Altaneira registra a maior chuva do ano e a maior do Ceará nesta sexta-feira (17)



Pela segunda vez no mês de março, o município de Altaneira registrou as maior precipitação pluviométrica.

Com fortes pancadas de chuva desde as 05 horas da manhã desta sexta-feira e se estendendo até o meio dia, Altaneira chegou a computar até o fechamento desta matéria, conforme dados da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (FUNCEME), a maior chuva do ano com 120.7 mm. Os dados, porém, podem ser alterados, pois ainda não cessou a chuva. 

Com ela, segundo relatos de moradores, alguns trechos da CE 388 que dá acesso ao município de Nova Olinda (no Sítio Poças) teria rompido. Já o agropecuarista Donizete Leandro compartilhou vídeo na rede social facebook informando que a força da água fez com que o acude do Sítio Tabuleiro dos Baié rompesse com a parede do seu entorno.

No último dia 04 (quatro) de março, o munícipe já tinha entrado nas estatísticas como aqueles que receberam os maiores índices de chuva, inclusive causando desmoronamento de uma residência localizada à Rua Antônio Evandro Bitu e  deslizamento de calçamentos no centro da cidade. Naquela oportunidade foi computado 79.5 mm.

Os altaneirenses já foram banhados até o momento neste mês de março com 271.40 mm. Os volumes apresentados contribuirão para o aumento da capacidade do açude Valério (popularmente conhecido por Pajeú) que abastece o município. Segundo o portal hidrológico do Ceará, este conta com 56,67% de sua capacidade.

Altaneira registra a maior chuva do ano. Foto: Martha Wanneik.



Ministro da Saúde culpa mães por obesidade infantil. “Hoje as mães não ficam em casa..”


Ricardo Barros, ministro da Saúde, relacionou o problema da obesidade infantil no Brasil ao fato de crianças “não terem a oportunidade de aprender a descascar alimentos” com suas mães.

Pragmatismo Político- Em sua fala, o ministro afirmou ainda que, como as mães não ficam em casa, crianças não têm oportunidade de acompanhá-las nas tarefas diárias, como ocorria no passado.

Hoje as mães não ficam em casa, e as crianças não têm oportunidade, como tinham antigamente, de acompanhar a mãe nas tarefas diárias de preparação dos alimentos. E vai ficando cada vez mais distante a capacidade de pegar um alimento natural e saber consumi-lo”, disse Barros.

Em nenhum momento o ministro faz referência à figura paterna. “É preciso descascar mais e desembalar menos.

A declaração de Barros ocorre uma semana depois da polêmica fala de Michel Temer no dia Internacional da Mulher, quando enalteceu o papel doméstico da mulher no cuidado com as crianças, com o marido, com o lar e com compras de supermercado.

Não é a primeira vez que Barros comete esse tipo de gafe. Em agosto, o ministro afirmou que homens vão menos ao médico porque trabalham mais. Na época, as declarações arrancaram críticas até de sua filha, Maria Victoria Barros. “Trabalhamos 5 horas a mais na semana que os homens”, reagiu a filha.

Ricardo Barros, ministro da saúde do governo Temer.



Reformas da previdência e trabalhista motivam manifestações na Região do Cariri


Durante todo o dia de ontem, 15, movimentos sociais, estudantes, professores, centrais sindicais e demais membros da sociedade civil da região do cariri, realizaram discussões, paralisações e diversas manifestações para se posicionarem contra as medidas consideradas contrárias ao interesse da população brasileira.

Manifestantes pelas ruas de Juazeiro. Foto: Célia Rodrigues.

Dentre as medidas denunciadas e já em tramitação no Congresso Nacional, estão as reformas da previdência e trabalhista. As manifestações atingiram várias cidades do cariri cearense durante grande parte desta quarta-feira.

Os principais focos foram registrados no triângulo que liga Missão Velha a Brejo Santo. Segundo Maria Eliana, ativista pelo Grupo de Valorização Negra do Cariri (Grunec), A BR foi interditada pelos manifestantes por quase três horas, tendo a concentração iniciado às 09h00. Em Juazeiro do Norte, também houve atos. Ao compartilhar fotos do momento, Célia Rodrigues deixou entrever o que motivou as andanças do grupo Frente de Mulheres de Movimentos do Cariri pelas principais ruas da cidade. “Somos Frente! Somos todas! Juntamo-nos com quem luta por direitos!".

