Ignorância de Bolsonaro pode levar Brasil a catástrofe sanitária, diz mestre em saúde pública


Cuba tem convênios para atendimento médico em mais de 60 países. Brasil está sendo o único a criar empecilhos. (Foto: Araquém Alcântara/Via Jornal Granma).

“O Brasil com certeza sofre com essa saída. Vamos ter de fato uma catástrofe sanitária”, disse o médico Thiago Henrique Silva sobre o fim da participação de Cuba no Programa Mais Médicos, criado em 2013. Integrante da Rede Nacional de Médicos e Médicas Populares e mestre em Saúde Pública, Thiago lembrou, em entrevista à TVT, que são em torno de 8 mil médicos cubanos atuando no Brasil e que devem sair até dezembro por conta de exigências do presidente eleito, Jair Bolsonaro, que não fazem parte do contrato firmado com Cuba até o final de 2019.

O que ocorre é que o Brasil tem com Cuba uma parceria de cooperação. Os países que buscam essa parceria com a Empresa Estatal Cubana de Serviços Médicos buscam porque estão precisando de um força de trabalho extra porque a interna não dá conta de atender as pessoas", explica o especialista. Segundo ele, Cuba tem acordos de cooperação com mais de 60 países. "O único em que há esse debate da revalidação dos diplomas é o Brasil”, lamenta.

O médico relata que desde os anos 1960 Cuba prepara brigadas de solidariedade para atender catástrofes naturais e biológicas, como o ebola na África, os terremotos no Haiti, no Paquistão. “Quando outros países mandavam armas, Cuba mandava médicos para os países que estavam passando dificuldade. Cuba é referencia em saúde reconhecida inclusive pelos norte-americanos. Com o relaxamento das relações entre Cuba e EUA, muitos estão procurando Cuba para fazer tratamento médico.”

O profissional, que atua como médico da família e comunidade, critica os questionamentos de Bolsonaro sobre a qualificação dos médicos cubanos. “Ele está tentando mascarar uma questão ideológica para tentar combater a qualidade técnica dos médicos cubanos. Vieram aqui doutores em cardiologia, em oftalmologia, em gastrenterologia, em medicina de família e comunidade.”

Assim como no Brasil, ele explica, há médicos com pouca experiência também. “Vieram no total, desde o início, 14 mil médicos para cá. Quando você traz 14 mil  médicos vai ter médicos excelentes, medianos, médicos nem tanto. Isso acontece com a nossa força de trabalho no Brasil. Tanto é que algumas entidade médicas vêm voltando a discutir a questão do exame de ordem da Medicina. Temos um problema muito grande na formação dentro do Brasil.”

À parte qualquer possível deficiência, para ele a formação dos médicos cubanos é conceituada. “Se pegar o medico norte-americano e trazer para a realidade brasileira, colocar numa realidade como muitos cubanos estão atendendo hoje, comunidades ribeirinhas, por exemplo, não vai conseguir dar conta porque não conhece as outras complexidades. As formações são diferentes, só que a formação de Cuba é parecida com a nossa pela realidade que passou nos últimos 40 anos de avanço nos serviços de saúde. E são bem mais avançados que nós hoje em dia.”

Bravatas do presidente eleito

Em visita hoje (16) ao Comando do Primeiro Distrito Naval, no Rio de Janeiro, Bolsonaro voltou a defender o fim do contrato com Cuba. Afirmou que nunca viu uma autoridade ser atendida por um médico cubano e que esse atendimento não deveria ser relegado aos mais pobres.

Para Thiago, as manifestações de Bolsonaro que culminaram com o fim do contrato com Cuba tratam-se de mais uma bravata do presidente eleito que sabe que não vai recuperar a economia com a agenda do seu economista que quer combater a China, o maior parceiro comercial do Brasil.

Ele acabou de nomear um chanceler que diz que a China é maoísta e tem de ser combatida. Você está falando da segunda maior economia do mundo, que nem Trump (Donald Trump, presidente dos EUA) tem coragem de falar uma coisa dessas. E o chanceler do Bolsonaro fala isso", diz Thiago, sobre a indicação do diplomata Ernesto Henrique Araújo para comandar o Itamaraty. Araújo é alinhado com Donald Trump e já chegou a dizer que a preocupação com mudanças climáticas e aquecimento global é coisa de comunista.

