Portaria de Michel Temer inviabiliza demarcação de terras indígenas


Depois das críticas do Ministério Público Federal e da Fundação Nacional do Índio (Funai), o Ministério da Justiça revogou na sexta-feira 20 a Portaria MJ 68/2017 ao publicar a Portaria MJ 80/2017. O atribulado e inconsulto processo de aprovação, revogação e substituição da medida que visa alterar o processo de demarcação de terras indígenas, elogiado por Michel Temer, é por si só violador de direitos. Ele demonstra a dificuldade do governo brasileiro em dialogar com os povos indígenas e respeitar outros modos de vida. 

Ao anunciar uma nova portaria dias depois da publicação da polêmica Portaria MJ 68/2017, o governo seguiu desconsiderando a exigência legal de consulta aos representantes indígenas e excluindo o diálogo com o Conselho Nacional de Política Indigenista e especialistas.

Agora, com menos explicações, a medida abala ainda mais a confiança na imparcialidade das instituições e a legitimidade dos próprios atos da administração do governo Temer.

Com a Portaria MJ 80/2017, muda-se a forma mas não no conteúdo. Como anunciado na proposta vazada na imprensa de um decreto presidencial e na portaria revogada pelo ministro Alexandre de Moraes, há um grave intuito de se abrir o processo técnico de demarcação de terras indígenas sob pressão política em favor de interesses particulares.

Tal medida busca inviabilizar as demarcações de terras indígenas e anular procedimentos já em curso ou concluídos, a partir da exigência de critérios que contrariam a Constituição Federal e que negam o direito dos povos indígenas de viverem em suas terras de acordo com suas culturas, religiões ou cosmovisões e planos coletivos de vida.

Em setembro de 2016, Victoria Tauli Corpuz, a relatora das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas, levou ao Conselho de Direitos Humanos da ONU sua preocupação com a ausência de avanços na defesa dos direitos dos povos indígenas e com os retrocessos institucionais e as ameaças de retrocessos legais constatados em sua visita ao Brasil.

Esse cenário se confirma com as portarias do MJ. Para a relatora da ONU, esses retrocessos estariam levando a situações de etnocídio no país que durante muito tempo foi exemplo para o mundo no que concerne à proteção de terras indígenas.

Assim, foram feitas recomendações ao Brasil no sentido de se concluir os processos de demarcação das terras indígenas; fortalecer as instituições que atuam na defesa dos direitos dos povos indígenas, como a Funai e o MPF; combater e punir o racismo, inclusive institucional, e as violências praticadas contra comunidades indígenas; e garantir o direito de consulta e consentimento livre prévio e informado estabelecido pela Convenção 169 da OIT e pela Declaração da ONU sobre os Direitos dos Povos Indígenas.

A Declaração da ONU foi aprovada em 2007, assim como a Convenção 169 da OIT e reconhece a urgente necessidade de se respeitar e promover os direitos dos povos indígenas no mundo, especialmente os direitos a suas terras, territórios e recursos.

De acordo com os instrumentos internacionais, os Estados devem assegurar o reconhecimento e a proteção jurídica dessas terras, respeitando os costumes, as tradições e os sistemas indígenas de usufruto da terra. 

A hipótese de reparação por perda de terras, territórios e recursos prevista na declaração é excepcional, e deve acontecer primeiramente com a oferta de terras de igual qualidade e extensão, nos casos em que não é mais possível o retorno ao território indígena.

No caso do Brasil, tal orientação deve ser lida em conjunto com o artigo 231 da Constituição Federal, visando à proteção dos direitos territoriais originários. Ou seja, a reparação não pode ser entendida como possibilidade para a não demarcação das terras indígenas mediante oferta de indenização pelas terras que ainda existem.

A inversão de lógicas para a desproteção dos direitos humanos é um alarme do atual cenário nacional e se agravará caso a matéria seja seja rifada ao Congresso Nacional.

Em 2017, o Brasil passará por exame no Conselho de Direitos Humanos da ONU com relação à situação dos direitos humanos nos últimos quatro anos, devendo prestar contas das medidas adotadas pelo País para cumprir recomendações expedidas pela ONU nos diversos temas.