Em Campos Sales, Tarrafas e no trecho que liga Mauriti, Milagres e Barro se levantaram contra as medidas já elencadas.  Neste último, a organização ficou a cargo da Frente Brasil Popular no Cariri contra a Reforma da Previdência. Segundo os organizadores, cerca de duas mil pessoas bloquearam a BR 116 por mais de duas horas, agregando estudantes, professores, comerciantes e demais grupos sociais que chegaram a ecoar o grito de “Fora Temer.

Abaixo fotos das manifestações em Juazeiro e no triângulo que liga Missão Velha a Brejo Santo:












A "delação" que não interessa - lista suja do trabalho escravo


Quando em meados de 2013, eu discursava no Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, na Suíça, sobre o combate ao trabalho escravo no Brasil, o País completava dez anos de criação do Cadastro de Empregadores – a chamada lista suja –, que tinha como objetivo dar transparência às ações do poder público no combate ao trabalho escravo, e também completava dez anos de existência do Plano Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo.

CartaCapital - O Brasil era visto como modelo mundial em ações sobre o tema e na ocasião, fui convidado, porque havia acabado de aprovar a lei paulista, que a própria ONU reconhecia como referência internacional em termos de legislação antiescravagista, que cassa o ICMS das empresas flagradas na exploração da mão de obra análoga à de escravo no Estado de São Paulo. Com muito entusiasmo, estávamos assistindo o valor da vida se sobrepor ao valor do lucro a qualquer custo.

Como se fosse hoje, me lembro de poder afirmar ao Alto Comissariado que “meu país contribuía para a busca da igualdade e pela dignidade do trabalhador, garantindo que a ganância pelo lucro não seria maior que valor da vida de um ser humano”. Bom, isso foi em 2013. De lá para cá, um bom volume de água já rolou por baixo da ponte.

Apesar de todo o reconhecimento internacional pelos esforços engendrados no combate à chamada escravidão moderna, o governo brasileiro vem dando largos e céleres passos para trás.

Há mais de dois anos, a lista do trabalho escravo não é divulgada. Primeiro houve decisão de ministro do STF que barrou a divulgação da lista, em dezembro de 2014, depois a decisão foi derrubada no próprio STF em 2016, porque as regras que embasaram o questionamento da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), criadas em 2011, haviam sido reformuladas por normas administrativas publicadas em 2015 e 2016 e portanto, os questionamentos não tinham consistência.

Para se ter uma ideia, uma portaria do Ministério do Trabalho permitiu que deixem a “lista suja” as empresas que assinarem acordos de ajustamento de conduta mediados pela Advocacia-Geral da União.

A título de curiosidade, vale registrar que entre as construtoras que fazem parte da Abrainc estão Andrade Gutierrez, Moura Dubeux e Odebrecht que já foram citadas em noticiário pelo Ministério Público do Trabalho por uso de trabalho escravo.

A lista suja, importante enfatizar, é considerada um dos principais instrumentos de combate ao trabalho escravo e para diversos especialistas é uma ferramenta que deveria servir de modelo para outros países. Aqui no Brasil, a lista suja serve para que empresas e bancos públicos neguem créditos, empréstimos e contratos a fazendeiros e empresários que usem trabalho análogo ao de escravo. Sair desse tipo de radar interessa a muitos que visam o lucro a qualquer preço. É ou não é?

O que estamos assistindo em nosso país é a transparência cedendo lugar à omissão. É o direito do cidadão dando lugar aos interesses de poderosos. A lista suja virou tema de embate judicial. Em um dia, por recurso impetrado pelo Ministério Público do Trabalho, sua divulgação é garantida por liminar e menos de 24 horas depois, a ordem judicial é cassada.
Interessante observar que enquanto um desses movimentos acontecia, o Estado brasileiro era condenado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) a indenizar um grupo de 128 trabalhadores rurais submetidos a condições de escravidão no Pará, sendo este o primeiro caso de escravidão moderna julgado pelo tribunal internacional.

O Brasil foi considerado conivente com o trabalho escravo na fazenda de criação de gado Brasil Verde.

Estamos falando, portanto, de um cenário em que o trabalho escravo nem de longe caminha para erradicação e no que depender das discussões que avançam no país, ficará ainda mais distante disso.

É só acompanhar com maior atenção o que parcela dos legisladores de Brasília quer. Segundo o Código Penal Brasileiro, o trabalho análogo ao escravo é caracterizado por quatro elementos: condições degradantes de trabalho, incompatíveis com a dignidade humana; jornada exaustiva, na qual o trabalhador é submetido a esforço excessivo ou sobrecarga de trabalho que acarreta a danos à sua saúde ou risco de vida; trabalho forçado, em que a pessoa é mantida no serviço através de fraudes, isolamento geográfico, ameaças e violências físicas e psicológicas, e servidão por dívida, fazendo o trabalhador contrair ilegalmente um débito. Os elementos podem vir juntos ou isoladamente.

