É urgente a indicação de uma mulher negra para o Supremo

 

Ketanji Brown Jackson, primeira ministra negra da Suprema Corte dos EUA - Foto: Elizabeth Frantz/Reuters

Quando a juíza Ketanji Brown Jackson assumiu uma cadeira na Suprema Corte dos Estados Unidos, no ano passado, ela se tornou a primeira mulher negra a ser nomeada para o cargo em 233 anos, ou seja, desde 1789, data da criação do órgão superior.

No Brasil, a origem do atual Supremo Tribunal Federal data de 1808, com a chegada da Corte Portuguesa, encabeçada pelo príncipe-regente dom João Maria de Bragança, futuro rei dom João 6°, que se transfere de Lisboa para o Rio de Janeiro, então capital da colônia do império português.

Hoje estamos próximos de mais uma nomeação para a Suprema Corte brasileira e o debate surge de forma premente e necessário: a nomeação de uma mulher negra, claro, de reconhecido valor e competência, para um dos postos mais importantes do país.

Desde a criação da corte brasileira lá se vão 215 anos sem que uma única mulher afro-brasileira tenha sido nomeada entre os 11 membros do egrégio colegiado. É um absurdo. Uma infâmia. Uma desonra, em especial, para as mulheres negras, e mostra, ao mesmo tempo, o resquício do Brasil colonial e os elos que o prendem à escravidão e ao atraso à questão de gênero e raça sobre sua legislação e diretriz política.

A história da corte brasileira tem sido uma vergonha quando se fala de afrodescendentes. Com a instauração do período republicano, sabe-se do acesso de três magistrados negros no Supremo Tribunal: Pedro Lessa (1907), Hermenegildo de Barros (1919) e Joaquim Barbosa (2003).

Durante o primeiro e segundo reinados do Império brasileiro, a Alta Corte teve alguns membros afrodescendentes, com destaque para o baiano Francisco Carneiro de Campos (1765-1842), que, além do STF da época, foi ministro “dos Negócios Estrangeiros”, hoje equivalente à Relações Exteriores, e senador da época da monarquia, de 1826 a 1842.

O presidente Lula cumprirá um papel histórico que Barak Obama não cumpriu nos seus dois mandatos na Presidência dos Estados Unidos –o presidente afro-americano nomeou duas mulheres brancas para a alta corte: Sonia Sotomayor, em 2009, e Elena Kagan, no ano seguinte.

Nos governos dos quatro presidentes de sangue negro-africanos da história brasileira –os pardos Campos Sales (1842-1913) e Washington Luís (1869-1957) e os pretos Rodrigues Alves (1848-1919) e Nilo Peçanha (1867-1924)—, nenhum deles fez nomeação de homens negros para o posto que, com a Proclamação da República, passa a ter a denominação de “Federal”.

Até quando a nação deve aceitar esta hipocrisia nacional nas esferas da política e da magistratura brasileiras? O governo não indica, o Congresso não proclama e o Supremo não acolhe demandas.

Um movimento liderado por centenas de juristas e entidades do campo do direito e social encaminhou à Presidência da República, no início do mês, o “Manifesto por Juristas Negras no Supremo Tribunal Federal”.

Ao destacar as reais “ausências que arranham” tal investidura e a falta de “capacidade de percepção da realidade”, o documento ressalta “a efetiva interdição às mulheres negras da ocupação de vagas” no STF. Além do mais, o manifesto evidencia que tal postura na superfície não tem a ver com competência, mas pode estar diretamente ligada ao racismo:

Evidentemente, há muitas mulheres negras com notório saber jurídico e reputação ilibada, que assim preenchem os requisitos constitucionais para serem ministras do STF. Ademais, muitas são também comprometidas com o espírito emancipatório e progressista inerente à nossa Constituição Federal e com os direitos de trabalhadoras e trabalhadores em geral”.

As flagrantes evidências estão postas e a oportunidade de mudar o marco excludente e desagregador também.

