'Se evitarem que Lula chegue na urna, farão algo que nunca fizeram no Brasil' diz advogado



Advogado de Lula lembra que, em 2016, 145 prefeitos foram eleitos na mesma situação do ex-presidente. (Foto: Reprodução/TVT).
Sem ingenuidade diante das exceções praticadas pela Justiça brasileira nos processos contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas com absoluta certeza da legalidade da candidatura do líder de todas as pesquisas de intenção de voto para a Presidência da República. Essa foi a postura do advogado e professor de Direito Luiz Fernando Casagrande Pereira em sua participação no programa Entre Vistas, apresentado pelo jornalista Juca Kfouri, e que vai ao ar nesta terça-feira (14), às 21h, na TVT.

Eu seria ingênuo se dissesse que a candidatura do ex-presidente Lula é uma obviedade ou provável, isto não pode ser dito por quem acompanha na Justiça do Brasil o que vem sendo feito nos processos do ex-presidente”, reconheceu o advogado que atua na defesa de Lula. Apesar do “pé atrás", Luiz Fernando Casagrande Pereira é firme ao explicar que 145 prefeitos foram eleitos, em 2016, na mesma situação de suposta inelegibilidade em que agora se encontra o ex-presidente – 98 reverteram a inelegibilidade após a eleição e antes da diplomação.

Tentando ser didático em um tema complexo, Casagrande explica que, na dúvida, a lei eleitoral “deixa disputar e resolve depois”. “Se a Justiça Eleitoral não tivesse deixado disputar a eleição, teria que pedir desculpas a 98 deles e aos seus eleitores. Como terão que pedir desculpa aos 50 milhões de eleitores que querem votar no Lula”, projetou.

Em 2016, de cada 10 candidatos a prefeito que concorreram na eleição mesmo após condenação em segunda instância, sete reverteram a inelegibilidade após serem eleitos. “Levantei centenas de casos e decisões judiciais e posso dizer com certeza: se evitarem que o ex-presidente Lula chegue às urnas e ao horário eleitoral, farão algo que nunca fizeram no Brasil”, afirma, convicto, Luiz Fernando Casagrande Pereira.

Pela estatística, Lula teria 70% de chance de reverter a inelegibilidade depois da eleição. Agora… ele tem que ter o direito de reverter depois, a não ser que atropelem o procedimento e façam no caso do Lula o que não fizeram em oito anos de Lei da Ficha Limpa e em 2.800 casos”, afirmou. (Com informações da RBA).

Professora Fátima Vasconcelos, da UFC, confirma presença na 9º Artefatos da Cultura Negra



Depois de Sônia Guimarães, Janaina Oliveira, Teresa Cárdenas, Ermildo Panzo e de Socorro Alexandre, agora foi a vez da professora e pesquisadora Fátima Vasconcelos, da Universidade Federal do Ceará (UFC), confirmar sua participação na 9ª Edição do Artefatos da Cultura Negra que ocorrerá entre os dias 18 e 22 de setembro em Crato e Juazeiro do Norte, conforme divulgação na página oficial do evento no facebook.

Professora e pesquisadora Fátima Vasconcelos.
(Foto: Reprodução).
Fátima possui graduação em Psicologia pela Universidade Federal de Pernambuco, mestrado em Educação Brasileira pela Universidade Federal do Ceará e doutora do em Educação Brasileira pela Universidade Federal do Ceará / Paris XIII. Ela possuei também pós-doutorado em Psicologia pela Universidade Federal de Pernambuco. Professora Titular do Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira da UFC, no qual coordena o grupo de pesquisa LUDICE (Ludicidade, Discurso e Identidades nas Práticas Educativas-www.ludice.ufc.br). Ela exerce a docência na graduação e pós-graduação, extensão e pesquisa na área das práticas lúdicas numa abordagem cultural, na educação infantil, nos estudos da linguagem no enfoque discursivo e nos estudos culturais voltados para a problemática das identidades étnico-raciais e políticas de ação afirmativa.