Levantar uma cortina de fumaça ideológica é o que Bolsonaro quer fazer, na opinião de Thiago. “E é essa cortina que vai fazer com que 8 mil médicos saiam daqui e 30 milhões de brasileiros fiquem sem atendimento médico.”

Sem médicos as pessoas morrem

O mestre em Saúde Pública reforça que serão desassistidos os lugares mais pobres do Brasil. “Para ter ideia, 90% dos médicos que estão nas comunidades indígenas são cubanos.” E alerta: “Não tinha nada, absolutamente nada preparado para isso. Ele fez um esforço de que Cuba rompesse o acordo e para não ter que fazer isso em janeiro. E Cuba com razão e com integridade o fez antes de colocar seus médicos aqui a partir de janeiro em risco".

Thiago revela que o programa federal não pretendia continuar funcionando com médicos cubanos eternamente. “Tinha uma preparação de abrir vagas em faculdades de Medicina, em programas de residência médica, no interior, onde a gente pudesse fixar médicos. A programação era, em alguns anos, deixar de depender dos médicos estrangeiros e conseguir utilizar a própria forca de trabalho médica brasileira. Esse era o objetivo, sempre foi. Mas essa estratégia foi desmontada após o golpe de 2016 e Bolsonaro nem sonha em colocar algo parecido.”

Para ele, o Brasil precisa de programas como o Mais Médicos já que a categoria é a única que goza de pleno emprego. “Sou médico, mas não concordo com que tenhamos uma reserva de mercado e que a gente possa ficar chantageando prefeitos, diretores de hospitais, gestores: ah, se não fizer do jeito que eu quero eu saio do serviço” diz. “E acho um absurdo chantagear o serviço público de saúde porque quando isso acontece pessoas morrem. A gente tem de estar mais comprometido com a vida das pessoas do que com a chantagem para ter uma renda maior.”

Plano de governo privatista

Sobre o novo governo, Thiago não tem boas expectativas. “O que está colocado para o futuro do país na saúde é um avanço do setor privado de uma forma absolutamente desregulamentada. Essa é a agenda de saúde do Bolsonaro”, ressalta, lembrando que “os míseros quatro slides que estão colocados no programa de saúde dele, a gente percebe que a única coisa concreta é a desregulamentação”.

O médico relata que a proposta do presidente eleito é de 40 anos atrás. “É o cadastramento universal de médicos, como se fazia na época do Inamps. Significa cadastrar o médico que ele manda a conta para o setor público pagar depois a partir do atendimento no seu consultório privado. Isso aí era um mar de roubalheira, um mar de fraude. O Inamps caiu por conta dessas fraudes.” (Com informações da RBA).

IV Feira Empreendedora da Escola Profissional Wellington Belém de Figueiredo homenageará Mestre Espedito Seleiro


Estudantes da Escola de Educação Profissional Wellington Belém de Figueiredo em vista a Santana do Cariri para divulgar a IV Feira Empreendedora. (Foto: Reprodução/Instagram).

A IV Feira Empreendedora da Escola de Educação Profissional Wellington Belém de Figueiredo, em Nova Olinda, uma ação do Programa de Educação Empreendedora sob o cognome “Jovens Empreendedores”, a ser realizada no próximo dia 5 de dezembro, terá como homenageado o Mestre da Cultura Espedito Seleiro.

Durante esta semana alunos e alunas da disciplina de Empreendedorismo realizaram visitas as escolas de municípios que são atendidos na referida instituição via consórcio com o governo do Estado do Ceará, como Altaneira e Santana do Cariri para divulgar o evento e correr atrás de patrocínios.

Durante a feira haverá a exposição de lojas construídas pelos próprios discentes, com momento para venda dos produtos confeccionados. É um momento ímpar na vida estudantil, pois permite e fomenta o protagonismo juvenil através da experiência de serem, cada um, organizador, produtor e propagador das suas construções.

Haverá também espaço para que os patrocinadores tenham divulgados as marcas de suas empresas. Uma das ferramentas mais usadas de divulgação pelos alunos e alunas foi a rede social Instagram. Por ela pode-se perceber que já há mais de vinte patrocinadores, entre ele destaca-se a “Paula Festas”, “Madeireira JM”, “Ótica Imperial”, “Drika Cosmcteria”, “Araújo Sat”, “Toda Linda Moda e Acessórios”, “Zé Wagner e Excursões Transporte e Turismo – ME”, “AJ – Net”, “Stephanny Presentes”, “Papel Mania”, “M.A Modas”, “Convida Consultoria” e Assessoria”, “J.F Construções”, “Ritos”, dentre outras.

