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Cariri receberá II Congresso de Tradições de Matrizes Africanas



Este congresso tem como intuito abordar a realidade das tradições de matrizes africanas, esclarecendo o que as mesmas têm de importante para toda a sociedade brasileira na perspectiva de valorizá­-las e desconstruir conceitos estereotipados sobre a cultura afro-­brasileira.

Este é uma continuação e evolução do I Congresso de Religiões de Matriz Africana no Cariri, realizado em fevereiro de 2014 no IFCE ­Campus Juazeiro do Norte, em três dias, onde contamos com o apoio da Prefeitura de Juazeiro do Norte, UFCa, IFCE, Fundação Palmares, CCBNB, Sesc e Terreiros de Candomblé.  A troca do nome foi devido a expansão que este evento tomou, deixando de tratar exclusivamente de religiões e abrangendo toda a cultura negra.

Haverá:

1.Submissão de artigos científicos e apresentações de trabalhos de alunos do ensino médio sobre o tema do evento;

2. Palestras de estudiosos em assuntos da cultura negra no Brasil e no Cariri;

3. Debates dos palestrantes e o público;

4. Apresentações artísticas como Samba-­de­-roda e outros;

5. Exposição de artes e objetos tradicionais afros;

6. Oficinas com temas afros;

7. Premiações por méritos na luta contra o racismo e promoção da igualdade racial, religiosa e social;

8. Concurso de redação, a nível regional, sobre o tema deste evento;

9. Cine-­escola: Exibição de filme\documentário com roda ­de ­conversa em escolas da rede pública;

10. Culminância com uma festa tradicional no terreiro, aberta a todos participantes.

Organização:
Terreiro de Candomblé de Nação Angola Nzo Ngana Nzazi
(Casa do Senhor do Trovão)

Secretaria da Igualdade Racial é premiada por inovação na gestão pública federal



O Projeto de Integração de Dados do Programa Brasil Quilombola foi premiado no 19º Concurso Inovação na Gestão Pública Federal, promovido pela Escola Nacional de Administração Pública (Enap) para reconhecer e disseminar soluções inovadoras em organizações do Governo Federal e estimular a geração de iniciativas criativas e inovadoras de gestão nos órgãos públicos, contribuindo para aumentar a eficiência e a eficácia das operações do Estado brasileiro.

O Projeto de Integração de Dados do PBQ busca , entre outros objetivos, a análise dos territórios Quilombolas.
Além do projeto da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), outros nove projetos foram selecionados e a classificação final dos vencedores e os prêmios serão anunciados na solenidade de premiação, prevista para março, quando as equipes terão a oportunidade de apresentar as práticas ao público. Os responsáveis pelas iniciativas mais bem colocadas na classificação serão contemplados com visitas técnicas à França, Noruega e Canadá, países que apoiam a iniciativa da Enap.

O Projeto de Integração de Dados do Programa Brasil Quilombola foi uma das ferramentas desenvolvidas por meio do projeto Quilombos Sustentáveis, uma parceria entre a Seppir, a Fundação Ford e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). O projeto contempla, de um lado, uma reivindicação dos movimentos sociais por maior transparência na gestão do PBQ; de outro lado, uma necessidade gerencial de produzir informações articuladas sobre os territórios e comunidades, promovendo maior eficácia nas ações implementadas.

De acordo com o gestor da Secretaria Executiva da Seppir, Artur Sinimbu, o Projeto preenche uma lacuna e oferece uma visão panorâmica das entregas do governo e do perfil das comunidades. “Antes do sistema, os dados relacionados à pauta quilombola existiam, mas de forma pulverizada. Hoje o sistema permite um alto nível de integração desses dados, que passam a dialogar entre si de maneira a produzir resultados efetivos, como o mapeamento de carências e de oportunidades de aplicação das políticas públicas”, explica.

Além de padronizar formatos e promover a integração de bancos de dados, o projeto também está colaborando para o desenvolvimento de uma plataforma eletrônica denominada Sistema de Monitoramento do Programa Brasil Quilombola (PBQ). O Sistema disponibiliza, de forma didática, amigável e interativa, informação de políticas estratégicas para a promoção da pauta quilombola.




No XVII Congresso, MNU lança campanha em defesa do feriado de 20 de novembro


O XVII Congresso Nacional do Movimento Negro Unificado, realizado em agosto, próximo passado, encaminhou uma resolução para a realização de uma Campanha em defesa do Feriado Nacional em 20 de Novembro, Dia da Consciência Negra.

Sendo fundamental a participação de ativistas do campo democrático e popular, organizações do movimento negro e dos movimentos populares sociais, parlamentares, representações institucionais e população em geral.

