Reproduzimos
abaixo excelente reflexão de Lorena Morais sobre a questão do racimo no Brasil.
O texto também foi publicado no Pragmatismo Político.
Lorena fala dos percalços enfrentados diariamente e conta um pouco do quanto
foi difícil superar o preconceito contra sua cor. “Ser negra vai além de uma
questão de pele... O racismo me fez chorar durante anos, me fez odiar minha
pele e meu nariz, fez me esconder no fundo da sala de aula, não querer namorar,
fugir dos homens e acreditar que “aquele olhar não era pra mim” (...), disse
via facebook.
![]() |
Lorena Morais (Foto - Arquivo Pessoal/Facebook) |
Vamos a ele
O
racismo me calou durante anos. Calou-me através da timidez, da baixa estima,
dos cabelos alisados ou do ferro no cabelo na beira do fogão, calou-me através
das roupas, das bonecas brancas de bocas rosadas e barbies louras. Calou minha
inteligência, minha coragem e meus desejos.
O
racismo não deixou ver minha beleza durante anos, escondeu meu sorriso, não me
deixou ser doutora, nem atriz ou modelo, me fez não querer tentar ir às
bancadas ou reportagens do telejornal, me fez acreditar que sou incapaz, ou
“burra” e feia. O racismo me fez durante anos enxergar um cabelo ruim, me fez
chorar, odiar minha pele e meu nariz, fez me esconder no fundo da sala de aula,
não querer namorar, fugir dos homens e acreditar que “aquele olhar não era pra
mim” ou que eu não seria pra casar.
O
racismo me fez acreditar que nunca vou conseguir e que aquele palco não me
pertence. O racismo trouxe-me tanta dor, tantas lágrimas que hoje são
transformadas em uma única palavra: RESISTÊNCIA!
Ao
acordar enfrento o racismo cruel no trabalho, na rua e na escola. Enfrento o
racismo do olhar, o verbal, imaginário e disfarçado. Enfrento o racismo em uma
cidade negra que carrega uma cultura do preconceito, do cabelo liso, da
sexualidade da negra, roupas “da moda” e uma cidade que diz que “seu lugar não
é aqui, sua neguinha” e que “candomblé é coisa do diabo”.
Sou
negra, jornalista, agente comunitária de saúde, soterocachoeirana, amo o meu
cabelo crespo, meu nariz, sou linda e me visto como eu amo, adoro turbantes,
samba de roda, faço capoeira e para mim ser negra é muito mais do que uma
questão de pele. Todos e todas somos iguais, mas só quem é negro/negra sente a
dor da chibata nas costas. Chorar não alivia a dor. Enxuga essas lágrimas,
levanta e vamos a luta!
RESISTA,
NEGRO! RESISTA, NEGRA!
Adorei o texto da Lorena. Corajosa ela! Que surjam muitas Lorenas no mundo para vencermos de vez o preconceito.
ResponderExcluirUm abraço
Ruthia d'O Berço do Mundo