A Feira será exibida a partir das 13h00 do dia 05 (cinco) de dezembro quando estará aberta para visitação do público.

Museu Orgânico do Mestre Françuli é o segundo do tesouros vivos em Potengi


O Museu do Mestre Françuli é o segundo do tesouros vivos em Potengi. (Foto: Reprodução/Potengi na Internet).

Depois do museu dedicado ao Mestre de Reisado Antônio Luiz de Souza, em setembro do ano em curso na zona rural de Sassaré, o município de Potengi, no sul do Estado do Ceará, ganha mais um Museu dentro do critério “tesouros vivos da cultura”. Trata-se da Oficina do Mestre Françuli.

O agricultor Françuli é conhecido na cidade por Mestre Françuli por fabricar pequenas e grandes réplicas de aviões. Segundo o portal Potengi na Internet, esta é a "sua especial arte e inspiração desde a sua infância” e relata que o evento contou com a participação da população, de representatividades políticas do município  e da região e foi agraciada por “apresentações culturais incluindo apresentações da Banda Cabaçal Santo Antônio além da apresentação do Grupo de Forró Pé de Serra Na Base da Chinela”.

Segundo informa o referido portal, o museu virou o seu grande sonho que foi realizado na tarde desta quinta-feira (15/11). A iniciativa faz parte do projeto de  Museus Orgânicos dos Mestres de Cultura Tradicional do Cariri do Sesc Ceará e da Fundação Casa Grande.

Para quem deseja visitar o espaço, ele fica localizado no centro de Potengi nas intermediarias da Rua Francisco Guedes e Avenida Herculino Marrocos e é chamado pela população “O Beco do Françuli” levando o nome do artesão.


Espedito Seleiro, de Nova Olinda, participará de carro alegórico e ala dedicada ao seu trabalho no Carnaval 2019


As roupas, no entanto, não serão feitas pelo Mestre, que autorizou o estilista da escola a criar de acordo com seu estilo. (Foto: Reprodução).

O Mestre de Cultura Espedito Seleiro, de Nova Olinda, será homenageado pelo seu trabalho como alfaiate do couro durante o carnaval do Rio de Janeiro em 2019. Segundo informações colhidas pela repórter Alana Soares, do site Miséria, ele terá carro alegórico e ala dedicada no sambódromo carioca ao lado de outros dois estilistas do Estado do Ceará.

Alana informa ainda que as informações foram colhidas junto ao próprio Espedito Seleiro durante a inauguração do Museu Orgânico do Mestre Françuli em Potengi, nesta quinta-feira, 15.

Espedito conta que toda uma ala do desfile da Escola de Samba União da Ilha irá homenagear os artistas do alfaiate do Ceará. Além dele aparecerá  o estilista de alta-costura Ivanildo Nunes, de Fortaleza e o designer de moda Lindemberg Fernandes. Em comum, o traço de unir alta-costura e requinte com raízes tradicionais do sertanejo.

O mestre novaolindense ressaltou que se sente feliz e que aceitou a homenagem “de bom coração”.

A União da Ilha dedicou seu desfile às belezas do Ceará e vai a avenida com o título “Peleja Poética entre Rachel de Queiroz e Alencar no Avarando do Céu” e dará enfoque a literatura de Rachel de Queiroz e José de Alencar.


Fotógrafo registra impacto do Mais Médicos no interior do Brasil


(Crédito: Araquém Alcântara).

Araquém Alcântara, natural de Florianópolis, é um dos mais importantes fotógrafos brasileiros da atualidade. Autor de 47 livros e vencedor de 35 prêmios nacionais e internacionais, desde 1970 dedica-se à documentação do povo e da natureza do Brasil.

Em 2015, Araquém percorreu 38 cidades de 20 estados para testemunhar o papel do programa Mais Médicos nas comunidades do interior.

O resultado é o livro Mais Médicos, da editora Terrabrasil com mais de 100 fotos dos doutores - brasileiros e estrangeiros - e seus pacientes nos povoados onde vivem e atuam.

Nesse percurso deu para perceber a mudança de paradigma que esse programa trouxe ao Brasil. Principalmente aos desassistidos que começaram a sentir o apoio, a presença do Estado”, disse o fotógrafo em entrevista à Organização Mundial da Saúde em 2016. (Com informações do Conversa Afiada).