Fátima participará do Artefatos a partir da mesa “Infâncias e Literatura Afrodescendente”, no Salão de Atos da Universidade Regional do Cariri (URCA).

O direito à voz de Carolina


O direito à voz de Carolina. (Imagem: Reprodução/ Diário do Nordeste).


A notícia da candidatura da escritora Conceição Evaristo à cadeira nº 7 da Academia Brasileira de Letras (ABL), antes ocupada pelo cineasta Nelson Pereira dos Santos, criou um clima de expectativas sem precedentes para o cenário literário brasileiro. Se aceita, será a primeira vez que uma escritora negra adentrará a instituição, vista por muitos como um reduto majoritariamente de homens brancos e nem sempre atenta aos valores literários das biografias dos seus imortais. Para além do trabalho literário individual, a candidatura de Conceição Evaristo carrega consigo uma série de questões históricas, além de muita simbologia em torno do passo para se tornar imortal. Basta citarmos a mais óbvia das razões para isso: a dificuldade de escritoras negras serem reconhecidas como autoras, publicadas e consequentemente lidas. A recente publicação de "Meu sonho é escrever...", de Carolina Maria de Jesus, organizada pela doutora em Teoria e História da Literatura pela Universidade de Campinas (Unicamp) Raffaella Fernandez, endossa a necessidade de reparação crítica em relação às escritoras negras, ao recuperar a potência poética dos textos de Carolina. Durante muitos anos, ela foi vista como mera testemunha ocular de um mundo de exclusões, a favela em que vivia. "Quarto de Despejo", um campeão de vendas no Brasil e no exterior nos anos 60, caiu no esquecimento e hoje ensaia um retorno (é leitura obrigatória para vestibulares da Unicamp e da UFRGS). Em entrevista ao Diário do Nordeste, a organizadora do volume fala sobre a importância de recuperação desses textos, racismo institucional e mudança de rota da crítica em relação à Carolina Maria de Jesus e outras escritoras afrodescendentes e a dificuldade de organização dos seus escritos, cuja matéria-prima era resíduo, agora também rumo à imortalidade.


Raffaella Fernandez: duas décadas dedicadas ao estudo da escritora mineira Carolina Maria de Jesus. Esperança de ver inéditos da autora publicados.

Diário do Nordeste: "Meu sonho é escrever..." reúne textos inéditos e outros já publicados. Como foi feita a composição do livro?

Raffaella Fernandez: Ele reúne textos inéditos de Carolina e alguns que foram publicados em "Onde estaes felicidade?", como o conto homônimo ao livro e a crônica "Na favela". Também alguns textos já apareceram bastante solapados em lugares esporádicos, por exemplo, em "Diário de Bitita" (1986), intitulado por Carolina "Um Brasil para brasileiros" e que originalmente é um romance de formação no estilo de "Ponciá Vicêncio", de Conceição Evaristo. Há ainda o texto publicado em "Cinderela Negra" (1994) como "Minha vida", mas em uma das versões por mim selecionada como "Prólogo".

Um dos aspectos que chama atenção desta edição é o trabalho de revisão, elogiado por outros pesquisadores que se dedicam à obra de Carolina. A escolha por revisar os textos, inclusive fazendo correções ortográficas, seria para atender a uma vontade da autora?

Diferente do primeiro projeto, "Onde estaes felicidade?", onde optou-se por não modificar a escrita de Carolina, nesse segundo repensamos esta postura, uma que podemos nos questionar: Será que Carolina gostaria que seus textos fossem revisados? Em uma longa conversa com a filha e herdeira do espólio literário, Vera Eunice, ela disse para mim e para o editor Marciano Ventura que provavelmente sim, porque revisava os textos da mãe a pedido de Carolina. Então nesta edição realizada pela Ciclo Contínuo Editorial, resolvemos fazer a revisão. Eu solicitei a ajuda de uma revisora, tendo em vista que, na minha condição de leitora assídua dos manuscritos de Carolina, não me senti realmente capaz e a vontade de intervir no processo criativo da escritora a quem considero criativíssima em suas formas inusitadas, e digamos assim, adaptativas de criar sua escrita em meios a tantas adversidades. Assim Fernanda de Souza, que vem fazendo um trabalho belíssimo, de comparação de Carolina e Lima Barreto, na Universidade de São Paulo (USP), foi escolhida pelo editor para fazer o trabalho de revisão.

