60 motivos para não votar em Bolsonaro


(Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil).


Um texto da jornalista Marília De Toledo Kodic, que circula nas redes sociais, lista 60 motivos que mostram que Jair Bolsonaro (PSL) não deve ser opção de escolha no segundo turno das eleições presidenciais.

Eu fiz o levantamento com rigor jornalístico. Passei algumas madrugadas pesquisando tudo para te escrever. Tenho todas as fontes de todas as matérias, estudos, entrevistas e vídeos. Sei que está enorme, mas valeu a pena escrever, e espero que valha a pena ler – mesmo que seja aos poucos, mesmo que seja só passando o olho. Quis incluir tudo”, disse a jornalista em sua página no Facebook.

SOBRE JAIR BOLSONARO

Corrupção

1. O PP (ao qual Bolsonaro foi filiado até dois anos atrás) é o partido com o maior número de deputados investigados pelo STF. Bolsonaro só saiu do PP porque não o admitiram como candidato à presidência. E, quando chegou ao atual, o PSL, houve uma cisão interna, e declararam, em comunicado oficial: “A chegada do deputado Jair Bolsonaro é inteiramente incompatível com o projeto de construir no Brasil uma força partidária moderna, transparente e limpa”.

2. No PSL, Bolsonaro admitiu receber R$ 200 mil de propina da JBS. Disse (está gravado em vídeo): “recebeu propina, sim, mas qual partido não recebe?”.

3. Nos últimos 12 anos (em que Bolsonaro e seus três filhos se dedicaram apenas à política), o patrimônio da família cresceu 427%, com indícios de lavagem de dinheiro. Um exemplo: adquiriram 2 casas num condomínio Barra da Tijuca por um terço do preço avaliado, e, matematicamente falando, as casas tiveram valorização de 450% nos últimos 8 anos – o que não aconteceu com nenhuma outra casa no mesmo condomínio. Como?

4. O irmão de Bolsonaro foi descoberto como “funcionário fantasma” da Alesp – ele recebia um salário de R$ 17 mil mas nunca apareceu no trabalho.

5. Foi descoberta uma “funcionária fantasma” de Bolsonaro – na teoria, era uma funcionária do gabinete parlamentar (paga com dinheiro público), na realidade, trabalhava na casa de veraneio dele em Angra dos Reis.

6. Bolsonaro pagou R$ 240 mil em dinheiro público a uma produtora de vídeo – que não existe a não ser no papel. Isso é gasto ilícito e crime de falsidade ideológica.

7. Quando questionado sobre o auxílio moradia que recebia (mesmo tendo diversas casas), Bolsonaro disse que usava o dinheiro público para “comer gente”.

8. O general Augusto Heleno Ribeiro Pereira, escolhido por Bolsonaro para o Ministério da Defesa, recebia salário de R$ 59 mil (dinheiro público) no Comitê Olímpico Brasileiro. Segundo a lei, só poderia receber R$ 33 mil. Depois que isso foi divulgado, ele se demitiu.

9. Onyx Lorenzoni, além de ajudar a construir o programa de governo de Bolsonaro, é o seu articulador de apoios. No ano passado, ele confessou ter obtido R$ 100 mil em caixa 2 (dinheiro sujo = crime). “Vou ao ministério público e ao judiciário responder por este erro que cometi”, disse. Até hoje. não foi investigado por isso. Mas está investigado, no entanto, por caixa 2 no caso Odebrecht.

10. Paulo Guedes, responsável pela Economia no governo de Bolsonaro e escolhido como Ministro da Fazenda, está sendo investigado por fraude: captou R$ 1 bilhão de forma irregular. R$ 1 bilhão.

11. Bolsonaro está sendo acusado de usar caixa 2 nas eleições – um crime eleitoral. Ao menos 4 empresas financiaram com dinheiro sujo a compra de pacotes de distribuição de mensagens contra o PT por WhatsApp, no valor de 12 milhões de reais por pacote.

