13 de novembro de 2017

Segundo professor e cientista político, ‘Cenário das eleições de 2018 será parecido com o de 1989'


A falta de capacidade dos partidos de coordenarem o jogo político tornará o cenário das eleições de 2018 igual ao de 1989, ou seja, bastante fragmentado. Essa é a avaliação do cientista político e professor da Universidade Federal do ABC (UFABC), Vitor Marchetti. "Um candidato que receba 25% ou 30% de votos pode ter muitas chances de disputar segundo turno", afirma, em entrevista aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria à Rádio Brasil Atual, nesta sexta-feira (10).

O especialista também avaliou a disputa que acontece no PSDB. Nesta quinta-feira (9), o senador Aécio Neves (MG) destituiu o também senador Tasso Jereissati (CE) da presidência do partido. "Essas disputas no PSDB parecem uma questão de sobrevivência do partido para 2018, porque há o risco de a legenda ter iniciado todo o processo do golpe parlamentar e não conseguir capitalizar eleitoralmente isso", avalia.

Leia a entrevista completa clicando aqui

Marchetti: 'jogo está pulverizado. Terá muita novidades de nomes que não esperávamos, mas vão aparecer'.
(Foto: Juca Varella/ Agência Brasil)

12 de novembro de 2017

New York Times faz matéria sobre caso de racismo de Waack e cita Fórum


O jornal americano The New York Times fez matéria nesta sexta-feira (10), sobre o caso do jornalista William Waack, cujo vídeo gravado fazendo comentários racistas vazou nesta semana, provocando a demissão do jornalista.

A matéria do NYT, com o título “‘It’s a Black Thing’: Offensive Quip Becomes a Rallying Cry in Brazil” (‘É coisa de Preto’: Expressão Ofensiva se Torna um Grito de União no Brasil) traz foto e link do Canal Fórum no YouTube, da Revista Fórum, que foi uma das primeiras (senão a primeira) a dar o assunto que, logo após, explodiu nas redes.

No texto, o jornal afirma que “os brasileiros negros se reapropriaram da expressão insultante ‘É coisa de Preto’, dita por um proeminente âncora de TV, para chamar a atenção para as contribuições de brasileiros de ascendência africana e também para o persistente impacto da descriminação racial no Brasil”.

A matéria descreve o caso em detalhes e diz que, logo após o vídeo começar a circular nas redes, ocorreu uma reação rápida e indignada. “Na quarta-feira a expressão ‘É Coisa de Preto’ foi parar nos trend topics do Twitter no Brasil”.

O texto lembra também que “o Brasil foi o último país das Américas a abolir a escravidão, em 1888. Durante três séculos, cerca de quatro milhões de africanos foram levados para lá e forçados a trabalhar em campos, minas e casas particulares. Hoje, pouco mais de 50% dos brasileiros se identificam como negros ou biraciais, e muitos brasileiros dizem que há uma harmonia racial no Brasil que não existe nos Estados Unidos”.

O NYT lembra, no entanto que “os números apontam para uma realidade diferente: o Brasil é um país onde a expectativa de vida dos homens negros é consideravelmente menor do que para os brancos e onde as pessoas de ascendência africana ganham 36% menos do que os brasileiros não negros”. (Com informações do Portal Fórum).

(Reprodução/ Portal Fórum).

Câmara paga aposentadoria de Geddel e Henrique Alves, que estão presos


A Câmara dos Deputados desembolsa mensalmente R$ 62.114,26 para o pagamento da aposentadoria de dois ex-deputados federais presos.

Os ex-ministros do governo Temer Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) e Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) recebem, respectivamente, R$ 41.760 e R$ 20.354,26 mil pelos benefícios.

A informação foi obtida pela Coluna do Estadão por meio da Lei de Acesso à Informação.


Geddel está preso na Papuda, em Brasília, desde 8 de setembro. Já Henrique Alves está na Academia da Polícia Militar do Rio Grande do Norte. (Com informações do 247).