A importância dessa ação garantirá um momento de reflexão e mobilização nacional que reconheça a memória material e imaterial do povo negro no Brasil e no Mundo.

A sociedade brasileira contemporânea precisa de um grande axé, ou seja, reconhecer que em nossa história houve uma experiência de Estado Democrático, Multirracial, Laico, e Socialista conquistado por “ZUMBI” e “ DANDARA “, no “QUILOMBO DOS PALMARES”.

Além disto, é legítimo que os afrodescendentes que perfazem 51% da população brasileira tenham um dia de celebração de suas conquistas e contribuições para a construção do nosso país.

No Brasil, o legado do povo negro, em sua ancestralidade civilizatória, trouxe em suas insurreições políticas e manifestações religiosas a essência da construção de uma Nação Independente e Democrática.

O Feriado de 20 de Novembro é um marco federativo à resistência das oligarquias capitalistas, que detém o poder econômico regional e, se integram ao conservadorismo racista, machista, xenófobo e intolerante contra os negros, nordestinos, pobres e a população LGBT.

Em suas atividades a campanha tem o caráter livre de iniciativa popular, na organização de debates que fortaleçam a pauta de combate ao racismo.

As agendas poderão acontecer em manifestações em redes sociais, organização de audiências públicas, petições, atos, seminários, caminhadas e outras manifestações.

Bem como, nas iniciativas dos poderes executivo, legislativo e judiciário para a aprovação dos projetos que tramitam no Congresso Nacional.

As organizações do movimento social negro estarão em articulação constante para conquistar êxito pela aprovação do feriado.

Na pauta da campanha estão importantes temas nacionais, “entre outros”:

1 – Reforma Política do Ponto de Vista do Povo Negro.
2 – Comissão da Verdade da Escravidão Negra , aprovada pelo Conselho Federal da OAB.
3 – Contra o Genocídio da Juventude Negra.
4- Titulação das Terras Remanescentes de Quilombos.
5 – Apoio e participação na Marcha das Mulheres Negras em 2015.
6 – Aprovação do Fundo Nacional de Reparação.
7 – Retirada das tropas brasileiras do Haiti.
8 – Contra a Homofobia e Intolerância à população LGBT.
9 – Contra a xenofobia no Brasil e no Mundo.
10 – Contra o crescimento dos movimentos neonazistas no Brasil.
11 – Pela implementação da Lei 10.639.
12 – Pela rediscussão do CONNEB, Congresso de Negras e Negros no Brasil.
13 – Pela rearticulação Pan Africanista de Solidariedade Internacional; África, América Latina, Central , Caribe, Oriente Médio.
14 – Pelo acesso a tecnologias e mídias contemporâneas e a regulação e democratização da comunicação contra o monopólio da mídia comercial.
15 – Pela liberdade de expressão da Religiosidade de Matriz Africana e a defesa dos territórios de resistência e tradição das culturas negras.
16 – Pela defesa do meio ambiente e a sustentabilidade global.
17 – Por Trabalho e Renda e Políticas Públicas de Emprego.
18 – Por Direito à Moradia e Habitação Digna.
19- Pela Reparação aos Povos Espoliados Pelo Escravismo.



Ações afirmativas do negro é alvo de reflexões na EEEP Wellington Belém de Figueiredo


Alunos/as, professores/as, coordenação e demais funcionários no auditório da EEEP Wellington Belém de Figueiredo
durante encontro reflexivo sobre a contribuição do negro na formação do Brasil.
A Escola Estadual de Educação Profissional Welington Belém de Figueiredo, em Nova Olinda, realizou na última quinta-feira, 20, ato reflexivo sobre a contribuição dos negros e negras na formação da sociedade brasileira a partir de ações afirmativas desse grupo social. A ideia partiu do projeto intitulado “Cultura Afro-brasileira na Escola” que vem sendo desenvolvido desde que esta instituição de ensino iniciou suas atividades letivas no dia 05 de maio do corrente ano.

O ensaio científico corrobora para a efetivação da Lei nº 10. 639/2003, tendo, portanto, o propósito de conscientizar o alunado desse nível de ensino, da importância dos negros e das negras e de sua história na formação da sociedade brasileira. Na abertura do encontro, a professora e coordenadora Ana Maria afirmou “neste dia em que a sociedade brasileira se volta para falar sobre a consciência negra, é preciso que estejamos atentos e vigilantes quanto a promoção da igualdade racial. Pensar assim é perceber que não é só em um dia que iremos extirpar de vez esse câncer social que nos assola, o racismo, tampouco será em um único momento que iremos contribuir para a inserção do negro e da negra nos livros didáticos como promotores e formadores da sociedade brasileira” e completou discorrendo que “só se constrói uma sociedade antiracista e recohecedora da importância dessa classe social se se tiver uma discussão constante e cotidiana e é extamente por isso que nossa escola está desenvolvendo semanalmente atividades que corroboram para uma educação que valoriza e reconhece o negro como sujeito protagonista da história”.

