11 de novembro de 2015

II Mostra Afro-brasileira da EEEP Wellington Belém homenageará Luísa Mahin e Oliveira Silveira


A Escola Estadual de Educação Profissional Welington Belém de Figueiredo, em Nova Olinda, realizará no próximo dia 20 de novembro a II Mostra Cultural Afro-brasileira e a I Mostra Cultural Indígena, visando promover ato reflexivo sobre a contribuição dos negros e negras, assim como também dos indígenas na formação da sociedade brasileira a partir de ações afirmativas desse grupo social. A ideia partiu do projeto intitulado “Cultura Afro-brasileira e Indígena na Escola” que gradualmente foi se tornando parte integrante e constante das discussões multidisciplinares, com destaque para a área de Ciências Humanas (História, Filosofia, Sociologia e Geografia).

O evento corrobora para a efetivação das Lei nº 10. 639/2003 e nº 11.645/2008 no ambiente escolar, tendo, portanto, a finalidade de quebrar paradigmas e os estereótipos quanto a inserção desses grupos sociais nos livros didáticos, quando são discutidos e, ou lembrados somente nos período colonial, regencial e imperial brasileiro, época em que o pais esteve sob o julgo português. Intenciona-se ainda trabalhar temáticas referentes aos grupos supracitados pelo viés dos que foram oprimidos. 

Luisa Mahin e Oliveira Silveira serão homenageados durante a II Mostra Cultural Afro-brasileira da EEEP Wellington
Belém de Figueiredo, em Nova Olinda, no próximo dia 20 de novembro.
Na oportunidade os alunos poderão demonstrar através de danças, documentários, vídeos, entrevistas, poemas, contos, lendas, rodas de conversas e debates parte do que vem sendo trabalhado em sala durante o ano letivo. Temas polêmicos e poucos discutidos no meio escolar também merecerão tempo para a análise e reflexão por parte do corpo discente, como por exemplo, Preconceito, Discriminação, Racismo, Genocídio desses dois grupos étnicos, Representatividade do Negro e do Indígena nos Espaços de Poder, Protagonismo Negro e Indígena, Movimentos Negros na Região do Cariri, Intolerância Religiosa para com as de matrizes africana e Cotas Raciais.

Dayze Vidal, do Pretas Simoa (Grupo de Mulheres Negras do Cariri) terá momentos de reflexão junto a comunidade escolar para discorrer acerca da temática “Identidade Negra”. Em 2014 ela pontuou sobre “A Implantação e a Aplicabilidade da Lei 10.639/03 nas Redes Públicas de Ensino”. O Grupo “CultuArte Capoeira”, do município de Altaneira, coordenado pelo professor/mestre Cesar Rodrigues demonstrará a força da Capoeira como símbolo de resistência negra à escravidão.

Dentre uma seleta lista de personalidades negras que fará parte de uma exposição, a mostra que tem como tema “Nunca se omitir, sempre ousar lutar” homenageará Luisa Mahin e Oliveira Silveira, dois dos mais importantes nomes e símbolos de luta, resistência e promotores da igualdade racial.

O evento está previsto para ter início às 7h30 (sete e trinta) da manhã e se estenderá até às 16h30 (dezesseis e trinta) da tarde.

Confira a biografia dos homenageados


Africana guerreira, teve importante papel na Revolta dos Malês, na Bahia. Além de sua herança de luta, deixou-nos seu filho, Luiz Gama, poeta e abolicionista. Pertencia à etnia jeje, sendo transportada para o Brasil, como escrava. Outros se referem a ela como sendo natural da Bahia e tendo nascido livre por volta de 1812. Em 1830 deu à luz um filho que mais tarde se tornaria poeta e abolicionista. O pai de Luiz Gama era português e vendeu o próprio filho, por dívida, aos 10 anos de idade, a um traficante de escravos, que levou para Santos.

Luiza Mahin foi uma mulher inteligente e rebelde. Sua casa tornou-se quartel general das principais revoltas negras que ocorreram em Salvador em meados do século XIX. Participou da Grande Insurreição, a Revolta dos Malês, última grande revolta de escravos ocorrida na Capital baiana em 1835. Luiza conseguiu escapar da violenta repressão desencadeada pelo Governo da Província e partiu para o Rio de Janeiro, onde também parece ter participado de outras rebeliões negras, sendo por isso presa e, possivelmente, deportada para a África.

Luiz Gama escreveu sobre sua mãe: "Sou filho natural de uma negra africana, livre da nação nagô, de nome Luiza Mahin, pagã, que sempre recusou o batismo e a doutrina cristã. Minha mãe era baixa, magra, bonita, a cor de um preto retinto, sem lustro, os dentes eram alvíssimos, como a neve. Altiva, generosa, sofrida e vingativa. Era quitandeira e laboriosa". Luiza Mahin teve outro filho, lembrado em versos por Luiz Gama, cuja história é ignorada.