A pauta dos direitos humanos dos povos indígenas, assim como do direito de participação e manifestação da sociedade, das violações dos direitos das mulheres e a pauta do sistema prisional devem aparecer com força e grande preocupação. Sem diálogo nem demarcações, o Brasil terá poucos avanços a anunciar.


Direitos rifados: indígenas protestam contra a PEC 215 em Brasília, em fevereiro de 2016. Foto:
Marcelo Camargo/Agência Brasil 

Universidade Regional do Cariri (URCA) divulga programação do I Seminário de Ações Afirmativas


A Universidade Regional do Cariri (URCA), através de sua Comissão de Cotas, divulgou a programação do I Seminário de Ações Afirmativas: A Implantação do Sistema de Cotas.

O evento deve considerar as questões que envolvem as ações de políticas públicas direcionadas para as ações afirmativas e os seus impactos políticos e sociocultural, principalmente no contexto educacional dentro da universidade. Para tanto, visa debater com movimentos sociais, professores e a comunidade acadêmica a experiência da implantação do sistema de cotas nos cursos de graduação para negros (as), indígenas e quilombolas e a possibilidade de adoção pela URCA.

O seminário ocorrerá no dia 07 de fevereiro com programação pela manhã, tarde e noite conforme abaixo discriminado:

No período da manhã, às 8h00, haverá uma mesa composta por representantes dos movimentos sociais e estudantil a partir do tema “Ações Afirmativas e Movimentos Sociais: Lutas pela Superação das Desigualdades”. Dividirão espaços este professor, blogueiro e representante do Grupo de Valorização Negra do Cariri (Grunec); Kaio Cardoso – Acadêmico do Curso de Ciências Sociais – URCA; Adão Pedro – Comunidade Quilombola de Vassouras – Porteiras – CE; Ramiro Ferreira – Acadêmico do Curso de Direito – URCA. A Coordenação será feita pela professora Cicera Nunes – NEGRER/URCA.

“Ações Afirmativas no Brasil: Panorama Histórico e Experiências” será o tema a ser debatido  a tarde pelos professores da própria universidade. No centro das discussões estão Antônio José de Oliveira – Departamento de História/URCA; Maria Telvira da Conceição – Departamento de História-NUAPEH/URCA e Marla Vieira – Departamento de Educação-NUARC/URCA com Joedson Nascimento – URCA, no papel de mediador.

A noite haverá a apresentação da proposta para implantação da política de cotas da URCA pela Pró-Reitoria de Graduação (PROGRAD) e Comissão desta instituição de ensino superior tendo à frente os professores Egberto Melo e João Luís Mota.

Segundo a professora Cícera Nunes, será disponibilizado documento na página da universidade e será aberto uma consulta pública on line permitindo aos interessados o acesso a proposta e encaminhar à comissão sugestões/críticas. Ela informa ainda que esta primeira etapa da discussão se encerrará no dia 14 com a realização da audiência pública.







Pataxó: uma história de resistência



Com o País à beira de um desgoverno, a demarcação de terras indígenas é um assunto urgente que se arrasta há 500 anos, desde que os portugueses chegaram por aqui. No Sul da Bahia, marco zero da história brasileira, os índios Pataxó resistem bravamente aos ataques dos governos neo-liberais e estão sempre na luta por terras e reconhecimento étnico.


Nossa luta tem história”, diz a líder indígena Nitynawã Pataxó da Reserva da Jaqueira / Aldeia Coroa Vermelha, situada no município de Santa Cruz de Cabrália a 12 km do Centro de Porto Seguro. Ela conta que em 1951, por decisão do Governo da Bahia, em concenso com os ruralistas, a Polícia Militar invadiu o território legítimo e sagrado do seu povo e o resultado foi a morte de muitos índios, queimas de ocas, estupros de mulheres e tortura de crianças. Lutaram no corpo a corpo 22 famílias, mas o Estado saiu vitorioso e os nativos, apavorados e humilhados, embrenharam-se na mata em busca de sobrevivência.

Quase extinção

Entre os índios Pataxó, o massacre ficou conhecido como “Fogo de 51” e Nitynawã relata ainda que por muito tempo os indígenas tiveram que viver como selvagens, fugindo e negando aquilo que sempre tiveram orgulho: ser índio. “Fugiamos de um lado para outro e tínhamos que negar nossa própria identidade, pois o sofrimento era tanto que a saída era ajustar nossa vida de acordo com o lugar para onde fugiamos”.