12. “Eu sonego imposto. Sonego tudo o que for possível”, disse Bolsonaro (em vídeo). Nada a acrescentar.

Atuação política

13. Muito se fala de o Brasil “virar uma Venezuela caso o PT ganhe”. Em 1º lugar, isso nunca aconteceu em anos de governo do PT. Em 2º, a Venezuela tem um governo civil autoritário com apoio militar – exatamente o que Bolsonaro defende. Numa entrevista à Veja anos atrás, Bolsonaro disse: “Chávez [presidente da Venezuela e símbolo da esquerda] é uma esperança para a América Latina e gostaria muito que essa filosofia chegasse ao Brasil. Ele vai fazer o que os militares fizeram no Brasil em 1964, com muito mais força. Na verdade, não tem nada mais próximo do comunismo do que o meio militar. Acho ele ímpar”.

14. O partido de Bolsonaro foi o mais fiel a Temer neste ano (mais do que o partido do próprio Temer), de acordo com análise de votações realizadas na Câmara. Com 82% de rejeição, Temer é o presidente mais impopular da história do país.

15. Bolsonaro votou a favor da PEC 241, que congela os gastos do governo em áreas como saúde e educação durante 20 anos. Ao longo de 27 anos como deputado, ele tem votado a favor do aumento dos salários, benefícios e gastos de deputados e senadores. Faz sentido?
16. Bolsonaro foi um dos dois deputados a votar contra a PEC das domésticas, que garantiu direitos básicos de trabalhador com carteira assinada a mulheres que trabalhavam em regime de semi-escravidão.

17. Bolsonaro foi o único deputado a votar contra o Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza, que visa diminuir a desigualdade direcionando recursos públicos para programas de nutrição, habitação, educação e saúde.

19. Bolsonaro defende esterilização de pobres como solução para miséria e crime. “Devemos adotar uma rígida política de controle da natalidade. Não podemos fazer discursos demagógicos, cobrando recursos e meios do governo para atender a esses miseráveis que proliferam cada vez mais por toda esta nação.” “Tem que dar meios para quem, lamentavelmente, é ignorante e não tem meios controlar a sua prole. Porque nós aqui controlamos a nossa. O pessoal pobre não controla.” “Só tem uma utilidade o pobre no nosso país: votar. Título de eleitor na mão e diploma de burro no bolso.”

20. Bolsonaro tentou fazer com que diversos projetos de lei controversos (para dizer o mínimo) fossem aprovados na câmara. Exemplos: uma lei que tira o direito das vítimas de violência sexual de terem atendimento emergencial, outra que desbloqueia o uso de celulares e radiotransmissores em presídios, e outra que faz com que nenhum homicídio cometidos por militares seja investigado.

21. Em 27 anos como deputado, Jair Bolsonaro aprovou o total de 2 projetos. Dois.


Jarid Arraes lança na França livro sobre Dandara, líder do movimento negro do Quilombo dos Palmares


A escritora Jarid Arraes nos estúdios da RFI Brasil, em Paris. (Foto: Elcio Ramalho - RFI Brasil).

Em turnê por várias cidades francesas para divulgar o lançamento de seu livro sobre Dandara, uma personagem histórica pouco conhecida do movimento negro brasileiro, a escritora Jarid Arraes se diz surpresa pelo interesse despertado pela obra.

Esse assunto tem despertado muito interesse, não apenas pela curiosidade, pelo Brasil, a escravidão. Mas também porque a França foi um país colonizador. A escravidão é um tema que também se relaciona com a França, e aqui também é um tema tabu. É algo que acrescenta”, garante.

Segundo Jarid, os encontros com estudantes brasileiros e franceses, brasilianistas e o público geral das cidades de La Rochelle, Rennes e Paris, tem gerado mais do que a simples curiosidade por um capítulo ainda pouco explorado na história do país. “É uma maneira de discutir esse tema, sem culpa, polêmica, mas com diálogo”, acrescenta.