Em 9 de março de 1985, o nome de Luiza Mahin foi dado a uma praça pública, no bairro da Cruz das Almas, em São Paulo, área de grande concentração populacional negra, por iniciativa do Coletivo de Mulheres Negras/SP.


Oliveira Ferreira Silveira nasceu em Rosário do Sul, no estado do Rio Grande do Sul, em 1941. Era filho de Felisberto Martins Silveira e de Anair Ferreira da Silveira. Criado na Serra do Caverá, zona rural famosa pela revolução de 1923, também conhecida como movimento armado. Oliveira Silveira formou-se em Letras (Português e Francês) pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS, foi pesquisador, historiador, poeta, e um dos idealizadores da transformação do 20 de novembro, no dia da consciência negra no Brasil.

A criação da Revista “TIÇÃO" que teve três edições, a primeira revista que surge abordando a temática racial e valorizando a cultura e o protagonismo de negros e negras notáveis da época e da história, foi sem dúvida um marco importante para o movimento negro e na carreira de Oliveira. Como Escritor e Poeta, publicou várias obras como Germinou em 1962, Poemas Regionais em 1968, Banzo, Saudade Negra em 1970, Decima do Negro Peão em 1974, Praça da Palavra em 1976, Pelô Escuro em 1977, Cinco Poemas em Cadernos Negros 3 em 1980 e também Poesia São Paulo no mesmo ano. Também teve participação no AXÉ - Antologia Contemporânea da Poesia Negra Brasileira publicado em 1982 pela Global Editora - São Paulo. Oliveira Silveira publicou crônicas, reportagens, contos e artigos. Participou com artigos e ensaios em obras coletivas, como o ensaio Vinte de novembro, história e conteúdo, no livro Educação e Ações Afirmativas, organizado por Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva e Valter Roberto. Também atuou em grupos como Razão Negra, Associação Negra de Cultura, Semba Arte Negra. Foi integrante da Comissão Gaúcha de Folclore, Conselheiro da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República – SEPPIR/PR, integrando, nesse órgão com status de Ministério, o Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial – CNPIR no período de 2004 a 2006.


10 de novembro de 2015

Desfazendo estereótipos: As religiões de matrizes africana



Do Portal A Cor da Cultura


As religiões de matriz africana foram incorporadas a cultura brasileira desde há muito , quando os/as primeiros/as escravizados/as desembarcaram no país e encontraram em sua religiosidade uma forma de preservar suas tradições, idiomas, conhecimentos e valores trazidos da África.

E assim como tudo que fazia parte deste universo, tais religiões – apesar de sua influência e importância na construção da cultura nacional – também foram perseguidas e, em determinados momentos históricos, até proibidas. Atualmente, os ataques mais expressivos às religiões de matriz africana vêm das chamadas religiões ‘neopentecostais’, que comumente as rotulam de ‘culto aos demônios’, ‘crendices’ e ‘feitiçarias’.

Toda essa ignorância com relação a essas culturas gera um ambiente propício para intolerância, proporcionando sofrimento aos praticantes e a todos/as aqueles/as que fazem parte da população negra, que tem os seu direito de pertença e identidade racial muitas vezes negado em função do racismo.

A ministra religiosa e Iyalorisá, Carmen Prisco, defende que para combater o racismo e a intolerância religiosa o governo brasileiro precisa reconhecer a contribuição dos africanos na construção da alma brasileira e tombar o candomblé como Patrimônio Cultural Intangível da Humanidade.



O Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade é uma distinção criada em 1997 pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura para a proteção e o reconhecimento do patrimônio cultural imaterial, abrangendo as expressões culturais e as tradições que um grupo de indivíduos preserva em respeito da sua ancestralidade, para as gerações futuras.

O candomblé representa o espaço onde a cultura dos escravizados que vieram para o Brasil está guardada, está sendo preservada e transmitida. Se as leis municipais continuarem fechando terreiros, não reconhecendo o lugar do sagrado que o nosso culto possui, em 50 anos não teremos mais candomblé e as pessoas não vão nem saber da história dos escravizados no Brasil”, destaca Carmen.

Para ela é função dos/as educadores/as levar estes conhecimentos para a sala de aula e contribuir para perpetuação dos valores civilizatórios de tradição africana. Ela inicia esse resgate histórico distiguindo a origem e história dos ancestrais africanos que vieram na diáspora.

