11 de maio de 2023

Açaí com suflê

 

Alexandre Lucas. (FOTO | Acervo Pessoal).


Alexandre Lucas, Colunista

Aquele sofá parecia um divã. O silêncio acolhia a beleza do encontro. Os cachorros latiam como se estivessem rindo e roçaram mendigando ternura.

Carlos foi convocado, veio num livro capa amarela, talvez para proclamar a alegria e disfarçar a sua poesia repleta de dúvidas e atestada de ironia. Para recebê-lo chamou Morzat com a delicadeza dos seus toques. Fechou os olhos como se sentisse as palavras assoprando o seu corpo, encaixando no seu ritmo e brincando de ciranda na ponta dos seus seios. Drummond falava do amor: incerto, contraditório e real.

Entre os poemas, a partilha das comidinhas, a leitura das minhas interrogações e o gosto do amendoim caramelado. Paz e Guerra, não, não, era obra posta à mesa, nem disposta entre as pernas, mas o redemoinho entre a carne e a mente.

Era presente aquele encontro, desses para tomar água. Beber água diminui a quentura do corpo e reduz as batidas do coração. Distante reviro os botões procurando no vestido a poesia decotada, os olhos estrelados e o descanso do sofá.

10 de maio de 2023

Seminário Nacional “20 Anos depois - A Lei 10.639/2003 e o Ensino de História” já tem programação

 

Seminário Nacional “20 Anos depois - A Lei 10.639/2003 e o Ensino de História” já tem programação. (FOTO | Reprodução).

O Seminário Nacional 20 anos depois: A lei 10639/03 e o Ensino de História será um evento on line entre os dias 22 e 26 de maio, promovido pela Associação Nacional de História (ANPUH) e Associação Brasileira de Ensino de História (ABEH) com apoio de outras instituições parceiras. Esse encontro tem como finalidade mapear, debater, problematizar e dar visibilidade a pesquisas e experiências diversas que reflitam o impacto das leis 10639/2003,11645/2008 e diretrizes complementares, especialmente no Ensino de História, mas também em campos disciplinares afins, com enfoque para propostas e práticas de Educação para as Relações Étnico-raciais na Educação básica, no Ensino Superior e também em espaços não formais de Educação em diálogo com entidades, associações, coletivos e movimentos sociais. A nossa proposta é apontar desafios futuros para a área de História, propondo a construção de projetos formativos, atividades e compromissos coletivos de enfrentamento ao racismo no campo da Educação formal e não formal.

As inscrições no evento são gratuitas e tem como público alvo Professores de História e outros campos das Ciências Humanas das redes básicas de ensino e do Ensino Superior; Estudantes de história e outros campos das Ciências Humanas, em diferentes níveis de ensino; demais professores, pesquisadores, profissionais de áreas afins, interessados no tema; gestores, dirigentes e membros de associações, movimentos sociais, entidades não governamentais e coletivos de pesquisa e ações de extensão.

São duas as modalidades de inscrição.

Ouvinte: Aberto a toda a comunidade acadêmica e não acadêmica, interessada no tema.

Terão direito a certificados de ouvintes, os inscritos que participarem de até 75% das atividades. O evento terá 40 horas de atividades.

Círculos de Diálogo

Os Círculos de Diálogo são atividades que contarão com a participação de professores e pesquisadores convidados e especialistas nas temáticas propostas para essa modalidade. Terão duração de até 02 horas e serão transmitidos por meio do canal do Youtube da ANPUH-Brasil, nas datas programadas. Podem ser acompanhadas por todos os inscritos no evento. Serão 7 Círculos de Diálogo temáticos:

Círculo de Diálogo 1: Materiais Didáticos para se ensinar História no contexto da Educação para as Relações Étnico raciais.

Círculo de Diálogo 2: Currículos prescritos e praticados nos últimos 20 anos. Qual o compromisso com o antirracismo?

Círculo de Diálogo 3: Currículos dos cursos de História 20 anos depois. Que avanços podemos demarcar?

Círculo de Diálogo 4: 20 anos da lei 10639/2003. O que mudou na formação de professores?

