas a persistirem na carreira.

O mais desconcertante é que para além de cortes por necessidades orçamentária, a porrada de R$ 600 milhões nos recursos a serem destinados ao ministério e ao CNPq faz parte do projeto de desmonte do governo Bolsonaro. O presidente, que vê os fatos como inimigos, precisa reduzir o país a cinzas para reergue-lo sob novas bases.

"
Nós temos é que desconstruir muita coisa. Desfazer muita coisa. Para depois nós começarmos a fazer. Que eu sirva para que, pelo menos, eu possa ser um ponto de inflexão, já estou muito feliz
."

A declaração dele, dada a lideranças de extrema direita em um jantar nos Estados Unidos em março de 2019, vai ao encontro da desconstrução de um país minimamente iluminado pela razão e por fatos por um baseado em superstições e mentiras, no qual ele próprio possa ser, como diria o Evangelho de João, capítulo 14, versículo 6, o caminho, a verdade e a vida.

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Por Leonardo Sakamoto em seu blog. Leia a íntegra aqui.

Como o Racismo criou o Brasil, livro de Jessé Souza

 

Jessé Souza. (FOTO/ Reprodução).

O tema do racismo é reconstruído desde o início da civilização ocidental até nossos dias, de modo a permitir uma compreensão fundamental: a de que todo processo de desumanização e animalização do outro assume as formas intercambiáveis de racismo cultural, de gênero, de classe e de raça.

Perceber as diferentes facetas do racismo possibilita não se deixar fazer de tolo, por exemplo, quando o racismo racial assume outras máscaras para fingir que se tornou guerra contra o crime, como se a vítima não fosse sempre negra, ou luta contra a corrupção, usada contra qualquer governo popular no Brasil que lute pela inclusão de negros e pobres.

Apenas uma abordagem multidimensional permite efetivamente perceber como o racismo racial sempre esteve no comando da iniquidade da sociedade brasileira, da escravidão até hoje. Ao desvendar todas as máscaras de que o afeto racista se recobre para continuar vivo fingindo que morreu, podemos enfim perceber o racismo racial como a verdadeira causa de todo o atraso social, econômico e político do Brasil.

"Como o racismo criou o Brasil" veio para levar a outro patamar de sofisticação teórica a discussão sobre o racismo no Brasil e para jogar luz sobre todo o ódio e todo o ressentimento social com que nos deparamos hoje em dia. O debate está posto!

Sobre o autor

JESSÉ SOUZA é graduado em Direito e mestre em Sociologia pela Universidade de Brasília, a UnB, doutor em Sociologia pela Universidade de Heidelberg, na Alemanha, com pós-doutorado em Psicanálise e Filosofia na The New School for Social Research, em Nova York.

Professor titular da Universidade Federal do ABC, professor convidado da Universidade de Sorbonne, Paris I, e pesquisador sênior da Universidade Humboldt, em Berlim, ele coordenou diversas pesquisas empíricas de amplitude nacional e internacional sobre desigualdade, preconceito e classes sociais no Brasil e no mundo.

É autor de mais de 30 livros e de uma centena de artigos e ensaios em vários idiomas. Entre seus maiores sucessos se destacam A elite do atraso, A classe média no espelho e A guerra contra o Brasil.

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Com informações da Amazon.

9 de outubro de 2021

Nos encontramos na rua

 

Alexandre Lucas. (FOTO/ Reprodução).

Por Alexandre Lucas, Colunista

Sei que não sabia ler ainda, nem vasculhar o mundo, tinha menos de uma década. Foi no meio da rua que nos encontramos pela vez, era dia, ela, maior que eu, bem maior, por algum tempo nos encontramos no mesmo lugar, sempre em silêncio, mas com olhos de querer saber. Ficava naquele imenso muro, sozinha, não tinha como ficar despercebida.

Depois ela desapareceu, não deixou cartas, nem pistas. Fiquei sem notícias. Já tinha passado mais de uma década, ainda pequeno para a dimensão do mundo. Em uma noite encontrei algumas delas, numa grande rua, dançavam, altas e brilhosas. Pareciam até uma fábrica de sonhos, meus olhos brilhavam como cetim. O céu parecia um mar vermelho, cheio de ondas que faziam cambalhotas de esperança.

Depois já éramos tão próximos, tínhamos tanta intimidade que carregamos nos braços da razão. Já descobria sobre os desaparecimentos e os silêncios.

Já não conseguem apagar você, nem separar os nossos caminhos. Enquanto existem punhos que cruzam braços, outros pintam foices e martelos pelas ruas para construírem redemoinhos.  

NUAFRO abre inscrições para bolsistas para pesquisa sobre Antirracismo e Serviço social

 

(FOTO/ Reprodução).

Por Nicolau Neto, editor

O Laboratório de Estudos e Pesquisas em Afrobrasilidade, Gênero e Família (NUAFRO), vinculado à UECE, abriu Edital de seleção para bolsistas do PROGRAMA BICT/FUNCAP (2021 – 2022) com a finalidade de preencher 02 vagas para o Projeto de Pesquisa sobre “Antirracismo e Serviço social: ánalise da questão racial na pós-graduação em serviço social.”

Segundo o NUAFRO, a seleção se dará por meio do preenchimento da ficha de inscrição no Google Forms e envio para o e-mail: laboratorionuafro@gmail.com e os/as concorrentes terão que encaminhar uma redação com o seguinte tema acerca da Questão Racial e a Formação Profissional do Serviço Social na Contemporaneidade. A proposta do texto deve ser encaminhada até às 23:59 deste sábado, 09.