(Crédito das Imagens: Araquém Alcântara).

Cuba se retira do Mais Médicos após declarações “ameaçadoras e depreciativas” de Bolsonaro


Cuba se retira do Mais Médico após declarações "ameaçadoras e depreciativas" de Bolsonaro. (Foto: Reprodução).

O governo de Cuba comunicou nesta quarta-feira (14/11) que vai se retirar do programa Mais Médicos devido a declarações “ameaçadoras e depreciativas” do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), que anunciou modificações “inaceitáveis” no projeto. As informações são da agência alemã Deutsche Welle.

Com a decisão, milhares de médicos cubanos que trabalham no Brasil devem voltar para a ilha. “Diante dessa realidade lamentável, o Ministério da Saúde Pública de Cuba tomou a decisão de não continuar participando do programa ‘Mais Médicos’, anunciou o ministério cubano, que comunicou ter informado o governo brasileiro.

Segundo o governo cubano, Bolsonaro questionou a formação dos especialistas cubanos, condicionou sua permanência no programa à revalidação do diploma e impôs como único caminho a contratação individual.

O povo brasileiro, que fez do Programa Mais Médicos uma conquista social, que confiou desde o primeiro momento nos médicos cubanos, aprecia suas virtudes e agradece o respeito, sensibilidade e profissionalismo com que foi atendido, vai compreender sobre quem cai a responsabilidade de que nossos médicos não podem continuar prestando seu apoio solidário no país”, afirmou o Ministério da Saúde Pública de Cuba.


Dia da Consciência Negra: Zumbi, feriado e reflexão nas escolas


Integrantes de movimentos sociais e de defesa dos direitos da comunidades negra reuniram-se na cidade de São Paulo para a 13ª Marcha da Consciência Negra. (Foto: Rovena Rosa - Agência Brasil/ Reprodução - Nova Escola).

A data foi incluída em 2003 no calendário escolar nacional, mas não é feriado em todo o território brasileiro.

O Dia da Consciência Negra no Brasil é comemorado em 20 de novembro. A data, ainda que tenha sido incluída no calendário escolar e traga oportunidades para disparar conversas importantes sobre a história dos negros no país, não é feriado em todo o território brasileiro. Dos 5.570 municípios, pouco mais de mil decretam a data como feriado.

A Lei 12.519 de 2011 instituiu oficialmente o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra. No calendário escolar nacional, a data foi incluída em 2003. A origem do Dia da Consciência Negra está ligada aos esforços dos movimentos sociais para evidenciar as desigualdades históricas que marcaram as populações negra e parda no país.

O dia 20 de novembro marca a data da morte de Zumbi dos Palmares (1655-1695), um escravo que foi líder do Quilombo dos Palmares e que morreu defendendo sua comunidade. O local simbolizou a luta dos negros por seus direitos, contra a escravidão.

No Dia da Consciência Negra, os professores podem aproveitar para promover junto a seus alunos uma reflexão sobre o papel da cultura e do povo africano na construção da cultura brasileira. E falar sobre sua influência na cultura, política, religião e gastronomia, entre outras tantas áreas.

           


Quem foi Zumbi dos Palmares

Os quilombos eram agrupamentos populacionais formados por escravos foragidos de fazendas coloniais. Nos quilombos, muitas vezes escondidos em meio à mata, os ex-escravos organizavam suas vidas para garantir sua subsistência e tinham liberdade para reproduzir livremente a cultura de seus ancestrais africanos – ao contrário de seguir os preceitos da Igreja Católica.

Em 1600, escravos que haviam fugido dos engenhos de açúcar de Pernambuco fundaram, na Serra da Barriga, no Alagoas, o Quilombo dos Palmares. O local chegou a congregar 30 mil pessoas.

Em 1644, os holandeses falharam em sua tentativa de invadir o quilombo. Dez anos depois, os holandeses foram expulsos da região pelos portugueses.

Zumbi foi o último líder da República dos Palmares. Ele nasceu em 1655 no quilombo, mas ainda criança foi aprisionado por colonos portugueses e dado ao padre Antonio Melo, que o batizou como Francisco. Ele conseguiu retornar anos depois para os Palmares, no período em que o governo da Capitania de Pernambuco negociava com as lideranças quilombolas que se submetessem à Coroa Portuguesa.

