Por Alexandre Lucas, Colunista
Teve
um tempo em que negar a identidade comunista era uma necessidade de
sobrevivência individual e coletiva. Os comunistas tiveram de usar pseudônimos,
entrar na clandestinidade, desaparecer dos holofotes oficiais e silenciar a sua
existência, ao mesmo tempo que precisaram reafirmar princípios e aglutinar
forças políticas para derrotar os períodos de Estado de Exceção no país: Estado
Novo e a Ditadura Militar.
Na
história brasileira, as organizações comunistas foram as mais atacadas: O PCdoB
(Partido Comunista do Brasil) e o PCB (Partido Comunista Brasileiro),
principais organizações dos comunistas no país, tiveram seus dirigentes e
militantes presos, torturados, perseguidos e assassinados. Há cerca de 100 anos, os comunistas tem que
conviver e enfrentar cotidianamente a intensa campanha anticomunista, nos mais
diversos níveis e segmentos da sociedade. A campanha anticomunista tem
capilaridade social e é difundida pelos diversos aparelhos ideológicos do
estado, que vai desde as instituições religiosas, escolas ao conglomerado de
empresas de comunicação e de produtos.
O discurso da classe dominante é a narrativa da manutenção do estado
burguês, da ditadura da burguesia, ou seja, a luta anticomunista se justifica
para elites econômicas, detentoras do capital, como mecanismo de redução e
esfacelamento da organização, dos espaços de poder e das conquistas da classe
trabalhadora.
Os
comunistas, a partir de amplo leque de forças políticas do campo democrático e
progressista, tiveram papel essencial no processo de redemocratização do país,
após 21 anos de ditadura militar. Desde os meados da década oitenta do século
passado, os comunistas e suas organizações podem usar suas cores, suas siglas e
seus símbolos como a foice e o martelo que simboliza historicamente o
entrelaçamento do proletariado e do camponês.
Com
a abertura democrática no país, crescem também as abordagens de percepção
social, as formas de organização e de luta da sociedade. Formas isoladas de
perceber e resolver os problemas sociais vão ganhando espaço e fragmentando a
luta pela transformação social. É notório neste período o crescimento do
conceito de “orguinização” da sociedade, crescimento das mais diversas ONG com
discursos de substituição do papel do estado, como também do denominado
movimento identitário. As quais têm
demandas socialmente negadas e que precisam ser fortalecidas no seio da luta da
classe trabalhadora pelo seu processo de emancipação.
A
redemocratização continua impondo aos comunistas e as suas organizações o
enfrentamento ao anticomunismo e ao mesmo tempo a defesa de princípios teóricos
sobre a concepção das relações geradoras de exploração e opressão.
A
todo tempo tentam impor uma narrativa de que ser comunista está ultrapassado,
como se as relações de exploração, opressão e a desigualdades sociais e econômicas
tivessem sido superadas.
As
últimas eleições demonstraram uma peculiaridade que precisar ser percebida no
contexto de aglutinação de forças sociais de caráter orgânico. A direita de
feição fascista e a chamada da esquerda identitária, ambas tiveram um bom
desempenho eleitoral, a partir da afirmação de seus princípios e uma
comunicação com o mesmo teor, isso não aconteceu de forma relâmpago, mas
processual.
Os
comunistas hoje não precisam mais esconder as suas identidades. Vivenciamos uma
atmosfera política favorável à ampliação da comunicação e da formação que reafirma
a identidade comunista.
A
identidade comunista se afirma a partir dos princípios teóricos e não se
assemelha ao achismo, espontaneísmo e idealismo. Refirmar Lênin continua sendo atual:
"Sem teoria revolucionária não pode haver movimento revolucionário".
Ao mesmo a identidade comunista deve se
incorporar a uma comunicação que
reafirme a sua própria identidade.
A Coca-Cola por exemplo, maior símbolo do capitalismo no mundo, não abre
não da sua identidade, não se bebe Coca-Cola sem rótulos. No campeonato de
futebol os times não jogam sem termo, para não confundir os torcedores. No
campo da política os comunistas não podem jogar sem sua identidade. É se
reafirmando que os comunistas fazem crescer a sua militância e a sua densidade
eleitoral. É possível se afirmar, sendo amplo, falando para além dos pares e
sem negar identidades e princípios.