Alguns autores tentam reproduzir uma fala local para dar autenticidade ao real. Geovani Martins faz isso em "O sol na cabeça" (Companhia das Letras, 2018), reproduz a oralidade, o que interfere em questões de acentuação, concordância verbal e nominal, e grafia. Em que medida as correções tocam a dicção da autora? A correção é também um gesto político em defesa da legitimidade da obra de Carolina?

Essa concepção de que a correção do texto seja um gesto político parte principalmente do editor, enquanto um editor negro, que opta por essa escolha, acredita e defende a legitimação e consolidação da obra de Carolina Maria de Jesus para além do aspecto testemunhal explorado comumente. No meu caso, como leitora dos manuscritos, acredito que (a correção) interfira nas questões de dicção e estilo próprios do processo da escritora, mas concordo com as questões que envolvem a necessidade da adaptação gramatical ao mercado consumidor. A esse respeito tivemos um grande debate, porque no meu entendimento não mudaria ou se mudasse colocaria imagens de alguns manuscritos para mostrar ao leitor a dicção original. No final acabamos optando pela correção, porque consideramos que a escritora também abrange um público de leitores em formação.

Sabe-se que muitos textos de Carolina já eram publicados e estudados no exterior. Como aconteceu esse trânsito de escritos para fora? Isso explica parcialmente o "atraso" da academia brasileira em relação à obra dela?

O que explica o certo "atraso" e o atual interesse em Carolina é muito mais um racismo institucional e social, resultante de um projeto colonizador, bem como a imposição de um tipo de leitura de mundo, de escrita, de verdades e de formas de beleza, do que uma questão de desvendamento ou de descoberta. Afinal, nos anos de 1960, ela fez um grande sucesso e depois sucumbiu não apenas com a chegada da Ditadura Militar, mas também porque não foi devidamente reconhecida como a grande escritora que é, para além de uma autora de diários, de testemunhos de quem vivia na favela. A deslegitimação de sua condição de escritora está totalmente atrelada ao tipo de descaso que vem sendo combatido cada vez mais com o advento de novas Carolinas na cena literária hoje.

E como justificar o crescente interesse neste momento então?

Uma série de contextos, acumulações e demandas se impuseram para que a obra de Carolina ganhasse visibilidade e espero que toda sua obra seja publicada e lida. As pesquisas, os trabalhos como o meu e de outras pesquisadoras sérias como de Elzira Perpétua, Fernanda Miranda, ou pesquisadores como Mário Augusto Medeiros, trazem visibilidade a uma Carolina fundamental para se compreender as venalidades que acompanharam sua exclusão no universo da literatura brasileira. E, não podemos perder de vista que ainda em nossos dias, as escritoras negras precisam lutar por esses espaços. Tomemos como exemplo a Flip (Feira Literária de Paraty) de 2018, onde, para mim, a maior escritora brasileira, Conceição Evaristo, não esteve diante do telão principal da feira. Tanto a escritora que está concorrendo à cadeira da ABL, quanto as demais escritoras negras que falaram na pequena sala da "Casa de insubmissas mulheres negras", coordenada por Dayse Sacramento, tiveram tanta audiência que dezenas de pessoas assíduas por escutá-las e conhecê-las pessoalmente se espremeram para caber no local. Como nos mostra Djamila Ribeiro, "o lugar de fala", a fala da mulher negra está sendo colocado o tempo todo em questão e se faz nas possibilidades de subversão de espaços que excluem por meio de supostas inclusões travestidas de diversidade. Assim, podemos ver que todo esse movimento favorece a releitura de uma outra Carolina saindo do aspecto biográfico que pode ser estigmatizador e mais um vez supra valorizar a figura literária de Carolina como um excêntrico.