Se não quiser continuar sendo um país violento e racista contra as mulheres negras —violência e racismo que se perpetuaram, como último país na América a abolir a escravidão, embora ela se ainda manifeste na categoria de “análoga”, o que é, na verdade, uma excrescência jurídica—, o Brasil tem uma urgente lição de casa para fazer.

Com a palavra, os Três Poderes do país.

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Texto de Tom Farias, originalmente na Folha de São Paulo e reproduzido no Geledés.

62% das vítimas de feminicídios no Brasil sâo negras

Imagem ilustrativa/ Foto: Adobe Stock.

O novo relatório da Anistia Internacional, alerta sobre o aumento da violência contra as mulheres no Brasil. A organização reúne dados de diferentes fontes sobre assuntos ligados aos direitos humanos; nos números do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, encontrou uma realidade que se agrava ano após ano.

Quatro mulheres foram mortas por dia no Brasil no primeiro semestre de 2022, foram 699 feminicídios só até a metade do ano. Um aumento de mais de 3% em relação ao mesmo período de 2021. E quase 11% a mais do que no primeiro semestre de 2019.

O relatório mostrou que 62% das mulheres vítimas de feminicídio no país são negras. E a violação aos direitos humanos da população negra, sejam mulheres ou homens, aparece ainda em outros pontos do relatório da Anistia Internacional. Essa parcela da população é a que mais morre em confrontos com a polícia e a mais afetada por eventos climáticos extremos.

Um dos casos é de Ana Carolina da Conceição que apanhou muitas vezes do marido, uma rotina de violência encerrada da pior forma possível. Em setembro de 2022, Douglas de Carvalho Avellar espancou até a morte a mulher de 27 anos, na frente de um dos três filhos dela. O crime foi em Belfort Roxo, na Baixada Fluminense, RJ.

Para Jurema Weneck, diretora-executiva da Anistia, é preciso um trabalho envolvendo governo e Justiça para que haja mudança nesse quadro.

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Com informações do GI e Observatório do Terceiro Setor.

Dividir o pão e multiplicar a cultura, 2% é pouco

 

(FOTO | Reprodução | WhatsApp)

É preciso descoisar as coisas que estão coisadas, pensar a arte e a cultura para além do belo, não se mantém vivo um titulo de cidade da cultura de pé sem manter seus artistas acreditando que é possível viver de arte. Quando se desobjetifica a cultura e se compreende que há uma vida por detrás daquela obra é possível valorizar o trabalhador da cultura, gerar renda e girar a economia da cidade.

O Crato foi um dos municípios contemplados com a Lei Aldir Blanc, que proporcionou aos cratenses possibilidades de planejamento e execução de trabalhos, além da geração de renda e fomento à economia. Cerca de 88 agentes culturais / grupos tiveram acesso a recursos públicos voltados a cultura no Crato através da Lei Aldir Blanc entre o fim de 2020 e inicio de 2021.

Quando se pensa em politica pública para cultura, nunca na história do Brasil tivemos tanto dinheiro investido em vidas e que por ventura vida em abundância através da arte e da cultura como foi a Lei Emergencial da Cultura, a Lei Aldir Blanc.

Através desta lei foi possível circular renda por diversas mãos e diversos lares, Joãos, Cíceros, Ismaeis, Marias e Josés, Brasil adentro passaram de voluntários, carregadores de cadeiras, a profissionais remunerados da cadeia econômica da cultura.

Sim, 2% ainda é pouco, precisamos de boa vontade e mão na massa para tornar um percentual fixo, justo e leal ao título de cidade da cultura. Precisamos de uma politica de Estado que garanta vida e abundância para os fazedores de cultura.

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Ricardo Silva

Fazedor de arte

Geógrafo 

Especialista em Educação Pobreza e Desigualdades Sociais

Crato: 2% do orçamento para cultura, ainda é pouco

 

(FOTO/ Reprodução).

