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MC Soffia usa boneca para falar de autoestima: “Sou uma Barbie Black”


MC Soffia veste as roupas da exposição fotográfica Barbie Black. (Foto: Edu Garcia/ R7).

MC Soffia começou o ano com novidades. Na noite de terça-feira (16), a rapper de 13 anos recebeu convidados na casa Aparelha Luzia, no centro de São Paulo (veja serviço abaixo), para falar sobre seu próximo single, Barbie Black. A festa de pré-lançamento veio acompanhada de um pocket show e uma exposição de fotos baseadas na composição.

Soffia posa na exposição em São Paulo.
(Foto: Edu Garcia/ R7).
Barbie Black foi escrita pela jovem artista e estará disponível no começo de fevereiro em todas as plataformas digitais. Usando a tradicional boneca de origem americana como exemplo, a letra aborda temas como o racismo e a igualdade de gênero.

— Eu e todas as meninas também somos uma Barbie Black. Então, eu canto que a boneca ainda não representa vários tipos de pessoas. Não existem apenas mulheres magras e brancas no mundo. Precisamos lembrar das negras, de cabelos afro, das gordinhas e das mais velhas.  

Soffia relembra que os brinquedos fazem parte da autoestima das crianças negras.

— Eu sempre tive muitas bonecas negras, além de brancas, mas é porque meus pais procuravam por isso. Porém, outro dia eu passei por várias lojas e não achei nenhuma da minha cor. Ainda não é um tipo de produto popular e, quando encontrados, são caros... Então, como as meninas negras vão se indentificar com seus brinquedos?

"Somos bonitas com qualquer tipo cabelo ou cor da pele"MC Soffia

Durante a festa de lançamento da música de Soffia, haviam bancadas onde a cantora vendia produtos relacionados ao seu trabalho. Entre chaveiros e camisetas, estavam bonecas negras com roupinhas trazendo frases como "Sou Linda" e "Amo meu Cabelo".

MC Soffia vende bonecas negras nos shows. (Foto: Edu Garcia/ R7).

A exposição que acompanhou o lançamento do single também seguiu o tema da compositora. São oito fotos produzidas pela equipe Brechó Replay, com a MC posando de rainha afro-brasileira na periferia paulistana.

Victoria Carolina, produtora de moda do grupo, dá mais detalhes da exibição, que fica até o final deste mês em São Paulo.

— Desenvolvemos a ideia com a própria Soffia. A cantora está entrando na pré-adolescência, então essa música também é uma despedida da infância. Sendo assim, as fotos retratam ela com uma visão atual, mais jovem e menos infantil. Agora, ela está se transformando em uma mulher poderosa. Uma rainha black.

Representante de uma boa parte da população infanto-juvenil, Soffia ressalta a importância que a música tem na vida dos fãs.

— Eu converso de igual para igual, por causa da idade, e isso é importante. Penso que estou ajudando a minha geração a ultrapassar problemas que ainda acontecem nas nossas vidas. Nas minhas músicas, além do ritmo dançante, eu mando mensagens positivas... Eu celebro que somos bonitas com qualquer tipo cabelo ou cor da pele. (Por Daniel Vaughan, do R7).

A diferença que a cor faz na infância



O Brasil é um país racista. Assim sendo, ser negro por aqui é ser obrigado a lidar com o racismo desde muito cedo. São recorrentes situações em que a cor da pele é fator determinante para que meninas e meninos estejam expostos à discriminação.


Todos nós sabemos que as relações étnico-raciais são permeadas pelo preconceito. Na infância, este processo de desvalorização interfere diretamente na construção da identidade da criança, inclusive no processo de autoafirmação.

Na escolinha que estudava bem pequena, uma menina disse que eu era negra porque eu caí em um balde de tinta, depois as ofensas com meu cabelo que sempre foi black” foi o que Mc Sophia nos contou ao relatar o seu primeiro contato com o racismo ainda pequena.

O racismo é muito ruim. Para mim, não é infantil ou adulto, ele é geral, mas a criança tem o primeiro contato com ele na escola e isso é muito forte, pois é um lugar que tem o papel de ensinar. Infelizmente, mesmo com a lei que obriga o ensino de história africana desde a creche, isso não acontece, então o racismo é muito pesado para todos” ressaltou a jovem rapper, que a partir das ofensas, decidiu cantar hip hop. Soffia acredita que sua música pode, aos poucos, mudar esse quadro opressor.

MC Soffia, rapper, que desenvolve um trabalho de empoderamento e combate ao racismo. Ela tem apenas 12 anos.
Foto: Acervo Pessoal.

Para a pedagoga Migh Danae a questão requer mais debate e, principalmente,escutar o que os pequenos têm a dizer. “É importante que as crianças possam ser ouvidas sobre esses assuntos. Que possam dizer como se sentem, o que pensam sobre racismo e como elas resolvem estes problemas quando eles surgem. É importante que campanhas antirracistas sejam lançadas nas escolas e em outras instituições. Que estas ações educativas possam alcançar crianças de todas as idades, porque há uma ideia de que crianças muito pequenas não são racistas” ressaltou.

Migh Danae possui um trabalho voltado para essa temática “Fiz uma pesquisa com crianças negras pequenas de quatro anos, mas não é direcionado a discussão sobre racismo e infância, mas sim, raça e infância, já que eu evidencio a questão da raça no trabalho. A ideia é falar sobre as crianças negras a partir, não apenas do que lhes falta, mas também como seguem sendo crianças negras e sobrevivem ao racismo

Representatividade positiva

Mc Soffia lembra da importância da representatividade positiva e dá dicas para combater o racismo. “Estudem muito sobre a cultura negra, pois nossa cultura é linda e teve muita gente importante que ajudou na construção desse País, e, sobretudo não fiquem tristes com o racismo, pois estamos aqui para lutar contra ele”.

Embora tenha aumentado a representação de personagens negros nos meios de comunicação, os papéis, na maioria das vezes, são coadjuvantes, com pouco ou nenhum destaque.

Na Bahia, as irmãs Patrícia e Adriana Santos Silva, criaram a Ka Naombo, empresa especializada na produção de bonecas negras de pano, com o objetivo de criar um parâmetro para crianças que não se veem representadas.

Costumamos falar que a Ka Naombo é o nosso sonho de criança realizado, pois ele iniciou ainda na nossa infância, há 28 anos atrás, quando começamos a perceber que havia algo de muito estranho com nossas filhas (bonecas) por elas não serem parecidas conosco e nem com ninguém da nossa família”, conta Patrícia.

Alguns clientes chegam até mesmo a questionar o porquê de não haver bonecas brancas e, sim, apenas negas malucas. As exposições acabam se tornando espaços de debate, conversas, trocas de experiências e conscientização sobre as questões do racismo em nosso país. Principalmente quando vamos explicar para os clientes as denominações de cada modelo das bonecas expostos. Esses nomes atribuídos a cada boneca se deram pela necessidade de ‘protestar’ contra uma ‘convenção’ social de que as bonecas de pele negra são todas negas malucas”.

Por fim, Patrícia expõe o principal interesse da Ka Naombo. “Sabemos que o caminho é longo e cheio de obstáculos, porém, cada oportunidade que temos de conversar, questionar, promover reflexões e esclarecimentos sobre as diversas formas de manifestação do racismo ‘à brasileira’, a sua ação nociva na construção da autoestima dos afrodescendentes, e que isso provoque de alguma forma modificações na maneira dessas pessoas virem a si próprias e o mundo que o cerca, sentimos de alguma forma, mesmo que por vezes imperceptíveis a olho nu, que a nossa missão está sendo cumprida” finalizou.