11 de novembro de 2017

Nova Olinda –CE: “Sobre o PL 16/2017: o direito que acham que tem?”, por Francisco Pedro*


Primeiramente, gostaria de parabenizar a todos que estiveram presente na sessão na Câmara de Vereadores de Nova Olinda e manifestaram-se contrários a tal proposição. Que bom ter visto colegas assistentes sociais, empenhados na “eliminação de todas as formas de preconceito, incentivando o respeito à diversidade, à participação de grupos socialmente discriminados e à discussão das diferenças”, conforme preceitua o Código de Ética da categoria.

No vídeo (clique aqui e confira), destaco um trecho da falar do vereador Adriano, quando o mesmo afirma que apresentou o projeto e agora - os contrários à proposição - corressem atrás do direito que eles acham que tem. A fala é icônica, por demonstrar o quanto o Direito vem sendo substituído por juízos morais. Lênio Streck, constitucionalista brasileiro, afirma que “A democracia dos séculos XX e XXI apenas se consolidou porque o Direito foi um instrumento fundamental para filtrar a política e os juízos morais. E não o contrário. Quer dizer, se é a moral que filtra o Direito, então não há mais Direito”.

Léo Rosa de Andrade, Doutor em Direito pela UFSC e Professor da UNISUL (SC), em artigo intitulado “Religiosos, ideologia de gênero, Barroso, Einstein”, publicado na Empório do Direito, destaca que os evangélicos, “Para restabelecer o que consideram a “moral” e os “bons costumes” dignos de serem restabelecidos, pregam, aconselham, imprecam, militam, protestam, censuram, processam, legislam. Diatribes fundadas na “palavra do senhor””.

Francisco Pedro. (Foto: Reprodução/ Facebook).
Assisti a sessão pela internet e fiquei envergonhado com os argumentos utilizados por aqueles que defendem o PL 16/2017, principalmente, pelo fato de relacionar a discussão da questão de gênero na escola a um ato de doutrinação dos nossos estudantes, direcionando-os a uma determinada orientação sexual. Há uma clara distorção, até porque discutir gênero não é apenas abordar o lugar reservado nesta sociedade homofóbica ao segmento LGBT, mas também discutir o papel atribuído a mulher nesta mesma sociedade. Discutir gênero e orientação sexual, “significa ajudá-los a compreender a sexualidade e protegê-los contra a discriminação e a violência". O Grupo Gay da Bahia aponta que, em 2016, ocorreu 347 assassinatos de LGBT, sem contar as agressões físicas e verbais. E essa visão conservadora de que ser LGBT é anormal, que é contra os preceitos divinos, contribuí para estes atos de violência e “apedrejamento moral”.

Numa das falas, questionou-se o porque de se fazer leis específicas para determinado segmento da população. A resposta a isso, está no mesmo fundamento que se levou a aprovar a Lei Maria de Penha. A violência contra a mulher, o feminicídio, precisavam ser combatidos. Era necessário acabar com a impunidade no cenário nacional de violência doméstica e familiar contra a mulher e o CPB, neste sentido, não era muito eficiente. A violência doméstica era invisível.

Já que o nobre vereador fundamentou o projeto buscando argumentos na legislação brasileira e, diga-se de passagem, que todos foram utilizados de forma equivocada para o teor da discussão em pauta, o Ministro Luís Roberto Barroso, do STF, quando, em junho deste ano, deferiu liminar suspendendo lei similar aprovada em Paranaguá (PR), afirmou ser inconstitucional por usurpar competência privativa da União para legislar sobre diretrizes educacionais e normas gerais de ensino e que projetos como este, que impedem o “acesso a conteúdos sobre uma dimensão fundamental da experiência humana e para a vida em sociedade”, violam o princípio constitucional da proteção integral da criança e do adolescente.

Para Barroso, "Não tratar de gênero e de orientação sexual no âmbito do ensino não suprime o gênero e a orientação sexual da experiência humana, apenas contribui para a desinformação das crianças e dos jovens a respeito de tais temas, para a perpetuação de estigmas e do sofrimento que deles decorre". E continua: “(...) Significa valer-se do aparato estatal para impedir a superação da exclusão social e, portanto, para perpetuar a discriminação"”.