Por Alexandre Lucas, Colunista

O município do Crato ( CE), em 2022,  gastou do orçamento municipal 0,67%, cerca de 85% deste percentual foi gasto com folha de pagamento e encargos sociais, menos de 15% foi destinado para fomento e outras despesas da pasta. Nos últimos sete anos, o investimento no setor cultural não chegou a 1%. O resultado destes números tem incidência direta no processo de sucateamento dos equipamentos culturais e na política de fomento artístico-cultural.

O Crato, cidade conhecida como “capital da cultura”, conceito elitista, inadequado e excludente demonstra contradições e equívocos. Atualmente o conjunto dos  equipamentos culturais do Município estão fechados ou apresentam condições inadequadas para uso: Museu Histórico e de Artes Vicente Leite, Teatro Salviano Arraes, Centro Cultural do Araripe, Estação da Cidadania, Caldeirão da Santa Cruz do Deserto, Biblioteca Central e Luiz Cruz e anfiteatro da Praça do Cruzeiro. A ausência de espaços em condições de funcionamento contribui para dificultar a democratização estética, artística, literária e cultural da mesma forma que a redução dos investimento em fomento prejudica a cadeia econômica da cultura e a fruição estética.

Os percentuais investidos no setor cultural do Crato demonstram  que são insuficientes pela dimensão populacional do município que atualmente tem mais 133 mil habitantes e está situado numa região efervescente de pluralidade e diversidade cultural,  marcada pela convivência, contraste e hibridismo do popular e do erudito, dos terreiros e das academias, da dança clássica e do reisado, do cordel e das teses acadêmicas , dos arranha-céus e da Chapada do Araripe, essa complexidade de elementos exigem maior investimento.  Se pegarmos como recorte a população e dividimos pelo valor gasto em 2022 (R $2.939.338,61), teríamos um investimento menor que R$ 2,00 por habitante/mês. Lógico que  essa matemática não dá conta da dimensão simbólica na vida da população, mas pode instigar o processo de reflexão sobre aquecimento e desaquecimento na economia da cultura, no sentido de aprofundar o debate sobre  as condições de sobrevivência das trabalhadoras e trabalhadores da cultura. 

Desde 2012, o  movimento cultural defende a  destinação de 2% do orçamento para a cultura. Neste  mesmo período, o movimento já defendia a criação do Sistema Municipal de Cultura e a implementação do Cultura Viva Municipal. O Sistema foi criado em  2014 e a Lei  Cultura Viva ( Pontos de Cultura) em 2021. Dois marcos legais dos segmentos culturais capazes de estruturar a política pública para a cultura no Município, entretanto, o arcabouço jurídico ainda não encontrou as condições políticas e econômicas favoráveis  para  impulsionar  a democratização da política cultural.

A grande questão é criar políticas  de estado para cultura,  visando evitar que elas sejam demolidas no trânsito dos governos.

A pauta dos 2% tomou conta do debate na  última Conferência Municipal de Cultural que teve  como tema “Uma Política Pública para o Crato: Implementação do Plano Municipal de Cultura” que aconteceu nos dias 24 e 25 de março e deverá elaborar o documento referência para a cultura do Município para os  próximos 10 anos. A conferência aprovou duas propostas relativas aos 2%: a primeira é a inclusão dos 2% na Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO para ser implementada em 2024 e a outra  é a elaboração de lei que cria a destinação de percentual de 2% do orçamento para a cultura, sendo  50% para o fomento artístico-cultural. 

A luta pelos 2% do orçamento para a cultura representa uma estratégia para colocar o Plano Municipal de Cultura dentro do orçamento do município e ao mesmo tempo ir consolidando o Sistema Municipal de Cultural. Os 2% é uma trincheira de luta para o promover o desenvolvimento econômico, social, territorial, o direito à cidade e a cidadania cultural.

‘Memória Sufocada’: documentário analisa a onda conservadora a partir do Golpe Militar de 1964

 

Foto: Divulgação/Embaúba Filmes.