Os Bantus eram o grupo mais numeroso, dividiam-se em angola-congoleses e moçambiques. Sua origem estava ligada ao que hoje representa Angola, Zaire e Moçambique, os principais destinos deste grupo eram Maranhão, Pará, Pernambuco, Alagoas, Rio de Janeiro e São Paulo. Eles foram os primeiros a chegarem no Brasil e a fundarem com os indígenas o candomblé de caboclo, primeira manifestação religiosa com origem africana do país.

Já os Iorubas ou Nagôs-Sudaneses eram formados  por: iorubas, jejes e fanti-ashantis, trazidos do sudoeste do continente africano, do que hoje é representado pela Nigéria, Daomei e Costa do Ouro, seu destino geralmente era a Bahia. Entre eles tinham os mulçumanos, que de acordo com Carmen, eram os não-escravizados e também muitos guerreiros, que em sua maioria foram para os engenhos de cana-de-açúcar. No final da Diáspora, aqui chegaram os Fon, cuja maior expressão histórica, política e social se expressou no Benin, através do Reino do Dahomey.

Carmen chama a atenção para como, mesmo falando línguas diferentes e cultuando seus próprios deuses, esses povos reinventaram suas origens, uniram-se e pela fusão de suas culturas construíram a nossa religiosidade e conhecimento. Ela destaca algumas manifestações que tiveram origem nesta ‘colagem’:

Batuque‎

Sediado no Rio Grande do Sul, se estendeu para países vizinhos como Uruguai e Argentina. É fruto de religiões dos povos da Costa da Guiné e da Nigéria, como as nações Jeje, Ijexá, Oyó, Cabinda e Nagô.

Candomblé‎

Do Calundu colonial da Bahia surgem os primeiros terreiros de candomblé e com eles a organização politico-social-religiosa. Neste ponto, as irmandades não podem ser esquecidas. Elas têm como origem a mistura proveniente da cultura dos escravizados com o catolicismo. A mais antiga é a Irmandade da Boa Morte, que no terreiro da Casa Branca fundou os alicerces para que as demais casas de candomblé pudessem ser criadas e posteriormente, se espalharem pelo Brasil.

Cabula

É o nome pelo qual foi chamada, na Bahia, uma seita surgida no final do século XIX, com caráter secreto e fundo religioso. Além do cunho hermético, a seita mantinha forte influência da cultura afro-brasileira, sobretudo dos malês, bantos com sincretismo provocado pela difusão da Doutrina Espírita nos últimos anos do século XIX. A Cabula é classificada como candomblé de caboclo, considerada como precursora da Umbanda, persiste ainda como forma de culto nos estados da Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

Culto aos Egungun – é uma das mais importantes instituições, tem por finalidade preservar e assegurar a continuidade do processo civilizatório africano no Brasil, é o culto aos ancestrais masculinos, originário de Oyo, capital do império Nagô, que foi implantado no Brasil no início do século XIX. O culto principal aos Egungun é praticado na Ilha de Itaparica no Estado da Bahia, mas existem casas em outros Estados.

Catimbó

Concebe-se como Catimbó-Jurema, ou simplesmente Jurema, a religião que se utiliza de sessões de Catimbó na veneração da Jurema sagrada e dos Orixás. O Catimbó-Jurema é um culto híbrido, nascido dos contatos ocorridos entre as espiritualidades indígena, européia e africana, contatos esses que se deram em solo brasileiro, a partir do século XVI, com o advento da colonização.

Umbanda

É uma religião brasileira que sincretiza vários elementos, inclusive de outras religiões como o catolicismo, o espiritismo, as religiões afro-brasileiras e a religiosidade indígena. A palavra umbanda deriva de m’banda, que em quimbundo (idioma banto) significa “sacerdote” ou “curandeiro”.

Quimbanda

É uma ramificação da umbanda desde a sua fundação pelo médium brasileiro Zélio Fernandino de Morais, já que o mesmo admitiu ter um exu como guia por ordens de seus guias. Assim como qualquer religião, dentro da quimbanda, existem várias linhas de desenvolvimento, mas o princípio de trabalhar respeitando as leis da Umbanda é fundamental, uma vez que estas entidades são comandadas pelas entidades da Umbanda, que é sua matriz.

Xambá
A Nação Xambá é uma religião afro-brasileira ativa em Olinda, Pernambuco. Alguns autores afirmam que este culto está praticamente extinto no país.

Omolocô
É um culto presente no Rio de Janeiro, mas veio pela Bahia e também é encontrado no Rio Grande do Sul,  é caracterizado por suas práticas rituais e de culto aos Orixás, Caboclos,  Pretos-velhos e demais Falangeiros de Orixás da Umbanda. O culto Omolocô é apontado por estudiosos do assunto e praticantes como um dos principais influenciadores da formação da Umbanda africanizada, ao lado do Candomblé de Caboclo, do Cabula e do próprio Candomblé. Teria surgido entre o povo africano Lunda-Quiôco.