O quilombo dos Palmares era então comandado por Ganga Zumba. Zumbi se opôs à decisão de ceder aos portugueses. Com a morte de Ganga Zumba, ele assumiu o comando dos negros foragidos em 1680 e esteve à frente da comunidade até 1694. Nesse período, o quilombo foi atacado várias vezes por grupos de bandeirantes, até ser destruído. Zumbi foi caçado, morto e sua cabeça cortada e exibida em praça pública. A escravidão no Brasil só teria fim em 1888, com a Lei Áurea, cerca de 193 anos após sua morte.

Nos anos 1970, organizações começaram a utilizar a data de 20 de novembro para refletir sobre o legado da escravidão no Brasil. Essa reflexão levantou debates sobre a valorização da cultura negra e sua contribuição para a história brasileira, além de servir como modelo de resistência e luta pelos direitos dos negros. (Com informações da Nova Escola).

Muito além da princesa Isabel, conheça 6 brasileiros que lutaram pelo fim da escravidão no Brasil


Batalha pela abolição já ocorria nas províncias brasileiras anos antes da  assinatura da Lei Áurea, e reunia escravos, negros libertos, pessoas da classe média e da alta sociedade. (Imagem/ André Valente - Reprodução - BBC Brasil).

O fim da escravidão no Brasil completa 130 anos em 13 de maio deste ano. Em 1888, a princesa Isabel, filha do imperador do Brasil Pedro 2º, assinou a Lei Áurea, decretando a abolição - sem nenhuma medida de compensação ou apoio aos ex-escravos.

A decisão veio após mais de três séculos de escravidão, que resultaram em 4,9 milhões de africanos traficados para o Brasil, sendo que mais de 600 mil morreram no caminho.

Mas a abolição no Brasil está longe de ter sido uma benevolência da monarquia. Na verdade, foi resultado de diversos fatores, entre eles, o crescimento do movimento abolicionista na década de 1880, cuja força não podia mais ser contida.

Entre as formas de resistência, estavam grandes embates parlamentares, manifestações artísticas, até revoltas e fugas massivas de escravos, que a polícia e o Exército não conseguiam - e, a partir de certo ponto, não queriam - reprimir. Em 1884, quatro anos antes do Brasil, os Estados do Ceará e do Amazonas acabaram com a escravidão, dando ainda mais força para o movimento.

A disputa continuou no pós-libertação, para que novas políticas fossem criadas destinando terras e indenizações aos ex-escravos - o que nunca ocorreu.

Conheça abaixo as histórias de seis brasileiros protagonistas na luta pelo fim da escravidão:

Luís Gama, o ex-escravo que se tornou advogado

Luís Gonzaga Pinto da Gama nasceu em 1830, em Salvador, filho de mãe africana livre e pai branco de origem portuguesa. Quando o menino tinha quatro anos, sua mãe, Luísa, teria participado revolta dos Malês, na Bahia, pelo fim da escravidão.

Calcula-se que Luis Gama tenha ajudado
a libertar cerca de 500 escravos.
(Acervo Biblioteca Nacional - Brasil). 
Uma reviravolta ocorreu quando Gama tinha dez anos: ficou sob cuidados de um amigo do pai, que o vendeu como escravo. O menino "embarcou livre em Salvador e desembarcou escravo no Rio de Janeiro", escreve a socióloga Angela Alonso no livro Flores, Votos e Balas, sobre o movimento abolicionista. Depois, foi levado para São Paulo, onde trabalhou como escravo doméstico. "Aprendi a copeiro, sapateiro, a lavar e a engomar roupa e a costurar", escreveu o baiano.

Aos 17 anos, Gama aprendeu a ler e escrever com um estudante de direito. E reivindicou sua liberdade ao seu proprietário, afinal, nascera livre, livre era.

Em São Paulo, Gama se tornou rábula (advogado autodidata, sem diploma) e criou uma nova forma de ativismo abolicionista: entrava com ações na Justiça para libertar escravos. Calcula-se que tenha ajudado a conseguir a liberdade de cerca de 500 pessoas.

Gama usava diversos argumentos para obter a alforria. O principal deles era que os africanos trazidos ao Brasil depois de 1831 tinham sido escravizados ilegalmente. Isso porque naquele ano foi assinado um tratado de proibição do tráfico de escravos. Mais de 700 mil pessoas tinham entrado no país nessas condições. Apenas em 1850 o tráfico de escravos foi abolido definitivamente.