O documentário “Memória Sufocada”, dirigido por Gabriel Di Giacomo, mergulha no cenário histórico-político que envolve o Golpe Militar de 1964 – que neste ano completa 59 anos – analisando e relacionando o mesmo à atual onda militarista, conservadora e reacionária que se alastrou no Brasil e culminou com a eleição do ex-presidente Jair Bolsonaro.

A narrativa parte do torturador Coronel Brilhante Ustra – figura chave da ditadura civil-militar brasileira, condenado como um dos principais agentes de tortura durante a ditadura militar, e se amplifica para um panorama global do movimento gerador do Golpe Militar de 1964, contando com depoimentos e áudios de figuras como Carlos Lacerda, João Goulart e Lyndon B. Johnson, presidente interino dos Estados Unidos, pós assassinato de Kennedy.

Gabriel Di Giacomo alerta e propõe uma reflexão sobre a atual reiteração histórica, militar e conservadora em nosso país, através do Governo Bolsonaro e sua correlação com a ditadura.

Dentre os inúmeros resquícios da ditadura que se apresentam, a dissimulação de informações falsas chama atenção como grande responsável – à época e nos dias atuais – pela propagação de narrativas totalitárias. A nebulosidade informativa, reforçada pela pauta moral-religiosa, continua sendo uma forte ferramenta para instauração de movimentos de opressão.

Sob este aspecto, o documentário mostra trechos de depoimentos de vítimas torturadas durante a ditadura, com imagens extraídas da Comissão Nacional da Verdade e do Arquivo Nacional – que são contra-argumentados pelo torturador Coronel Ustra, em um discurso negacionista e justificado pela “atuação heróica do Estado”, diante do “perigo comunista instaurado à época”.

Um notório e inflado discurso de violência e opressão, pautado em uma retórica infundada – sem qualquer comprovação factual ou documental – além da permanente dissimulação e omissão de informações. Formato discursivo seguido à risca pelo governo do ex-presidente Bolsonaro, através de discursos de cunho violento e opressivo, encapados sob falsa égide moral e religiosa.

Como agravante, um novo modelo de relacionamento social foi instaurado a partir das interações decorrentes da internet. A propagação de fake news tomou proporções perigosas e incontroláveis.

Sob esse aspecto, a crítica do documentário já se estabelece a partir de sua realização. “Memória Sufocada”, exceto pela captação de imagens do DOI-CODI de São Paulo, é composto a partir de material disponível na internet.

Desta forma, o diretor Gabriel Di Giacomo estende a provocação para a análise do contraponto entre a verdade factual, histórica, e a (re)criação de narrativas a partir dela. O que se nota é que a interpretação histórica sócio-política de nosso país, tanto no que diz respeito à constituição dos fatos, quanto à reverberação dos mesmos, ainda permanece intencionalmente sufocada.

Fugindo de qualquer resquício de imposição argumentativa, o diretor convida o espectador a montar sua própria narrativa – através da apresentação de fatos históricos disponíveis a todos e ainda, enriquece o debate, ao disponibilizar o acesso do público à totalidade do material, fruto de sua pesquisa, através do site memoriasufocada.com.br.

O documentário estreia dia 30 de março nos cinemas – véspera da data que marca o aniversário histórico do Golpe Militar de 1964 e também o marco de um dos períodos mais sombrios de nossa história. Além de nos alertar acerca da presente e perigosa reiteração histórica política, Memória Sufocada nos convida a um debate necessário – individual e coletivo – sobre a importância da autonomia popular da nossa trajetória como país.

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Com informações da Mídia Ninja.

Tragédia em escola de São Paulo estaria relacionada a caso de racismo

 

Mãe de uma das professoras feridas deixa a escola após o crime – Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil.

Após tragédia que aconteceu na Escola Estadual Thomazia Montoro (SP), um aluno relatou a repórteres que estavam no local, que a ação estaria relacionada a um caso de racismo ocorrido na semana passada, que gerou uma briga entre o autor e outro estudante.