*A autora é jornalista e doutora em Literatura pela Universidade de Brasília (UnB)

Restauro de uma bibliografia

A pesquisadora Raffaella Fernandez alerta para a necessidade de criação de um fundo, para preservar originais (muito inéditos) de Carolina Maria de Jesus. 

Heloísa Buarque de Holanda (professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro e coordenadora do projeto Universidade das Quebradas) se refere ao seu trabalho como de "restauração" da obra de Carolina. O que é mais difícil nesse trabalho?

A pesquisa já tem cerca de 20 anos, por isso eu digo que Carolina é minha companheira de longa data, sendo sempre uma surpresa a cada vez que tenho o privilégio e a honra de me aproximar do espólio literário dela. Sempre penso, com aperto no coração, como seria ver todos seus romances publicados porque parece um sonho muito distante, seja pela forma como estão alocados os manuscritos, seja pelas realidades editoriais vividas pelos escritores negros muitas vezes mais aclamados como figura do que pela obra lida de fato. Eu percebo dificuldade, primeiramente, por não haver um arquivo onde toda a obra possa ser consultada. Quer dizer, um Fundo Carolina Maria de Jesus. Outra questão se refere à condição dos manuscritos, sobretudo, aqueles que estão localizados na cidade de Sacramento. A materialidade, principalmente dos seus primeiros cadernos, é bem complicada, porque são cadernos que já foram retirados das lixeiras onde Carolina aproveitava os espaços em branco para escrever, reutilizando, inclusive, cadernos de notas de fábricas, restos de lápis e canetas descartados. O manuseio em si é bastante dificultoso, além da fragmentação dos escritos dispersos. Às vezes a gente tem o começo de um romance em um caderno e a continuação em outros. Consegui montar algumas peças desse quebra-cabeça aos poucos, porque tive oportunidade de estudar a obra de Carolina há muito tempo. Quando cheguei mais ou menos aos 15 anos de pesquisa, foi que percebi o que era de fato o projeto literário, o processo criativo de Carolina, e que depois terminei denominando de "poética de resíduos", porque ele foi construído de forma dispersa, de restos de discursos literários e não literários, no lugar da emergência, da fome de escrita, da sabedoria, das ruínas de sua ancestralidade, como o material físico, mental, e emocional da hora. Tudo captado por uma artista ávida por criação e consciente da importância da palavra enquanto memória, mas principalmente, enquanto forma de modelar o mundo a seu modo.

O filósofo francês Jacques Rancierè ("A partilha do sensível") defende que não deve haver oposição entre estética e ética no ajuizamento de uma obra de arte, uma vez que essas duas dimensões se entrelaçam internamente. Como você avalia a mudança de postura da crítica brasileira em relação à obra de Carolina quanto à forma e ao conteúdo dos seus textos?

O modo como os primeiros textos foram recortados mostraram mais o aspecto político do que literário, embora num primeiro momento eu já tenha percebido que uma coisa não está dissociada da outra. Afinal, no lugar da escrita dessa mulher negra, o que fala é todo um resultado da experiência de um corpo negro que acumula toda uma condição de conteúdo de expressão e vida, que necessariamente passa por questões éticas, estéticas e políticas que envolvem uma coletividade. O ser negro no Brasil, ou talvez o ser negro em condição diaspórica, se faz sempre nesse invólucro de um com o outro porque é no espaço da solidariedade que os negros tentam re-existir ao racismo que os exclui de tudo. Todos já sabem que as passagens mais literárias que poderiam legitimar o discurso de Carolina de Jesus, enquanto escritora de literatura, foram solapadas no processo de edição preocupada em formatar uma persona excepcional com lenço na cabeça (o que não desqualifica a obra de Carolina exceto quando ela foi obrigada a pousar como tal para fotografias) pobre, negra que escrevia diários revelando os bastidores da vida favelada. Se há alguma mudança, acontece pelo fato de que agora começam a emergir os textos de caráter mais literário, a exemplo dos últimos livros que felizmente tive a oportunidade de organizar, "Onde estaes felicidade?" (2014) e "Meu sonho é escrever..." (2018), ambos resultantes de um esforço coletivo em busca da Carolina escritora. O esforço desses últimos cinco anos, de visibilidade dessa outra Carolina, tem modificado a avaliação crítica e mudará mais quando seus romances e peças teatrais vierem a público. Sem falar das mudanças estruturais nas universidades brasileiras hoje, com a entrada de alunos negros que reivindicam autores com os quais eles possam se reconhecer.