A ministra também destaca que a religiosidade africana para os/as escravizados/as não se separava das demais dimensões da vida e que foi esta característica que potencializou o poder de influência desta cultura em tantos setores da sociedade brasileira ainda em seu início. Ela recorda leis como a do Diretório de 1759, que tornou obrigatório o uso da língua portuguesa como idioma oficial em todo o território nacional, proibindo o tupinambá e a proliferação dos dialetos e línguas africanas que já dominavam o falar dos colonos.

É impressionante que muitas das palavras ‘banto’ já substituíam os mesmos termos em português. E representavam mais que vocábulos diferentes, eram novas maneiras de ser e agir. Um exemplo é a palavra cochilar usado em substituição a dormitar. Dormitar, palavra portuguesa, significava dormir sentado, em pé, de qualquer jeito. Cochilar já não, era a prática dos negros de deitar e dormir um pouco após o almoço”, observa.

Outro detalhe curioso compartilhado por Carmen foi o uso de vogais e consoantes, bem como do plural praticados pelos/as negros/as. “As pessoas tem mania de querer dizer que é errado o jeito de falar do negro, do matuto, mas se olharmos para origem percebemos que o que falta é conhecimento da língua No caso do plural, do ponto de vista da morfologia e da sintaxe, na língua iorubá, a sua composição se dá pela flexão, somente, dos artigos que  precedem os substantivos. Enquanto na língua portuguesa, se constrói flexionando também os substantivos. Assim, enquanto em português, a construção do plural de “a casa” fica “as casas”. Em ioruba flexiona-se apenas o artigo e fica ‘as casa’. No caso dos encontros consonantais, eles não existem em iorubá e então, são desfeitos com a inserção de uma vogal. A palavra salvar, que em função do desdobramento das consoantes L V é acrescido a vogal A, precedida de R, resulta na palavra SARAVA. Algo muito parecido acontece com a palavra flor. As letras F e L vão receber a vogal U entre si o que resulta na palavra FULÔ. Neste caso a pronúncia do R não é utilizada porque também não se aplica nos idiomas iorubá e banto”, explica.

A apropriação dos termos africanos acabou se transformando em prática cotidiana no universo da culinária brasileira, que adotou o modo de preparar, bem como os ingredientes usados pelas negras.

A população escravizada já havia introduzido na cozinha portuguesa o leite de coco-da-Bahía, o azeite de dendê, confirmou a preferência da pimenta malagueta sobre a do reino, deu ao Brasil o feijão preto, o quiabo, ensinou a fazer vatapá, caruru, mungunzá, acarajé, angu e pamonha. Ela também modificou os pratos portugueses, substituindo ingredientes; fez a mesma coisa com os pratos da terra; e finalmente criou a cozinha brasileira, que por meio dos/as escravizados/as de ganho foi responsável pela sobrevivência de muitos senhores de engenho que faliram com a decadência da cana-de-açúcar no mercado europeu.

Para conhecer outras influências provenientes da cultura das religiões africanas, recomendamos que acessem a apostila criada por Carmen Prisco e conheçam outros cenários como da música, das vestimentas e da organização social estabelecida na religiosidade. Bons estudos!

9 de novembro de 2015

A Revista “TIÇÃO” e o protagonismo de NEGROS e NEGRAS



Nos pampas , a resistência afro–brasileira sempre presente, fortalece a necessidade de criação de uma Imprensa Alternativa Negra. Nesse compromisso emerge a Revista Tição como um veículo de resistência no combate ao racismo. Este se torna um instrumento de luta e cidadania para a comunidade afro–brasileira.

Tição, uma brasa adormecida que é escura, preta, mas é quente, vermelha. Com esse significado, sugestão do professor Oliveira Silveira, feita nas reuniões preliminares de sua criação. Essa denominação batiza a revista Tição, o objeto de estudo deste trabalho. Em 1974, um grupo de indivíduos negros se reúne para conversar sobre seus anseios e descobre a necessidade de mostrar a verdadeira história do negro que não é contada e nem apresentada nos veículos de comunicação. A história do povo afro–brasileiro que ajudou a construir este país, conhecido como Brasil. Isso pode ser notado no editorial da Revista Tição número 1, de março de 1978.

Forma–se então um grupo de jornalistas e intelectuais negros, preocupados em realizar uma mudança de comportamento perante a sociedade que os discriminava. O objetivo desses jovens jornalistas na época era de exercitar a profissão com o desafio de mostrar uma temática negra antes não apresentada para a sociedade. As reportagens, através da revista, tinham a tarefa de apresentar a verdadeira dimensão da comunidade negra do país e em especial do Rio Grande do Sul. Afinal, não era uma simples obra ou panfleto.