De acordo ainda com o edital do NUAFRO, a seleção será composta ainda de uma entrevista no formato remoto pelo Google Meet, dos/as candidatos/as selecionados/as, o link e as demais informações serão enviados pelo e-mail inscrito na presente ficha (Dia 11/10);

Quem se inscreveu, deve ficar atento aos prazos. O resultado final dos/as candidatos/as será divulgado dia 12 do mês em curso.  Passado essa fase, será encaminhado os/as selecionados/as, dia 13, as orientações referentes ao envios das documentações de acordo com o Protocolo de Entrega de Documentos.

Para mais informações, leia o Edital aqui.

8 de outubro de 2021

Ministério da Economia corta 92% dos recursos destinados à Ciência

Congresso aprova corte de 92% de recursos da Ciência a pedido do Ministério da Economia.(foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

O Congresso Nacional aprovou nesta quinta, 7, um projeto que abre crédito suplementar de R$ 690 milhões a serem investidos no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações. Contudo, a pedido do Ministério da Saúde, 92% da quantia será investida em outros ministérios, sobrando apenas R$ 55,2 milhões que serão destinados, de fato, à Ciência (cerca de 8%).

Dentre a lista de outros ministérios que serão beneficiados com os 92%, está o Ministério do Desenvolvimento Regional, que receberá R$ 150 milhões para ações de proteção e Defesa Civil na gestão de riscos e desastres; R$ 100 milhões para a integralização de cotas de moradia do Fundo de Arrendamento Residencial e R$ 2,2 milhões para obras de infraestrutura hídrica. O Ministério da Educação vai receber R$ 107 milhões, para a concessão de bolsas de estudo no ensino superior e o Ministério da Saúde vai ficar com R$ 50 milhões, para o saneamento básico.

Em nota enviada por oito entidades científicas ao Senado, eles afirmam que “dá-se com uma mão, para retirar com a outra”, e pedem que a retirada dos recursos seja revista

Sem o dinheiro, poderá haver a perda de bolsas e a suspensão do Edital Universal do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Atualmente, o orçamento do Conselho chegou a um dos menores valores desde 2001.

A medida segue agora para sanção do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
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Com informações do O Povo.

Sueli Carneiro deixa conselho editorial da Folha de S. Paulo

 

Sueli Carneiro.(FOTO/ Divulgação).

A filósofa e escritora Sueli Carneiro, pediu o seu desligamento do conselho editorial do jornal Folha de S. Paulo. A informação foi divulgada pela Folha, após reunião do conselho, nesta quinta-feira (7).

A saída de Sueli Carneiro ocorre dias depois do jornal publicar uma artigo do colunista Leandro Narloch, em que ele relativiza a escravidão de mulheres negras, em texto intitulado “Luxo e riqueza das ‘sinhás pretas’ precisam inspirar o movimento negro”. Em resposta, o advogado Thiago Amparo, que integra o conselho editorial da Folha, classificou o artigo como racista e o jornal como conivente por publicá-lo.

Na coluna, Narloch argumentou que o movimento negro de hoje deve se inspirar nos negros escravizados que ascenderam socialmente. Em um trecho ele diz: “os negros foram escravizados, assassinados e estuprados no sistema escravocrata, mas olhem para o lado bom: meia dúzia de sinhás ascenderam socialmente dentro desse sistema”.

A sinhá preta é um personagem poderoso porque complica narrativas de ativistas. As negras prósperas no ápice da escravidão são uma pedra no sapato de quem acredita que ‘o capitalismo é essencialmente racista e machista’ e que o preconceito é uma força determinante […]”, disse Narloch, em mais um trecho da coluna, utilizando a mesma tática que em seu livro “Guia do Politicamente Incorreto”.

Durante o encontro da Folha, o economista Joel Pinheiro da Fonseca defendeu que o jornal não pode afirmar que Jair Bolsonaro mente, porque, segundo ele, isso “afasta o leitor”. José Henrique Mariante, também parte da Folha de S. Paulo, afirmou, no dia 3 de outubro, que a empresa manterá em seus quadros o jornalista Leandro Narloch.

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Com informações do Notícia Preta.

7 de outubro de 2021

Ministro da Educação diz que Brasil tem “universidades em excesso”

 

(FOTO/ Arthur Menescal/Especial Metrópoles).

Durante evento realizado na última terça-feira (5), em uma igreja evangélica, o ministro da educação, Milton Ribeiro, que também é pastor, criticou o número de universidades públicas criadas em governos anteriores, indicando que há um excesso de instituições de ensino superior no país.

De acordo com o ministro, a maior parte das instituições de ensino superior precisa oferecer reforço aos estudantes recém-ingressos. “Meninos que chegam para fazer engenharia que não sabem fazer uma regra de três”, criticou ele.

O alicerce na educação é a alfabetização. Como é que se pode imaginar alguém construir uma casa começando pelo telhado? Quando falo em universidade, como falam que foi democratizada, encheram de telhados, esqueceram do alicerce. O que nós temos hoje: jovens que são analfabetos funcionais, não entendem o que leem”, disse Milton Ribeiro. Segundo ele, o foco do ensino deve estar nos níveis básicos, com foco na alfatabetização.

O ministro criticou ainda os governos que antecederam a gestão de Bolsonaro. Segundo Ribeiro, eles deixaram “uma herança ruim” ao país. “Tivemos 20 anos de governo de esquerda, que levaram o país a essa situação. Eu estou colhendo frutos. Estou me esforçando em um ano de pandemia, com poucos recursos. Parece que o governo Bolsonaro é essa terra arrasada”, disse o ministro, em setembro deste ano, na Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado Federal.

Milton Ribeiro e outros ministros de Estado participaram do “Simpósio Cidadania Cristã”, promovido pela Confederação dos Conselhos de Pastores do Brasil (Concepab). O evento é realizado na Igreja Batista Central, em Brasília, e deve contar ainda com a presença do presidente Bolsonaro.

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Com informações do Notícia Preta.