O que o leitor brasileiro ainda pode esperar de Carolina Maria de Jesus? Ainda há muito material inédito esperando para ser publicado?

Espero que os leitores tenham acesso aos sete romances inéditos, às cinco peças teatrais, aos poemas que tratam da negritude e que não apareceram na "Antologia poética" publicada em 1996, além de outras narrativas, que são caracterizadas pelo hibridismo e reinvenções de si em sua escrita. Neles, os leitores e as leitoras poderão encontrar uma escritora que conseguiu fazer da escassez criação de enfrentamento aos modelos estabelecidos pela sociedade acadêmica e letrada, confeccionou a potência enraizada nela e certamente contribui para construção de novos afetos e maneiras de lidar com as mais variadas esferas de manifestação humana. Carolina Maria de Jesus é sem dúvida um clássico para a vida. (Com informações do Diário do Nordeste).



Pela primeira vez no pais emissora de TV escala dupla negra de apresentadores em telejornal

Luciana Camargo e Rodrigo Cabral. (Foto: Reprodução).

Luciana Camargo e Rodrigo Cabral fizeram história, ao formar a primeira dupla de jornalistas negros e integrar a bancada de um telejornal na TV brasileira. A emissora responsável pela iniciativa foi a Rede TV! e o programa foi o “RedeTV News”. A informação é de Paulo Pacheco, do UOL.

E a RedeTV! sai na frente. Pela primeira vez em nosso país uma emissora de TV dá oportunidade a dois jornalistas negros, né, Rô, de apresentar juntos o principal telejornal da casa. Nós agradecemos à diretoria da RedeTV! por essa oportunidade”, afirmou Luciana Camargo, no encerramento do telejornal, no último sábado (4).

Sem dúvidas. Agradecemos sim, Lu. Obrigado, RedeTV!, por nos permitir participar desse marco histórico. É uma grande honra e uma grande responsabilidade também”, completou Rodrigo Cabral.

Rodrigo Cabral foi contratado pela emissora em 2000, integrou a equipe de esportes e participou da cobertura de duas Copas do Mundo. Luciana Camargo chegou à emissora em outubro de 2014, depois de trabalhar na Cultura, Band, Gazeta e Globo. (Com informações da Revista Fórum).

Público critica novela do SBT por culpabilizar negros por racismo


(Foto: Reprodução).

Um diálogo no episódio da última quarta-feira, 8, da novela infantil As Aventuras de Poliana, do SBT, incomodou o público, que acusou a emissora de racismo. Após a aluna Késsya (Duda Pimenta) ser acusada de roubar o nariz de uma escultura e se justificar que só não acreditavam nela por ela ser negra, a diretora da escola onde se passa a trama, Helô (Eliana de Souza), diz à criança que a culpa do preconceito não é dos racistas, mas da “nossa cabeça”.

Sabe qual é um dos maiores culpados pelo preconceito?”, pergunta a Helô à criança, que argumentava que, se fosse branca, não desconfiariam dela e acreditariam em sua palavra. . “Os racistas”, responde prontamente Késsya. “Não. A nossa cabeça. E para que os outros parem de ver a nós negros como diferentes, nós precisamos parar de nos ver como diferentes. Como piores ou melhores do que determinada raça”, diz a educadora.

A cena termina com as duas se abraçando, como se tivesse havido uma grande lição de moral de professora para aluna. O público, no entanto, não enxergou dessa forma, considerando o diálogo um deserviço ao combate ao racismo no Brasil.