A criação da Revista “TIÇÃO" que teve três edições, a primeira revista que surge abordando a temática racial e valorizando a cultura e o protagonismo de negros e negras notáveis da época e da história, foi sem dúvida um marco importante para o movimento negro e na carreira de Oliveira.



Abaixo pode-se ver imagens das três edições da revista




Segundo estudo, homicídios de negras aumentam quase 20% e de brancas caem 12%




Entre 2003 e 2013, a taxa de homicídios de mulheres negras no Brasil aumentou 19,5%, enquanto a taxa de homicídios contra mulheres brancas caiu 11,9%. Os dados são do estudo Mapa da Violência 2015 – Homicídios de Mulheres divulgado nesta segunda-feira (9) e produzido pela Flacso (Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais). Em 2013 (dados mais recentes disponíveis), 7,8 mulheres negras foram assassinadas todos os dias. Em geral, a taxa de homicídios cometidos contra mulheres no Brasil cresceu 8,8% no mesmo período.


De acordo com o estudo, em 2003, a taxa de homicídios de mulheres negras no Brasil era de 4,5 para cada 100 mil habitantes. Onze anos depois, em 2013, a taxa subiu para 5,4/100 mil habitantes. Em contrapartida, as taxas de homicídios de mulheres brancas caíram de 3,6/100 mil habitantes em 2003 para 3,2/100 mil habitantes.

Para o coordenador do estudo, Julio Jacobo Waiselfisz, a discrepância entre as mortes de mulheres negras e brancas é resultado de pelo menos três fatores: terceirização da Segurança Pública, politização da temática da segurança e o racismo.

Na prática, a população branca que tem mais recursos paga por uma segurança extra. Isso acontece nas lojas, nos shoppings para onde esse público vai. Na realidade, a população branca acaba tendo acesso a duas formas de segurança: a do Estado e a privada”, explica Jacobo.

O pesquisador diz ainda que a segurança pública virou um tema muito caro aos políticos e que isso influencia a tomada de decisões dos gestores.




Quando uma empresária branca morre em um bairro nobre, a consequência imediata é que mais policiais são deslocados para aquela área como uma forma de atender ao clamor da opinião pública. O mesmo não acontece quando uma mulher negra é morta em uma favela. Essa politização da segurança gera distorções”, afirmou.

Para Jacobo, o racismo é o terceiro elemento que ajuda a explicar a diferença entre os índices de homicídios contra mulheres negras e brancas.

No Brasil, nem há tanta cordialidade e nem há a tal democracia racial que se prega. Há um coquetel onde o negro e a negra são mais visados no quesito violência. Isso se observa não apenas com relação às mulheres. Em geral, a população negra é mais afetada pela violência e isso, claro, vai atingir as mulheres.

Em relação aos dados totais da pesquisa, o estudo revela que entre os anos de 2003 e 2013 foram mortas 46.186 mulheres. Desse total, 25.637 eram negras, ou 55%. As mulheres brancas assassinadas no período foram 17,5 mil, ou 37% do total.

De acordo com o estudo da Flacso, o Estado com a maior taxa de homicídios contra mulheres negras em 2013 foi o Espírito Santo, onde o índice chegou a 11,1/100 mil habitantes. O Estado com a menor taxa é São Paulo, com 2,7/100 mil habitantes. Em relação às mulheres brancas, o Estado mais violento para elas em 2013 foi Rondônia, onde a taxa chegou a 6,4/100 mil habitantes. O Estado mais seguro para mulheres brancas, segundo a pesquisa, foi Roraima, onde a taxa foi zero.

O estudo critica a impunidade nos casos de homicídios contra mulheres e diz que ela incentiva a violência contra a mulher.

Se a impunidade é amplamente prevalecente nos homicídios dolosos em geral, com muito mais razão, pensamos, deve ser norma nos casos de homicídio de mulheres”, diz o estudo.

A normalidade da violência contra mulher no horizonte cultural do patriarcalismo justifica, e mesmo autoriza que o homem pratique essa violência, com a finalidade de punir e corrigir comportamentos femininos que transgridem o papel esperado de mãe, de esposa e de dona de casa”, registra o documento.