Companheira de Zumbi dos Palmares, grande líder quilombola do século 17 contra a escravidão no Brasil, Dandara teve um papel ofuscado na história do movimento negro. “Ela também foi líder e guerreira, também estava na frente das lutas contra a escravidão”, lembra.

A ideia de escrever um livro partiu de um trabalho mais amplo de pesquisa sobre as mulheres negras que marcaram a história do país. Em uma reunião do movimento negro, do qual é militante, Jarid Arraes ouviu pela primeira vez o nome de Dandara, que se tornaria a futura personagem de seu primeiro livro.

Intrigada, Jarid buscou conhecer mais profundamente a personagem e, diante da constatação de que havia pouca informação sobre ela - considerada por muitos uma lenda - decidiu se lançar em um grande desafio.

Já que ela era uma lenda, decidi escrever sobre as lendas de Dandara, porque nem isso a gente tem. Daí surgiu a ideia do livro e a necessidade de resgatar essas mulheres que são muito inspiradoras”, argumenta.

Recorrendo à ficção para suprir dados históricos não conhecidos, como local, data de nascimento, origens e a própria condição de escrava, Jarid recheou o enredo com imaginação, muita religiosidade e a presença de orixás. “Adotei esses elementos para mostrar muitas religiões de origem africana que também são muito marginalizadas no Brasil e no mundo”, justifica.

Racismo e machismo

Em seu trabalho de pesquisa, a escritora identificou dois grandes obstáculos que impediram o resgate mais preciso e contundente da vida de uma mulher fundamental na existência do Quilombo dos Palmares.

A história da resistência contra a escravidão não foi contada nem registrada com todas as glórias, como o outro lado foi. Ali já começa o racismo”, afirma. Outro problema, segundo ela, é o de gênero. “É o machismo. Conhecemos o Zumbi, homenageado no dia 20 de novembro, transformado no Dia da Consciência Negra. Bem ou mal, superficialmente ou não, todos conhecem. Mas a Dandara, companheira dele, as pessoas não conhecem. Essa é uma tendência da história. As mulheres, companheiras ou namoradas, ficam ofuscadas, à sombra”, insiste.

Livro será adaptado para as telas

A primeira edição do livro “As lendas de Dandara” foi custeada do próprio bolso, por meio de um empréstimo e de forma independente, em 2015.

No ano seguinte, o livro foi publicado com o selo da Editora de Cultura. Com cerca de 12 mil exemplares vendidos até o momento, a obra se tornou um sucesso e os direitos já foram comprados pela rede Globo para transformar o livro em uma série. “Tive informações de que será um musical, o que ainda é mais interessante”, adiantou.

Mais do que a adaptação nas telas, seu maior orgulho é ver seu trabalho sendo transmitido pelos tradicionais meios de educação. “A repercussão é muito boa e é muito utilizado em escolas, que era o que eu mais queria”, afirma.

Na França, primeiro país que traduziu sua obra, “Dandara et les esclaves libres” ("Dandara e os escravos livres", em português) é uma aposta da editora Anacoana, especializada em literatura brasileira e novos autores do país.

Estou muito feliz, comecei esse livro sem ter nada, investindo dinheiro do próprio bolso. Hoje, vejo ele chegando em um outro país. Isso mostra o potencial, não da carreira de uma escritora, mas como algo que é coletivo e de uma história que é relevante, de algo que é uma reparação histórica”, conclui. (Com informações do Ceert).

CNBB se posiciona 'contra as armas do ódio e o discurso radical'


"Tem um candidato que não possui postura respeitosa, sem diálogo e com tom ameaçador", alerta bispo.
(Foto: José Cruz/Agência Brasil).