Vale ressaltar que a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas apoiam o conceito utilizado no Brasil. Mas eu desconfio que nossos congressistas, ou pelo menos a bancada ruralista e aqueles ligados ao empresariado, estão dando de ombros para o que pensam as organizações internacionais.

Pelo menos três projetos de lei, em tramitação na Câmara dos Deputados e no Senado, querem retirar os termos "jornada exaustiva" e "condições degradantes de trabalho" desta definição.

A eles, reproduzo o que disse William Wilberforce em debate sobre o tráfico negreiro na Câmara dos Comuns, em 1789: “Esta Câmara terá de decidir, e justificar diante de todo o mundo, e de suas próprias consciências… sua decisão.”

Como escrito no início deste artigo, há menos de quatro anos nós celebrávamos a visão que o mundo tinha do Brasil, por todas as demonstrações contundentes e vigorosas que o país vinha dando no combate a uma das piores violações dos direitos humanos, o trabalho escravo.

Mas hoje em dia, estamos privados da divulgação da lista suja; a erradicação da escravidão moderna no Brasil corre sérios riscos se o conceito de trabalho escravo for subvertido e a lei de minha autoria, que me levou a discursar na ONU em 2013, foi questionada no STF por meio de uma Ação Direita de Inconstitucionalidade, em 2016, pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

Coincidência ou não, no mesmo ano, pela primeira vez, uma ação judicial do Ministério Público do Trabalho pleiteia a aplicação da lei Bezerra, como é conhecida a lei, para cassar o ICMS da M.Officer, condenada em primeira instância, por danos morais e dumping social pela prática de trabalho escravo em São Paulo.

Rogo para que o que estava em sólida construção em nosso país não se torne, em breve, ruínas, porque será a evidência de que alguma coisa está fora da ordem em relação a valores e à vida.


Trabalhador resgatado em condições de escravidão em carvoaria no Pará, em 2014. Foto: MPT/Pará.

País paralisa nesta quarta (15) contra as reformas da previdência e trabalhista


Movimentos sociais e centrais sindicais promovem, nesta quarta-feira 15, uma paralisação nacional em repúdio às reformas trabalhista e da Previdência, propostas pelo governo Michel Temer e em discussão no Congresso. A greve deve atingir ao menos 25 Estados e o Distrito Federal.

CartaCapital - De acordo com a Central Única dos Trabalhadores (CUT), profissionais de diversas categorias devem interromper suas atividades, entre os quais professores, metalúrgicos, petroleiros e bancários.

No Ceará, as mobilizações devem estar presente na capital Fortaleza e no cariri, especificamente em Crato e Juazeiro do Norte.

Em São Paulo, os movimentos farão um grande ato a partir das 16h, com concentração no vão livre do Masp, na Avenida Paulista. A CUT anunciou a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas a participação do petista ainda não foi confirmada pela sua assessoria.

Considerado prioritário para o governo, o projeto que prevê mudanças drásticas na concessão de aposentadorias tem tramitado com rapidez no Congresso. “O que Temer quer fazer não é reformar a Previdência, é acabar com a aposentadoria”, diz Vagner Freitas, presidente nacional da CUT.

Sem transporte público

Ainda em São Paulo, os motoristas e cobradores de ônibus prometem parar entre a 0h e a 8h de quarta-feira. No fim da tarde de terça-feira 14, a Justiça concedeu uma liminar favorável à gestão do prefeito João Doria (PSDB) e determinou que ao menos 85% da frota de ônibus opere linhas que atendem escolas e hospitais e ao menos 70% da frota atenda às demais linhas.

Na decisão, a juíza Maria Gabriella Pavlópoulos Spaolonzi, da 13ª Vara da Fazenda Pública prevê o pagamento de 5 milhões de reais de multa em caso de descumprimento da ordem.

Em assembleia realizada na noite desta terça 14, os metroviários decidiram suspender as atividades durante as 24 horas do dia, mesmo após o Tribunal Regional do Trabalho determinar a manutenção de um efetivo de 100% durante os horário de pico e de 70% no restante do dia. O governador Geraldo Alckmin (PSDB) se antecipou à decisão da categoria e entrou na Justiça contra uma eventual paralisação. A multa definida para o descumprimento da ordem judicial é de 100 mil reais.

A greve dos metroviários atinge as linhas 1-Azul, 2-Verde, 3-Vermelha, 5-Lilás e 15-Prata. A linha 4-Amarela funcionará normalmente, informa a ViaQuatro, concessionária que administra o trecho.