A página no Facebook A Mãe Preta escreveu publicação sobre o assunto que repercutiu com mais de 4,9 mil compartilhamentos e 270 mil visualizações.  Deslegitimar a percepção de uma menina negra da situação de racismo que ela viveu e, ainda, ‘ensinar’ a essa criança que o racismo é culpa dos negros que se enxergam diferente dos outros e que não se valorizam a partir da voz de uma mulher negra é mais uma vez violentar a nossa subjetividade e nos colocar como responsáveis por um sistema de exclusão criado e mantido para garantir o privilégio branco”, publicou. (Com informações do O Povo).

Ursal, a teoria da conspiração que virou meme


Imagem capturada do vídeo abaixo.

No primeiro debate entre presidenciáveis transmitido pela TV aberta em 2018, talvez o momento que tenha mais chamado a atenção foi uma pergunta feita pleo candidato Cabo Daciolo (Patriota) a Ciro Gomes (PDT).

"O senhor é um dos fundadores do Foro de São Paulo. O que o senhor pode dizer aqui à nação brasileira sobre o plano Ursal, União das Repúblicas Socialistas Latino-Americanas?", disparou. "Meu estimado cabo, tive muito prazer de conhecê-lo hoje e pelo visto o amigo não me conhece. Eu não sei o que é isso, não fui fundador do Foro de São Paulo e acho que está respondido."

Daciolo não se deu por vencido e disse que Ciro "sabe sim", relacionando a Ursal a uma "nova ordem mundial", que eliminaria todas as fronteiras do continente, surgindo uma única nação, a "Pátria Grande". "Quero deixar bem claro que no nosso governo o comunismo não vai ter vez", disse o deputado federal pelo Rio de Janeiro, eleito originalmente por um partido de esquerda, o Psol. "Democracia é uma delícia, uma beleza, dei por ela a vida inteira, e continuarei dando, mas ela tem custos", ironizou Ciro.

         


A dita Ursal, que seria um acrônimo para União das Repúblicas Socialistas Latino-Americanas, já era um "meme" que circulava entre a direita brasileira desde antes de existires redes como o Facebook e o Twitter. Há até "dossiês" na internet dando conta de que a trama para fazer tal país teria nascido no Foro de São Paulo, conferência de partidos, movimentos e organizações de esquerda nascido em 1990. A entidade ocupa parte do imaginário da direita brasileira como se fosse uma verdadeira "legião do mal", pronta para traçar estratégias e planos mirabolantes para implantar o comunismo onde for possível.

O fato é que a ideia da Ursal "pegou" nas redes sociais. Não só inspirando pessoas que gostariam de fato que a Ursal existisse como estimulando a criação de cenários no contexto do novo país. Muitos lembraram, por exemplo, que a seleção nacional de futebol já nasceria eneacampeão, com os dois títulos do Uruguai, os dois da Argetnina, e os cinco do Brasil, projetando o ataque da equipe com Neymar, Messi, Suárez e Cavani. A Ursal já tem até uniforme.

Outros estenderam a conspiração (e a piada, obviamente) resgatando a música América Geral, de Xuxa (com Sandy), que seria o "hino da Ursal". A letra diz: "Uma América/Mais América/De norte, sul, central/Minha América, nossa América/América igual/Oh América!/Faz América/De um sonho ser real/América geral!". Premonição da rainha dos Baixinhos ou conluio com o comunismo?

O termo "Ursal" ficou no topo dos assuntos mais comentados do mundo no Twitter por quase 24 horas.


Quanto ainda vale o tempo de TV numa eleição?


Tempo de TV na campanha ainda é importante moeda de troca na hora das coligações.
(Foto: Gilberto Marques/A2img).


No Brasil já há mais chips de celular do que pessoas, 66% da população têm acesso à internet. O brasileiro passa 3 horas e 39 minutos por dia em redes sociais, só perdendo para os filipinos. Os números de um relatório de 2018 da ONG We Are Social e da Hootsuite ajudam a entender um personagem não necessariamente novo na política brasileira, mas que já está tendo mais espaço na corrida eleitoral deste ano: as redes sociais.