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou nota sobre o segundo turno das eleições de 2018 nesta quarta-feira (24). Sem citá-lo no texto, os bispos se mantém contrários à postura do candidato do PSL, Jair Bolsonaro, pedindo ao eleitor que recuse o "clima de violência, estimulado por notícias falsas, discursos e posturas radicais, que colocam em risco as bases democráticas da sociedade brasileira".

Em entrevista à jornalista Marilu Cabañas, da Rádio Brasil Atual, nesta quinta (25), Dom Reginaldo Andrietta, bispo da Diocese de Jales, reforçou a orientação, se posicionando contra um candidato radical e que faz apologia à tortura. De acordo com ele, a igreja é contra as "extrapolações" e a "manipulação do eleitor"

"Nesse sentido, a CNBB se pronuncia a favor da paz social e do Estado democrático. As pessoas que querem o cargo no Executivo devem ser respeitosas, mas tem um candidato que não possui essa postura, sem diálogo e com um tom ameaçador", afirma ele.

O bispo lembra que, durante a ditadura civil-militar no Brasil, as igrejas eram "discretas" e seus seguidores temerosos. "Não se podia criticar o que acontecia, então esse não era o tipo de sociedade que devemos viver", explica.

Dom Reginaldo acrescenta que a igreja deve ser contra todo o sistema de dominação e autoritarismo. "Toda tendência militarista está associada a um sistema de dominação econômica. Os sinais dados por este determinado candidato são nesse sentido, de ditadura. Isso significa que um vai ter medo do outro, falta de confiança e divisão social. Precisamos criar condições para a paz", finaliza. (Com informações da RBA).

Em Crato, mesa debate os desafios do Ensino de História no Brasil na atualidade


Mesa de Debates Sobre os Desafios do Ensino de História na Atualidade no auditório do Geopark Araripe, em Crato.
(Foto: Enzzo Lima).

Com a participação dos professores André Veloso, Valdênia de Araujo, Lucivânia da Silva e Nicolau Neto e sob a mediação da professora da URCA, Telvira, o auditório do Geopark Araripe sediou na noite da última segunda-feira, 22, uma mesa de debate acerca do Ensino de História.

Os professores focaram suas falas sobre os desafios do ensino de História no Brasil. Para André Veloso, da Escola Wilson Gonçalves, o maior obstáculo dos docentes da área de ciências humanas, principalmente da disciplina de História, é discutir junto ao corpo discente os caminhos e as lutas travadas para a construção do regime democrático de direito diante da onda conservadora e retrógrada pelo qual passa o pais. Veloz ainda fez um relato da trajetória pela qual passou a história enquanto disciplina até a forma que se encontra hoje, como formadora de pensamento crítico e reflexivo.

Lucivânia, vinculada a Escola José Alves de Figueiredo, fez uma exposição relacionada a dados que presencia em sala de aula. “Nunca tive que estudar tanto para dar aula”, frisou ao comentar que tem que lhe dar com pensamentos e questionamentos de estudantes que ousam afirmar que no Brasil nunca houve ditadura civil-miliar. Outros ainda possuem argumentos considerados machistas. “Certa vez estava falando sobre a revolução industrial e frisávamos as dificuldades que as mulheres tinham nas fábricas e que hoje, apesar da lei proibir salários diferenciados para homens e mulheres que exerçam as mesmas funções, na prática não é o que ocorre. As mulheres continuam ganhando menos que homens”, pontuou. “Mas houve um estudante que afirmou que isso nunca existiu e chegou a um ponto de que destacou que tem mulheres que merecem mesmo morrer, pois são provocativas”. Segundo ela, os tempos são difíceis. “Parte de nossos alunos estão deixando de se formarem nas salas de aula para adquirirem dados disponíveis em redes sociais, como WhatsApp e vídeos no Youtube". Essas informações, segunda ela, vem de pessoas sem nenhuma formação na área educacional.

