17 de julho de 2014

Martin Buber: o diálogo possível


É inegável a relevante contribuição de Martin Buber para a Filosofia Contemporânea, como também a atualidade de sua obra. Encontramos nele um pensamento com profundidade tão sagaz que é inevitável não considerá-lo original a uma Filosofia, cuja preocupação central é o ser humano, a Antropologia Filosófica. O nosso filósofo fundamentou e desenvolveu com pertinência – em seus vários livros e, principalmente, em Eu e Tu -, acepções como princípio dialógico, encontro, entre, palavra-princípio e interhumano. E mesmo reconhecendo as influências recebidas de outros filósofos, o seu pensamento é possuidor de um élan particular.

A Filosofia do Diálogo de Buber e ou, o cerne do pensamento buberiano esteve direcionado mais precisamente ao problema do homem como ser de relação, como ser aberto ao diálogo com o Tu.

Em sua análise a respeito da problemática do homem, Buber enfrentou a atitude do individualismo e do coletivismo, afirmando que o primeiro só entende uma parte do homem e o segundo entende o homem só como uma parte. Para ele nenhum dos dois alcança a totalidade. O individualismo vê o homem em relação consigo mesmo, e o coletivismo nem vê o homem, pois vê apenas a “sociedade”. O primeiro distorce o rosto do homem, o segundo o mascara. Consoante o nosso filósofo, ambos são a expressão e conclusão da união do abandono cósmico e social, do medo do universo e da vida, que tem por resultado uma constituição existencial de solidão tal como nunca existiu antes.

Mas, para Buber, somente quando o indivíduo conhece o outro em toda a sua alteridade como a si próprio, como homem, experiência a partir da qual irrompe na direção do outro, conseguirá romper sua solidão, em um encontro estrito e transformador. Ele insiste que o fato fundamental da existência humana não é nem o indivíduo, como tal, nem agregado como tal. Cada uma dessas categorias, considerada em si, não passa de uma abstração.

O indivíduo é um fato da existência, só na medida em que ele se coloca em uma relação viva com outros indivíduos. O que é peculiarmente característico do mundo humano é, antes de tudo, que nele algo acontece entre um ser e outro. A característica existencial do mundo humano é enraizada no voltar de um ser em direção do outro para comunicar-se dentro de uma esfera comum, mas que ao mesmo tempo transcende a esfera especial de cada um. Essa categoria existencial é a categoria relacional do entre, que é estabelecida a partir da existência do homem. É essa categoria primordial da realidade humana.

Para exprimir a realidade, que liga o homem ao homem, Buber criou o termo especial zwischenmenschlich (entre os homens ou interhumano). No interhumano um sujeito se defronta efetivamente com o outro, e nesse confronto, que não é simples experiência psicológica, há uma realidade em que os dois sujeitos convivem. Como enfatizamos, a principal característica dessa esfera é a espontaneidade, em que toda aparência, toda “dissimulação” seria fatal. No interhumano a verdade assume uma dimensão quase corpórea, pois, o homem se comunica com o outro naquilo que eles são. Somente assim a intercomunicação existencial se torna possível, isto é, o diálogo autêntico, em que o outro se afirma como aquilo que realmente é e se confirma em sua natureza de criatura.

No pensamento buberiano a existência do homem emerge do diálogo, do encontro dialógico, da esfera do interhumano. Consoante essa análise, o diálogo determina a palavra como a interação entre homens, trata-se de uma categoria antropológica, porque instaura o desvelar do entre-dois, do Eu e Tu. No diálogo a palavra não é mais logos, puramente anunciador, pois fundamenta a existência; ela vai além da subjetividade, estabelecendo uma dimensão ontológica _ o interhumano. O logos não é simplesmente razão, princípio de ordem, porém em virtude de seu vínculo essencial com a práxis, ele é a palavra responsável pelo desvendar da existência humana como coexistência. O ser humano existe mediante o encontro, a relação.

O homem como ser-ao-mundo não é um ser-em-si, mas essencialmente uma abertura. Ele é abertura graças à palavra originária. O homem instaura o emergir dinâmico de sua existência pela palavra. Como manifestação do si mesmo, o logos torna-se uma abertura ao outro, dia-logos. E somente quem toma a decisão de proferir a palavra da relação, a palavra-princípio Eu-Tu, poderá fundar o “nós essencial”, do autêntico interhumano. Aproximação, contatos, experiências e reações comuns definem o social, este implica um estar-um-ao-lado-do-outro, enquanto que proximidade, relação dialógica, responsabilidade, decisão, liberdade, presença no face a face definem o interhumano que é o estar-junto-com-o-outro.

