Em
diálogos gravados em março passado – e revelados na edição de hoje (23) pelo
jornal Folha de S.Paulo, o ministro interino do Planejamento, senador
licenciado Romero Jucá (PMDB-RR) sugeriu ao ex-presidente da Transpetro Sérgio
Machado que uma "mudança" no governo federal resultaria em um pacto
para "estancar a sangria" representada pela Operação Lava Jato. À
época, ambos se sentiam ameaçados pela eminente revelação de envolvimentos em
casos de corrupção e propina.
Publicado na Rede Brasil Atual
Segundo
a reportagem, as conversas, que estão em poder da Procuradoria-Geral da
República, ocorreram semanas antes da votação na Câmara que desencadeou o
impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Machado
se mostra preocupado com o envio do seu caso para a PF de Curitiba e chegou a
fazer ameaças: "Aí f.... Aí f... para todo mundo. Como montar uma
estrutura para evitar que eu 'desça'? Se eu 'descer'...".
O
atual ministro concorda que o envio do processo para o juiz Sérgio Moro não
seria uma boa opção e o chamou de "uma 'Torre de Londres'", em
referência ao castelo da Inglaterra em que ocorreram torturas e execuções entre
os séculos 15 e 16. Segundo ele, os suspeitos eram enviados para lá "para
o cara confessar".
Por
sua vez, Jucá afirma que seria necessária uma resposta política: "Tem que
resolver essa p.... Tem que mudar o governo para estancar essa sangria",
diz Jucá. Ele acrescenta que um eventual governo Michel Temer deveria construir
um pacto nacional "com o Supremo, com tudo". Machado concorda:
"aí parava tudo".
Na
conversa, eles dizem que o único empecilho no pacto era o presidente do Senado,
Renan Calheiros (PMDB-AL), porque odiaria Cunha. "Só Renan que está contra
essa p... porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha. Gente,
esquece o Eduardo Cunha. O Eduardo Cunha está morto, p...", afirma Jucá no
diálogo gravado.
"O
Renan reage à solução do Michel. P..., o Michel, é uma solução que a gente
pode, antes de resolver, negociar como é que vai ser. 'Michel, vem cá, é isso,
isso e isso, vai ser assim, as reformas são essas'", diz Jucá a Machado.
O
advogado do ministro do Planejamento, Antonio Carlos de Almeida Castro, o
Kakay, afirmou que Romero Jucá "jamais pensaria em fazer qualquer
interferência" na Lava Jato e que as conversas não contêm ilegalidades.
Leia
trechos dos diálogos gravados entre Romero Jucá e Sergio Machado. A data das
conversas não foi especificada
SÉRGIO MACHADO
– Mas viu, Romero, então eu acho a situação gravíssima.
ROMERO JUCÁ
– Eu ontem fui muito claro. […] Eu só acho o seguinte: com Dilma não dá, com a
situação que está. Não adianta esse projeto de mandar o Lula para cá ser
ministro, para tocar um gabinete, isso termina por jogar no chão a expectativa
da economia. Porque se o Lula entrar, ele vai falar para a CUT, para o MST, é
só quem ouve ele mais, quem dá algum crédito, o resto ninguém dá mais credito a
ele para porra nenhuma. Concorda comigo? O Lula vai reunir ali com os setores
empresariais?
MACHADO
– Agora, ele acordou a militância do PT.
JUCÁ
– Sim.
MACHADO
– Aquele pessoal que resistiu acordou e vai dar merda.
JUCÁ
– Eu acho que…
MACHADO
– Tem que ter um impeachment.
JUCÁ
– Tem que ter impeachment. Não tem saída.
MACHADO –
E quem segurar, segura.
JUCÁ –
Foi boa a conversa mas vamos ter outras pela frente.
MACHADO
– Acontece o seguinte, objetivamente falando, com o negócio que o Supremo fez
[autorizou prisões logo após decisões de segunda instância], vai todo mundo
delatar.
JUCÁ –
Exatamente, e vai sobrar muito. O Marcelo e a Odebrecht vão fazer.
MACHADO
– Odebrecht vai fazer.
JUCÁ
– Seletiva, mas vai fazer.
MACHADO –
Queiroz [Galvão] não sei se vai fazer ou não. A Camargo [Corrêa] vai fazer ou
não. Eu estou muito preocupado porque eu acho que… O Janot [procurador-geral da
República] está a fim de pegar vocês. E acha que eu sou o caminho.
[…]
JUCÁ –
Você tem que ver com seu advogado como é que a gente pode ajudar. […] Tem que
ser política, advogado não encontra [inaudível]. Se é político, como é a
política? Tem que resolver essa porra… Tem que mudar o governo pra poder
estancar essa sangria.
[…]
MACHADO
– Rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel [Temer].
JUCÁ
– Só o Renan [Calheiros] que está contra essa porra. ‘Porque não gosta do
Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha’. Gente, esquece o Eduardo Cunha, o
Eduardo Cunha está morto, porra.
MACHADO –
É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional.
JUCÁ
– Com o Supremo, com tudo.