Por conta das greves, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) suspendeu o rodízio de veículos nesta quarta-feira na capital paulista.


No Rio de Janeiro, motoristas e cobradores de ônibus também anunciaram uma paralisação de 24 horas, que afetará também o funcionamento do VLT e do BRT. Professores também devem aderir ao movimento. O Sindicato Estadual dos Profissionais de Eduacação (Sepe) convocou, nesta terça-feira 14, os educadores das redes estadual e municipal para a paralisação de 24 horas.

O país deve parar nesta quarta-feira, 15. Foto: Reprodução facebook Metroviários.

Bolsonaro não é uma piada. É uma tragédia que a mídia ressuscitou



A entrevista de Jair Bolsonaro à Folha, hoje, mostra mais que um sujeito medíocre, violento, intolerante e autoritário.

Tijolaço - Mostra que a grande máquina de construir comportamentos sociais, a mídia, construiu uma base social para que um energúmeno como ele seja uma das únicas representações  do  reacionarismo ganhe força eleitoral.

A outra, João Dória, tem muito de fogo de palha, embora se esforce para manter um discurso de ódio e confrontações e completa inaptidão para sustentar qualquer projeto que passe do ridículo de administrar com doações empresariais.

Bolsonaro, ao contrário, tem um projeto com raízes na memória que chama a ordem como indutor do bem-estar.

Das trevas do ódio, sabe-se, acabam surgindo monstros. Mais ainda quando a “democracia” ganha ares de regime da crise, do empobrecimento e da abolição de um projeto nacional de desenvolvimento.

É assim desde antes da famosa cervejaria da Baviera.

Foi aqui, quando da redemocratização nasceu a desastrosa era Sarney e sua consequência, o fenômeno Collor.

Bolsonaro ainda não tem – possivelmente não terá – a mesma expressão eleitoral, mas fica claro a cada dia que ela cresce e vai se impondo sobre a direita política convencional, que não percebeu que sua adesão ao golpismo entregou-a à mesma sanha raivosa e moralista com que, na falta de argumentos econômicos, virou sua arma contra a direita.

Ele vai se tornando, crescentemente, um problema para o sistema, não porque “divida” seu eleitorado, que afinal migraria para seu candidato num segundo turno.

Mas porque ameaça tirar dela o direito de fazer este segundo turno, a não ser que se atire definitivamente ao segundo golpe que seria o impedimento da candidatura Lula.

Sobre o show de horrores da entrevista, na íntegra aqui, basta um pequeno trecho. E não ache que isso seja uma impossibilidade: afinal, boa parte disso já foi ensaiado (e aplaudido) em Curitiba:

O senhor diz que não defende tortura, mas acusa de vitimização quem a condena.

Quando disse “isso que dá torturar e não matar”, foi uma resposta para os vagabundos aqui que estavam se vitimizando que foram torturados pelos militares. Ninguém é favorável à tortura.

E a métodos de violência para obter informação?

Tem de ter métodos enérgicos. Eu proponho, o Congresso aprova. Ninguém é candidato para ser ditador.

O que é método enérgico?

Tratar o elemento com a devida energia.

Bater?

Qual o limite entre bater e tratar com energia? Não tem limite, pô. O cara senta ali, faz a pergunta, ele responde. Se não responde, bota na solitária. Fica uma semana, duas semanas, três meses, quatro meses… Problema dele.

Com comida?

Dá comidinha para ele, dá. Dá um negocinho para ele tomar lá, um pãozinho, uma água gelada, um brochante na Coca-Cola, tá tranquilo.

O que é brochante?

Calmante, um “boa-noite, Cinderela”.


Alunas da Escola Welington Belém de Figueiredo tornam-se destaque nacional



A análise, reflexão e o debate maduro organizado pelas alunas e alunos da Escola Estadual de Educação Profissional Escola Welington Belém de Figueiredo, em Nova Olinda-Ce, acerca do dia internacional da mulher – na última quarta-feira, 08, foi destaque a nível nacional em matéria do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT).

O CEERT é um dos principais sites do país e reproduziu as ações organizadas pelo Grêmio Estudantil da referida escola que, dentre outras, em roda de conversas refletiram acerca de temas importantes como desigualdade de gênero, racismo, a misoginia, violência física e psicológica, representatividade feminina nos espaços de poder, empoderamento feminino, feminismo, machismo, legalização do aborto, os impactos que a reforma da previdência irá causar nas mulheres e lutas dos movimentos feministas no Cariri.

A matéria foi publicada em primeira mão no blog da escola e reproduzida no CEERT na tarde desta segunda-feira, 13.