De olho nesse universo, os políticos já avançam nas redes. Entre janeiro e julho deste ano, os nove principais candidatos ao Planalto tuitaram nada menos que 12.364 vezes. Isso significa que o eleitor brasileiro poderia ler um tuíte novo a cada 24 minutos, durante sete meses. E esse fluxo só tende a aumentar.

Mesmo assim, a TV ainda deve concentrar a atenção dos políticos. A última pesquisa de mídia no país feita pelo governo federal, em 2016, apontou que 63% dos brasileiros se informavam pela televisão, deixando a internet na segunda colocação, com 26%. Os dados são próximos de uma pesquisa Ibope/CNI feita em junho deste ano: 62% dos 2 mil entrevistados apontaram que devem ser informar sobre os candidatos pela TV, e 26% por redes sociais e blogs. 

Para o chefe da Diretoria de Análise de Políticas Públicas (DAPP) da FGV, Marco Aurelio Ruediger, TV e redes sociais não podem ser vistas como corridas distintas na eleição, mas complementares.

"A maioria dos brasileiros se informa através da televisão ainda. Mas TV e redes sociais não são formas excludentes de informação. Se olharmos bem, um número muito parecido hoje já se informa pelas redes sociais. O Brasil é um dos cinco maiores usuários de Twitter e Facebook no mundo. O elemento novo são as redes sociais, a televisão sempre foi importante. Mas, ao contrário da TV, o impacto das redes se dá em tempo real, em uma escala imensa. A internet tem um fator multiplicador importante", afirma o professor Ruediger.

O grupo DAPP da FGV estuda o comportamento dos brasileiros nas redes sociais há pelo menos cinco anos, com estudos sobre "fake news" e robôs utilizados na política. Eles montaram uma sala de acompanhamento para analisar os dados das campanhas.

O relatório mais recente apontou que Jair Bolsonaro (111.590 curtidas, comentários e compartilhamentos ) e Lula (111.405) são os candidatos que tiveram mais interações por postagem no Facebook entre 7 de julho e 6 de agosto, seguidos por João Amoêdo (43.453). Ruediger afirma que a corrida dos votos pode ter as redes sociais como importante aliado para pontos preciosos na reta final.

"Não acredito que as redes sociais possam definir sozinhas uma eleição, mas podem fazer a diferença quando a margem de erro for de 1 a 2 pontos. Na eleição em que Trump venceu, as mídias tradicionais foram hegemônicas até determinado ponto, nos dois últimos meses as redes sociais tiveram um impacto enorme na votação. Então acredito que as campanhas terão uma mistura dos dois, com o elemento novo que são as redes", diz Ruediger.

De olho nos segundos e nos dados

A atuação dos candidatos está sendo intensa nas redes sociais em 2018. Todos os candidatos ao Planalto possuem páginas ativas no Twitter. Juntos, eles publicaram, responderam ou compartilharam mais de 12.000 tuítes entre janeiro e julho. Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB), Marina Silva (Rede), Jair Bolsonaro (PSL) e Guilherme Boulos (PSOL), Henrique Meirelles (PSD), João Amoêdo (Novo), Álvaro Dias (Podemos) postam diariamente na plataforma.

Mesmo preso em Curitiba, Lula tem a segunda página mais recheada de postagens, com média de 13 tuítes por dia em 2018. O campeão é Álvaro Dias, com 18 postagens diárias no período. A atuação digital do ex-presidente é tão grande quanto a fora das redes. Desde a prisão, ele tem atuado bastante nos bastidores em recados por carta ou conversas diretas com correligionários petistas.

Apesar da campanha intensa nas redes, o tempo de TV na campanha ainda é tratado como uma importante moeda de troca na hora de partidos e candidatos definirem coligações. O tucano Geraldo Alckmin foi o que mais conseguiu alianças, reunindo oito partidos do chamado Centrão. Com isso, de acordo com cálculo feito pelo jornal Valor, ele vai ter 5 minutos e 32 segundos do programa diário, ou cerca de 44% do tempo total, e ainda 435 inserções fora do horário eleitoral gratuito. Lula teria 18,4%, e Henrique Meirelles, 15,6%.