“Ele e o menino começaram a brigar porque ele chamou o menino de preto, macaco. O menino não gostou e partiu para cima dele. Ai a Beth, que é a professora, separou. Hoje, esse menino que chamou o outro de macaco veio com uma faca e esfaqueou várias vezes”, contou o garoto em frente à escola.

A professora citada pelo aluno, é Elisabete Tenreiro, de 71 anos. Ela teve uma parada cardíaca e morreu no Hospital Universitário, da USP na manhã desta segunda-feira (27). Além dela, mais três professoras e um aluno foram atingidos e encaminhados para os hospitais das Clínicas, Bandeirantes, Universitário e São Luís. Um aluno foi socorrido em estado de choque, mas sem ferimentos.

O agressor, um aluno de 13 anos do oitavo ano na escola, foi desarmado por outras professoras, até ser apreendido por policiais e levado para o 34° DP, onde o caso foi registrado. Em entrevista a TV Globo, pais que estavam na porta da escola relataram que agressões físicas e denuncias de casos de bullying são frequentes na escola.

A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, disse em suas redes sociais que lamenta a tragédia ocorrida em São Paulo.

“Tristeza profunda pela tragédia de São Paulo que deixou uma professora morta, após ser esfaqueada por um aluno do oitavo ano. Além dela, pelo menos outras três pessoas foram feridas. Sou professora e me solidarizo muito com essa colega, com as famílias e toda comunidade escolar. Estamos disponíveis e vamos trabalhar para que as escolas sejam lugares seguros para crianças, jovens e toda a comunidade escolar”, conclui o post.

Educação como instrumento antirracista

Lavini Castro, é Educadora Antirracista Idealizadora e Coordenadora da Rede de Professores Antirracistas, e disse ao Noticia Preta sobre a importância, lei 10.639/2003, hoje alterada para a Lei 11.645/2006, que torna obrigatória a aprendizagem nas escolas, sobre o reconhecimento da pluralidade do povo brasileiro evidenciando as contribuições dos grupos raciais colocados em segundo plano ao inserir a valorização das histórias e culturas afro-brasileiras e indígenas.

Ela destaca que a aplicação da lei ajuda é uma forma de reconhecer a importância dos grupos sistematicamente excluídos e que tais leis tratam de estimular a produção de conhecimentos, gerar a valorização da cultura negra e indígena, a fim de desenvolver a noção de pertencimento étnico-racial, visando a construção de uma nação democrática, onde todos possam ter seus direitos garantidos e sua identidade valorizada.

“Na prática, busca enriquecer o currículo escolar a fim de possibilitar o reconhecimento da positivação da imagem negra através de sua história e cultura, promovendo assim condições de empoderamento e ampliação da participação de tais grupos em diferentes espaços sociais”, destaca.

Apesar da obrigatoriedade da lei, Lavini conta que a mesma ainda não vigora em boa parte das escolas do país, conforme pesquisas da área.

“Tal fato se deve a um conjunto de fatores, tais como a carência de disciplinas nas universidade para a formação de professores habilitados a discutir a temática racial e das histórias e culturas africanas, afro-brasileiras e indígenas”. 

Ela também destaca que os princípios da lei devam ser aplicados pelos professores pertencentes a esse grupo racial para alunos desse mesmo grupo, muitas vezes a desculpa é “mas não temos alunos negros ou indígenas então não precisamos aplicar tal lei”, muito embora seja um problema da sociedade, mas não é visto assim.
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Com informações do Notícia Preta.

Morta em ataque, professora tentou separar briga após aluno ser chamado de ‘macaco’ em escola

 

Elisabete Tenreiro, 71. Professora morreu em ataque na E.E. Thomazia Montoro, na Vila Sônia. — Foto: Arquivo Pessoal.


Elisabete Tenreiro, de 71 anos, professora da Escola Estadual Thomázia Montoro, morreu nesta segunda-feira (27) após ser esfaqueada por um aluno dentro da sala de aula. Outras três educadoras e um aluno ficaram feridos. Eles não correm risco de vida, de acordo com a secretaria de de educação de São Paulo.