MACHADO
– Com tudo, aí parava tudo.
JUCÁ
– É. Delimitava onde está, pronto.
[…]
MACHADO
– O Renan [Calheiros] é totalmente ‘voador’. Ele ainda não compreendeu que a
saída dele é o Michel e o Eduardo. Na hora que cassar o Eduardo, que ele tem
ódio, o próximo alvo, principal, é ele. Então quanto mais vida, sobrevida,
tiver o Eduardo, melhor pra ele. Ele não compreendeu isso não.
JUCÁ
– Tem que ser um boi de piranha, pegar um cara, e a gente passar e resolver,
chegar do outro lado da margem.
***
MACHADO
– A situação é grave. Porque, Romero, eles querem pegar todos os políticos. É
que aquele documento que foi dado…
JUCÁ
– Acabar com a classe política para ressurgir, construir uma nova casta, pura,
que não tem a ver com…
MACHADO –
Isso, e pegar todo mundo. E o PSDB, não sei se caiu a ficha já.
JUCÁ
– Caiu. Todos eles. Aloysio [Nunes, senador], [o hoje ministro José] Serra,
Aécio [Neves, senador].
MACHADO
– Caiu a ficha. Tasso [Jereissati] também caiu?
JUCÁ
– Também. Todo mundo na bandeja para ser comido.
[…]
MACHADO
– O primeiro a ser comido vai ser o Aécio.
JUCÁ
– Todos, porra. E vão pegando e vão…
MACHADO
– [Sussurrando] O que que a gente fez junto, Romero, naquela eleição, para eleger
os deputados, para ele ser presidente da Câmara? [Mudando de assunto] Amigo, eu
preciso da sua inteligência.
JUCÁ
– Não, veja, eu estou a disposição, você sabe disso. Veja a hora que você quer
falar.
MACHADO
– Porque se a gente não tiver saída… Porque não tem muito tempo.
JUCÁ
– Não, o tempo é emergencial.
MACHADO
– É emergencial, então preciso ter uma conversa emergencial com vocês.
JUCÁ
– Vá atrás. Eu acho que a gente não pode juntar todo mundo para conversar, viu?
[…] Eu acho que você deve procurar o [ex-senador do PMDB José] Sarney, deve
falar com o Renan, depois que você falar com os dois, colhe as coisas todas, e
aí vamos falar nós dois do que você achou e o que eles ponderaram pra gente
conversar.
MACHADO
– Acha que não pode ter reunião a três?
JUCÁ
– Não pode. Isso de ficar juntando para combinar coisa que não tem nada a ver.
Os caras já enxergam outra coisa que não é… Depois a gente conversa os três sem
você.
MACHADO
– Eu acho o seguinte: se não houver uma solução a curto prazo, o nosso risco é
grande.
***
MACHADO –
É aquilo que você diz, o Aécio não ganha porra nenhuma…
JUCÁ
– Não, esquece. Nenhum político desse tradicional ganha eleição, não.
MACHADO –
O Aécio, rapaz… O Aécio não tem condição, a gente sabe disso. Quem que não
sabe? Quem não conhece o esquema do Aécio? Eu, que participei de campanha do
PSDB…
JUCÁ
– É, a gente viveu tudo.
***
JUCÁ
– [Em voz baixa] Conversei ontem com alguns ministros do Supremo. Os caras
dizem ‘ó, só tem condições de [inaudível] sem ela [Dilma]. Enquanto ela estiver
ali, a imprensa, os caras querem tirar ela, essa porra não vai parar nunca’.
Entendeu? Então… Estou conversando com os generais, comandantes militares. Está
tudo tranquilo, os caras dizem que vão garantir. Estão monitorando o MST, não
sei o quê, para não perturbar.
MACHADO
– Eu acho o seguinte, a saída [para Dilma] é ou licença ou renúncia. A licença
é mais suave. O Michel forma um governo de união nacional, faz um grande
acordo, protege o Lula, protege todo mundo. Esse país volta à calma, ninguém
aguenta mais. Essa cagada desses procuradores de São Paulo ajudou muito
[referência possível ao pedido de prisão de Lula pelo Ministério Público de SP
e à condução coercitiva ele para depor no caso da Lava Jato].
JUCÁ
– Os caras fizeram para poder inviabilizar ele de ir para um ministério. Agora
vira obstrução da Justiça, não está deixando o cara, entendeu? Foi um ato
violento…
MACHADO
-…E burro […] Tem que ter uma paz, um…
JUCÁ –
Eu acho que tem que ter um pacto.
[…]
MACHADO –
Um caminho é buscar alguém que tem ligação com o Teori [Zavascki, relator da
Lava Jato], mas parece que não tem ninguém.
JUCÁ –
Não tem. É um cara fechado, foi ela [Dilma] que botou, um cara… Burocrata da…
Ex-ministro do STJ [Superior Tribunal de Justiça].
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Publicações de gravações revelam que Jucá pode ter sido um dos principais articuladores do golpe dado para safar a si e aliados de denúncias. |
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