Círculo de Diálogo 5: Universidades e movimentos sociais na construção de epistemologias, resistências e insurgências antirracistas

Círculo de Diálogo 6: Educação Antirracista em perspectiva decolonial e intercultural

Círculo de Diálogo 7: A Educação Antirracista em uma perspectiva transnacional

Rodas de conversa

As Rodas de conversa são espaços de diálogo destinado a apresentação de trabalhos que sejam resultado de pesquisa ou experiências envolvendo a temática proposta para o evento. Para participar dessa modalidade, é necessário fazer a inscrição seguindo as orientações especificas. As apresentações ocorrerão em dia e horário previamente definido, por meio de sala no google meet que será informada com antecedência.

As rodas de conversa serão organizadas por meio dos seguintes eixos temáticos:

1- A construção de currículos antirracistas no Ensino de História

2- Materiais didáticos insurgentes e antirracistas

3- Formação de professores antirracistas

4- Relações étnico raciais em perspectiva multi e transdisciplinar

5- Enfrentamentos ao racismo no cotidiano escolar

6- Memórias e patrimônios insurgentes no Ensino de História

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As informações são do site do evento. Clique aqui e confira a programação completa.

9 de maio de 2023

Cariri cearense e a educação das relações étnico-raciais

 

Imagem de divulgação do livro “Caderno Educação das Relações Étnico-Raciais no Cariri Cearense e Orientações Didáticos Pedagógicas”


Publicação apresenta estudos que pautam a educação das relações étnico-raciais da perspectiva negra e indígena no Cariri cearense

O projeto emociona na medida em que nos possibilitou, apesar do período mais complicado da pandemia, um reencontro com a história do povo negro e indígena, a partir da nossa própria história e do nosso lugar. Os materiais produzidos retratam esse encontro e essa reconexão.”

É assim que a pesquisadora Cícera Nunes define como se sentiu após a realização do projeto “Currículo e os processos de formação docente no campo das relações étnico-raciais.”

Um dos frutos da experiência foi a publicação “Educação das Relações Étnico-Raciais no Cariri Cearense”, que pode ser acessada gratuitamente na Biblioteca Dinâmica do Observatório Anansi neste link.

O CEERT conversou com Cícera a respeito da publicação e do projeto. Cícera é doutora em Educação Brasileira pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e atualmente é Professora vinculada ao Departamento de Educação da Universidade Regional do Cariri (URCA). Confira os principais trechos da entrevista:

Como surgiu a ideia de elaborar o projeto e qual foi o objetivo dele?

Cícera: O projeto “O Currículo e os processos de formação docente no campo das relações étnico-raciais”, em uma perspectiva inter e transdisciplinar, surge de uma trajetória de trabalho junto ao Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação, Gênero e Relações Étnico-Raciais, que coordeno no Cariri cearense e tem buscado construir relações de parceria, em especial com escolas de educação básica, visando suprir a necessidade de suporte formativo e a produção de material bibliográfico e didático pedagógico na temática das relações étnico-raciais.

O projeto teve na sua centralidade a proposta de recontar e ressignificar a história do Cariri cearense a partir de perspectivas negras e indígenas. Fizemos uma inserção em um bairro negro, chamado Comunidade do Gesso, localizado na cidade do Catro (CE), procurando estabelecer parceria e aproximação com agentes escolares e moradores da comunidade, para que pudéssemos perceber influências, referências e presenças negras e indígenas na história desse lugar.

Depois disso, debatemos uma proposta de currículo e processos de formação dos profissionais da educação que caminhassem para uma educação de pertencimento a partir da relação com a história do lugar e do povo negro e indígena do Cariri cearense.

Quais são os destaques da publicação Educação das Relações Étnico-Raciais no Cariri Cearense, orientações didático pedagógica?

Cícera: O Caderno é uma inspiração das Diretrizes Curriculares Nacionais. É uma tentativa de levantamento dos estudos que pautam a educação das relações étnico-raciais, tanto a partir da perspectiva negra, como da perspectiva indígena no Cariri cearense.

São estudos que propõem a discussão a partir das escolas de educação básica e trazem uma contextualização sobre a política educacional antirracista e processos de formação de professores.

