Aos
56 anos, o cacique guarani-kaiowá Farid Mariano, do Mato Grosso do Sul, perdeu
a conta de quantas vezes veio a Brasília, de ônibus, em busca de confirmações
sobre demarcações das terras onde nasceram seus tataravós.
"Nós estamos acampados há oito anos. Só falam
que vão demarcar e não demarcam. Viemos aqui conversar com esse novo governo
federal para ver se dão alguma solução para a nossa comunidade."
Publicado originalmente na BBC
Junto
ao cacique, um grupo de 60 indígenas do povo guarani-kaiowá protestou, na manhã
desta quarta-feira, em frente ao Ministério da Justiça, onde despacha o novo
ministro Alexandre de Moraes.
Em
entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, Moraes afirmou que irá rever "demarcações de terras indígenas que foram
feitas, se não na correria, no apagar das luzes"
Ele
se refere a decretos assinados pelo governo da presidente Dilma Rousseff dias
antes de seu afastamento pelo Senado, onde agora é alvo de um processo de
impeachment.
O
despacho mais recente aprovava estudos para demarcação em uma área de 55.590
hectares, na região de Dourados, no sul do Mato Grosso do Sul, tradicionalmente
ocupada pelos guarani-kaiowá.
Segundo
a Funai, estudos antropológicos identificaram ali quatro territórios
tradicionais - Javorai Kue, Pindo Roky, Urukuty e Laguna Joha. Atualmente, mais
de 50 mil guarani-kaiowás vivem em uma área equivalente a 0,2% do território do
MS e ainda aguardam sua regularização.
Carta
À
BBC Brasil, Teresinha Maglia, porta-voz do Ministério da Justiça, disse que
protocolou uma carta entregue ao ministro pelos indígenas.
"O documento foi recebido e acabei de
protocolar no protocolo do ministro. Ele ainda não respondeu se receberá os
indígenas amanhã ou sexta-feira porque está em uma reunião", afirmou.
Horas
depois, em conversa com os indígenas, a representante da pasta disse que um
"especialista" receberia os manifestantes até o fim da semana. Os
indígenas insistiram em falar diretamente com Alexandre de Moraes e afirmam que
permanecerão em Brasília até que o encontro ocorra.
Representantes
do CIMI (Conselho Indigenista Missionário) acompanharam toda a manifestação,
que ocupou a entrada lateral do ministério.
"A própria fala do ministro dá indícios de
que poderia haver a revisão de atos feitos no final da administração. Alguns
(índios) estão há mais de 5 anos esperando e essa sinalização de revogação é um
retrocesso de algo que já é moroso e demorou demais", afirmou Gilberto
Vieira, representante do conselho.
A
subprocuradora-geral da República, Debora Duprat, disse ao jornal O Globo na
última segunda-feira que a revisão de demarcações só é permitida quando há
erros no processo e que não acredita ser este o caso neste momento.
"Vim chorar aqui para o ministro para dar
para nós nossas terras, onde papai e mamãe morreram, e eu quero voltar lá",
afirmou a indígena Adelaide Moraes à reportagem.
"Já foi publicado e agora querem engavetar de
novo", disse seu conterrâneo M'taeroe.
Alexandre
de Moraes, ministro da Justiça, não nega as revogações, mas afirma que
"qualquer revisão será feita em total diálogo" com as populações
afetadas.
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Indígenas exigem reunião com o ministro da justiça, Aleexandre Moraes. |
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