Não consegui ler por completo o livro mais famoso de minha mãe, diz filha de Carolina de jesus



15 de julho de 1955 – Aniversário de minha filha Vera Eunice. Eu pretendia comprar um par de sapatos para ela. Mas o custo dos gêneros alimentícios nos impede a realização dos nossos desejos. Atualmente, somos escravos do custo de vida. Eu achei um par de sapatos no lixo, lavei e remendei para ela calçar...” Trecho de abertura do livro O Quarto de Despejo, 1960

As lembranças da infância na favela do Canindé, zona norte de São Paulo, ainda emocionam a professora Vera Eunice de Jesus Lima, 61 anos. Filha de Carolina Maria de Jesus (1914-1977), uma das primeiras escritoras negras do Brasil, ela contou que nunca conseguiu ler por completo o livro mais famoso da mãe, Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada. “Leio pedaços. Começo a ler, leio, abro. Não é um livro que consigo ler na sequência”, disse.


Lançado em 1960, o livro foi um grande sucesso na época, ao reunir os relatos da vida na favela – um universo que começava a surgir nas cidades brasileiras – e revelar o cotidiano simples e forte de uma mulher negra, catadora e mãe de três filhos, que escrevia nos cadernos que encontrava no lixo. Carolina estudou apenas um ano e meio na escola formal, mas mantinha o hábito da leitura.

Carolina Maria de Jesus. Foto: Audálio Dantas.

A conversa com a professora ocorreu durante uma visita à exposição Carolina em Nós, no Museu Afro Brasil, na capital paulista. Ela estava acompanhada de alunos de ensino médio de uma escola pública na qual leciona. Os estudantes não desconfiavam, contudo, que a própria professora era filha da homenageada. “Eles estão aí e olham para mim, não estão entendendo, porque não sabem [que sou filha dela]. Estão andando e não entendem o que acontece”, disse. Ela informou que a ideia é trabalhar o tema da consciência negra em novembro com os estudantes, quando a origem de Vera será revelada. “Será uma surpresa”, afirmou.

Desde o ano passado, muitas organizações e movimentos, especialmente de cultura e de mulheres negras, estão prestando homenagens a Carolina Maria de Jesus pelo centenário de nascimento da escritora, que também gravou discos. No depoimento de Vera, é possível aproximar um pouco do universo de Carolina e conhecer mais sobre sua vida, obra e personalidade.

O centenário

"Até eu estou assustada com a repercussão [das comemorações do centenário] e de como os negros estão valorizando a Carolina, porque estão se espelhando nela. Tem várias Carolinas agora que também estão escrevendo, estão procurando mais o lado da cultura. Como uma pessoa que nasce como ela nasceu, lá na casa de sapê, pau a pique, consegue chegar onde ela chegou, sendo conhecida mundialmente?", questionou Vera.

Carolina viveu altos e baixos. Ela sofreu demais em Minas Gerais. Depois veio para cá, ficou na favela, foi tendo os filhos e quando o Audálio [Dantas, jornalista] descobriu o Quarto de Despejo [publicado a partir dos diários pessoais de Carolina], que lançou o livro, ela ficou no auge. Diz que nunca houve nem haverá uma escritora no Brasil para vender mais livros como ela vendeu em uma semana. Depois,  ficou meio afastada, foi a época em que ficou esquecida e agora, no centenário, ela explodiu.

A mãe e a escritora

Era uma mulher forte, determinada, lutadora, criou os filhos, não dava moleza. Era brava, mas se ela resolvesse que não ia te dar uma entrevista, não dava. Não havia quem fizesse ela falar. Mas, como mãe, tinha aqueles momentos de ternura, me punha no colo, bem preocupada em arrumar comida para a gente. E, nas horas em que, como ela dizia, tinha comida em casa, essas músicas que estão tocando [nos alto-falantes do museu tocam os discos lançados por Carolina], a gente cantava. Todos os filhos tocavam violão, ela ensinou. Imagina, a minha mãe catava papel o dia inteiro e com três filhos para comer, meu irmão adolescente. “Esse homem é famélico”, como ela falava. Com essa situação, não podia estar sempre calma, tranquila.

A paixão pelos livros

Essa história vem lá de Sacramento [MG]. A mãe dela era casada e apareceu o pai de Carolina na praça. Era um negro repentista, inteligentíssimo. A mãe dela ia na praça, se apaixonou e nasceu Carolina. Minha mãe, já de pequena, era diferente. Como ela falava: “Eu era uma negrinha feia e chata”. Ela queria saber de tudo, era muito curiosa. A mãe dela a levou para o Eurípedes de Barsanulfo, que era um médium, e ele falou: “Ela não é chata. Sua filha vai ser uma escritora, uma poetisa”. Daí, a mãe respondeu: “O que será? Que doença é essa?”. Aí, quando as pessoas falavam: “Nossa, a negrinha é chata, né?”, ela respondia: “Não, minha filha é poetisa”. A mãe dela nem sabia o que era.