Trazem também indicações importantes de estudos e materiais pedagógicos que essa rede pode acessar para servir como suporte para implementação da política e também como suporte para a elaboração e fundamentação dessa política no contexto do Projeto Político Pedagógico das Escolas.

Quais são os demais produtos do projeto?

Cícera: Nós tivemos a produção de um vídeo-documentário chamado “Sankofa Gesso” e de três cadernos pedagógicos: “O Território Criativo do Gesso, Memórias e Narrativas Negro-Indígenas”; “A escola de Educação Básica e Educação para Relações Étnico-Raciais” e o “Caderno Educação das Relações Étnico-Raciais no Cariri Cearense e Orientações Didáticos Pedagógicas”.

Além disso, instalamos duas bibliotecas com a média de 200 títulos de autorias negras e indígenas, sendo uma biblioteca comunitária na escola parceira do projeto e uma biblioteca no Núcleo de Estudos e Pesquisa em Educação, Gênero e Relações Étnico-raciais, que está localizado na universidade regional do Cariri.

Nós também desenvolvemos um aplicativo que mapeia os pontos de memória da Comunidade do Gesso e conta a história da comunidade a partir das informações postas no material didático.

Também realizamos, por mais de um ano, uma ação de formação que envolveu professores da educação básica da rede de ensino da região do Cariri cearense e também os estudantes da escola parceira do projeto.

Por fim, realizamos uma intervenção urbana com grafite, com a participação dos estudantes, professores e moradores do lugar, retratando nas paredes da comunidade um pouco de história e da trajetória da população negra no contexto brasileiro e local.

Como o projeto desenvolvido contribui para a Educação Antirracista?

Cícera: O projeto contribui para o fortalecimento de uma Educação Antirracista na medida em que proporcionou uma melhor identificação das referências negras e indígenas presentes na história e na cultura do lugar que possibilitam desdobramentos em várias ações pedagógicas nas variadas áreas do conhecimento. Essas informações foram materializadas nos cadernos pedagógicos e nas ações de formação que contaram com a colaboração de pesquisadores negros e indígenas.

A ação também contribuiu para aprofundar reflexões em torno da implementação da história e cultura indígena, discussão praticamente ausente nas ações de formação da região. A ação de formação proposta e o material pedagógico produzido são importantes suportes de ressignificação das propostas pedagógicas das escolas e das ações de formação dos profissionais da educação.

Como se sentiu com a experiência?

Cícera: O projeto emociona na medida em que nos possibilitou, apesar do período mais complicado da pandemia, um reencontro com a história do povo negro e indígena, a partir da nossa própria história e do nosso lugar. Os materiais produzidos retratam esse encontro e essa reconexão.

Considero que, ao fim dessa experiência, o que fica de mais marcante foi a possibilidade concreta que o projeto aponta para que a escola dê sentido a essas experiências que são vividas fora e dentro dela, com a possibilidade que a gente se reencontre com a história que nos foi negada historicamente e é nossa. Agora a gente precisa construir essa relação de pertencimento.

Projeto selecionado – O projeto “Currículo e os processos de formação docente no campo das relações étnico-raciais, numa perspectiva inter e transdisciplinar” é um dos projetos apoiados pelo Edital Equidade Racial na Educação Básica: pesquisa aplicada e artigos científicos, lançado em 2019, iniciativa do Itaú Social coordenada pelo Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT), em parceria com o Instituto Unibanco, a Fundação Tide Setubal e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

Outros/as pesquisadores/as sobre o tema mapearam exemplos de práticas pedagógicas antirracistas e também têm obras disponibilizadas para download gratuitamente no acervo digital Equidade Racial na Educação Básica: Pesquisas e Materiais, que pode ser acessado na Biblioteca Dinâmica do Observatório Anansi, pelo site: https://anansi.ceert.org.br/biblioteca

Até dezembro deste ano, o acervo digital vai abrigar mais de 50 produções, entre livros, teses acadêmicas, artigos, e-books, jogos didáticos e vídeos, que serão lançados periodicamente.

A iniciativa foi lançada oficialmente em 9 de janeiro deste ano, em comemoração aos 20 anos da Lei 10.639, que alterou a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), tornando obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana nas escolas brasileiras.