Mas Buber observa na humanidade uma profunda crise, causada por uma ruptura que separa os homens uns dos outros. E isto demonstra a atualidade da Filosofia do Diálogo quando colocada diante da sociedade individualista e consumista do nosso tempo. Consoante Zuben, Buber previu uma nova tarefa que se apresentou ao pensamento humano e aspira à implantação de uma nova dimensão do mundo, a dimensão dialógica no homem (ZUBEN, 2003: 210).

As grandes transformações e os avanços tecnológicos que caracterizaram o século XX trouxeram em seu bojo muitas vantagens e também grandes ameaças. A sociedade contemporânea naufraga em um grande mar de desprovidos, de milhões de miseráveis do sul subdesenvolvido sucumbindo às margens do norte desenvolvido. As injustiças sociais, o desemprego, a violência, a fome, as guerras e os desastres ecológicos, por exemplo, apontam para uma situação degradante. O planeta corre o risco de entrar em colapso.

Inúmeras pesquisas apontam que a doença do início do século XXI é o stress conjugado a depressão, e isto ocorre como conseqüência do enfraquecimento das relações humanas e da “obrigação diária” estabelecida pelo mercado de as pessoas provarem que são competentes. Assistimos atualmente a um processo de enrijecimento gradual do individualismo. Os avanços tecnológicos e o crescimento das cidades têm ocasionado o isolamento das pessoas em detrimento do encontro e do diálogo com o outro. Podemos caracterizar o homem deste início de século como um ser isolado, preocupado consigo e longínquo da realidade em seu torno.

Não queremos, ao apresentar os problemas citados acima, firmar uma acepção pessimista sobre o homem atual, mas enfatizar como ele vem se distanciando de um princípio relevante para sua própria realização enquanto ser humano, a relação. O homem atual restringe-se a proferir a palavra-princípio Eu-Isso, colocando-se diante das coisas em vez de confrontá-las no fluxo da ação recíproca, preferindo um relacionamento unidirecional entre o Eu (egótico) e um objeto manipulável (lsso). Buber, contudo, posicionou-se de maneira radical ao quando analisar a atitude Eu-Isso. Para ele “aquele que vive somente com o Isso não é homem” (BUBER, 1977: 39).

O sujeito humano atinge o seu ser através do “proferir Tu” (Dusagen) e não do “proferir Isso”; em outras palavras, isto significa que o homem atinge o seu ser pela relação. O homem, na relação Eu-Tu, integra-se completamente com o mundo, em uma totalidade caracterizada pelo envolvimento, pela integração dos opostos, desaparecendo as peculiaridades e contradições individuais. “A palavra-princípio Eu-Tu só pode ser proferida pelo ser na sua totalidade. A união e a fusão em um ser total não pode ser realizada por mim e nem pode ser efetivada sem mim. O Eu se realiza na relação com Tu; é tornando Eu que digo Tu” (BUBER, 1977: 13). Depois de escutarmos as palavras de Buber podemos considerar que o homem sem o homem é, por assim dizer, um nada e que o abandono do encontro com o outro poderá conduzir o homem a um abismo cruel.

Para Zuben, na obra buberiana a volta à segurança, o reencontro com o verdadeiro destino que a humanidade descobriu para si serão assegurados (tal é a esperança que alimenta a mensagem buberiana) pela vida em diálogo (ZUBEN, 2003: 210).

Com efeito, é necessário reafirmar a necessidade de estudos consistentes sobre a filosofia de Buber, que a aproxime da atualidade. Analisar a obra de Buber é adentrar um pensamento que – não sendo uma doutrina, mas por sua sintonia com a vida e com o cotidiano -, é uma chama acesa posta diante dos olhos do homem atual, com intuito de alertá-lo e, até mesmo, de guiá-lo à profundidade daquilo que o torna ser humano, a relação. A relação, em suma, além de ser o princípio (no princípio é a relação) é também a contínua atitude instauradora do ser do homem, o ser humano, o Menschen-sein.
_________________
Referências Bibliográficas
BUBER, Martin. Eu e Tu. Tradução de Newton Aquiles von Zuben. São Paulo: Cortez e Moraes, 1977.
SANTOS, Rudinei Borges. No principio é a relação: encontro e diálogo no pensamento de Martin Buber. 2005. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura Plena em Filosofia). Centro Universitário Assunção/São Paulo.
ZUBEN, Newton Aquiles von. Martin Buber: cumplicidade e diálogo. Bauru: EDUSC, 2003.


