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Alunos da USP criam podcast de “cantação” de histórias para crianças negras

 

Arte sobre foto/Spotify.

No final do mês de maio estreou o podcast Calunguinha, produzido por Stela Nesrine, estudante de Educomunicação da Escola de Comunicações e Artes (ECA) , e Lucas Moura, aluno de Pedagogia da Faculdade de Educação (FE), ambas da USP. O projeto, que recentemente ficou entre os dez podcasts mais escutados do Brasil, foi um dos vencedores da Sound Up Brasil – iniciativa elaborada por uma das maiores plataformas de streaming do mundo, o Spotify, com o objetivo de incentivar produções de pessoas pretas e indígenas.

Nesta primeira temporada, os 12 episódios têm como foco figuras negras que sofreram apagamento histórico. O acesso à maioria dessas lendas estava restrito aos poucos documentos e relatos orais, mas, agora, elas chegam aos ouvidos de todo o País nas vozes de diversos artistas brasileiros.

O protagonista do enredo é Calunguinha, que é descrito pelos criadores do podcast como um garoto “pretinho e crespinho” que gosta de tomar chá enquanto ouve histórias. Em uma noite, a fumaça da bebida soprada pela mãe chega ao rosto do menino e o leva ao mundo dos sonhos, onde encontra seu avô. O ancestral, então, lhe entrega o livro Histórias para ninar crianças pretas, memórias para acordar pessoas brancas, que, segundo ele, “só vai ser vivo se você souber aquecê-lo com sua voz.” E é por meio dessas páginas, então, que a criança encontra os personagens pretos que viverão suas narrativas cantadas para a mãe antes de dormir.

A criação do podcast

Caetano, de 5 anos, filho da Stela e enteado do Lucas, é um dos pontos de partida para a criação de Calunguinha. Em uma noite de pandemia, quando o pequeno não queria dormir mesmo depois de ouvir diversas histórias e cantigas, ficou evidente para os adultos a necessidade de mais conteúdos para as crianças, especialmente as crianças pretas.

A partir de então, o casal começou rapidamente a esquematizar a proposta, para poder fazer a inscrição na Sound Up dentro do prazo. Stela conta que, além da ideia, eles não tinham mais nenhum material ou ferramenta para a produção, e que o projeto do Spotify foi imprescindível para esse suporte.

Ainda segundo a idealizadora, o podcast trouxe vontade de estudar mais, conhecer mais e se apropriar mais das tecnologias. Diante disso, Stela se interessou pelo curso de Educomunicação. “Me apaixonei por Educom e pela possibilidade de trabalhar com projetos passeando por várias linguagens artísticas, usando a comunicação para alcançar objetivos educacionais.” Ela acrescenta que o curso tem sido um espaço de incentivo importante para pesquisas que associam teorias, reflexões e “construção de projetos que tenham coragem de dar forma aos nossos sonhos coletivos.”

Já para o desenvolvimento dos roteiros, Caetano foi essencial. “Não existiria Calunguinha sem Caetano. Tudo é inspirador na beleza que é viver com ele: os aprendizados, as risadas, a sensibilidade do olhar pro mundo”, diz Lucas, roteirista e diretor do podcast.

Stela, que é responsável pela direção musical, acrescenta que também não haveria Calunguinha sem Marcelly Medrado, sua irmã mais nova, que dá voz ao protagonista. Além dela, Dudu Oliveira participa da obra como o avô Raimundo e Kleber Brianez interpreta o Capitão do Mato.

Vozes especiais

Além do elenco fixo, o podcast conta com participações especiais de diversos artistas da dramaturgia e da música brasileiras. A cada episódio, uma personalidade assume o papel do personagem com quem Calunguinha se encontrará.

No primeiro episódio, por exemplo, Lázaro Ramos dá voz a Malunguinho, líder do Quilombo do Catucá que possui uma chave mágica capaz de abrir qualquer coisa. Já Naruna Costa interpreta Teiniaguá, uma princesa moura que é confundida com uma pessoa escravizada, é perseguida e se transforma em uma lagartixa cuidadora da floresta.

Para acompanhar novidades e bastidores, siga as redes sociais do Calunguinha.
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Com informações do Geledés.

Em parceria com a USP, indígenas aprendem a produzir podcasts para divulgar sua cultura

 

(Comunidade Pataxó Hãhãhãe vai trabalhar com podcasts – FOTO | Divulgação/Kamaiura Anama).

O que nasceu para orientar a população indígena sobre a pandemia da covid-19 se transformou em meio de resgate e preservação da cultura desses povos. Trata-se do projeto Embaixadores do Povo Indígena, idealizado pela professora Carolina Aires, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP, em parceria com a comunidade indígena Pataxó Hãhãhãe (sudeste da Bahia) e a Rádio USP.

Segundo a professora Carolina, o objetivo inicial era orientar o povo indígena a produzir e distribuir podcasts como recurso para informar a aldeia quanto à prevenção do coronavírus e o combate da desinformação sobre as vacinas. Mas, a esses temas, os membros indígenas do projeto e novos produtores de podcast devem acrescentar outros relacionados à cultura e tradição de seu povo.

Esses representantes da comunidade Pataxó Hãhãhãe vão usar as ferramentas digitais para disseminar conteúdos com “linguagem de indígena para indígena”. Conteúdos estes que, enfatiza Carolina, importam “tanto pela questão do apagamento cultural, quanto pela briga pelo território”; temas abordados no Embaixadores do Povo Indígena e que resultarão em produções “com linguagem de indígena para indígena”, acrescenta Hemerson Pataxó, um dos integrantes do projeto.

O trabalho que vêm realizando na comunidade, conta o pataxó, de preservar e divulgar a cultura indígena, é importante porque envolve, principalmente, as gerações mais jovens; consumidores das novas tecnologias, os jovens agora serão produtores de podcasts com a possibilidade de “se aprofundarem mais e mais na sua história“. O líder indígena avalia que as redes sociais vêm demandando cada vez mais tempo dos jovens, tempo que “poderiam estar em contato com os anciãos”, ouvindo mais sobre os costumes e tradições.

Mas, ao participar do projeto, acredita o pataxó, esses jovens devem colaborar com o fortalecimento da cultura e aprofundamento da história de seu povo. Como já estão nas redes sociais, agora poderão usar a “ferramenta com uma riqueza maior de cultura e entretenimento”, completa.
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Por Laura Oliveira, no Jornal da USP. 
Áudio | Rádio USP.