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| A professora doutora Erica Bispo. (FOTO | Reprodução | Redes Sociais). |
“Sou mulher e sou preta. Então, tudo que faço tem que ter erros. Se não tiver, arranjam.” – Paulina Chiziane.
Érica
Bispo foi aprovada em primeiro lugar no concurso para docente de Literaturas
Africanas de Língua Portuguesa na Universidade de São Paulo (USP). Uma
conquista valiosa quando pensamos no lugar que a USP ocupa no cenário da
educação no Brasil e no mundo. No entanto, Érica teve que interromper o
contentamento por causa de pessoas brancas concorrentes no certame, que
assinaram denúncias contra a sua aprovação. O concurso foi cancelado.
Se
não fosse trágica e real, a história cairia muito bem como uma sátira cruel. Só
num país profundamente marcado pelo racismo, as pessoas brancas se unem para
tomar o lugar conquistado de maneira legítima por uma mulher negra.
Lembro
de uma passagem do texto “As Cidadanias Mutiladas”, escrito pelo geógrafo
Milton Santos: “Quem por acaso passeou na maior universidade deste estado e
deste país, a USP não tem nenhuma dúvida de que ela não é uma universidade para
negros.”
Milton
escreveu a reflexão há mais de 20 anos, mas continua atual. Sabemos que, desde
o primeiro governo do presidente Lula (2003-2006), as universidades passaram a
ter um aumento de estudantes negros e pobres. Mesmo assim, as universidades
públicas continuam excludentes, com diversos cursos como Direito, Engenharias,
Medicina sendo majoritariamente brancos.
O
número de docentes negros é vergonhoso. Existem menos de 4% de professores
negros nos quadros da USP, segundo o relatório da Rede Liberdade e Ação
Educativa (2025). Mas podemos ir um pouco adiante, o último Censo da Educação
Superior, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira (INEP), revelou que apenas 21% dos docentes no ensino superior
brasileiro são negros.
Não
há como ignorarmos que o racismo institucional é o pilar principal desta baixa
densidade na docência universitária, desconstruindo todos os discursos
defensores da meritocracia. Érica Bispo provou ser a melhor preparada, mas ela
não é uma mulher branca. Por isso, os brancos arranjaram um erro.
_______
Por Ricardo Corrêa, na Alma Preta.

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