Como parte integrante do projeto idealizado pelos professores das ciências humanas – Edisângela Sales (Geografia), José Nicolau (História) e Yane Moura (Sociologia/Filosofia), houve a promoção de atividades durante todo o dia. Pela manhã a educadora Dayze Vidal, do Pretas Simoa – Grupo de Mulheres Negras do Cariri, ministrou palestra ao qual dedicou cerca de 60 (sessenta) minutos para arguir sobre “A Implantação e a Aplicabilidade da Lei 10.639/03 nas Redes Públicas de Ensino”. Em sua fala apareceram noções como a falta de formação para os profissionais do ensino no que toque a temática em evidência, o que acaba contribuindo para a abordagem de forma superficial dos conteúdos nas escolas. “E quando há o tratamento”, argumentou Dayze. Ela chegou a discorrer ainda sobre as conquistas, desafios e perspectivas da cultura afro retratada no seminário dos dez anos da lei que foi referência para a roda de conversa com alunos/as, professores/as, coordenação e funcionários da escola.


Ainda pela manhã houve a apresentação do Grupo “CultuArte Capoeira”, do município de Altaneira, coordenado pelo professor/mestre Cesar Rodrigues. Os alunos encerraram o momento matutino com a exposição em forma de ações afirmativas de pernsonalidades negras que mudaram o mundo. Fez parte dessa mostra homens e mulheres como Carolina de Jesus, Dandara, Martin Luther King Jr., Mestre Bimba, Nelson Mandela, Zumbi dos Palmares, Mestre Pastinha, Luis Gama, Machado de Assis, Franscisco José do Nascimento (Dragão do Mar), Abdias Nascimento, Grande Otelo, João Cândido (Almirante Negro), Mãe Stella, Cruz e Sousa, Lima Barreto, Antonieta de Barros, Tereza de Benguela, Luiza Mahin, Oliveira Silveira e Beatriz Nascimento.

À tarde, o cronograma seguiu com um documentário tendo como protagonistas os discentes que em roda de conversas trataram de temas como o racismo, as ações afirmativas do negro e da negra, assim como sobre a atualidade do continente africano. Com um dos coordenadores deste encontro reflexixo apresentamos um diagnóstico sobre o sentimento de pertencimento do alunado quanto a cor ou raça por curso e da escola. O gráfico não retrata de fato a realidade. Em todos os cursos o número de pessoas que se identificaram como negro foram sempre menores. Explicamos que os dados levam a uma reflexão que não foge a realidade e que é fruto de um processo histórico em que o negro sempre ocupou um papel inferior na sociedade, corroborando para que cânceres sociais como preconceito e o racismo se perpetue. Tal assertiva permite que a opressão seja alimentada pelo próprio negro que se esconde e tem medo de se autoidentifcar como tal, pois teme ser tachado como inferior, sem cultura e que não irá lograr êxito na vida. Citamos exemplos de que quando o assunto refere-se as diferenças e as desigualdades etnico-raciais na mídia não houve grande mudanças. Ao contrário, o que se percebe são discursos falsários e o negro e a negra sempre ocupando papeis inferiores em relação ao branco. Toda via, o gráfico serviu também para que pudéssemos contribuir (e acredito que estamos contribuindo) para o despertar da consciência crítica dos nossos alunos quanto as relações etnicos-raciais.

Fez parte também da programação o desfile da beleza negra (homens e mulheres), o recital do Poema “Navio Negreiro”, de Castro Alves, Danças que retratam a cultura africana (Waka Waka), além da encenação sobre a música “Raiz de Kunta Kinte”, tendo como norte a relação feitores e negros escravizados.

Segundo Lúcia Santana, diretora da instituição, o dia foi muito proveitoso, pois são encontros como esses que podem contribuir para a construção de uma educação voltada para a igualdade racial.

A cobertura fotográfica foi realizada pelos professores Leonardo Barbosa, Yane Moura e Lucélia Muniz. 

Confira mais fotos clicando aqui.



Com informações da EEEP Wellington Belém de Figueiredo

Simpósio Agô, Carolina!, da FCP, desdobrará vida e obra da escritora em seu centenário


A Fundação Cultural Palmares (FCP/MinC) realizará na próxima quarta-feira (26) o simpósio Agô, Carolina! em celebração ao Centenário da escritora Carolina Maria de Jesus. Durante o evento serão lançados dois de seus textos inéditos: Onde estaes felicidade e Favela. A proposta é que, a partir de suas obras e ensaios, sejam debatidas questões em torno da inserção da população negra nos espaços oficiais de cultura.