Uma fazendeira, dona Maria Leite, disse: “Vamos colocá-la na escola”. Estudou um ano e meio. Não queria ir de jeito nenhum, mas depois tomou gosto pela escola. Ela dizia que no primeiro dia de aula queria ir embora, porque queria mamar. E a professora dela, só teve esta, chamava Lenita, disse: “Você vai estudar e não vai mamar, Carolina Maria de Jesus”. Ela nunca tinha ouvido o nome dela, ouviu ali. Até então, era Bitita.

A mudança para São Paulo

Ela veio a pé. [Primeiro, conseguiu emprego como doméstica, mas depois precisou ficar na rua com o nascimento do primeiro filho]. Ela ficava na rua e era para vir um político famoso, então pegaram todos os pobres que estavam aí, colocaram em um caminhão e mandaram para o Canindé. Conseguiu umas madeiras e fez o barraco. Ela mesmo carregou na cabeça. Carolina falava que toda a força da vida dela vinha da cabeça, tanto para escrever, quanto para carregar o saco de papel.

A vida depois da favela

Nós fomos para Santana. Imagina, um lugar de classe média alta e chega lá uma mãe solteira, negra, três filhos, que tinham saído da favela. Vinha um ônibus e ficava a rua inteira [de fotógrafos, jornalistas]. Aquilo incomodava o dia inteiro. Minha mãe gostava de música, colocava [o volume] nas alturas, dançava sozinha a noite inteira. Os vizinhos não aguentavam aquele barulho. A gente abria a porta e tinha gente, fila, para pedir as coisas a ela, que tentava atender. Virou um inferno. Eles não suportavam a gente lá. Um dia, ela chegou em casa às 7h da manhã e disse: “Vamos embora”. E nós fomos para Parelheiros, um sítio. "Ali tem as árvores que ela plantou, a casa está do mesmo jeito. Eu penso em fazer um museu lá".

8 de novembro de 2015

Indígenas e os seus rituais




Uma grande parte dos rituais realizados pelos diversos grupos indígenas do Brasil pode ser classificada como ritos de passagem. Os ritos de passagem são as cerimônias que marcam a mudança de um indivíduo ou de um grupo de uma situação social para outra. Como exemplo, podemos citar aqueles relacionados à mudança das estações, aos ritos de iniciação, aos ritos matrimoniais, aos funerais e outros, como a gestação e o nascimento.


Entre os Tupinambá – grupo indígena extinto que habitava a maior parte da faixa litorânea que ia da foz do rio Amazonas à ilha de Cananéia, no litoral paulista-, quando nascia uma criança do sexo masculino, o pai levantava-se do chão e cortava-lhe o umbigo com os dentes. A seguir, a criança era banhada no rio, após o que o pai lhe achatava o nariz com o polegar. Em seguida, a criança era colocada numa pequena rede, onde eram amarradas unhas de onça ou de uma determinada ave de rapina. Colocavam-se, ainda, penas da cauda e das asas dessa ave e, também, um pequeno arco e algumas flechas, para que a criança se tornasse valente e disposta a guerrear com os inimigos.

O pai, durante três dias, não comia carne, peixe ou sal, alimentando-se apenas de certo tipo de farinha. Não fazia, também, nenhum trabalho até que o umbigo da criança caísse, para que ele, a mãe e a criança não tivessem cólicas. Três vezes por dia punha os pés no ventre da esposa. Nesses dias, o pai fazia pequenas arapucas e nelas fazia a tipóia de carregar a criança; tomava, também, o pequeno arco e as flechas e atirava sobre a tipóia, pescando-a depois com o anzol, como se fosse um peixe. Assim, no futuro, a criança caçaria ou pescaria. Quando o umbigo caía, o pai partia-o em pedacinhos e pregava-os em todos os pilares da oca, a fim de que o filho fosse, no futuro, um bom chefe de família. O pai também colocava aos pés da criança um molho de palha, que simbolizava os inimigos. Quando todas essas práticas tinham sido realizadas, a aldeia por inteiro se entregava às comemorações. Nesses dias, era escolhido um nome para o recém-nascido.

Através desse rito de incorporação, o pai assumia a paternidade e se reconhecia ao recém-nascido, um lugar na sociedade Tupinambá, como homem ou mulher.
Cabe destacar que nesses rituais ligados à gestação e ao nascimento não só a criança, como também seus pais, eram submetidos ao ritual de passagem. O reconhecimento da gravidez da mulher punha o pai e a mãe num estado de cuidados especiais, separando-os, de certo modo, pela maneira de se comportar, dos demais habitantes da aldeia. Ficavam, assim, segregados até que a criança nascesse e os ritos de sua incorporação fossem realizados, momento em que eles eram reintegrados à vida normal, desempenhando um novo papel social: pai e mãe de um novo membro da sociedade.