Em artigo publicado na Conjur, Lênio Streck, falando sobre o Estado policial, que produz ilegalidades relativizando o Direito, afirma que “a Constituição deve constituir-a-ação”. Assim sendo, sigamos manifestando o nosso pensamento, devemos nos colocar contrários a todas as proposições que violem os direitos duramente conquistados e garantidos na Carta Magna de 88 e Tratados Internacionais, mesmo sabendo que, para os conservadores, fundamentalistas, “manter coerência no discurso de defesa da Constituição por vezes soa antipático”.

Hasta la victória, siempre! (Publicado originalmente em seu perfil no Facebook).

* Francisco Pedro é natural de Nova Olinda, Assistente Social e Coordenador do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) do município de Itapajé

10 de novembro de 2017

Secretário de Educação do Ceará e Coordenador da Crede 20 rechaçam PL do vereador de Nova Olinda Adriano Dantas


O secretário de Educação do Estado do Ceará, Idilvan Alencar, usou a rede social facebook nesta quinta-feira, 09, para rechaçar a iniciativa do vereador de Nova Olinda, na região do cariri, Adriano Dantas (PSB) que pretende via Projeto de Lei nº 16/2017, proibir a discussão de gênero e sexualidade na rede pública de ensino desta municipalidade.

Adriano usou o mesmo argumento dos edis dos municípios vizinhos – Crato e Juazeiro do Norte, ao preferir denominar de “Ideologia de Gênero” as questões concernentes ao gênero e a orientação sexual, sendo, pois, proibida essa temática de ser discutida em sala por docentes. A atitude do edil gerou grande repercussão antes mesmo de ser apresentada na casa legislativa, caso ocorrido na sessão de ontem à noite. Professores, professoras, estudantes do ensino médio, universitários, ativistas dos direitos humanos e de movimentos sociais, além do Coordenador da Crede 20 (Brejo Santo), o professor Roberto Sousa.

O professor Roberto ao compartilhar nota de repúdio do Diretório Municipal do Partido dos Trabalhadores (PT – Nova Olinda) divulgada neste blog, afirmou que se junta a todos (as) que são contrários a matéria e ressaltou:

A iniciativa vai contra tudo aquilo que defendemos na educação. Somos a favor de uma escola crítica e reflexiva e que educa para o respeito a diversidade de gênero, religião, etnia e orientação sexual”.

Quem também rechaçou a proposta foi Idilvan Alencar, ao qual argumentou que o município “não merece ser exemplo nacional de escuridão”. O titular da pasta pediu respeito aos docentes e ressaltou que o debate que necessita ser travado é aquele em que se evita o preconceito:

Nossa linda Nova Olinda não merece ser exemplo nacional de escuridão .
Respeitem os professores e ajudem a criar cultura da tolerância e paz na sociedade. O debate é para evitar preconceito racial , sexual e religioso.”

A sessão ordinária da noite de ontem foi bastante movimentada e composta por muitas pessoas que usaram a tribuna para se manifestarem contrárias a proposta.

Em nota no facebook, o autor da matéria argumentou que o  “projeto não proíbe direitos e não se está defendendo um caráter religioso”. Segundo ele, está “exigindo respeito à própria legislação que assegura a defesa dos direitos dos pais sobre valores morais e inclusive religiosos. Essas questões estão no campo da moralidade”.

"É um ato em defesa da sociedade de um modo em geral, na questão da família, da criança e do adolescente. Apoiar esse projeto não é uma questão meramente religiosa, mas levam em conta os valores da família, que precisam ser preservados”, pontuou.

Idilvan Alencar (esq) e Roberto Sousa rechaçam PL de Adriano Dantas. Fotomontagem: Blog Negro Nicolau.