O simpósio é o primeiro dentro de um projeto de pesquisa  dedicado aos estudos da tradição oral, da memória e dos saberes negros no Brasil. Referência da literatura de periferia, a obra de Carolina foi fundamental para a compreensão das populações vulneráveis que compunham a sociedade brasileira, a partir da década de 1960.

Catadora, teve enquanto recursos à sua formação e obra apenas o que encontrava pelas ruas: livros, cadernos e canetas descartados por moradores da grande São Paulo. Porém, não se intimidou em registrar as necessidades, exclusão e abandono em que viveu.

As coordenadoras do simpósio Kátia Santos, assessora Internacional da FCP/MinC, e Néia Daniel,  representante da FCP no Rio de Janeiro, destacam a necessidade de se lembrar Carolina por sua história e trajetória. Kátia ressalta que apesar do pouco estudo Carolina fez da escrita sua ferramenta de luta. “Ela foi a oralidade bem sucedida que se grafou por sua determinação em registrar a própria existência”, disse.

Legado social – A obra de Carolina de Jesus é hoje descrita por especialistas como registro histórico das realidades humanas por ela assistida. Esse registro serviu também para proporcionar ao Estado uma nova visão, evidenciando a negligência à população negra em vários aspectos sociais.

Destacando a importância desse material que é hoje tratado como documento, a assessora destaca que “A ousadia de Carolina foi escrever sem preocupação com qualquer impedimento. O que ela tinha era o papel e a caneta e se utilizou disso para grafar o que lhe afligia”, diz Kátia.

Lançamento – Os textos inéditos fazem parte do livro Onde estaes felicidade? As histórias constam tais como foram escritas por Carolina e de, acordo com Kátia, com uma linguagem simples e um português que “não por acaso, foge às regras da norma culta”. No primeiro texto, de mesmo nome do livro, Carolina trata de um triângulo amoroso entre os personagens José dos Anjos, Maria da Felicidade e um viajante.

A história aborda os sonhos da jovem, que pouco sabe sobre o mundo e que tem nas mãos o destino de dois homens por ela completamente apaixonados. A autora narra o cotidiano da moça, marcado por uma linha tênue entre a razão e a loucura. Já no texto intitulado Favela, Carolina traz à tona histórias paralelas de moradores de um assentamento informal na cidade de São Paulo, onde, em uma das situações ressalta as angústias sofridas pelos ameaçados de despejo, “invasores” de uma área privada.


Via FCP

Lei específica para a cultura é defendida pela Fundação Cultural Palmares


O presidente da Fundação Cultural Palmares (FPC/MinC), Hilton Cobra, propôs nesta terça-feira (18) a criação de uma lei específica para a cultura, que destrave os processos burocráticos ao financiamento das produções artísticas e culturais.


A proposta foi feita durante a audiência pública “Financiamento de Políticas de Estímulo à Cultura Negra”, da Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados, em alusão ao Dia Nacional da Consciência Negra. Hilton Cobra explicou as dificuldades enfrentadas pelos produtores culturais. “É complicado compreender que a lei que permite a produção de uma peça de teatro é a mesma utilizada pelas construtoras para a edificação de pontes”, comparou.
Ele destacou a existência de setores da economia que têm lei própria para o destravamento das burocracias. “É possível que a Cultura também tenha uma lei própria. Precisamos montar uma comissão que pense os aspectos específicos da cultura brasileira”, afirmou Cobra.

Financiamento da Cultura - Para Cobra, apesar dos R$ 36 milhões investidos para a cultura negra nos últimos dois anos, na gestão da Ministra Marta Suplicy, ainda há muito o que ser feito para a produção e difusão da cultura de matriz africana no Brasil. “São necessários recursos para o desenvolvimento das artes, a garantia da salvaguarda dos bens materiais e imateriais negros, a reforma dos museus e o tombamento dos terreiros de candomblé, por exemplo”, disse.

O presidente alertou ainda, para a importância da articulação social. “Não é possível desejar mudanças sem mobilização”, disse. Ele solicitou empenho dos deputados para incluir no PROCULTURA, Projeto de Lei Nº 1139, de 2007, uma emenda onde as empresas que desejem se beneficiar da renúncia fiscal, destinem um mínimo de 20% para a arte e a cultura negra.