"As vozes dos abolicionistas têm posto em relevo um fato altamente criminoso e assaz defendido pelas nossas indignas autoridades. A maior parte dos escravos africanos (...) foram importados depois da lei proibitiva do tráfico promulgada em 1831", disse Gama na época.

O advogado ainda entrou com diversos pedidos de habeas corpus para soltar escravos que estavam presos, acusados, sobretudo, de fuga. Ainda trabalhou em ações de liberdade, quando o escravo fazia um pedido judicial para comprar sua própria alforria - o que passou a ser permitido em 1871, em um dos artigos da Lei do Ventre Livre.

Luís Gama morreu em 1882, sem ver a abolição. Seu funeral, em São Paulo, foi seguido por uma multidão. "Quanto galgara Luís Gama, de ex-escravo a morto ilustre, em cujo funeral todas as classes representavam-se. Comércio de porta fechada, bandeira a meio mastro, de tempos em tempos, um discurso; nas sacadas, debruçavam-se tapeçarias, como nas procissões da Semana Santa", relata Alonso.

Na hora do enterro, alguém gritou pedindo que a multidão jurasse sobre o corpo de Gama que não deixaria morrer a ideia pela qual ele combatera. E juraram todos.

Maria Tomásia Figueira Lima, a aristocrata que lutou para adiantar a abolição no Ceará

Filha de uma família tradicional de Sobral (CE), Maria Tomásia foi para Fortaleza depois de se casar com o abolicionista Francisco de Paula de Oliveira Lima. Na capital, tornou-se uma das principais articuladoras do movimento que levou o Estado a decretar a libertação dos escravos quatro anos antes da Lei Áurea.

Segundo o Dicionário de Mulheres do Brasil, ela foi cofundadora e a primeira presidente da Sociedade das Cearenses Libertadoras que, em 1882, reunia 22 mulheres de famílias influentes para argumentar a favor da abolição.

Ao fim de sua primeira reunião, elas mesmas assinaram 12 cartas de alforria e, em seguida, conseguiram que senhores de engenho assinassem mais 72.

As mulheres conseguiram, inclusive, o apoio financeiro do imperador Pedro 2º para a iniciativa. Juntamente com outras sociedades abolicionistas da época, elas organizaram reuniões abertas com a população, promoviam a libertação de escravos em municípios do interior do Ceará e publicavam textos nos jornais pedindo a abolição em toda a província.

Maria Tomásia estava presente na Assembleia Legislativa no dia 25 de março de 1884, quando foi realizado o ato oficial de libertação dos escravos do Ceará, que deu força à campanha abolicionista no país.

André Rebouças, o engenheiro que queria dar terras aos libertos

André Rebouças era adepto de uma reforma
agrária que concedesse terras para ex-escravos.
(Museu Afro Brasil).
André Rebouças nasceu na Bahia, em 1838, em uma família negra, livre, e incluída na sociedade imperial. Quando jovem, estudou engenharia e começou a trabalhar na área. Foi responsável por diversas obras de engenharia importantes no país, como a estrada de ferro que liga Curitiba ao porto de Paranaguá. Conquistou posição social e respeito na corte. A Avenida Rebouças, importante via em São Paulo, é uma homenagem a André e a seu irmão Antonio, também engenheiro.

Em uma das obras de que participou, outro engenheiro pediu que Rebouças libertasse o escravo Chico, que era operário e tinha sido responsável pelos trabalhos hidráulicos. "Foi quando sua atenção recaiu sobre o assunto", escreve Angela Alonso, também em Flores, Votos e Balas. Chico foi, então, libertado.

"Sou abolicionista de coração. Não me acusa a consciência ter deixado uma só ocasião de fazer propaganda para a abolição dos escravos, e espero em Deus não morrer sem ter dado ao meu país as mais exuberantes provas da minha dedicação à santa causa da emancipação", discursou certa vez Rebouças, na presença do imperador Pedro 2º.

Na década de 1870, Rebouças se engajou na campanha pelo fim da escravidão. Participou de diversas sociedades abolicionistas e acabou se tornando um dos principais articuladores do movimento. Um de seus papéis foi fazer lobby - uma ponte entre os abolicionistas da elite e as instituições políticas, para quem executava obras de engenharia.

