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(FOTO/ Reprodução). |
Por Alexandre Lucas, Colunista
O
município do Crato ( CE), em 2022,
gastou do orçamento municipal 0,67%, cerca de 85% deste percentual foi
gasto com folha de pagamento e encargos sociais, menos de 15% foi destinado
para fomento e outras despesas da pasta. Nos últimos sete anos, o investimento
no setor cultural não chegou a 1%. O resultado destes números tem incidência
direta no processo de sucateamento dos equipamentos culturais e na política de
fomento artístico-cultural.
O
Crato, cidade conhecida como “capital da cultura”, conceito elitista,
inadequado e excludente demonstra contradições e equívocos. Atualmente o
conjunto dos equipamentos culturais do
Município estão fechados ou apresentam condições inadequadas para uso: Museu
Histórico e de Artes Vicente Leite, Teatro Salviano Arraes, Centro Cultural do
Araripe, Estação da Cidadania, Caldeirão da Santa Cruz do Deserto, Biblioteca
Central e Luiz Cruz e anfiteatro da Praça do Cruzeiro. A ausência de espaços em
condições de funcionamento contribui para dificultar a democratização estética,
artística, literária e cultural da mesma forma que a redução dos investimento
em fomento prejudica a cadeia econômica da cultura e a fruição estética.
Os
percentuais investidos no setor cultural do Crato demonstram que são insuficientes pela dimensão
populacional do município que atualmente tem mais 133 mil habitantes e está
situado numa região efervescente de pluralidade e diversidade cultural, marcada pela convivência, contraste e
hibridismo do popular e do erudito, dos terreiros e das academias, da dança
clássica e do reisado, do cordel e das teses acadêmicas , dos arranha-céus e da
Chapada do Araripe, essa complexidade de elementos exigem maior
investimento. Se pegarmos como recorte a
população e dividimos pelo valor gasto em 2022 (R $2.939.338,61), teríamos um
investimento menor que R$ 2,00 por habitante/mês. Lógico que essa matemática não dá conta da dimensão
simbólica na vida da população, mas pode instigar o processo de reflexão sobre
aquecimento e desaquecimento na economia da cultura, no sentido de aprofundar o
debate sobre as condições de
sobrevivência das trabalhadoras e trabalhadores da cultura.
Desde
2012, o movimento cultural defende
a destinação de 2% do orçamento para a
cultura. Neste mesmo período, o
movimento já defendia a criação do Sistema Municipal de Cultura e a
implementação do Cultura Viva Municipal. O Sistema foi criado em 2014 e a Lei
Cultura Viva ( Pontos de Cultura) em 2021. Dois marcos legais dos
segmentos culturais capazes de estruturar a política pública para a cultura no
Município, entretanto, o arcabouço jurídico ainda não encontrou as condições
políticas e econômicas favoráveis
para impulsionar a democratização da política cultural.
A
grande questão é criar políticas de
estado para cultura, visando evitar que
elas sejam demolidas no trânsito dos governos.
A
pauta dos 2% tomou conta do debate na
última Conferência Municipal de Cultural que teve como tema “Uma Política Pública para o Crato:
Implementação do Plano Municipal de Cultura” que aconteceu nos dias 24 e 25 de
março e deverá elaborar o documento referência para a cultura do Município para
os próximos 10 anos. A conferência
aprovou duas propostas relativas aos 2%: a primeira é a inclusão dos 2% na Lei
de Diretrizes Orçamentárias – LDO para ser implementada em 2024 e a outra é a elaboração de lei que cria a destinação
de percentual de 2% do orçamento para a cultura, sendo 50% para o fomento artístico-cultural.
A luta pelos 2% do orçamento para a cultura representa uma estratégia para colocar o Plano Municipal de Cultura dentro do orçamento do município e ao mesmo tempo ir consolidando o Sistema Municipal de Cultural. Os 2% é uma trincheira de luta para o promover o desenvolvimento econômico, social, territorial, o direito à cidade e a cidadania cultural.
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