Educação Integral - Volte no tempo e recorde os tempos de ensino fundamental e médio.
Reflita agora sobre as suas aulas e tente lembrar o quanto você aprendeu sobre
a história de mulheres importantes para o desenvolvimento da nossa sociedade.
Provavelmente, esse será um exercício difícil, já que, o mais comum é aprender
História contada e protagonizada por homens brancos.
A
partir desse diagnóstico, a professora Maria Del Pilar Tobar criou o projeto “Heroína Sem Estátua: o conhecimento a partir
das mulheres”. Desenvolvido no Centro de Ensino Médio 1 de São Sebastião
(DF), o projeto desloca o protagonismo para mulheres que são e foram
importantes em diversas áreas.
“O Heroínas Sem Estátua nasceu a partir da
inquietação que tivemos ao ver que as mulheres pouco figuravam nos espaços de
ensino-aprendizagem como personalidades a serem estudadas. Suas contribuições
foram sistematicamente apagadas dos currículos”, afirmou Maria Del Pilar,
em artigo sobre seu projeto.
Ela
cita diversos exemplos de mulheres marcantes, em diversas épocas. “Suas contribuições foram sistematicamente
apagadas dos currículos que, por exemplo, não contam das autoras de Literatura
que contribuíram para o Romantismo Brasileiro, como Narcisa Amália ou Nísia
Floresta”.
A
docente cita ainda que tampouco aparecem em livros e nas aulas figuras como
Dandara dos Palmares e Olga Benário, ambas mulheres aguerridas e lutadoras. Nas
Ciências, continua Del Pilar, o esquecimento de nomes como Maria Beatriz do
Nascimento e Bertha Luz também é regra nas escolas.
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À esquerda, Dandara (guerreira negra que lutou contra a escravidão durante o período colonial do Brasil); acima, a militante comunista Olga Benário; abaixo, a psiquiatra Nise da Silveira. |
A
docente afirma que, nos últimos anos, houve um grande avanço, representado
pelas mudanças promovidas pelo Currículo em Movimento da Educação Básica, no
Distrito Federal, que indica linhas gerais para uma educação que busca
construir a igualdade de gênero. Apesar disso, a História das mulheres ainda é
secundarizada, segundo a Del Pilar.
Os
conteúdos abordados nas escolas, por exemplo, não listam e apresentam as obras,
contribuições teóricas e a História de mulheres como fontes e objetos de estudo
dentro da sala de aula.
“Os livros didáticos, mesmo com do Programa
Nacional do Livro Didático (PNDL) 2013, continuam a reiterar cânones literários
e do pensamento que são, em sua esmagadora (e opressora) maioria, homens
brancos e de classes sociais privilegiadas”, analisa a docente. Apesar das
críticas, ela reconhece que os avanços dos últimos anos abriu caminho para que
projetos como o “Heroínas sem Estátua” pudessem surgir.
O projeto
A
partir desse diagnóstico e do diálogo com professores e estudantes do CEM 01
nasceu a iniciativa. O objetivo era construir um espaço no qual se pudesse
resgatar as histórias invisibilizadas de mulheres que, embora notáveis, não têm
estátuas em praças públicas, como muitos homens.
O
projeto foi desenvolvido principalmente na disciplina de Língua Portuguesa e se
utilizou de diferentes tipos de obras. Entre as atividades desenvolvidas, os estudantes
assistiram ao filme “Uma História de Amor
e Fúria”, dirigido por Luiz Bolognese, e leram o livro “Meus heróis não viraram estátua”, dos
professores Pedro Puntoni e de Luiz Bolognese.
Todas
as referências utilizadas durante o projeto têm como foco a problematização da
desigualdade entre mulheres e homens. “Fizemos
diversos exercícios de análise crítica, propusemos debates, bem como
construímos, pouco a pouco, atividades que instanciassem a produção escrita de
reflexões analíticas por parte dos/as educandos/as dos primeiros e segundo anos
do ensino médio”, relata Maria Del Pilar em seu artigo.
A
partir dessas discussões, os estudantes fizeram, ao final do primeiro bimestre,
uma pesquisa sobre uma heroína que não tinha o devido reconhecimento. “As/os
estudantes puderam escolher, de maneira espontânea, a heroína com que mais se
identificavam. Para essa etapa nos valemos de postagens em grupos do Facebook,
que foram usadas como uma espécie de plataforma moodle, assim, dispusemos um
rol de diversas mulheres que contribuíram para a história brasileira e
mundial”, conta Maria.
Essa
primeira etapa teve como fim o desenvolvimento de uma iniciação científica
sobre a figura escolhida anteriormente. Os estudantes tinham que responder a
quatro perguntas básicas: “sobre quem?”,
“por quê?”, “para quê?” e “como?”.
Ao
longo do bimestre, os trabalhos foram corrigidos e o estudantes recebiam
sugestões de como poderiam melhorar a redação e a pesquisa do trabalho.
Além
do trabalho escrito, os estudantes foram convocados a trazer versões digitais
dos textos e um registro que foi chamado de “multimodal”, no qual, por meio de de uma foto de uma cartolina, um
slide, ou qualquer outro material, fosse sintetizada a história da mulher
pesquisada.
Todos
os trabalhos foram reunidos e serviram de base para um Museu Virtual das
Heroínas Sem Estátua. No blog, é possível comecer diversas mulheres como Irena
Sendler, Cora Coralina, Tereza de Benguela, Maria da Penha e Nise da Silveira,
entre outras dezenas de mulheres que marcaram a história do Brasil e do mundo.
Maria
Del Pilar Tobar diz que se inspirou em outros projetos – como o “Mulheres Inspiradoras” – e espera servir
de exemplo para outras escolas. “Esperamos
que esse trabalho possa inspirar outras iniciativas que visem à igualdade e que
possam construir pontes entre o saber acadêmico e a práxis cotidiana das
escolas públicas brasileiras”, conclui a professora.
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