Publicado originalmente na revista parâmetro

16 de julho de 2014

Aécio Neves será julgado por desvio de R$4,3 bilhões da saúde


Por três votos a zero, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) decidiu que o senador Aécio Neves continua réu em ação civil por improbidade administrativa movida contra ele pelo Ministério Público Estadual (MPE).

Aécio é investigado pelo desvio de R$ 4,3 bilhões da área da saúde em Minas e pelo não cumprimento do piso constitucional do financiamento do sistema público de saúde no período de 2003 a 2008, período em que ele foi governador do estado. O julgamento deverá acontecer ainda esse ano. Se culpado, o senador ficará inelegível.

Desde 2003, a bancada estadual do PT denuncia essa fraude e a falta de compromisso do governo de Minas com a saúde no estado. Conseqüência disso é o caos instaurado no sistema público de saúde, situação essa que tem se agravado com a atual e grave epidemia de dengue.

Recurso

Os desembargadores Bitencourt Marcondes, Alyrio Ramos e Edgard Penna Amorim negaram o provimento ao recurso solicitado por Aécio Neves para a extinção da ação por entenderem ser legítima a ação de improbidade diante da não aplicação do mínimo constitucional de 12% da receita do Estado na área da Saúde.

Segundo eles, a atitude do ex-governador atenta aos princípios da administração pública já que “a conduta esperada do agente público é oposta, no sentido de cumprir norma constitucional que visa à melhoria dos serviços de saúde universais e gratuitos, como forma de inclusão social, erradicação e prevenção de doenças”.

A alegação do réu (Aécio) é a de não ter havido qualquer transferência de recursos do estado à COPASA para investimentos em saneamento básico, já que esse teria sido originado de recursos próprios. Os fatos apurados demonstram, no entanto, a utilização de valores provenientes de tarifas da COPASA para serem contabilizados como investimento em saúde pública, em uma clara manobra para garantir o mínimo constitucional de 12%. A pergunta é: qual foi a destinação dada aos R$4,3 bilhões então?


Com Revista Fórum/Pragmatismo Político

“...A caçada de judeus foi sempre um costume europeu..”, afirma Galeano sobre conflito em Gaza


Para justificar-se, o terrorismo de estado fabrica terroristas: semeia ódio e colhe pretextos. Tudo indica que esta carnificina de Gaza, que segundo seus autores quer acabar com os terroristas, acabará por multiplicá-los.

"Este artigo é dedicado a meus amigos judeus assassinados
pelas ditaduras latinoamericanas que israel assessorou",
diz Eduardo Galeano.
Desde 1948, os palestinos vivem condenados à humilhação perpétua. Não podem nem respirar sem permissão. Perderam sua pátria, suas terras, sua água, sua liberdade, seu tudo. Nem sequer têm direito a eleger seus governantes. Quando votam em quem não devem votar são castigados. Gaza está sendo castigada. Converteu-se em uma armadilha sem saída, desde que o Hamas ganhou limpamente as eleições em 2006. Algo parecido havia ocorrido em 1932, quando o Partido Comunista triunfou nas eleições de El Salvador. Banhados em sangue, os salvadorenhos expiaram sua má conduta e, desde então, viveram submetidos a ditaduras militares. A democracia é um luxo que nem todos merecem.

São filhos da impotência os foguetes caseiros que os militantes do Hamas, encurralados em Gaza, disparam com desajeitada pontaria sobre as terras que foram palestinas e que a ocupação israelense usurpou. E o desespero, à margem da loucura suicida, é a mãe das bravatas que negam o direito à existência de Israel, gritos sem nenhuma eficácia, enquanto a muito eficaz guerra de extermínio está negando, há muitos anos, o direito à existência da Palestina.

Já resta pouca Palestina. Passo a passo, Israel está apagando-a do mapa. Os colonos invadem, e atrás deles os soldados vão corrigindo a fronteira. As balas sacralizam a pilhagem, em legítima defesa.