Líder Indígena Nitynawã Pataxó.
As agressões e o preconceito com os povos indígenas eram infinitas e, 10 anos depois, 1961, o Governo Federal criou o Parque Nacional do Monte Pascoal (PNMP) proibindo os nativos de praticarem o plantio e a caça para a sua subsistência. Novamente os Pataxó se dispersaram na região e chegaram a ser descritos por alguns historiadores como “povo extinto”.

Mas nas décadas de 70 e 80 surgiram várias entidades em defesa dos indígenas. Pressionado, o Governo Federal criou o Estatuto do Índio, cuja finalidade era regularizar a situação jurídica do índio. Motivados com a promessa do Governo Central e também com a expansão turística no Sul da Bahia, os Pataxó, aos poucos, foram se reagrupando e tinham como fonte de sobrevivência a fabricação e a venda de artesanatos para os turistas da região.

De forma trágica, a tribo Pataxó ganhou notoriedade em 1997 quando o índio Galdino Jesus dos Santos, líder do seu povo, foi queimando vivo por jovens de classe média na capital Federal. No ano seguinte foi homologada a Reserva Indígena Pataxó da Jaqueira onde vivem hoje 25 famílias que conseguiram se reagrupar.

Mas os conflitos por demarcação de terras continuam em alta tanto entre os Pataxó quanto em outras tribos do Brasil. Apesar do Decreto 1775/96 estabelecer que “todas terras indígenas deverão ser demarcadas”, no último mês de novembro, o governo imposto de Michel Temer ameaçou de publicar uma medida que inviabilizaria novas demarcações de terras indígenas e abriria precedentes para exploração de recursos naturais nas Reservas já documentadas sem a consulta aos próprios índios. A medida ganhou apelido de Etnócidio e tanto a ONU quanto vários representantes de Direitos Humanos e Povos Indígenas emitiram Nota de repúdio, o que fez o Governo recuar.

Pataxó: uma história de resistência. Foto: Jornalistas Livres.

Volta a chover com intensidade em Altaneira e anima agricultores



Depois de oitos dias de intenso calor, voltou a chover forte entre a noite desta segunda-feira, 23 e o início da manhã de hoje, 24, no município de Altaneira.

As fortes pancadas de chuvas começaram por volta das 21h30 e se estendeu pela madrugada e início da manhã desta terça-feira. Segundo informações colhidas junto a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (FUNCEME), os dados pluviométricos na cidade alta rendeu cinquenta e nove milímetros (59.0 mm). Foi a terceira maior chuva registrada dentre os municípios pertencentes a região do cariri. Apenas a Vila Sao Goncalo-marrocos, em Juazeiro do Norte (95.0 mm) e Aurora (61.0 mm) registraram precipitações maiores que as de Altaneira.

A chuva consegui animar os criadores de gado e agricultores que estão enfrentando enormes dificuldades para alimentar seus animais e para a prática da plantação. 


Discurso do Professor Nicolau Neto como Paraninfo da Turma de Redes de Computadores da Escola Profissionalizante



Discurso do Paraninfo da Turma do Curso Técnico em Redes de Computadores e representante de todos os paraninfos das turmas de Agronegócio, Edificações e Finanças, da Escola Estadual de Educação Profissional Wellington Belém de Figueiredo, em Nova Olinda-CE.
Professor Nicolau Neto*

Excelentíssima Srª. Diretora desta instituição de ensino Professora Lúcia Silva Santana;
Ilustríssima Srª. Coordenadora Escolar Professora Ana Maria Batista;
Ilustríssimo Sr. Coordenador Escolar Professor Francisco de Assis Batista;
Ilustríssimo Sr. Coordenador de Estágio Professor Paulo Robson;
Ilustríssimas e ilustríssimos patronos;
Ilustríssimas e ilustríssimos paraninfos;
Ilustríssimas e ilustríssimos professores coordenadores de cursos;
Meus caros companheiros e companheiras professores e professoras aqui presentes;
Secretárias desta escola;
Vigilantes, porteiros;
Merendeiras;
Zeladoras;
Jardineiros;
Prezados pais, parentes, amigos e amigas dos (as) formandos (as);
Minhas amigas e meus amigos formandos (as) das primeiras turmas da Escola Estadual de Educação Profissional Wellington Belém de Figueiredo.