9 de novembro de 2017

Com Manuela e Ciro, pulverização à esquerda pode ser boa estratégia


A pré-candidatura da deputada estadual do Rio Grande do Sul Manuela D’Ávila (PCdoB) à Presidência da República quebra um “tabu” de mais de sete décadas.

O partido não tem candidato presidencial desde as eleições de 1945, com Yedo Fiúza, então prefeito de Petrópolis (RJ), quando o antigo “Partidão” ainda reunia na mesma sigla as que no início dos anos 1960 se dividiriam em PCdoB e PCB, ambos obrigados a atuar na clandestinidade até a redemocratização, nos anos 1980.

A indicação, anunciada no fim de semana pela legenda, é considerada uma estratégia para fortalecer outros nomes dentro do campo da esquerda, em uma eleição marcada pela incerteza e pela multiplicidade de nomes que deverão aparecer no pleito do ano que vem.

Segundo a presidenta do PCdoB, deputada federal Luciana Santos (PE), mais do que discutir nomes, o que o partido pretende é discutir projetos, com uma saída progressista para as crises simultâneas que o país enfrenta.

A dirigente afirma que é o “tempo político” que vai dizer se a candidatura de Manuela será irreversível, e que o PCdoB já deu “demonstrações irrefutáveis” de unidade pela esquerda.

Vamos fazer um exercício para saber o que a gente vai acumular no processo e ver qual é a melhor estratégia. O que nos interessa é o nosso campo ganhar as eleições do ano que vem. Lá na frente, vamos poder ter uma noção de qual será a melhor estratégia. Se é ter mais de uma candidatura, ou não”, diz Luciana.

Ela compara a pré-candidatura de Manuela D’Ávila à de Ciro Gomes (PDT), que também “mais contribui do que prejudica”, segundo Luciana, para o debate político à esquerda.

Em várias experiências nos estados, tem situações que, para a vitória do nosso campo político, muitas vezes, mais de uma candidatura ajuda. Há situações que não, em que é preciso unir.”

Segundo a deputada, a pré-candidatura do partido serve também de resistência à agenda neoliberal do governo Temer. Ela prevê consequências “tenebrosas” e “nefastas” de medidas do governo, como o congelamento dos investimentos por 20 anos, e a precarização das relações de trabalho com a reforma que entre em vigor no sábado (11), além de cortes em programas sociais de todo tipo.

Ao mesmo tempo, não falta dinheiro para o pagamento da dívida pública, para o mercado financeiro, pois 42% do orçamento vai para a ciranda financeira. É uma opção de Estado mínimo para o povo, e máximo para os rentistas”, diz.

Fator Lula

Por ser mulher e jovem, Manuela D’Ávila também representa a tentativa de disputar votos dessas parcelas do eleitorado. Além de trazer a discussão de gênero para a disputa, a candidata poderia enfrentar os arroubos machistas do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), também pré-candidato.

O cientista político Vitor Marchetti, da Universidade Federal do ABC (UFABC), lembra que não é pequeno o número de jovens que vêm aderindo a bandeiras conservadoras na política nos últimos tempos.

Ele acredita que uma eventual ruptura do PCdoB com o seu aliado histórico, o PT, pode aparentar dificuldade na coordenação política da esquerda. Mas avalia que a pulverização de candidaturas também pode ser uma estratégia, dadas as incertezas jurídicas relacionadas à presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na eleição – e à rejeição ao seu nome. Seria como ter mais de um cavalo na disputa pelo páreo, compara o cientista político.

Me parece que uma estratégia da esquerda é lançar várias candidaturas para tentar trazer para esse campo votos de eleitores que não vão com Lula. O que estou projetando, para o cenário do ano que vem é um número muito grande de candidaturas, comparado com 1989. A direita também não tem líderes capazes de reunir o campo inteiro. A esquerda talvez esteja reagindo da mesma forma. Com um número grande de candidaturas, a chance de se ter um candidato na casa dos 20% dos votos ir para o segundo turno é alta”, analisa Marchetti.