Para a ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), Luiza Bairros, o problema do financiamento da cultura negra está, também, na baixa representação de negros e mulheres no Parlamento. “As proporções praticamente se invertem: os homens brancos, que eram cerca de 42% dos candidatos, constituem quase 80% dos parlamentares eleitos”, esclareceu.

Luiza acredita que o debate sobre a reforma política também tem que incluir o tema da baixa representação para que as demandas específicas dos variados seguimentos da população tenham possibilidades em termos de elaboração de estratégias e soluções de problemas.

O 20 de Novembro – Em concordância com Cobra, a deputada Alice Portugal, presidente da Comissão, ressaltou a necessidade de um orçamento constitucionalizado para a Cultura. “O vinte de novembro não pode ser só a lembrança da luta contra a chaga da escravidão. “É fundamental garantir posições do legislativo brasileiro para a construção de estratégias desarticuladoras do preconceito”, disse.

De acordo com ela, já existe uma curva ascendente da valorização das expressões culturais de matriz africana. “Mas que, precisa ser fortalecida em reparação ao sofrimento histórico vivido pela população negra do nosso país”, completou.

A audiência proposta pelos deputados Alice Portugal, Jandira Feghali, Paulão, Luiz Alberto e Jean Wyllys contou com as participações da secretária da Cidadania e da Diversidade Cultural do Ministério da Cultura, Márcia Rollemberg, e do cantor Lazzo Matumbi.


Via Fundação Cultural Palmares

Personalidades Negras que Mudaram o Mundo: Zumbi dos Palmares


Nascido no ano de 1655, livre, já no Quilombo que faz alusão ao seu próprio nome (Palmares), Zumbi (que quer dizer o mesmo que fantasma ou espírito, no idioma africano quimbundo, e na concepção brasileira da palavra, guerreiro)  foi um dos, senão o principal ícone da resistência negra ao trabalho escravo no período do Brasil Colônia. Com aproximadamente 6 anos de idade, Zumbi fora capturado em um dos ataques das tropas da colônia ao quilombo, sendo entregue a um missionário português, que o batizou com o nome 'Francisco' Zumbi, e educou-o com os sacramentos da igreja católica, em português e latim. Aos 15 anos de idade, Zumbi consegue fugir e retorna aos Palmares, substituindo, mais tarde, devido ao seu grande destaque como estrategista e líder, o seu tio então falecido Ganga Zumba.

Zumbi era muito respeitado por ter sido educado por brancos e ainda assim, não ter abandonado suas raízes. Em sua liderança ou reinado, como os próprios quilombolas lhe atribuíam o título de rei, conduziu o Quilombo dos Palmares ao seu apogeu militar, econômico, territorial e social, liderando os guerreiros em enfrentamentos com surpreendentes estratégias militares e táticas de guerrilha, onde se invadiam e atacavam fazendas de cana-de-açúcar e engenhos para resgatar escravos e assim adquiriam também um incrível poderio bélico, com muitas armas, usurpadas como despojo desses ataques.      

A Lenda: Zumbi dos Palmares Imortal

Devido à grande dificuldade enfrentada pelas tropas da colônia sob a autoridade da capitania de Pernambuco, e até mesmo de invasores holandeses que derrotaram a própria capitania dominante, mas não os quilombolas, criou-se entre o povo, e entre o próprio quilombo, o mito sobre a imortalidade de Zumbi, exímio comandante e capoeirista, que tinha estratégias de ataques e defesa incríveis, com metodologias bem elaboradas, Zumbi promovia ataques épicos às tropas da Capitania e mais tarde, aos holandeses que também tentaram subjugar Palmares. Zumbi, por muito tempo gerava essa atmosfera legendária de uma possível imortalidade concedida por seus deuses, que supostamente lhe fecharam o corpo, dando-o muito poder sobre seus inimigos.

O Outro Lado da História

Alguns historiadores e autores levantam Zumbi não como um herói em sua totalidade da palavra, mas sim o oposto, relatando-o em seus registros e obras como uma espécie de tirano que, muitas vezes, impunha por meio de captura aos escravos que se negavam a seguir com as caravanas de Zumbi para o quilombo, uma adesão forçada à vida nos Palmares. Considera-se até o fato de um regime de escravidão entre os próprios quilombolas e o despotismo, que era executado a negros fugitivos do quilombo, recapturados e mortos, a servir de exemplo para não se transgredir a lei dos Palmares.