As minhas palavras iniciais são de gratidão. Gratidão por ter tido a oportunidade de fazer parte da vida e da história de cada um de vocês. Com imensa alegria recebi o convite para ser paraninfo da turma de Redes de Computadores. Um coletivo que tive a honra de ter sido o diretor de turma. Confesso que mesmo na minha saída ainda me sentia nas funções – professor e diretor de turma. Pois a relação que conseguimos foi muito além daquela ao qual estávamos propostos a ter. Fomos e seremos mais do que professor e alunos (as). Fomos e seremos amigos, parceiros. Nossa relação teve e sempre terá como pilares o respeito, a lealdade, a politização e o exercício da cidadania. Sem isso, nosso convívio não teria vingado. Amizade, respeito, fidelidade e confiabilidade de mim para com todos (as) e de vocês para comigo foram e são os nossos maiores prêmios.

Feliz também fiquei por ter sido escolhido para representar os demais paraninfos e estar agora proferindo estas poucas, mas sinceras palavras. Sei que qualquer outro (a) que aqui estivesse também honraria o convite.

Dirijo-me de forma especial a todos (as) os formandos (as). Sei o quanto este momento é importante para cada um (a), como também o é para seus pais – a quem quero externar o meu respeito e gratidão pelo companheirismo, respeito e apoio que a eles (as) deram no decorrer dessa caminhada inicial dos estudos. Pois vocês – pais - mais do que ninguém são conhecedores de que a conclusão deste curso é uma realidade, mas não se configura como a chegada, o ponto final. É verdade que não deixa de ser um grande passo para a realização profissional, mas os estudos só estão começando. Aliás, agora de fato é que se deve dar mais atenção a eles (estudos). Peço licença para citar um provérbio popular – “Os ignorantes, que acham que sabem tudo, privam-se de um dos maiores prazeres da vida: aprender”. A ideia de sempre querer aprender e ensinar é antiga. Aristóteles, filósofo grego, dizia “a alegria que se tem em pensar e aprender faz-nos pensar e aprender ainda mais”. Sendo assim, que vocês, formandos, não aceitem parar de aprender. De igual modo, não aceitem menos do que aprender a pensar e aprender pensando. Sem isso a aprendizagem é um desastre, não lhes servirá.

Caros alunos concludentes, fiquei pensando a manhã deste sábado (21/01/2017) o que poderia dizer em um momento tão relevante no histórico estudantil de cada um. Pensava apenas em desejar sucessos, mas isso seria simples demais, vazio demais para a ocasião. Por isso, fiz um resgate do nosso tempo de convivência ao qual disponho de lembranças maravilhosas. Conviver aqui reavivou a esperança de que podemos sim alcançar uma sociedade menos elitista, menos patrimonialista, menos desigual, menos preconceituosa e mais justa, mais igual, mais plural, mais, mais, mais, definitivamente mais HUMANA. Cada um na sua singularidade e particularidade me reanimou e fez com que um sentimento que estava adormecido acordasse – o desejo de construir uma educação voltada para a diversidade étnica-racial e uma educação reconhecedora dos valores dessa pluralidade que tão bem caracteriza nosso país.

Vocês me fizeram continuar a acreditar que é possível romper as barreiras do sistema. Me fizeram como nunca antes sentir o prazer de reuni-los/as - mesmo sem ser em momentos de aulas - e falar sobre tudo, debater sobre tudo e questionar tudo. Afinal é esse o ofício correto do professor e o de vocês enquanto alunos (as) é o de nos desafiar a derrubar os muros do comodismo. Cito aqui um dos maiores líderes sul-africano e um dos maiores ícones internacional na defesa das causas humanitárias – Nelson Mandela -  “a educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo”.

Vivenciamos distintos momentos. Uns regados de descontração, de alegria. Outros sérios e polêmicos, mas em todos eles predominou o diálogo e o respeito as opiniões, pois sem essas características a sociedade democrática de direito, da qual a escola é um espaço importante, está fadada ao fracasso. Paulo Freire, o mais célebre educador brasileiro, já nos alertava sobre a importância do diálogo e do respeito a opinião do outro. “Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor”, dizia.