Não há guerra agressiva que não diga ser guerra defensiva. Hitler invadiu a Polônia para evitar que a Polônia invadisse a Alemanha. Bush invadiu o Iraque para evitar que o Iraque invadisse o mundo. Em cada uma de suas guerras defensivas, Israel devorou outro pedaço da Palestina, e os almoços seguem. O apetite devorador se justifica pelos títulos de propriedade que a Bíblia outorgou, pelos dois mil anos de perseguição que o povo judeu sofreu, e pelo pânico que geram os palestinos à espreita.

Israel é o país que jamais cumpre as recomendações nem as resoluções das Nações Unidas, que nunca acata as sentenças dos tribunais internacionais, que burla as leis internacionais, e é também o único país que legalizou a tortura de prisioneiros.

Quem lhe deu o direito de negar todos os direitos? De onde vem a impunidade com que Israel está executando a matança de Gaza? O governo espanhol não conseguiu bombardear impunemente ao País Basco para acabar com o ETA, nem o governo britânico pôde arrasar a Irlanda para liquidar o IRA. Por acaso a tragédia do Holocausto implica uma apólice de eterna impunidade? Ou essa luz verde provém da potência manda chuva que tem em Israel o mais incondicional de seus vassalos?

O exército israelense, o mais moderno e sofisticado mundo, sabe a quem mata. Não mata por engano. Mata por horror. As vítimas civis são chamadas de “danos colaterais”, segundo o dicionário de outras guerras imperiais. Em Gaza, de cada dez “danos colaterais”, três são crianças. E somam aos milhares os mutilados, vítimas da tecnologia do esquartejamento humano, que a indústria militar está ensaiando com êxito nesta operação de limpeza étnica.

E como sempre, sempre o mesmo: em Gaza, cem a um. Para cada cem palestinos mortos, um israelense. Gente perigosa, adverte outro bombardeio, a cargo dos meios massivos de manipulação, que nos convidam a crer que uma vida israelense vale tanto quanto cem vidas palestinas. E esses meios também nos convidam a acreditar que são humanitárias as duzentas bombas atômicas de Israel, e que uma potência nuclear chamada Irã foi a que aniquilou Hiroshima e Nagasaki.

A chamada “comunidade internacional”, existe? É algo mais que um clube de mercadores, banqueiros e guerreiros? É algo mais que o nome artístico que os Estados Unidos adotam quando fazem teatro?

Diante da tragédia de Gaza, a hipocrisia mundial se ilumina uma vez mais. Como sempre, a indiferença, os discursos vazios, as declarações ocas, as declamações altissonantes, as posturas ambíguas, rendem tributo à sagrada impunidade.

Diante da tragédia de Gaza, os países árabes lavam as mãos. Como sempre. E como sempre, os países europeus esfregam as mãos. A velha Europa, tão capaz de beleza e de perversidade, derrama alguma que outra lágrima, enquanto secretamente celebra esta jogada de mestre. Porque a caçada de judeus foi sempre um costume europeu, mas há meio século essa dívida histórica está sendo cobrada dos palestinas, que também são semitas e que nunca foram, nem são, antisemitas. Eles estão pagando, com sangue constante e sonoro, uma conta alheia.


Artigo de Eduardo Galeano e foi publicado originalmente no Pragmatismo Político em 2012.

Instituto Lula lança série de vídeos do ex-presidente


Imagem capturada do youtube.

O Instituto Lula começou a lançar na terça-feira, 15 de julho, uma série de vídeos em que o ex-presidente fala sobre política e o Brasil. Já no primeiro deles, ainda no rescaldo da Copa do Mundo realizada no país, Lula comenta como iniciou sua militância política e, no ensejo buscar endossar a luta pela participação cidadã e o desenvolvimento da politização nos jovens, principalmente nos jogos do poder que perpassam o embate político partidário.

Confira

           

Com informações do Entrefatos


15 de julho de 2014

Projeto “Raízes do Siará”, da Secult, é contemplado com recursos de R$ 467 mil para comunidades tradicionais



A Secretaria da Cultura do Estado, Secult, foi contemplada em segundo lugar, no I Edital de Fortalecimento do Sistema Nacional de Cultura, do Ministério da Cultura, MinC, com recursos de R$ 469.770,00 (quatrocentos e sessenta e nove mil, setecentos e setenta reais) para o projeto “Raízes do Siará”, elaborado pela Coordenação de Ação Cultural, da Secult. O projeto, que será firmado por meio da assinatura de um convênio entre o MinC e a Secult, visa fomentar, proteger e promover as Culturas das Comunidades Tradicionais do Ceará, em especial as Quilombolas, Indígenas e Ciganas.