Alckmin terá que usar o latifúndio de tempo que conseguiu em alianças para tentar conquistar votos. As pesquisas mostram ele em quinto na corrida, variando entre 5% e 7%. Por outro lado, com módicos 8 segundos na telinha, Bolsonaro aposta nas redes sociais para manter ou expandir seus números nas pesquisas, em torno de 20%.  

Armadilhas da campanha nas redes

Uma novidade que deve ser motivo de preocupação para especialistas é a possibilidade de anúncio eleitoral direcionado pelos candidatos nas redes sociais. Para Bruno Bioni, pesquisador da Rede Latino-americana de Estudos sobre Vigilância Tecnologia e Sociedade (Lavits), a nova regra que entrou na última Reforma Política dá margem para que políticos mudem o discurso de acordo com o tipo de usuário da rede.

"Na televisão o candidato precisa ter um discurso uniforme porque vai atingir todos os públicos. Com os dados pessoais que as redes sociais possuem, os anúncios podem direcionar as informações. Então isso é um perigo. Nas eleições americanas, estudos mostraram que Donald Trump fez isso, tendo um discurso instável, sendo mais liberal em alguns momentos e conservador em outros", diz Bioni.

O acesso à internet ainda limitado em algumas regiões e o perfil socioeconômico do brasileiro ainda são entraves para que o alcance das redes sociais possa influenciar as eleições brasileiras na mesma proporção que fizeram nas eleições de 2016 nos EUA ou no Brexit no ano passado, quando empresas direcionaram campanhas a favor de Trump e da saída do Reino Unido da União Europeia. Mas Bruno Bioni reforça que há um conflito ético no uso dos dados de usuários de redes sociais no Brasil também.

"Até agora o público estava acostumado a receber anúncios comerciais direcionados em redes sociais, mas nunca foi avisado ou ficou claro que isso também serviria para anúncio eleitorais. Essa mudança foi feita sem um debate público se isso será saudável para a democracia", alerta.

Mudanças no Twitter e no Facebook

As empresas também pretendem se adaptar aos novos tempos de robôs e "fake news". O Twitter começou enste ano a deletar contas que apresentam comportamento suspeito como mudanças abruptas no número de postagens, indicando que seriam robôs programados para divulgar spam. Entre maio e junho, o Twitter teria apagado mais de 70 milhões de contas, segundo o jornal americano The Washington Post.

Maior alvo de críticas após os escândalos das eleições dos EUA e do Brexit, o Facebook tenta aplicar um controle ainda maior. Em julho, a gigante de tecnologia divulgou que os candidatos e partidos terão que se cadastrar para fazer anúncios eleitorais na rede social. Os usuários poderão ver o valor pago e dados de quem efetuou o pagamento do anúncio do político ou partido. O Brasil é o segundo país a receber essa alteração, o primeiro foi os EUA.

Um dia depois do anúncio, a equipe de segurança digital do Facebook anunciou a desativação de 196 páginas e 87 perfis da rede social no Brasil, muitas ligadas ao grupo conservador Movimento Brasil Livre (MBL).

O horário eleitoral

A partir do dia 31 de agosto, dois blocos de 12 minutos e 30 segundos às terças, quintas e sábados serão destinados à propaganda para o cargo de presidente. Essa propaganda vai até 4 de outubro, três dias antes da votação do primeiro turno. Todos os dias as emissoras ainda são obrigadas a disponibilizar 14 minutos, divididos entre os partidos, de inserções em intervalos comerciais, fora do horário político.

O TSE não divulgou ainda os números finais para cada partido, mas já é possível fazer uma estimativa de acordo com as regras eleitorais. Em caso de segundo turno, os dois candidatos têm direito a tempos iguais nas semanas que antecedem a votação. (Com informações de CartaCapital).