Meus queridos e minhas queridas, há um mundo para além dos muros da escola. Mas a forma com que encaramos a vida lá fora depende da educação. A vida vai fazer com que assumamos responsabilidades e procurar caminhos que podem nos levar ao sucesso ou ao fracasso e que podem abrir as portas para o conhecimento que levarão ou não ao crescimento pessoal e profissional. Vai depender de que tipo de escolha vocês farão. Vai depender também que leitura vocês escolherão fazer da realidade. Mario Quintana disse uma vez que "os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não leem". No nosso modelo de sociedade tem muitos (as) doutores (as) por formação, mas analfabetos em posicionamentos diante da realidade. Passaram anos e anos entre quatro paredes na companhia de professores/as, obtiveram títulos e mais títulos, mas são incapazes de utilizá-los em benefício da coletividade e da transformação da realidade para melhor. O comodismo e a obediência cega ao sistema os impedem disso.

É o meu desejo que vocês possam ser os (as) letrados (as) que leem, interpretam e sejam capazes de transformar o ambiente em que vivem. Rubem Alves - psicanalista, educador, teólogo, escritor e ex-pastor presbiteriano brasileiro, tem um texto brilhante que nos ajudará a entender o que ora estou afirmando. Muitos optarão por seguir a formação técnica, outros a complementarão com o curso de nível superior e outros ainda seguirão por outros cursos superiores, por isso, substitui - mas sem prejuízo para a compreensão - a palavra “escola” por “universidade”:

“Há universidade que são gaiolas e há universidades que são asas.
Universidades que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do vôo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o vôo.
Universidades que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em vôo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o vôo, isso elas não podem fazer, porque o vôo já nasce dentro dos pássaros. O vôo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado.”

Por isso, formandos, deixo aqui e já encerrando as minhas palavras, os últimos conselhos. Não aceitem ser menos do que sujeitos. Não aceitem ser menos do que pessoas críticas e atuantes. Aceitem apenas ser o protagonista da história.

Por fim, mas não menos importante, cito Cora Carolina que nos lembra "o que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. Caminhando e semeando, no fim terás o que colher".

Iniciei agradecendo e concluo também com o sentimento de gratidão pelo carinho de todos (as) e pela generosidade da escolha para paraninfo da turma de Redes de Computadores e de igual modo para representar a todos (as) os paraninfos. Podem ter a certeza de que esse momento ficará gravado em minha vida pessoal e profissional, pois me engrandece enquanto professor.

Desejo uma ótima formatura. Uma ótima noite. E muito, muito sucesso.

Gratidão, gratidão e gratidão!!!

* Professor, membro do Grupo de Valorização Negra do Cariri (Grunec), servidor público no município de Altaneira, diretor de programação da Rádio Comunitária Altaneira FM e administrador/editor do Blog Negro Nicolau.

Professor Nicolau Neto durante discurso como Paraninfo do Curso Técnico em Redes de Computadores, da EEEP Wellington Belém de Figueiredo, em Nova Olinda. Foto: Professora Lucélia Muniz.





O Discurso de Angela Davis na Marcha das Mulheres (traduzido)


No dia 21 de Janeiro, centenas de milhares de mulheres mobilizaram-se em diversos países na Women’s March, por justiça social, direitos iguais e contra o avanço conservador no mundo sintetizado na figura de Donald Trump, agora Presidente dos Estados Unidos.

Tradução de Juliana Borges


Abaixo uma tradução, livre, que fiz do discurso de Angela Davis, filósofa e feminista negra. Um dos mais marcantes de toda a Women’s March.

 Em um momento histórico desafiador, vamos nos lembrar que nós somos centenas de milhares, milhões de mulheres, transgêneros, homens e jovens que estão aqui na Marcha das Mulheres. Nós representamos forças poderosas de mudança que estão determinadas a impedir as culturas moribundas do racismo e do hetero-patriarcado de levantar-se novamente.

Nós reconhecemos que somos agentes coletivos da história e que a história não pode ser apagada como páginas da Internet. Sabemos que esta tarde nos reunimos em terras indígenas e seguimos a liderança dos povos originários que, apesar da massiva violência genocida, nunca renunciaram a luta pela terra, pela água, pela cultura e pelo seu povo. Nós saudamos hoje, especialmente, o Standing Rock Sioux.