Valdênia de Araujo, da Escola Wilson Gonçalves, destacou aspectos externos que acabam influenciando negativamente no processo de ensino-aprendizagem. Questões como a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e a Reforma do Ensino Médio foram relatadas por ela. “Enquanto estiverem produzindo livros na região sudeste, as outras regiões não serão contempladas da forma que realmente necessita ser”, destacou.

Universitários/as da URCA durante mesa de debates
sobre os desafios do ensino de História.
(Foto: Enzzo Lima).
O professor, membro da Academia de Letras do Brasil/Seccional Araripe e ativista dos direitos civis e humanos das populações negras pelo Grunec, Nicolau Neto, enveredou, inicialmente, pelos deveres de todos os docentes, com destaque para os de História. Entre eles, Nicolau citou perceber o (a) estudante como sujeito histórico, pois isso contribui de forma decisiva para a construção da identidade; partir do cotidiano dos estudantes para poder dialogar sobre os conteúdos programáticos, uma vez que as realidades trazidas pelos alunos não podem e nem devem ser descartadas, mas aproveitadas; colaborar com a formação do pensamento crítico e reflexivo; educar para a cidadania e educar para a politização. “Tendo esse pensamento em mente e o executando diariamente em sala de aula, fica mais fácil vencer os desafios do ensino-aprendizagem”, disse.

O professor trouxe para o debate a constituição da História enquanto disciplina que se consolidou a partir do século XVIII e no século seguinte passou a sofrer influência do Positivismo e do Marxismo.  Para Nicolau, nesse contexto o ensino de História no Brasil foi colocado, durante grande parte do período republicano, sob uma perspectiva puramente narrativa ao apresentar personalidade (políticas ou ligados a ela), fatos pontuais, heróis ( e não heroínas), características políticas e econômicas de uma determinada sociedade que ia de acordo com o modelo político e público de educação.

Ele ressaltou que durante o século XX e com o advento do século XXI haverá uma série de avanços significativos que colocam o professor, a professora em situações cada vez mais desafiadoras, tais como professor(a) pesquisador; ampliação e difusão do material didático relacionado a História disponível; variedade de publicações, sejam elas impressas ou digitais em formatos de textos, vídeos e imagens ao alcance dos estudantes a qualquer momento. Diante disso, ele indagou: qual o papel do professor, da professora? Como fazer os estudantes a se interessarem por sua aula? Sem ter a intenção de deixar o caso por encerrado, mas tão somente apontar caminhos, Nicolau citou que é necessário romper com o currículo europeizante ainda reinante, fazer valer em sala as leis 10.639/2003 e 11.645/2018 que versam sobre a obrigatoriedade do ensino da História e Cultura Africana e Afro-brasileira e História e Cultura Indígena, respectivamente. Por fim, mas não menos importante, ele tocou na necessidade da Formação Continuada para professores/as, da participação efetiva do corpo docente nas escolhas dos livros didáticos e, principalmente, que cada professor e professora possa estar cotidianamente conectado com os fatos do presente correlacionando com os conteúdos ministrados em sala de aula. “As escolas e as salas de aulas não podem e nem devem ser um mundo à parte”, frisou. Em um mundo onde as “desinformações advindas de redes sociais valem mais que fatos históricos comprovados e discutidos por professores em sala de aula, nós precisamos estar cada vez mais vigilantes e nos tornarmos além de professores pesquisadores, nos tornarmos de igual modo, professores ativistas e disputarmos narrativas”, concluiu.

A mesa foi uma organização do Núcleo de Apoio Pedagógico e Pesquisa em Ensino de História (Nuapeh), vinculado a Universidade Regional do Cariri (URCA), tendo como público universitários/as da própria instituição.

Fiz uma opção: derrotar Jair Bolsonaro', diz Haddad em Ato da Virada


Estimativa de 70 mil pessoas na Lapa pela Democracia.

Aos gritos de “Ele, não!” e “Lula presente, Haddad presidente”, cerca de 70 mil pessoas estiveram nos Arcos da Lapa, zona central do Rio de Janeiro, na noite desta terça-feira (23) para o “Ato da Virada – Brasil pela Democracia”, realizado em apoio ao candidato do PT à Presidência da República, Fernando Haddad.