 “Esse Projeto vai auxiliar as comunidades tradicionais a se capacitarem, ao mesmo tempo que possibilitará a geração de renda, a economia criativa e a auto sustentabilidade', justificou João Paulo. Ele informou que está previsto para novembro deste ano o início das atividades do “Raízes do Siará”, que deverá atingir um universo de cerca de 8 mil pessoas. Entre as atividades previstas estão a realização de seminários sobre História e Cultura de cada Comunidade Tradicional; realização de oficinas de Capacitação das lideranças e jovens, com vista na autogestão das próprias Comunidades; feiras e um Encontro de todas as Comunidades Tradicionais no interior do Estado e um Encontro com todas as Comunidades.

O “Raízes do Siará” prevê garantir e propiciar às Comunidades Tradicionais condições para a subsistência autônoma e autossustentável, além de encontrar formas para a inserção livre e justa dos Comunitários nos circuitos de mercado para que estas possam ser fortalecidas do ponto de vista cultural e econômico, sem prejudicar a sua tradição. Ainda se espera que se possa criar multiplicadores nas referidas Comunidades Tradicionais.

No Ceará, de acordo com a Fundação Cultural Palmares já fora, certificadas 38 comunidades quilombolas; já as comunidades indígenas estão presentes em 19 municípios e as ciganas, concentram-se especialmente mas regiões do Cariri e Sobral.

Via Secult Ce


Dia de Nelson Mandela: um dia por um mundo melhor!


Com o objetivo de inspirar pessoas a tomarem medidas que modifiquem o mundo para a paz, as Nações Unidas criaram oficialmente em 2009, o Dia Internacional Nelson Mandela ‒ ou Mandela Day. Desde então, o dia 18 de julho de cada ano é dedicado ao pacifista que, como maiores legados, deixou o fim do apartheid ‒ segregação racial que marcou a história da África do Sul por mais de quatro décadas ‒ e a consciência de justiça social aliada ao respeito e à dignidade.

Para integrar a campanha internacional, a Universidade de Brasília (UnB) realizará na data alusiva, uma programação composta por diversas atividades visando a divulgação desse legado, a reflexão sobre o racismo no Brasil e a valorização da cultura de matriz africana. O evento acontecerá no Auditório da Fundação Cultural Palmares (FCP/MinC), a partir das 14h.

De acordo com Marcos Moreira, professor do Instituto de Letras da UnB e organizador do evento, o grupo de pesquisa “A Desconstrução como Justiça”, com o apoio da Casa de Cultura da América Latina e do Decanato de Extensão da universidade preparou uma série de atividades chamando a atenção para o espírito de mudança do grande pacifista.

A meta do Mandela Day é fortalecer novas lideranças interessadas em combater o racismo que não é uma luta apenas das populações negras”, ressalta Moreira, lembrando que grupos como judeus, indígenas e muçulmanos também são alvos de discriminação e que, quando se trata de preconceitos, ainda há muito o que ser feito.
Reafirmação

A UnB foi a primeira instituição brasileira a outorgar a Mandela o título de Doutor Honoris Causa. Trata-se de um diploma universitário compatível com o doutorado acadêmico a pessoas que tenham se destacado em determinada área. O reconhecimento aconteceu um mês após a libertação do ativista após 27 anos de prisão, por ter sido considerado um líder rebelde aos interesses do governo daquela época.

Moreira destaca ainda, que a participação da UnB nas celebrações mundiais do aniversário de Nelson Mandela é a reafirmação da relevância do líder sul-africano para a universidade. “A UnB é uma instituição de vanguarda na luta pelos direitos humanos e na construção de políticas sociais. É um espaço onde nomes como o de Mandela devem ser sempre citados”, completou.
67 minutos – Na data em que se celebra o Mandela Day, a Organização das Nações Unidas (ONU) incentiva que em todo o mundo sejam realizadas ações com pelo menos 67 minutos de serviço comunitário. Cada minuto representa um ano de dedicação de Madiba, como era também conhecido o líder, ao serviço pela humanidade. É um reconhecimento às contribuições feitas por ele como advogado de direitos humanos, combatente da liberdade, prisioneiro de consciência, pacificador internacional e primeiro presidente democraticamente eleito de uma África do Sul livre.