A luta por liberdade dos negros, que moldaram a natureza deste país, não pode ser apagada com a varredela de uma mão. Nós não podemos esquecer que vidas negras importam. Este é um país ancorado na escravidão e no colonialismo, o que significa, para o bem ou para o mal, a real história de imigração e escravização. Espalhar a xenofobia, lançar acusações de assassinato e estupro e construir um muro não apagarão a história.

Nenhum ser humano é ilegal!

A luta para salvar o planeta, interromper as mudanças climáticas, para garantir acesso a água das terras do Standing Rock Sioux, à Flint, Michigan, a Cisjordânia e Gaza. A luta para salvar nossa flora e fauna, para salvar o ar – este é o ponto zero da luta por justiça social.

Esta é uma Marcha das Mulheres e ela representa a promessa de um feminismo contra o pernicioso poder da violência do Estado. E um feminismo inclusivo e interseccional que convoca todos nós a resistência contra o racismo, a islamofobia, ao anti-semitismo, a misoginia e a exploração capitalista.

Sim, nós saudamos o ‘Fight for 15’. Dedicamos nós mesmas para a resistência coletiva. Resistência aos bilionários exploradores hipotecários e gentrificadores. Resistência a privatização do sistema de Saúde. Resistência aos ataques contra muçulmanos e imigrantes. Resistência aos ataques contra as pessoas com deficiência. Resistência a violência do Estado perpetrada pela polícia e através da indústria do complexo prisional. Resistência a violência de gênero institucional e doméstica, especialmente contra mulheres trans negras.

Direitos das mulheres são direitos humanos em todo o planeta. E é por isso que nós dizemos ‘Liberdade e Justiça para a Palestina!’. Nós celebramos a iminente libertação de Chelsea Manning e Oscar Lopez Rivera. Mas também dizemos ‘Liberdade para Leonard Peltier! Liberdade para Mumia Abu-Jamal! Liberdade para Assata Shakur!’

Nos próximos meses e anos nós estamos convocadas a intensificar nossas demandas por justiça social e nos tornarmos mais militantes em nossa defesa das populações vulneráveis. Aqueles que ainda defendem a supremacia masculina branca e hetero-patriarcal devem ter cuidado!

Os próximos 1459 dias da gestão Trump serão 1459 dias de resistência: Resistência nas ruas, nas escolas, no trabalho, resistência em nossa arte e em nossa música.

Este é só o começo. E termino nas palavras da inimitável Ella Baker: ‘Nós que acreditamos na Liberdade não podemos descansar até que ela seja alcançada!’ Obrigada.

(Angela Davis, Women’s March. 21.01.2017. Washington/EUA)

A diferença que a cor faz na infância



O Brasil é um país racista. Assim sendo, ser negro por aqui é ser obrigado a lidar com o racismo desde muito cedo. São recorrentes situações em que a cor da pele é fator determinante para que meninas e meninos estejam expostos à discriminação.


Todos nós sabemos que as relações étnico-raciais são permeadas pelo preconceito. Na infância, este processo de desvalorização interfere diretamente na construção da identidade da criança, inclusive no processo de autoafirmação.

Na escolinha que estudava bem pequena, uma menina disse que eu era negra porque eu caí em um balde de tinta, depois as ofensas com meu cabelo que sempre foi black” foi o que Mc Sophia nos contou ao relatar o seu primeiro contato com o racismo ainda pequena.

O racismo é muito ruim. Para mim, não é infantil ou adulto, ele é geral, mas a criança tem o primeiro contato com ele na escola e isso é muito forte, pois é um lugar que tem o papel de ensinar. Infelizmente, mesmo com a lei que obriga o ensino de história africana desde a creche, isso não acontece, então o racismo é muito pesado para todos” ressaltou a jovem rapper, que a partir das ofensas, decidiu cantar hip hop. Soffia acredita que sua música pode, aos poucos, mudar esse quadro opressor.

MC Soffia, rapper, que desenvolve um trabalho de empoderamento e combate ao racismo. Ela tem apenas 12 anos.
Foto: Acervo Pessoal.