Ele acredita que candidaturas à esquerda, como a de Manuela, podem desaparecer, caso Lula se confirme como candidato. Mesmo nesse cenário, o professor diz que a “pulverização” poderia uma estratégia a se considerar. “Talvez usar outros nomes na linha de frente, disputando as eleições no primeiro turno, fazendo esse papel de atrair um eleitor que pode dialogar com a esquerda, com o campo progressista, mas tem resistências ao nome do Lula, seja uma estratégia inteligente”, avalia. (com informações da RBA/Viomundo).

Manoela foi lançada pre-candidata ao Planalto em 2018 pelo PCdoB.  (Foto: Divulgação).

8 de novembro de 2017

PT de Nova Olinda repudia projeto de lei que proíbe discussão de gênero e sexualidade na rede de ensino municipal



Circulou nas redes sociais durante todo o dia de ontem, 07, uma foto do Projeto de Lei que apresenta uma ementa similar aos já apresentados e discutidos nos municípios de Crato e Juazeiro do Norte. Neste primeiro o texto já foi inclusive aprovado pelo legislativo, aguardando sanção ou veto do prefeito Zé Ailton (PP).

Em Nova Olinda, o autor do Projeto de Lei que proíbe a discussão de gênero e sexualidade na rede pública de ensino desta municipalidade é o vereador Adriano Dantas, com assento na casa pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB). Pela imagem propagada, o edil preceitua no Art. 1º:

“- Fica proibida a distribuição, utilização, exposição, apresentação, recomendação, indicação e divulgação de livros, publicações, projetos, palestras, folders, cartazes, filmes, vídeos, faixas ou qualquer tipo de material, lúdico, didático ou paradidático, físico ou digital contendo manifestação de ideologia de gênero ou orientação sexual Rede das Escolas de Educação de Nova Olinda. ”

Segundo informações extraoficiais, o Projeto de Lei (imagem disponibilizada abaixo) ainda não foi apresentado, mas a pretensa intenção do psbista já mobilizou estudantes, universitários (as), professores (as), movimentos sociais, dentre outros setores que já estão se posicionando contrário ao texto.

A direção local do Partido do Trabalhadores (PT) já lançou nota repudiando o PL N.º 16/2017. Em contato com a redação do Blog Negro Nicolau, o presidente da agremiação que assina o documento, Aureliano Souza, informou que o repúdio representa o todo do partido.
O conceito de gênero desmistifica as teses que atribuíam suposta inferioridade à mulher por questões biológicas, mostrando que isso não passa de uma ideologia patriarcal, em prol de uma pretensa “superioridade masculina” e não como um “dado da natureza”, como já se pretendeu e muitos ainda pretendem. O conceito de gênero facilita a identificação e a luta contra androcentrismos que visam manter o homem em posição privilegiada, em detrimento da mulher, donde ele ajuda a buscar a emancipação feminina na luta pela igualdade entre os sexos”, diz a nota ao justificar a importância das escolas se abrirem para esta temática.

Confira a nota de repúdio

PARTIDO DOS TRABALHADORES -PT
DIRETÓRIO MUNICIPAL DE NOVA OLINDA/CE
NOTA DE REPÚDIO AO PL N º 16/2017 DE AUTORIA DO VEREADOR ADRIANO DANTAS - PSB

O Diretório Municipal do Partido dos Trabalhadores – PT de Nova Olinda/CE, vem, por meio desta nota, manifestar total repúdio ao projeto de lei n.º 16/2017, de autoria do vereador Adriano Dantas – PSB, que determina a proibição de adoção de formas tendentes à aplicação de ideologia de gênero ou orientação sexual na rede municipal de ensino.

Senhor vereador, analisando a proposição, cumpre destacar as seguintes premissas aplicáveis ao tema:

1) a laicidade estatal, abraçada pela Constituição Federal, impõe a separação entre política e religião. Neste sentido, torna-se fundamentalista a postura de restrição do debate institucional em função de crenças pessoais, às quais se deve destinar o máximo respeito, mas que não podem nortear, em qualquer hipótese, a atuação de um Estado Democrático de Direito como o brasileiro.