Entre as possibilidades de atuação para os 67 minutos, estão os cuidados com o meio ambiente, a dedicação às crianças, o voluntariado em hospitais, prisões e orfanatos, entre outras. A proposta é que todos participem de algum movimento que vise transformar o mundo em um lugar melhor.



Via Palmares


14 de julho de 2014

Escola Estadual Santa Tereza divulga lista de estudantes aprovados no vestibular da URCA


A Escola Estadual de Ensino Médio Santa Tereza, única deste nível no município de Altaneira divulgou na tarde desta segunda-feira, 14, lista dos alunos e alunas que lograram êxito no vestibular da Universidade Regional do Cariri – URCA, processo seletivo 2014.2.

Fabiana Oliveira, Maria Natália, Viviane Fernandes, Karem Venâncio, Ketily Barbosa e Rainier Lino. Fotos retirada
de seus perfis na rede social facebook. 
Dos 12 (doze) estudantes aprovados, dois ainda estão cursando o segundo ano. Carlos Renir Soares de Araújo e Paulo Vicente Correia de Moura ocuparam a 9ª e a 27ª colocação em suas escolhas – Geografia e Matemática, respectivamente.

Dos cursos escolhidos aparecem Pedagogia, Economia e Matemática, com dois aprovados cada, além de História, Geografia, Biologia, Teatro, Engenharia de Produção e Topografia. Todas estas teve um aprovado.

Na nota publicada no blog a escola parabenizou os (as) discentes, ao passo que desejou sucesso pelos resultados alcançados.

Confira os nomes dos demais aprovados que já devem ingressar na universidade ainda este ano.

Dalvilene Ferreira de Oliveira - 27º Colocação (História);
Karem Venancio da Silva - 23º Colocação (Biologia)
Kétily Barbosa Silva - 16º Colocação (Teatro);
Cicero Jackslandio Pereira Rosal - 25º Colocação (Topografia);
Rainier Lino Teixeira - 21º Colocação (Engenharia de Produção);
Matheus Evangelista Vieira - 28º Colocação (Matemática);
Maria Natália de Lima - 36º Colocação (Pedagogia);
Viviane Alves Fernandes - 14º Colocação (Pedagogia);
Ricardo Vieira de Sousa - 34º Colocação (Economia);
Fabiana Oliveira Lima - 38º Colocação (Economia).

Na oportunidade, externo aqui a minha felicidade em virtude destes dez últimos nomes terem sido minhas ex-alunas e ex-alunos e principalmente por terem logrado êxito nessa vestibular. Parabéns a todos e sucessos nessa nova caminhada. Aos que não conseguiram também direciono um caloroso parabéns, ao passo que afirmo que o sucesso se conquista com persistência, dedicação e muito estudo. Continuem tentando, sua hora chegará. 








Primeira mulher negra brasileira é conferencista em Congresso Internacional de Comunicação


Acontece de 15 e 19 de julho a Conferência anual da IAMCR – International Association for Media and Comunication Research, na cidade de Hyderabad, na Índia. As conferências da IAMCR são um dos principais eventos da pesquisa em comunicação no mundo. O órgão internacional tem como objetivo incentivar pesquisas na área de comunicação e vem incentivando, nos últimos anos, a inclusão de estudos emergentes e de regiões economicamente desfavorecidas, fora do eixo hegemônico na área. O IAMCR 2014 tem como tema Region as frame: politics presence e practice, que visa explorar a dinâmica dos sistemas de mídia, padrões de comunicação e relações organizacionais dentro deste novo “enquadramento” da região como uma categoria física e conceitual. Este ano será homenageado o estudioso da Comunicação, Stuart Hall, um dos fundadores dos Estudos Culturais, que faleceu em 10 de fevereiro deste ano.