O ato, que teve a participação de artistas como Chico Buarque e Caetano Veloso, foi marcado pelo repúdio às recentes declarações do candidato do PSL, Jair Bolsonaro, que ontem (22) ameaçou seus opositores com “a prisão ou o exílio” e afirmou que colocará as forças de segurança do país para “dar no lombo” dos “petralhas” e dos “bandidos do MST e do MTST”.

Haddad, que passou o dia no Rio em atividade na Favela da Maré e em reuniões com representantes das comunidades judaica, evangélica e católica, criticou as afirmações de Bolsonaro: “Ele disse que depois das eleições eu teria dois destinos: a prisão ou o exílio. Eu fiz uma opção: resolvi derrotar Jair Bolsonaro. Eu não o quero preso nem exilado. O que eu quero é que ele viva com saúde para ver os negros na universidade, as mulheres emancipadas e donas do seus destinos, as terras indígenas demarcadas, os nordestinos progredindo com água, comida, trabalho e educação”, disse.

O candidato do PT adotou um tom duro contra o adversário: “Ele disse que quer acabar com o ‘coitadismo’ de mulheres, negros, nordestinos e gays. O meu recado pra ele é: Jair, se olha no espelho, o coitado é você, que não passa de um soldadinho de araque e só fala grosso porque tem gente armada à sua volta. Você não é capaz de enfrentar um debate, não é capaz de enfrentar uma entrevista sem censurar jornalista livre”.

A atividade pública de Bolsonaro também foi criticada: “Foram sete mandatos de nada, com o dinheiro público pagando o teu salário. São 28 anos no Congresso Nacional propagando o ódio, sem apresentar uma ideia, medíocre que fosse. Não sai nada dele que não seja o pior do ser humano. Ele só sabe agredir, difamar e caluniar, e agora se sabe como: através das fake news nas redes sociais bancadas por amigos empresários que apoiam o projeto neoliberal que ele representa”.

Haddad falou também sobre a possibilidade de virar o jogo até o dia da votação e a necessidade de "dar razão às pessoas' para conquistar as pessoas. "Não estou falando dos coxinhas que sempre nos odiaram, mas das pessoas que estão revoltadas porque estão desempregadas ou deixaram a universidade", explicou. "A essas pessoas nós precisamos abraçar e sentar para conversar daqui até o domingo. Vamos dialogar, eles não são nossos inimigos. Vamos fazer um projeto fraterno e avançar do ponto de vista social. Domingo nós vamos ganhar a eleição. Estou sentido no ar uma virada. Nós começamos a crescer e ele começou a cair. Nós temos cinco dias para fazer crescer ainda mais essa onda positiva."

Frente ampla pela democracia

Representantes de todos os partidos do campo progressista usaram o microfone para confirmar o apoio a Haddad e defender a democracia contra a ameaça representada pelas propostas de Bolsonaro: “Esta eleição está ocorrendo sob fraude, crime eleitoral e mentira. Neste momento, o Brasil está correndo o sério risco de legitimar pelo voto uma ditadura no país. Corremos o risco de eleger um ditador corrupto e mentiroso. Queremos defender o direito de discordar e a democracia”, disse a deputada federal Jandira Feghali, do PCdoB.

Candidato do Psol no primeiro turno, Guilherme Boulos também mandou um recado a Bolsonaro: “Esse é um momento de luta pela democracia no nosso país. É preciso ter lado, ter coerência. Não cabe ficar em cima do muro, não cabe neutralidade porque neutralidade em um momento como esse significa cumplicidade. Há um candidato a presidente que ameaça as instituições, que ameaça seus opositores com a prisão ou o exílio, que diz que vai tratar como terroristas os movimentos sociais. O único jeito de acabar com o MTST é construir 6 milhões de casas no país”.