2) a total inconsistência do termo “ideologia de gênero” recorrente nos espaços parlamentares, conduziu informação distorcida sobre referida previsão nos planos educacionais, reduzindo-se ao falacioso combate de uma pretensa doutrinação da sexualidade do corpo discente.

3) O diálogo com a realidade concreta afirma o potencial ofensivo da medida, não só no campo simbólico, mas no próprio campo da corporalidade dos(as) estudantes. Por conta disso é que nunca se pretendeu que a educação se curvasse a uma ideologia, mas sim que a educação promovesse transformações efetivas em um gritante cenário de discriminação como o brasileiro.

Apenas a título de exemplo, de acordo com o Mapa da Violência de 2015, o Brasil ostenta, vergonhosamente, o 5º lugar no ranking mundial de feminicídios. Já no ranking por homofobia, conforme o Grupo Gay da Bahia, alcança o 1º lugar mundial, sendo responsável, sozinho, por 44% de todas as execuções ocorridas no ano de 2011. A Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) subscreveu recentemente esteúltimo dado e nele incluiu, ainda, o índice recordista de assassinato de transsexuais em nosso território. A Universidade de São Paulo e o Ministério da Educação, em complemento, atestaram em pesquisa promovida em escolas de 27 estados, com aproximadamente 20 mil entrevistados (as), algum nível de preconceito em relação a gênero e à orientação sexual em cerca de 90% deles.

Senhor vereador, parlamentares como vossa senhoria, que não veem com bons olhos a discussão de gênero no ambiente escolar utilizam-se do famoso argumento do espantalho: criam um monstro, inexistente na prática, para assustarem a população e parlamentares país afora, e defenderem que este monstro estaria nas expressões “gênero”, “identidade de gênero” e “orientação sexual”.

O conceito de gênero desmistifica as teses que atribuíam suposta inferioridade à mulher por questões biológicas, mostrando que isso não passa de uma ideologia patriarcal, em prol de uma pretensa “superioridade masculina” e não como um “dado da natureza”, como já se pretendeu e muitos ainda pretendem. O conceito de gênero facilita a identificação e a luta contra androcentrismos que visam manter o homem em posição privilegiada, em detrimento da mulher, donde ele ajuda a buscar a emancipação feminina na luta pela igualdade entre os sexos.

Eis a importância das escolas trabalharem questões de gênero: não para “doutrinar” quem quer que seja, mas para explicar as relações de poder faticamente existentes e incentivar a busca da igualdade real entre homens e mulheres–e, numa perspectiva mais ampla, de identidades de gênero, entre pessoas cisgêneras e transgêneras. Nada além, portanto, do cumprimento das imposições constitucionais constantes dos arts. 3º, IV, e 5º, I, da CF/88, no que tange à vedação de toda e qualquer forma de discriminação, bem como no respeito ao livre desenvolvimento da personalidade das pessoas humanas em um mundo pluralista como o nosso (e nossa Carta Magna impõe o respeito ao pluralismo social).

Além disso, nobre vereador, exemplos do nosso passado colonial e o registro de práticas sociais menos antigas revelam o tratamento preconceituoso, excludente e discriminatório que tem sido dispensado à vivência homoerótica em nosso País.

Por isso, é que se impõe proclamar, agora mais do que nunca, que ninguém, absolutamente ninguém, pode ser privado de direitos nem sofrer quaisquer restrições de ordem jurídica por motivo de sua orientação sexual.

Isso significa que também os homossexuais têm o direito de receber a igual proteção das leis e do sistema político-jurídico instituído pela Constituição da República, mostrando-se arbitrário e inaceitável qualquer estatuto que puna, que exclua, que discrimine, que fomente a intolerância, que estimule o desrespeito e que desiguale as pessoas em razão de sua orientação sexual.