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Com informações do Observatório Anansi e do Ceert.

Inep publica edital com regras para o Enem 2023

 

Estudantes do 3º Ano A, da EEMTI Pe. Luís Filgueiras, em Nova Olinda - CE. (FOTO | Prof. Nicolau Neto).

O edital com cronograma e regras para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2023 já está disponível para os interessados em participar do certame, que será aplicado nos dias 5 e 12 de novembro. As inscrições ficam abertas do dia 5 a 16 de junho.

Além de apresentar datas e horários dos exames, o Edital nº 30 detalha os documentos necessários, bem como as obrigações do participante, incluindo situações em que o candidato poderá ser eliminado. A taxa de inscrição é R$ 85 e deve ser paga até dia 21 de junho.

A publicação do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira (inep) traz também critérios para correção das provas e procedimentos para pessoas que precisam de cuidados especiais durante o concurso, bem como orientações sobre horário e local do exame.

Horários

Os portões de acesso serão abertos às 12h e fechados às 13h e as provas começam a ser aplicadas às 13h30. O término será às 19h, no primeiro dia, e às 18h30, no segundo. Estão previstas exceções de horário em casos específicos, no caso de participantes com solicitação de tempo adicional aprovada, ou com pedido de recurso de vídeo para a prova em Libras.

As inscrições devem ser feitas na Página do Participante, no portal do Inep, onde outros acessos indicam cronograma, tutoriais e orientações, além de uma área com as dúvidas mais frequentes dos candidatos. O texto detalha como será feita a reaplicação do teste e as situações em que poderá ser refeita, como problemas logísticos e doenças infectocontagiosas, por exemplo.

Os gabaritos das provas objetivas serão publicados no dia 24 de novembro no Portal do Inep. Já os resultados individuais serão divulgados no dia 16 de janeiro de 2024 no mesmo site.

Covid-19

Apesar de o país não estar mais em situação de emergência sanitária devido à pandemia, o instituto informa que será necessária a utilização de máscara de proteção à covid-19, “nos estados ou municípios onde o uso da máscara em local fechado seja obrigatório por decreto ou ato administrativo de igual poder regulamentar”.

As notas do exame são usadas para o ingresso de estudantes em universidades públicas e privadas, por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), do Programa Universidade para Todos (Prouni) e o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).

Os resultados individuais podem ser aproveitados pelos estudantes brasileiros interessados em cursar uma graduação em instituições portuguesas, que mantêm convênio com o Inep.

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Com informações da Agência Brasil.

7 de maio de 2023

“Vamos para o combate”, diz vereadora ao inaugurar Comissão Especial de Combate ao Racismo

 

Na ordem: Iya Wanda Araújo, vereadora Monica Cunha e vereadora Thaís Ferreira durante a inauguração da Comissão /Foto: Divulgação

A Câmara Municipal do Rio de Janeiro inaugurou a Comissão Especial de Combate ao Racismo em uma atividade realizada no Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira (MUHCAB) presidida pela vereadora Monica Cunha (PSOL) e composta pelos vereadores Thaís Ferreira (Psol) e Édson Santos (PT). O evento de lançamento foi na última sexta-feira (05).

A atividade inaugural foi realizada com a presença de personalidades que compuseram a mesa: a vereadora Thaís Ferreira, o ativista Lucas Batal do Movimento Negro Unificado (MNU), a jornalista, historiadora e diretora-geral do Arquivo Nacional, Ana Flávia Magalhães, a defensora pública e membro do Núcleo Contra a Desigualdade Racial (Nucora) Danielle da Silva e a Iya Wanda Araújo.

Durante o evento que inaugurou a primeira comissão com esse viés no país, a vereadora rechaçou o status de pioneirismo, mas enfatizou a importância da comissão. “ O que nós estamos falando nesse Rio de Janeiro é que nós vamos para o combate. Não aceitamos menos! Queremos o fim do racismo”, falou no discurso de abertura.

Em seguida a vereadora Thais Ferreira falou sobre a força coletiva. “A nossa comunidade cuida junto, que ampara junto, que faz crescer e se desenvolver junto. Então não poderia ser diferente quando a Monica propôs uma Comissão Especial de Combate ao Racismo, estarmos nós parlamentares negros e negras com suas diferenças que se somam, porque sozinho não tem como fazer”.