As ideias de Rebouças incluíam não apenas o fim da escravidão. Ele propunha que os libertos tivessem acesso à terra e a direitos, para serem integrados, não marginalizados. "É preciso dar terra ao negro. A escravidão é um crime. O latifúndio é uma atrocidade. (...) Não há comunismo na minha nacionalização do solo. É pura e simplesmente democracia rural", proclamou Rebouças.

O engenheiro também se opunha ao pagamento de indenização para os senhores de escravos em troca da liberdade - para Rebouças, isso seria uma forma de validar que uma pessoa fosse propriedade da outra.

Apoiador da monarquia e da família real brasileira, Rebouças foi ainda um dos responsáveis pela exaltação da Princesa Isabel como patrona da abolição.

Adelina, a charuteira que atuava como 'espiã'

Filha bastarda e escrava do próprio pai, Adelina passou a vender charutos que ele produzia nas ruas e estabelecimentos comerciais de São Luís (MA). Suas datas de nascimento e morte não são conhecidas. Seu sobrenome, também não.

Como escrava criada na casa grande, Adelina aprendeu a ler e escrever. Trabalhando nas ruas, assistia a discursos de abolicionistas e decidiu se envolver na causa.

Como não há registro fotográfico de Adelina, a charuteira, ilustração foi baseada em fotografias de escravas minas que viviam no Maranhão na época. (Foto: André Valente - BBC Brasil).

De acordo com o Dicionário da Escravidão Negra no Brasil, de Clóvis Moura (Edusp), Adelina enviava à associação Clube dos Mortos - que escondia escravos e promovia sua fuga - informações que conseguia sobre ações policiais e estratégias dos escravistas.

Aos 17 anos, Adelina seria alforriada, segundo a promessa que seu senhor fez a sua mãe. Mas, segundo o Dicionário, isso não aconteceu.

Dragão do Mar, o jangadeiro que se recusou a transportar escravos para os navios

O jangadeiro e prático (condutor de embarcações) Francisco José do Nascimento (1839-1914), um homem pardo conhecido como Dragão do Mar, foi membro do Movimento Abolicionista Cearense, um dos principais da província, a primeira do Brasil a abolir a escravidão.

Em 1881, o Dragão do Mar comandou, em Fortaleza, uma greve de jangadeiros que transportavam os negros e negras escravizados para navios que iriam para outros Estados do Nordeste e para o Sul do Brasil. O movimento conseguiu paralisar o tráfico negreiro por alguns dias.

Francisco José do Nascimento se recusou a transportar escravos das praias de Fortaleza para navios negreiros.
(Foto: André Valente - BBC Brasil).

Com o comércio de escravizados impedido nas praias do Ceará, Nascimento foi exonerado do cargo, segundo o registro de Clóvis Moura. E se tornou símbolo da batalha pela libertação dos escravos.

Depois da abolição, ele tornou-se Major Ajudante de Ordens do Secretário Geral do Comando Superior da Guarda Nacional do Estado do Ceará e morreu como primeiro-tenente honorário da Armada, em 1914.

Maria Firmina dos Reis, a primeira escritora abolicionista

A maranhense Maria Firmina (1825-1917) era negra e livre, "filha bastarda", mas formou-se professora primária e publicou, em 1859, o que é considerado por alguns historiadores o primeiro romance abolicionista do Brasil, Úrsula. O livro conta a história de um triângulo amoroso, mas três dos principais personagens são negros que questionam o sistema escravocrata.

A escritora assinava o livro apenas como "Uma maranhense", um expediente comum entre mulheres da época que se aventuravam no mercado editorial, e só agora começa a ser descoberto pelas universidades, segundo a professora de literatura brasileira da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Constância Lima Duarte.

Romance de Maria Firmino dos Reis é considerado o primeiro a trazer o ponto de vista de personagens negros no Brasil escravocrata. (Foto: André Valente - BBC Brasil).

Maria Firmina também publicava contos, poemas e artigos sobre a escravidão em revistas de denúncia no Maranhão.

De acordo com o Dicionário de Mulheres do Brasil: de 1500 Até a Atualidade (Ed. Zahar), ela criou, aos 55 anos de idade, uma escola gratuita e mista para crianças pobres, na qual lecionava. Maria Firmina morreu aos 92 anos, na casa de uma amiga que havia sido escrava. (Com informações da BBC Brasil).