Reunidas, todas as deputadas federais da história do país ocupariam apenas meio plenário da Câmara


Sempre apontado em situação vexaminosa no ranking da participação feminina na política, o Brasil tem mais um motivo para se envergonhar: se fossem reunidas todas as deputadas federais eleitas na história do país, apenas metade do plenário da Câmara seria ocupado. A outra metade ficaria vazia, ou ocupada maciçamente por homens, como sempre esteve. Somente 220 mulheres exerceram mandatos na Casa desde 1933, quando a médica paulista Carlota Pereira Queirós se tornou a primeira deputada eleita na América Latina. Atualmente, a Câmara é composta por 513 integrantes. Desses, apenas 55 são mulheres. No Senado, há 13 senadoras entre os seus 81 membros.

Congresso em Foco - Com esses números, o Brasil ocupa a 154ª posição, em um ranking composto por 190 países, em presença feminina no Parlamento. Nas primeiras colocações, despontam Ruanda, Bolívia, Cuba e Islândia. O Congresso brasileiro aparece atrás de nações conhecidas pela forte opressão à mulher, como Jordânia, Síria, Líbia, Iraque, Emirados Árabes, Afeganistão e Arábia Saudita. Os índices brasileiros de engajamento feminino na política (11% na Câmara) estão abaixo da média mundial, em torno de 22%, e também do percentual do Oriente Médio, 16%, segundo a União Interparlamentar (UIP).

As últimas eleições municipais, marcadas pelo tempo reduzido no horário eleitoral e pelo barateamento das campanhas, com a proibição das doações empresariais, não aumentaram em nada a presença da mulher nos cargos eletivos municipais. As vereadoras são apenas 14% dos integrantes das câmaras e as prefeitas só comandam 12% dos municípios brasileiros. Entre as 93 maiores cidades do país, com mais de 200 mil eleitores ou capitais, apenas três elegeram mulheres: Boa Vista (RR), Caruaru (PE) e Pelotas (RS).

Máquina partidária e financiamento

Especialistas no assunto identificam dois grandes obstáculos para melhor a representação política das mulheres (hoje, 52% do eleitorado). A primeira barreira se dá no acesso ao comando partidário. É a direção do partido que define as candidaturas prioritárias e favorece a distribuição de recursos e espaço no rádio e na TV a candidatos com mais chances de vitória. As máquinas partidárias são quase todas controlados, nos municípios, nos estados e nacionalmente, por homens.

O segundo entrave é exatamente o dinheiro. Pesquisas acadêmicas confirmam que os empresários priorizam candidaturas masculinas na hora de financiar campanhas por entender que os homens têm mais chances de vitória e, por isso, estão mais sujeitos a oferecer as contrapartidas ao investimento.

As mudanças adotadas até agora têm se mostrado insuficientes para equilibrar o jogo eleitoral. A exigência de reserva de 30% das vagas para um dos gêneros foi facilmente burlada por partidos com o registro de candidaturas fantasmas, apenas para preencher o percentual previsto em lei e escapar da punição.

Cotas no Parlamento

Não há consenso para a solução do problema. Algumas das principais lideranças da bancada feminina no Congresso defendem a eleição paritária de homens e mulheres – a partir de votação em listas preordenadas. Diante da impossibilidade de uma proposta dessa natureza ser aprovada por um Parlamento majoritariamente masculino, deputadas e senadoras apoiam a instituição de cotas para a Câmara, com a previsão inicial de 20% das vagas para mulheres.

Segundo a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), a experiência já se mostrou exitosa em países europeus e na Argentina, onde a presença feminina no Parlamento aumentou de 10% para 37% desde a alteração. Caso a cota fosse adotada no Brasil, todos os estados teriam ao menos uma deputada eleita.

A proposta de emenda à Constituição que trata do assunto passou pelo Senado em 2015. A Casa, porém, não seria afetada pelas mudanças, já que a eleição ali é majoritária. A mudança valeria para as eleições proporcionais, como a de deputados e vereadores. O texto, no entanto, está engavetado na Câmara.


A PEC 98, de 2015, assegura a cada gênero percentual mínimo de representação nas três próximas legislaturas: 10% das cadeiras na primeira legislatura, 12% na segunda legislatura e 16% na terceira. Caso o percentual mínimo não seja atingido por um determinado gênero, as vagas necessárias serão preenchidas pelos candidatos desse gênero com a maior votação nominal individual entre os partidos que atingiram o quociente eleitoral.

Carlota, única mulher entre 253 eleitos em 1933, inaugurou a participação feminina no parlamento
brasileiro. Foto: Arquivo/Câmara.