Pugnar pela relevância do debate significa, pois, comprometer-se com a reversão de quadros como o citado, ao tempo que excluí-lo ou, ainda pior, proibi-lo, significa oficializar, pelas mãos do Estado, a barbárie. Significa armar este movimento que, ao negar a existência do plural, termina por punir o diverso, seja por olhares atravessados, seja por piores salários e condições de emprego, seja por agressões físicas e assassinatos recorrentes nas ruas e nos lares brasileiros.
Damião Aureliano Ferreira de Souza
Presidente do Partido dos Trabalhadores


Imagem que circula nas redes sociais. 

7 de novembro de 2017

Visita de Judith Butler ensina: ideologia de gênero e bruxas não existem


Temos que buscar espaços sem censura e medo (…) A maior parte das pessoas que convivem comigo passa por um momento de angústia política. Temos dores na cabeça e no estômago. Isso acontece quando passamos a perder esperanças e começamos a viver a injustiça”, afirmou a filósofa norte-americana Judith Butler nesta terça-feira (7). Uma das principais pensadoras na atualidade em questões como gênero e ética, ela está em São Paulo, onde ministrou palestras ontem (6) e hoje.

Sua presença despertou a ira de setores conservadores e de fundamentalistas cristãos brasileiros, que chegaram a promover uma petição para tentar censurar a palestrante. Não tiveram sucesso. Na noite de ontem, Judith falou no auditório da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), na Vila Mariana, zona sul da capital. Hoje, foi a vez do bairro da Pompeia, na zona oeste, receber no período da manhã a filósofa, na unidade local do Sesc.

Como esperado, os grupos que defendiam a censura compareceram à porta do Sesc. O resultado da perseguição foi o oposto. Coletivos em defesa da democracia também marcaram presença para garantir o debate, e compareceram em maior número. Enfim, o debate não só aconteceu como o previsto, como ganhou maior visibilidade. Auditórios lotados, milhares de espectadores via internet e centenas de pessoas escutaram Judith na calçada da rua Clélia, em frente à sede do Sesc Pompeia.

De um lado, antes da fala da filósofa, os presentes debateram, com um microfone aberto, os perigos da radicalização e do fundamentalismo. “Estamos vendo uma questão delicada, vivendo um período de censuras. Isso nos faz enxergar como a democracia está em risco. Esse movimento tem um objetivo político e fala sobre ‘ideologia de gênero’, o que não existe”, disse a antropóloga Jacqueline Moraes Teixeira.

Esse movimento aproveitou a visita de Judith Butler para tentar impor sua agenda política, que vem sendo construída nos últimos tempos, como se viu na questão dos museus. Vivemos um conjunto de eventos que foi preparando para esse cenário trágico”, completou. A tragédia em questão ganhou fortes símbolos em meio aos conservadores. Eles carregavam crucifixos e bíblias, e queimaram uma boneca de bruxa com o rosto de Judith. “Queima no inferno, bruxa! Jesus tem poder”, diziam.

A voz de Judith

Em sua palestra, a filósofa afirmou que o “ódio vem do medo da diferença”. A pensadora possui uma carreira diversificada dentro das ciências sociais, e ganhou notoriedade por seus estudos sobre questões de gênero e feminismo, o que despertou o ódio que tentou censurá-la. Entretanto, o que esses movimentos talvez não soubessem é que o tema de suas palestras no Brasil nada tinha a ver com essas questões.

A pensadora veio ao Brasil para falar sobre sua mais nova obra: Caminhos Divergentes (2017), da editora Boitempo. No livro, Judith reúne conceitos judaicos e textos de pensadores palestinos para tentar encontrar formas de encerrar o conflito histórico na região. “O Estado de Israel não exemplifica o que as pessoas encontram no judaísmo, ao mesmo tempo, pode-se ler escritores palestinos para pensar com eles a dor do conflito e os futuros de uma coabitação”, disse.