Indígenas na Amazônia: Principais grupos e as línguas mais faladas



A maioria das tribos indígenas do Brasil vivem na Amazônia, a floresta com maior biodiversidade tropical do mundo.

Segundo censo do IBGE de 2010, na Amazônia vivem cerca de 306 mil índios. Como a população indígena só tende a diminuir, estes números devem estar bem a baixo de 306 mil hoje em dia.

A maior parte desta população de índios da Amazônia vive nas áreas rurais, e embora muitos deles mantêm contato com pessoas de fora das tribos, eles ainda continuam mantendo aspectos culturais de seus antepassados, como: Rituais, danças, crenças, costumes…

A maioria das tribos possui Pajés. Os Pajés são os curandeiros, uma espécie de “professor e sábio”, que transmite a cultura dos antepassados para os mais novos de forma oral.

O Pajé também é responsável por realizar os cultos religiosos e realizar “contato com o mundo espiritual”.

As línguas mais faladas das tribos, são:

Tupi;
Aruaque;
Tukano;
Jê;
Karib;
Pano;

Um dos maiores problemas enfrentados pelas tribos indígenas é a exploração de terras ilegais pelo garimpo, agropecuária, construção de hidroelétricas, rodovias, e diversas outras atividades dos “homens brancos”.

Existem também muitas tribos isoladas na Amazônia, até mesmo tribos que nunca viram nem fizeram contato com o homem branco. São tribos que não conhecem nenhuma cultura fora a deles mesmos.

Acredita-se que estas tribos vivam sem fazer ideia da tecnologia presente no mundo. Mesmo que alguns possam ter avistado aviões ou destroços, dificilmente fariam relação destes avistamentos a outros seres humanos.

Eles vivem mantendo os costumes dos antepassados: Caçando, pescando, plantando…

Os principais grupos indígenas que vivem hoje na Amazônia, são:

Amawáka (Acre)
Arara (Acre)
Deni (Acre)
Nawa (Acre)


Karipuna (Amapá)
Palikur (Amapá)
Wayampi (Amapá)


Kambeba (Amazonas)
Jarawara (Amazonas)
Korubo (Amazonas)
Wanana (Amazonas)


Anambé (Pará)
Jaruna (Pará)
Kayapó (Pará)
Munduruku (Pará)


Arara (Rondônia)
Aruá (Rondônia)
Nambikwara (Rondônia)
Tupari (Rondônia)

Macuxi (Roraima)
Yanomami (Roraima)
Waiwai (Roraima)
Ingaricô (Roraima)

Apinaye (Tocantins)
Guarani (Tocantins)
Karaja (Tocantins)
Kraho (Tocantins)
Xerente (Tocantins)

7 de novembro de 2015

E se a Tais Araújo não fosse a Tais? Por Pedro Antonio no Curvas e Poesia


Taís Araújo é chamada de macaca na sua página do Facebook e o assunto toma as redes sociais. A polícia se envolve e logo teremos os racistas atrás das grades com todo louvor e aplausos do público. Aí eu pergunto: se a Taís não fosse a Taís, será que teria acontecido da mesma forma? Quantas negras são chamadas de macaca e nada acontece? Muitas, meus amigos, muitas. Mas é preciso que uma atriz global sofra o crime para que ele seja apurado, porque senão, é mais uma macaca na multidão.

Vivemos num país atrasado, o país da "carteirada" onde filho de alguém importante ou um sobrenome de "respeito" burla qualquer processo e passa na frente. Vamos exemplificar: se uma negra que serve o café no camarim fosse chamada de macaca por um ator global, será que teria a mesma repercussão? Provavelmente não. Por aqui, negro e pobre não tem vez e nem voz. Negro na universidade? É cota. Negro na balada? É segurança. Negro correndo na rua? É ladrão fugindo. O táxi não para, mas a viatura chega junto. E se o negro se revolta, dizem que ele está se vitimizando. Tremenda estupidez.

Muitas negras são chamadas de macaca todos os dias, mas só a Maju ganhou uma hashtag. Muitas mulheres têm seus cabelos crespos chamados de esponja, mas só a Taís Araújo teve o direito de ser ouvida. Muitas meninas tiveram suas fotos íntimas divulgadas na internet, mas só a Carolina Dieckmann ganhou uma lei com o nome dela. Muitos meninos negros são expulsos de estabelecimentos, mas precisou ser em uma loja "chique" da Oscar Freire para ganhar repercussão. E agora eu me pergunto: eu que sou uma negra anônima, como eu fico?