A Morte de Zumbi

Após muitas tentativas de exterminar com Palmares (um século, a contar da liderança de Ganga Zumba, para ser mais preciso) por parte da capitania de  Pernambuco, o governador, ouvindo falar dos feitos,  da valentia e da habilidade dos bandeirantes que exploravam a região de São Paulo e o sudeste brasileiro,  resolve contratar o bandeirante paulista Domingos Jorge Velho com suas tropas a organizar uma invasão ao quilombo, quinze anos após Zumbi ter assumido a liderança dos Palmares. Em uma das investidas, em 06 de fevereiro de 1694, a capital de Palmares foi destruída e Zumbi, apesar de ferido, consegue fugir. Porém, refugiado quase dois anos depois, foi traído por Antônio Soares, um de seus aliados que, capturado pelos bandeirantes e sob a promessa de liberdade, revelou o local onde se escondia Zumbi. Esse, por sua vez, foi surpreendido e morto pelo capitão Furtado de Mendonça na Serra dos irmãos, região de Alagoas.     

O herói foi decapitado e teve, por ordem do governador, em 20 de novembro de 1695, sua cabeça exposta na capital, Recife, como uma prova de que a suposta imortalidade de Zumbi não passara de uma lenda e de que Palmares, enfim tinha sido derrotado.



Oralidade e Conhecimentos: Contos Africanos


Na cultura africana a fala ganha força, forma e sentido, significado e orientação para a vida. A palavra é vida, é ação, é jeito de aprender e ensinar. “O poder da palavra garante e preserva ensinamentos, uma vez que possui uma energia vital, com capacidade criadora e transformadora do mundo. Energia que possui diferentes denominações para as diversas civilizações, por exemplo, para os bantus essa energia é hamba, já para o povo iorubá a energia é o axé.”

A tradição oral pode ser vista como um cabedal de ensinamentos, saberes e conhecimentos que veiculam e auxiliam homens e mulheres, crianças, adultos/as e velhos/as a se integrarem no tempo e no espaço e nas tradições. Sem poder ser esquecida ou desconsiderada, a oralidade é uma forma encarnada de registro, tão complexa quanto a escrita, que se utiliza de gestos, da retórica, de improvisações e de danças como modos de expressão. 

Confira alguns Contos Africanos

A Lua Feiticeira e a Filha que não sabia pilar

A Lua tinha uma filha branca e em idade de casar. Um dia apareceu-lhe em casa um monhé pedindo a filha em casamento. 

A lua perguntou-lhe:— Como pode ser isso, se tu és monhé? Os monhés não comem ratos nem carne de porco e também não apreciam cerveja…
Além disso, ela não sabe pilar…

O monhé respondeu:

– Não vejo impedimento porque, embora eu seja monhé, a menina pode continuar a comer ratos e carne de porco e a beber cerveja… Quanto a não saber pilar, isso também não tem importância pois as minhas irmãs podem fazê-lo.

A lua, então, respondeu:
– Se é como dizes, podes levar a minha filha que, quanto ao mais, é boa rapariga.

O monhé levou consigo a menina. Ao chegar a casa foi ter com a sua mãe e fez-lhe saber que a menina com quem tinha casado comia ratos, carne de porco e bebia cerveja, mas que era necessário deixá-la à-vontade naqueles hábitos. Acrescentou também que ela não sabia pilar mas que as suas irmãs teriam a paciência de suprir essa falta.

Dias depois, o monhé saiu para o mato à caça. Na sua ausência, as irmãs chamaram a rapariga (sua cunhada) para ir pilar com elas para as pedras do rio e esta desatou a chorar.

As irmãs censuraram-na:

– Então tu pões-te a chorar por te convidarmos a pilar?… Isso não está bem! Tens de aprender porque é trabalho próprio das mulheres.

E, sem mais conversas, pegaram-lhe na mão e conduziram-na ao lugar onde costumavam pilar.
 Quando chegaram ao rio puseram-lhe o pilão na frente, entregaram-lhe um maço e ordenaram que pilasse.

A rapariga começou a pilar mas com uma mágoa tão grande que as lágrimas não paravam de lhe escorrer pela cara. Enquanto pilava ia-se lamentando:

– Quando estava em casa da minha mãe não costumava pilar… Ao dizer estas palavras, a rapariga, sempre a pilar e juntamente com o pilão, começou a sumir-se pelo chão abaixo, por entre as pedras que, misteriosamente, se afastavam. E foi mergulhando, mergulhando… até desaparecer.

Ao verem aquele estranho fenómeno, as irmãs do monhé abandonaram os pilões e foram a correr contar à mãe o que acontecera. Esta ficou assustada com a estranha novidade e tinha o coração apertado de receio quando chegou o monhé, seu filho.

Este, ao ouvir o relato do que acontecera à sua mulher, ralhou com as irmãs, censurando-as por não terem cumprido as suas ordens. Apressou-se a ir ter com a lua, sua sogra, para lhe dar conta do desaparecimento da filha.