Ao lembrar Marielle Franco, vereadora assassinada no Rio de Janeiro, o deputado federal eleito Marcelo Freixo, do Psol, proporcionou um dos momentos mais emocionantes da noite: “Bolsonaro, a sua capacidade de provocar medo não é e nunca será maior do que a nossa capacidade de sonhar por liberdade e democracia. É a eleição mais importante da história das nossas vidas porque precisamos derrotar um projeto fascista. Pelo terror, tiraram de nós a Marielle, que estaria aqui conosco neste momento”, disse.

O senador petista Lindbergh Farias que, segundo Bolsonaro, irá em breve para a cadeia “apodrecer” ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, também alertou para o risco que corre a democracia no país: “Está muito claro que o plano do Bolsonaro é levar o Brasil em direção a uma ditadura. Bolsonaro vem dizendo há muito tempo o que quer fazer no Brasil. O símbolo dele não é Geisel, não é Médici, é o Brilhante Ustra”, disse. Lindbergh também criticou o Supremo Tribunal Federal: “Impressiona a covardia do STF neste momento da nossa história. Nenhuma resposta à indústria de fake news que foi montada no país”.

Falando em nome do PSB, o deputado federal reeleito Alessandro Molon comparou Bolsonaro ao presidente Michel Temer, do PMDB: “Estamos aqui nesta praça porque acreditamos na força transformadora da educação. Por isso vamos votar em quem defende dar para cada criança do nosso país um livro, um lápis e uma borracha e não uma arma. Quem faz uma campanha suja não pode fazer um governo limpo. Temos que tirar o Brasil do atoleiro em que Temer, Bolsonaro e sua turma o colocaram”, disse.

Desde os anos 1970 Chico Buarque e Caetano Veloso não dividiam as mesmas paixões no mesmo palco juntos e ao vivo. (Foto: Ricardo Stuckert).

Importantes figuras da história política nacional também foram lembradas durante o ato: “Se estivesse vivo, Leonel Brizola certamente estaria neste palco. Nós trabalhistas, brizolistas, nacionalistas votaremos em Haddad no domingo”, disse Vivaldo Barbosa, fundador e militante histórico do PDT.

Representando o PV, o deputado federal Fabiano Carnevale afirmou: “Somos o partido de Chico Mendes, que também estaria aqui apresentando ao mundo a ameaça que é a candidatura do Bolsonaro que quer entregar a Amazônia e retirar o Brasil do Acordo de Paris”.

Chico e Caetano

A participação de artistas rendeu momentos emocionantes durante o ato: “Temos que apagar da mente brasileira a ideia de que o cafajeste é quem nos representa. É isso que precisamos negar dentro de nós. Precisamos encontrar meios de dizer àqueles que se deixaram hipnotizar por essa onda. Eu estou aqui por causa disso, para evitar a ‘cafajestização’ do homem brasileiro. A eleição de Fernando Haddad e Manuela D'Ávila representará a dignidade do povo brasileiro, de cada homem brasileiro”, disse Caetano Veloso.

Chico Buarque afirmou que “a eleição de Haddad é difícil”, mas disse preferir crer que ainda é possível virar o jogo: “Imagino que lá fora, muita gente – cidadãos conservadores, de direita, cristãos, os chamados coxinhas – tenham votado no candidato fascista e agora estejam vendo a onda de boçalidade que toma conta das ruas cada vez mais e que depois do primeiro turno só fez piorar e ninguém sabe onde vai parar a matança de gays, de mulheres, de trans, de estudantes, de capoeiras que ousaram dizer que votaram no PT. Nas periferias, onde afinal está o povo que mais sofre com a miséria e a violência, e votaram por mais miséria e mais violência, eles talvez na última hora virem o voto. Não queremos mais mentiras, não queremos mais força bruta. Queremos paz, queremos alegria, queremos Fernando e Manuela”. (Com informações da RBA).