O ponto central no livro é a proposição de uma coexistência pacífica entre os dois povos dentro do mesmo território. Um “Estado binacional”, como explicou. Isso para reverter injustiças promovidas pelo Estado israelense contra os palestinos. “Pode parecer estranho que escrevi um livro sobre o tema Israel e Palestina se você me conhece como pesquisadora de questões de gênero. Caminhos Divergentes é um livro que considero o que pode ser possível dentro da tradição judaica para estabelecer uma crítica ao Estado de Israel pela despossessão e subjugo do povo palestino desde sua fundação, em 1948”, disse.

Desde a formação do Estado israelense, mais de 5 milhões de palestinos foram expulsos de suas casas ou confinados em guetos modernos como Gaza. Judith, que é judia, argumenta que a crítica à política israelense nada tem de antissemita. “Alguns críticos suspeitam imediatamente: será que não é antissemita criticar o estado de Israel, pois ele representa o povo judeu? Talvez seja mais importante saber que muitos judeus que afirmam sua judaicidade não dão apoio ao Estado de Israel e não consideram que ele os represente. O motivo da crítica é que o Estado de Israel deveria ser democrático, tratando todos os cidadãos igualmente, independentemente de sua religião”, afirmou.

Os discursos da filósofa foram os mesmos ontem e hoje. Na Unifesp, ele foi acompanhado de uma apresentação da reitora da universidade, Soraya Smaili, também integrante do Instituto de Cultura Árabe, que trouxe Judith ao Brasil juntamente com a Universidade de São Paulo (USP), a Universidade da Califórnia em Berkeley, o Sesc, e a revista CartaCapital. “Judith é conhecida por ser uma voz crítica e muito bem fundamentada em seus escritos. Como genuína pensadora, trata questões do contemporâneo com engajamento, diálogo, dentro e fora da academia, com uma boa dose de afeto e humanidade”, afirmou Soraya.

Tornou-se extremamente conhecida por seus estudos de gênero, feminismo e teoria queer. Porém, é também uma voz ativa e engajada nas questões da violência e da injustiça social relativa às guerras, à transfobia, à tortura, à violência policial, ao antissemitismo e à discriminação racial de todos os tipos. Tem diversos livros publicados no Brasil, onde é particularmente querida e amada. Aqui, teremos a honra de ouvi-la falar sobre uma questão complexa do mundo contemporâneo, além de muito importante para a humanidade: a necessidade de uma convivência democrática radical entre israelenses e palestinos. Butler afirma que a judaicidade, em sua essência, está vinculada à justiça social e não à violência de Estado”, completou a reitora.

De fato, a filósofa usa como argumento, por exemplo, a Lei do Retorno de Israel, que permite aos judeus de todo o mundo cidadania no Estado israelense. Ela lembra que o país foi criado como um “santuário” para os refugiados judeus dos horrores do Holocausto durante a Segunda Guerra Mundial para que o povo pudesse ter o direito à cidadania. Direito que, de acordo com a pensadora, é suprimido dos refugiados contemporâneos e dos palestinos. “Acreditamos que os refugiados precisam de um lar, um lugar de pertencimento, algo que Israel foi para os judeus. Agora, se aceitamos o argumento para um grupo, temos que aceitar para o outro. Nenhum grupo pode ser destituído de pertencimento e cidadania. Falamos isso sobre o povo judeu e também dos palestinos, sírios, e do grande número de pessoas despossuídas”, disse.

Todo judeu pode pedir cidadania em Israel, sob a chamada Lei do Retorno. Mas a demanda palestina pelo retorno é negada por Israel. Então, um grupo de refugiados tem o direito de formar um Estado em terras palestinas e tirá-los de suas casas, enquanto outros não têm o direito de formar um Estado ou de ficar em suas terras. O conflito nasce desta contradição. Também significa que precisamos de uma política de refugiados consistente na região. Isso está na coabitação, em nos vermos como iguais, na dissolução do poder colonial e na abertura de cidadania dupla”, concluiu. (Com informações da RBA).

Intolerância conservadora não conseguiu censurar palestra da filósofa norte-americana. (Foto: Reprodução/Facebook).