Neste
31 de agosto de 16 o Brasil viverá o velório de mais um dos seus períodos
democráticos. Não é novidade por aqui que a história se realize de golpes em
golpes. A Independência de Portugal já foi uma farsa de um auto-golpe, dado
pelo filho de um império que recebeu vultuosa quantia para "aceitar"
o golpe. Outras tantos viriam depois, alguns celebrados outros nem tanto.
Publicado
originalmente no Brasil 247
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Cada
golpe vai entrando para a história de um jeito. Em geral, o que os define são
as suas características menos sutis.
O
golpe 16 já começou a ter a sua história contada. E com exceção da mídia local,
já começa a ser tratado no mundo e pelos veículos independentes do Brasil como
aquele em que uma presidente honesta foi condenada por um bando.
Por
uma corja de corruptos que temia ser presa e que, nas palavras do senador
Romero Jucá, um dos que articula a deposição de Dilma e que irá julgar a
presidenta hoje, precisava se concretizar para "estancar a sangria".
Ou seja, acabar com a Operação Lava Jato.
O
golpe 16 também será contado como aquele que se realizou porque após uma
disputa eleitoral dura em 14, a elite não aceitou a derrota. E preferiu apostar
todas as suas fichas na desestabilização do governo do que esperar 2018. Por
calcular que a economia poderia melhorar lá na frente e Lula vir a vencer mais
uma eleição.
O
golpe 16 ainda tende a ser lembrado como aquele que levou o Brasil a entregar o
Pré-Sal, a privatizar empresas estratégicas, a mudar sua lei trabalhista, a
fazer a reforma mais dura da Previdência e a criminalizar os movimentos sociais
como nas mais retintas ditaduras.
Não
será um tempo bom o que virá. Muito pelo contrário. Mas ainda não é possível
saber quanto esse tempo durará.
Pode
ser bem menos do que o mais otimista dos defensores de Dilma imagine neste
momento. Até porque a história se move hoje em velocidade de milhões de bytes.
E não mais nem na dinâmica da carroça ou na do relógio de pulso.
E
se o poder tem o controle digital das nossas vidas, o contrapoder também se
articula em potentes sub-redes de milhões de pontos distribuídos. E pode
transformar o que parece desorganização numa imensa tsunami de resistência.
É
ainda cedo, muito cedo, para prognósticos.
Mas
a narrativa da injustiça contra Dilma já parece se consolidar numa velocidade
pouco previsível. E as palavras canalhas e golpistas também parecem se tornar
indissociáveis dos seus algozes.
O
tempo, senhor da razão, não perdoa.
Ele
passa como uma avalanche pelas nossas vidas, marca nossos rostos, mãos,
temperamentos e biografias. Ele conhece cada um dos nossos acertos e erros. E
nos impõe vitórias e derrotas diárias.
Dilma
não tem como vencer a disputa de hoje no Senado. Ela sofrerá o impeachment. Mas
isso talvez faça parte da história épica de sua vida. Que nunca foi lírica. E
sua passagem pela presidência, olhando para o tempo, não poderia ser diferente.
Ao
fim, como nos clássicos épicos, Dilma terá o destino pelo qual lutou
reconhecido. E seus algozes de hoje cairão um a um. ´
Se
uma certeza parece aflorar deste julgamento é que o deputados e senadores que
estão caçando Dilma não resistirão às marcas que o tempo lhes imprimirá. Eles
já estão em processo histórico de condenação e humilhação moral. E talvez em
quantidade de meses muito pequena, quando ouvirem canalhas, agradecerão. Será
quase um elogio perto do que virá.
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