Já Ana Flávia Magalhães destacou o poder de resistência do povo negro diante as violências produzidas pelo sistema. “O racismo é perverso, ele organiza essa sociedade, mas até hoje ele não foi capaz de nos destruir. Somos maioria populacional desse país, e isso está inscrito na nossa história como nação, como sociedade”, diz a historiadora, que afirma que defender a comissão é uma forma de torná-la permanente.

A última integrante da mesa a discursar foi a Iya Wanda Araújo, que ressaltou a importância da inauguração da comissão ser feita no MUHCAB. “Esse é um espaço sagrado, um espaço de luta e essa comissão nascer aqui oficialmente, significa vida longa”, disse a Yalorixá.

Também estiveram presentes alguns apoiadores da comissão, como o deputado federal Pastor Henrique Vieira (PSOL), a vereadora Monica Benicio (PSOL), a deputada estadual Dani Monteiro (PSOL), a vereadora de Niterói Benny Briolly (PSOL) e o deputado estadual professor Josemar (PSOL), que disseram algumas palavras durante a audiência pública.

Nós sabemos que o racismo é um golpe fatal em nossa frágil democracia, e que nós precisamos em todas as esferas, sair da civilizatória. Pois enquanto o nosso corpo for alvo da violência, da violação e da produção permanente da morte, nós não podemos nos silenciar”, disse o deputado federal Pastor Henrique Vieira.

Além dos parlamentares, as mães de jovens mortos pela violência do município também estiveram presentes. A vereadora Monica Cunha, que também perdeu seu filho de forma violenta, levou alguns familiares das vítimas, que na maior parte são negros e moradores de favela, para não deixar que essas fatalidades caiam no esquecimento, e mostrar o quão importante é o trabalho que será feito pela comissão.

A gente precisa seguir firme nessa luta para que outras mães possam ter o direito assegurado de conviver com seus filhos. Eu sonho e luto por um dia em que as mulheres pretas, pobres e moradoras de favelas vão poder ter o direito de conviver com os seus filhos, ter o direito de serem enterradas pelos seus filhos, e não o contrário”, disse Ana Paula Oliveira, mãe do Johnatha de Oliveira Lima, um jovem de 19 anos que foi assassinado com um tiro nas costas pela polícia.

Dentre os familiares que participaram do evento, alguns perderam seus parentes na  Chacina do Jacarezinho, que completa dois anos neste sábado (06), uma das maiores da história do Rio de Janeiro, que deixou 28 mortos.

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Com informações do Notícia Preta.

6 de maio de 2023

Biblioteca Caminho do Conhecimento realizará 1ª Olimpíada de Teatro

 

(FOTO/Divulgação/ Biblioteca Caminho do Conhecimento).

Por Nicolau Neto, editor

Fruto de uma mobilização voluntária de cinco moradores/as do Sítio Latão, em Santa do Cariri (CE), imbuídos no desejo de transformar essa comunidade através da educação e da cultura, nasceu o projeto social Biblioteca “Caminho do Conhecimento”.

O projeto que partiu da professora Renata Lino, Marcia Lino, Luiz Reginaldo, José Reginaldo e Francisco Martins, conhecido popularmente por “Chichico” se configura como uma ação não governamental e foi inaugurada em dezembro de 2021, contando com alguns acervos, tanto didáticos como paradidáticos.

Mas nem só de livros é composta a Biblioteca. Com o tema “A morte de Romeu e Julieta”, será promovida a 1ª edição da “Olimpíada de Teatro”. O projeto tem como finalidade “identificar e divulgar novos talentos, valorizar a arte e incentivar às manifestações artísticas e culturais” do Sítio Latão, em Santana do Cariri, e de municípios vizinhos.