A lua, muito irritada, disse:

– A minha filha desapareceu porque não cumpriste o que prometeste. Faz como quiseres, mas a minha filha tem de aparecer!

– Mas como posso ir ao encontro dela se desapareceu pelo chão abaixo?

A lua mudou, então, de aspecto e, mostrando-se conciliadora, disse:

– Bom, vou mandar chamar alguns animais para se fazer um remédio que obrigue a minha filha a voltar… Vai para o lugar onde desapareceu a minha filha e espera lá por mim.

O monhé foi-se embora e a lua chamou um criado ordenando:

– Chama o javali, a pacala, a gazela, o búfalo e o cágado e diz-lhes que compareçam, sem demora, nas pedras do rio onde desapareceu a minha filha.

O criado correu a cumprir as ordens e os animais convidados apressaram-se para chegar ao lugar indicado. A lua também para lá se dirigiu com um cesto de alpista. Quando chegou ao rio, derramou um punhado de alpista numa pedra e ordenou ao porco que moesse.

O porco, enquanto moía, cantou:
– Eu sou o javali e estou a moer alpista para que tu, rapariga, apareças ao som da minha voz!

Nesse momento ouviu-se a voz cava da menina que, debaixo do chão, respondia:
– Não te conheço!

 O javali, despeitado, largou a pedra das mãos e afastou-se cabisbaixo. Aproximou-se em seguida a pacala e, enquanto moía, cantou:
– Eu sou a pacala e estou a moer alpista para que tu, rapariga, apareças ao som da minha voz!

Ouviu-se novamente a voz da menina que dizia:
– Não te conheço!

A gazela e o búfalo ajoelharam também junto do moinho, fazendo a sua invocação, mas a menina deu a ambos a mesma resposta:
– Não te conheço!

Por último, tomou a pedra o cágado e, enquanto moía, cantou:
– Eu sou o cágado e estou a moer alpista para que tu, rapariga, apareças ao som da minha voz!

A menina cantou, então, em voz terna e melodiosa:
– Sim, cágado, à tua voz eu vou aparecer!…

E, pouco a pouco, a menina começou a surgir por entre as pedras do rio, juntamente com o pilão, mas sem pilar. Quando emergiu completamente parou e ficou silenciosa.
Os animais juntaram-se todos, curiosos, à volta da menina
 Então, a lua disse:

– Agora a minha filha já não pode continuar a ser mulher do monhé pois ele não soube cumprir o que me prometeu. Ela será, daqui para o futuro, mulher do cágado, pois só à sua voz é que ela tornou a aparecer.

Então o cágado levantou a voz dizendo:

– Estou muito feliz com a menina que acaba de me ser dada em casamento e, como prova da minha satisfação, vou oferecer-lhe um vestido luxuoso que ela vestirá uma só vez, pois durará até ao fim da sua vida. E, dizendo isto, entregou à menina uma carapaça lindamente trabalhada, igual à sua.
Da ligação do cágado com a filha da lua é que descendem todos os cágados do mundo…

Eduardo Medeiros (org.).

A Menina que não Falava

Certo dia, um rapaz viu uma rapariga muito bonita e apaixonou-se por ela. Como se queria casar com ela, no outro dia, foi ter com os pais da rapariga para tratar do assunto.

__ Essa nossa filha não fala. Caso consigas fazê-la falar, podes casar com ela, responderam os pais da rapariga.

O rapaz aproximou-se da menina e começou a fazer-lhe várias perguntas, a contar coisas engraçadas, bem como a insultá-la, mas a miúda não chegou a rir e não pronunciou uma só palavra. O rapaz desistiu e foi-se embora.

Após este rapaz, seguiram-se outros pretendentes, alguns com muita fortuna mas, ninguém conseguiu fazê-la falar.

O último pretendente era um rapaz sujo, pobre e insignificante. Apareceu junto dos pais da rapariga dizendo que queria casar com ela, ao que os pais responderam:

__ Se já várias pessoas apresentáveis e com muito dinheiro não conseguiram fazê-la falar, tu é que vais conseguir? Nem penses nisso!

O rapaz insistiu e pediu que o deixassem tentar a sorte. Por fim, os pais acederam.

O rapaz pediu à rapariga para irem à sua machamba, para esta o ajudar a sachar. A machamba estava carregada de muito milho e amendoim e o rapaz começou a sachá-los.

Depois de muito trabalho, a menina ao ver que o rapaz estava a acabar com os seus produtos, perguntou-lhe:

 __ O que estás a fazer?

O rapaz começou a rir e, por fim, disse para regressarem a casa para junto dos pais dela e acabarem de uma vez com a questão.