De acordo com o relato de um dos alunos que se escondeu para escapar do ataque, há alguns dias, o agressor xingou outro aluno de “macaco”, o que ocasionou uma briga.

Ainda de acordo com o estudante, a professora que foi atacada pelo aluno foi a responsável por ter apartado a confusão e, após isso, aluno jurou vingança. A Polícia Civil apura essa versão.

Durante coletiva de imprensa, o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, disse que a diretora confirmou a versão do aluno e que conversou com o estudante agredido na sexta e que conversaria com o agressor nesta segunda.

Ainda de acordo com o relato de Gabriel, o aluno xingado de “macaco” não estava na escola nesta segunda-feira, somente a professora que foi atacada com golpes de faca.

Foi assim: chamou o menino de preto e macaco. O outro menino (vítima de racismo) não gostou e partiu para cima dele. A professora “‘Beth’ separou. Aí hoje esse menino que chamou o outro de macaco veio com com uma faca e esfaqueou várias vezes a professora aqui e aqui. Ele já falou que iria fazer isso, mas ninguém acreditava. Ele estava atrás de mim tentando me matar. Na hora, eu corri e me escondi ali atrás e fiquei cerca de uns 40 ou 60 minutos esperando a polícia chegar”, contou Gabriel, aluno que estuda na mesma sala do autor adolescente, autor das agressões.

Violência dentro das escolas

Em setembro de 2019, um estudante de 14 anos esfaqueou um professor no Centro Educacional Unificado (CEU), em Aricanduva, zona leste de São Paulo.

Também em 2019, no dia 13 de março, dois ex-alunos invadiram e dispararam em direção a um grupo de alunos. A coordenadora pedagógica Marilena Ferreira Umezu foi uma das vítimas.

Uma pesquisa feita pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) contabilizou 23 registros de ataques com violência extrema em escolas no Brasil nos últimos 20 anos. Entre 2002 e 2023, 24 estudantes morreram, além de quatro professores e dois profissionais de educação, como a professora da escola estadual de São Paulo de 71 anos morta a facadas nesta segunda-feira (27) por um aluno.

O mapeamento ainda está em andamento e os dados são inéditos, obtidos em primeira mão pelo Estúdio i, da Globonews.

Para a pesquisadora Telma Vinha, da Faculdade de Educação e Coordenadora do Grupo “Ética, Diversidade e Democracia na Escola Pública” do Instituto de Estudos Avançados da Unicamp, os ataques podem ser evitados se houve um trabalho que acompanhe alunos e o comportamento deles não só na escola, mas também no seu dia a dia.


Ataques (2002 – 2023):


Escolas estaduais: 12

Escolas municipais: 7

Escolas particulares: 4

Vítimas fatais (2002 – 2023):


Estudantes: 24

Professores: 4

Profissionais de educação: 2

Motivação:


Vingança, raiva

Usuários de cultura extremista

Fonte: Instituto de Estudos Avançados da Unicamp.

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Com informações do G1 e Mídia Nígia.

Livro relata últimos seis anos como período mais cruel pós-ditadura para povos indígenas

 

(FOTO/ Alan Santos/ PR).

O Instituto Socioambiental (ISA) lançou na última semana o livro Povos Indígenas no Brasil 2017-2022. A publicação debruça sobre “o período mais cruel pós-ditadura para indígenas no Brasil”, de acordo com o instituto. São relatos e dados sobre o contexto dos povos originários no país no período após o golpe parlamentar contra a presidenta Dilma Rousseff (PT), em 2016. Desde então, o cenário se agravou com a política de extrema direita do ex-presidente Jair Bolsonaro.

A 13ª edição da publicação da ISA reúne mais de 100 artigos sobre o tema. Além dos ataques diretos aos povos originários por, entre outros, garimpeiros apoiados pelo ex-presidente, pesou no período o desmatamento recorde na Floresta Amazônica. “A natureza está falando há muito tempo. E nós, povos indígenas, também estamos falando há muito tempo. Destruir a floresta leva às consequências que estamos vendo hoje”, disse a liderança Txai Suruí, durante lançamento, na segunda-feira (21), em São Paulo.