Professora Rosane da Silva Borges, jornalista  e doutora
em ciências da comunicação, fará conferência na Índia
sobre novas propostas de representação da mulher
negra tomando como referência e Educomunicação.
Para as conferências, o evento conta com grandes nomes da comunicação e de outras áreas, como o premiado sociólogo espanhol Manuel Castells. O Brasil terá dois conferencistas, entre eles a professora doutora Rosane da Silva Borges (UEL) que fará conferência na sessão Mediating Marginalities: Caste, Race, Ethnicity e o professor doutor Carlos Affonso Souza (UERJ). Autora de oito livros, entre eles Espelho infiel: o negro no jornalismo brasileiro (Imprensa Oficial) e a biografia de Sueli Carneiro (Summus), Rosane Borges transita em diversos campos da pesquisa em comunicação, com enfoque para o tópico do imaginário e das representações sociais em torno de grupos historicamente discriminados.

Qual a importância deste evento?

Os congressos internacionais da IMACR são um evento importante para repor o debate em torno das principais demandas da comunicação, uma área que se converteu em vetor majoritário para pensarmos o dinamismo das sociedades contemporâneas. Sabemos que além do seu aspecto técnico e veicular, a comunicação comporta uma dimensão fundante que nos provê os modos de sociabilidade em curso, colaboram para tecer as identidades fluidas que nos habitam e oferecer horizontes possíveis para os sentidos da vida cotidiana. Nesse sentido, esse congresso oferece um painel atualizado sobre as principais interrogações que movem as pesquisas na área em seus diversos aspectos, numa perspectiva transdisciplinar. Revolver o campo da comunicação e deslocar os eixos geográficos de sua atuação no âmbito da pesquisa tem sido um desafio para a IMACR.

Quais são os pontos principais da sua conferência?

Irei apresentar uma reflexão em torno das representações das mulheres negras e como tais representações derivam de um imaginário que, de per si, nos institui, social e simbolicamente. Proponho uma aliança entre educação e comunicação, para que tal imaginário seja implodido e construamos, a partir de outros referenciais, um outro imaginário que restitua efetivamente a nossa humanidade. Tomo essa questão como essencial no território da comunicação, em geral, e das mídias, em particular. Existe uma inequívoca correlação entre o racismo e o prodigioso imaginário que dá sustentação a um ideal de superioridade de uns e inferioridade de outros. Sabemos que imagem é poder, um bem importante para a disputa da hegemonia. A visibilidade do mundo, não atende apenas ao princípio iluminista da transparência, mas aos processos de instituição das crenças com as quais concordamos ou discordamos. As redes sociais vem dando escala inaudita a esse fato. É certo que algumas dessas imagens são postas sob suspeita, a exemplo das veiculadas ad nauseum sobre o conflito israel-palestino nesses últimos dias. Não temos dúvida da ação desmedida e massacrante de Israel. Por outro lado, não podemos deixar de considerar que várias dessas imagens são, comprovadamente, montagens para sensibilizar o mundo. Tal recurso nos coloca o desafio de pensar o estatuto da imagem e das crenças que elas conseguem suscitar. A disputa por atenção e adesão passa, necessariamente, pelo poder mobilizador das imagens que se multiplicam em escala exponencial. Pensar imagem, imaginário, racismo e sexismo constitui-se em urgência política.

As mulheres negras têm pouca participação em eventos como este. Como você observa isso?
Normalmente sim, principalmente na composição de conferencistas. Quando participamos de grandes conferências como essa ingressamos no rol dos grupos de trabalho, apresentando nossas pesquisas. É preciso consolidarmos grupos de pesquisa, alicerçados em bases disciplinares comuns, para que possamos partilhar as nossas investigações em escala amplificada.

Como este quadro pode ser alterado?

Por meio de incentivo à pesquisa com foco nas relações raciais. No campo da comunicação, onde a presença de pesquisadoras negras é ínfima, faz-se necessário estimular o ingresso de mulheres negras nas áreas de pesquisa afins.

Quais são suas expectativas com a Conferência?

As melhores possíveis. Acredito, pela própria natureza da Conferência, que as discussões políticas serão um fio condutor para pensarmos o tempo presente que não se permite uma compreensão mais acurada, tendo em vista a velocidade informacional. Há quem diga que devemos ser dromoaptos, ou seja, ter a capacidade de acompanhar o ritmo veloz que os suportes comunicacionais imprimem aos eventos cotidianos. Faz-se necessário dar a comunicação, do ponto de vista da investigação científica, a centralidade que ela ocupa nos desdobramentos tecnológicos que não podem, por si sós, explicar os fenômenos recentes que nos atordoam.


Texto de Silvia Castro, jornalista e pesquisadora na área da Comunicação e foi publicado originalmente no Portal Áfricas.