Quando aí chegaram, o rapaz contou o que se tinha passado na machamba. A questão foi discutida pelos anciãos da aldeia e organizou-se um grande casamento.

A Gazela e o Caracol

Uma gazela encontrou um caracol e disse-lhe:

 __ Tu, caracol, és incapaz de correr, só te arrastas pelo chão.

O caracol respondeu:

__ Vem cá no Domingo e verás!

O caracol arranjou cem papéis e em cada folha escreveu: «Quando vier a gazela e disser “caracol”, tu respondes com estas palavras: “Eu sou o caracol”».

Dividiu os papéis pelos seus amigos caracóis dizendo-lhes:

__ Leiam estes papéis para que saibam o que fazer quando a gazela vier. No Domingo a gazela chegou à povoação e encontrou o caracol.

Entretanto, este pedira aos seus amigos que se escondessem em todos os caminhos por onde ela passasse, e eles assim fizeram.

Quando a gazela chegou, disse:

 __ Vamos correr, tu e eu, e tu vais ficar para trás! O caracol meteu-se num arbusto, deixando a gazela correr.

Enquanto esta corria ia chamando:

 __ Caracol!

E havia sempre um caracol que respondia:

 __ Eu sou o caracol. Mas nunca era o mesmo por causa das folhas de papel que foram distribuídas.

A gazela, por fim, acabou por se deitar, esgotada, morrendo com falta de ar. O caracol venceu, devido à esperteza de ter escrito cem papéis.

O Homem chamado Namarasotha

Havia um homem que se chamava Namarasotha. Era pobre e andava sempre vestido com farrapos. 

Um dia foi à caça. Ao chegar ao mato, encontrou uma impala morta. Quando se preparava para assar a carne do animal apareceu um passarinho que lhe disse:

– Namarasotha, não se deve comer essa carne. Continua até mais adiante que o que é bom estará lá.

O homem deixou a carne e continuou a caminhar. Um pouco mais adiante encontrou uma gazela morta. Tentava, novamente, assar a carne quando surgiu um outro passarinho que lhe disse:

– Namarasotha, não se deve comer essa carne. Vai sempre andando que encontrarás coisa melhor do que isso.

Ele obedeceu e continuou a andar até que viu uma casa junto ao caminho. Parou e uma mulher que estava junto da casa chamou-o, mas ele teve medo de se aproximar pois estava muito esfarrapado.

– Chega aqui!, insistiu a mulher.

Namarasotha aproximou-se então.

– Entra, disse ela.

Ele não queria entrar porque era pobre. Mas a mulher insistiu e Namarasotha entrou, finalmente.

– Vai te lavar e veste estas roupas, disse a mulher.

E ele lavou-se e vestiu as calças novas. Em seguida, a mulher declarou:

– A partir deste momento esta casa é tua. Tu és o meu marido e passas a ser tu a mandar.

E Namarasotha ficou, deixando de ser pobre.

Um certo dia havia uma festa a que tinham de ir. Antes de partirem para a festa, a mulher disse a Namarasotha:

– Na festa a que vamos quando dançares não deverás virar-te para trás.

Namarasotha concordou e lá foram os dois. Na festa bebeu muita cerveja de farinha de mandioca e embriagou-se. Começou a dançar ao ritmo do batuque. A certa altura a música tornou-se tão animada que ele acabou por se virar.

E no momento em que se virou, ficou como estava antes de chegar à casa da mulher: pobre e esfarrapado.

NOTA: Todo o homem adulto deve casar-se com uma mulher de outra linhagem. Só assim é respeitado como homem e tido como «bem vestido». O adulto sem mulher é «esfarrapado e pobre». A verdadeira riqueza para um homem é a esposa, os filhos e o lar. Os animais que Namarasotha encontrou mortos simbolizam mulheres casadas e se comesse dessa carne estaria a cometer adultério. Os passarinhos representam os mais velhos, que o aconselham a casar com uma mulher livre. Nas sociedades matrilineares do Norte de Moçambique (donde provém este conto), são os homens que se integram nos espaços familiares das esposas. Nestas sociedades, o chefe de cada um destes espaços é o tio materno da esposa. O homem casado tem de sujeitar-se às normas e regras que este traça. Se se revolta e impõe as suas, perde o seu estatuto de marido e é expulso, ficando cada cônjuge com o que levou para o lar. Cumprindo sempre o que os passarinhos lhe iam dizendo durante a sua viagem em busca de «riqueza», Namarasotha acabou por encontrá-la: casou com uma mulher livre e obteve um lar. Mas por não ter seguido o conselho da mulher, perdeu o estatuto dignificante de homem adulto e casado.

Com Informações do Portal Geledés