Logo no início do livro, a jornalista Tainá Aragão e a antropóloga Fany Ricardo descrevem o cenário. “Ao longo dos seis últimos anos, quatro deles governados por Bolsonaro e dois sobrepostos a uma crise pandêmica, os povos indígenas resistiram sistematicamente ao método genocida aplicado por um governo anti-indígena. Ou seja, o aparelho do Estado foi utilizado contra os territórios e os corpos originários em nome de uma ordem e um progresso assassinos”.

O trabalho está disponível para download gratuito no site do acervo do ISA.

Protagonismo e resistência de povos indígenas

A obra dá voz a lideranças indígenas de diferentes povos originários do Brasil. “Os anos que passaram foram muito desafiadores para cada um de nós, principalmente para o Alto do Rio Negro”, diz Francy Baniwa. “Para meu povo Baniwa, território significa um lugar sagrado, porque o povo Baniwa se originou de um lugar sagrado chamado ripana, que é o umbido do mundo”, define sobre a ligação dessas culturas com a floresta.

O desrespeito a essas populações está intrínseco à devastação da floresta. “Terra é atemporal, espiritual, cultural e tradicional. A terra é tradicional dos povos indígenas, a gente surgiu da terra e a gente está na terra, assim como a terra está para nós. Há esse processo de cuidado com a terra, de defesa pela terra. A terra é nossa mãe. A gente não bate na nossa mãe. Então a gente luta defendendo essa nossa mãe”, resume João Victor Pankararu.

Adeus, Bruno

A publicação também faz homenagem aos mortos, indígenas e ativistas desses povos no Brasil, em defesa da floresta. Entre eles, o indigenista Bruno Pereira, assassinado em junho de 2022 em razão de seu trabalho de preservação dos povos e do território. Ele morreu ao lago do amigo, o jornalista inglês Dom Phillips, do The Guardian. Agora, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tenta preservar seu legado.

Enterramos Bruno, nosso irmão mais velho. Hoje, a terra onde ele nasceu o recebe, seu corpo reencontra o barro, as raízes das plantas, a água e o calor do solo. Seu corpo carrega o perfume salgado do mar e o aroma denso da mata que ele defendeu até que os destruidores da floresta o mataram de forma traiçoeira. Nossos olhos misturam lágrimas de tristeza profunda e de revolta intensa”, afirma texto do Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (OPI).

Bruno era grande e forte de corpo e de alma, sua voz era firme para estar junto na defesa da terra e suave para encantar-se com a beleza dos povos da floresta. Era incapaz de permanecer em silêncio quando a avidez e a violência do Estado e dos predadores da mata arrancavam a vida das Terras Indígenas. Ao mesmo tempo, ouvia calado a voz dos mais velhos nas aldeias, e aprendia deles outras maneiras de resistir no mundo”, completa.

Esperança

Pontuadas as tragédias ambientais do governo Bolsonaro, a publicação destaca, em contrapartida, a esperança em dias melhores. Em especial, pela participação mais ativa de povos indígenas na política do Brasil. Desse modo, um dos exemplos mais marcantes é a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara.

Sonia Guajajara, que já presidiu a Apib, tomou posse como ministra dos Povos Indígenas. A Funai agora integra o novo ministério e passa a ser chefiada por uma mulher indígena, a ex-deputada federal Joenia Wapichana. O Ministério da Saúde também ganha representação indígena pela primeira vez. A Secretaria de Saúde Indígena (Sesai) agora é dirigida pelo advogado Weibe Tapeba. A participação cada vez mais marcante das mulheres indígenas na luta pelos seus direitos e na construção de um Brasil mais inclusivo é tema de destaque desta edição”, destaca o ISA.

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Com informações da RBA.