Para a pedagoga Migh Danae a questão requer mais debate e, principalmente,escutar o que os pequenos têm a dizer. “É importante que as crianças possam ser ouvidas sobre esses assuntos. Que possam dizer como se sentem, o que pensam sobre racismo e como elas resolvem estes problemas quando eles surgem. É importante que campanhas antirracistas sejam lançadas nas escolas e em outras instituições. Que estas ações educativas possam alcançar crianças de todas as idades, porque há uma ideia de que crianças muito pequenas não são racistas” ressaltou.

Migh Danae possui um trabalho voltado para essa temática “Fiz uma pesquisa com crianças negras pequenas de quatro anos, mas não é direcionado a discussão sobre racismo e infância, mas sim, raça e infância, já que eu evidencio a questão da raça no trabalho. A ideia é falar sobre as crianças negras a partir, não apenas do que lhes falta, mas também como seguem sendo crianças negras e sobrevivem ao racismo

Representatividade positiva

Mc Soffia lembra da importância da representatividade positiva e dá dicas para combater o racismo. “Estudem muito sobre a cultura negra, pois nossa cultura é linda e teve muita gente importante que ajudou na construção desse País, e, sobretudo não fiquem tristes com o racismo, pois estamos aqui para lutar contra ele”.

Embora tenha aumentado a representação de personagens negros nos meios de comunicação, os papéis, na maioria das vezes, são coadjuvantes, com pouco ou nenhum destaque.

Na Bahia, as irmãs Patrícia e Adriana Santos Silva, criaram a Ka Naombo, empresa especializada na produção de bonecas negras de pano, com o objetivo de criar um parâmetro para crianças que não se veem representadas.

Costumamos falar que a Ka Naombo é o nosso sonho de criança realizado, pois ele iniciou ainda na nossa infância, há 28 anos atrás, quando começamos a perceber que havia algo de muito estranho com nossas filhas (bonecas) por elas não serem parecidas conosco e nem com ninguém da nossa família”, conta Patrícia.

Alguns clientes chegam até mesmo a questionar o porquê de não haver bonecas brancas e, sim, apenas negas malucas. As exposições acabam se tornando espaços de debate, conversas, trocas de experiências e conscientização sobre as questões do racismo em nosso país. Principalmente quando vamos explicar para os clientes as denominações de cada modelo das bonecas expostos. Esses nomes atribuídos a cada boneca se deram pela necessidade de ‘protestar’ contra uma ‘convenção’ social de que as bonecas de pele negra são todas negas malucas”.

Por fim, Patrícia expõe o principal interesse da Ka Naombo. “Sabemos que o caminho é longo e cheio de obstáculos, porém, cada oportunidade que temos de conversar, questionar, promover reflexões e esclarecimentos sobre as diversas formas de manifestação do racismo ‘à brasileira’, a sua ação nociva na construção da autoestima dos afrodescendentes, e que isso provoque de alguma forma modificações na maneira dessas pessoas virem a si próprias e o mundo que o cerca, sentimos de alguma forma, mesmo que por vezes imperceptíveis a olho nu, que a nossa missão está sendo cumprida” finalizou.

VII Caminhada pela Liberdade Religiosa é realizada em Juazeiro do Norte



O Município de Juazeiro do Norte, localizado na região metropolitana do Cariri, sul do Estado do Ceará, foi palco de um importante evento na última sexta-feira, 20, da VII Caminhada Pela Liberdade Religiosa.

Com o subtema “Pelo Respeito a Diversidade e o Direito à Liberdade de Crença”, o encontro teve concentração às 14h00 na praça da prefeitura seguindo às ruas onde os terreiros de matrizes africanas exigiram justiça em um ato de fazer política como deixou entrever membra do Grupo de Mulheres Negras Pretas Simoa, Karla Alves em seu perfil na rede social facebook.

Maria Eliana, do Grupo de Valorização Negra do Cariri (Grunec) ao compartilhar fotos na mesma rede social afirmou que “a beleza, alegrias, danças, sorrisos e caminhada falam de uma realidade, existência ancestral e resistência...  Fala da Sua História, da História Afro-brasileira...

Fala de amorosidade e organização entre terreiros, religiões de matrizes africanas da região do Cariri...

Fala de des(construção) de entendimento negativo e coletivo da sociedade e convite à conhecimento e convivência positiva de forma respeitosa....

Fala de liberdade de existir, ser, exercer sua crença em mundo de diversidade religiosa.....” e concluiu ressaltando que o momento foi um convite à utopia e a esperança possível.