Segundo o regulamento, cada participante poderá se inscrever e apresentar a peça com adaptações e recursos próprios, devendo, portanto, se atentar para os seguintes pontos:

1- A peça teatral deverá ser apresentada em formato de esquete, com duração máxima de 15 minutos com dois 2 integrantes (atores) e sem limitações para equipe técnica e apoio;

2- As peças precisam ser adaptadas conforme o capítulo da morte de Romeu e Julieta;

2- As peças precisam ser ambientadas com vestimentas da época;

3- As peças de teatro não poderão ser produzidas por terceiros;

As inscrições são gratuitas e se encerram no último dia de maio e devem ser encaminhadas exclusivamente por e-mail (bibliotecacainholatao@gmail.com), informando o nome completo da dupla, a localidade, cópia do texto (em PDF ou JPG) e telefone de contato.

Serão premiados os três primeiros lugares. O terceiro colocação receberá um valor de R$ 200,00 mais certificado; R$ 300,00 mais certificados para o segundo e certificado mais um valor de R$ 600,00 para o primeiro lugar.

As apresentações estão marcadas para o dia 08 de julho a partir da 18h00 no palco da Biblioteca.

Para maiores informações, encaminhe mensagem via WhatsApp para Renata Lino (88 99796 7252) e Fábio Martins (88 99979 7945) ou ainda por e-mail já citado.

Maria de Araújo e o embuste da história

 

Quadro votivo em homenagem a Maria de Araújo criado pelo estúdio anchordecor. 


Por César Pereira, Colunista

Maria de Araújo

__ Seu pai?

__ Um divezo que andava quase sempre em temulência; um negro, um mancípio que fora da gente do padre Pedro Ribeiro, de saudosa memória.

__ Sua mãe?

__ Uma cabra de cabelo ulotricho e mastigado que servia fora de casa, mas muitas vezes não podia trabalhar e se ficava de cama por causa das sovas que amiudadamente lhe dava o macho, o marido.

__ A mulher de que falamos, se, como me dizes, e eu creio, é um produto, um cruzamento das duas raças mais detestáveis, não pode deixar de ser, em todos os sentidos, uma hibridez horrível.

[...]

__ Poderás vasar-me em palavras a hibridez estética dessa monstruosidade feita mulher? (PEIXOTO, 2011, p.41.)

Maria Magdalena do Espírito Santo Araújo é a mulher que está sendo predicada nesta linguagem viperina adotada pelo padre Alencar Peixoto no seu livro Joazeiro do Cariry publicado em 1913. Este não foi o primeiro texto escrito com o objetivo de impor ao público uma representação funesta de Maria de Araújo, nem tampouco seria o último.

Ao longo das duas últimas décadas do século XIX e no decorrer de todo o século XX fez-se um intenso investimento discursivo em torno da beata Maria de Araújo, tal operação discursiva objetivava principalmente criar uma representação que a definisse como uma pessoa ardilosa, enferma, impura, capaz de enganar os homens mais inteligentes do clero, das ciências e até doutores em teologia, como também o homem mais piedoso e temente a Deus, o padre Cícero Romão Batista.

Logo que as primeiras notícias do milagre da hóstia começaram a se difundir pelos meios intelectualizados da imprensa brasileira e entre as autoridades eclesiásticas nacionais o discurso sobre a mulher que protagonizava os fatos miraculosos de Juazeiro começa a ser engendrado de modo a construir uma representação negativa desta.

No dia 29 de agosto de 1889, quando já não era mais possível manter os acontecimentos restritos ao Cariri cearense, o Jornal do Comércio editado e publicado na cidade do Recife em Pernambuco estampou em seu número 194, ano 65, página 3, a manchete: Facto estupendo, onde noticiava os milagres que vinham ocorrendo em Juazeiro desde março daquele ano e que haviam sido testemunhados em profusão no mês de julho.

A notícia reproduz uma carta enviada por um leitor, provavelmente da cidade do Crato, este informa ao redator do jornal que se sentiu obrigado a divulgar os fatos, pois para ele eram tão importantes quantos os milagres de Nossa Senhora de Lourdes ocorridos trinta anos antes na França.

O autor da carta faz uma rápida descrição da figura de Maria de Araújo: “[...] Maria de Araujo (sic), mulher mais preta que parda, de estatura baixa e compleição franzina: é bastante feia e representa a idade de 18 a 20 anos.” Tal descrição da protagonista dos milagres de Juazeiro foi feita vinte e cinco anos antes daquela criada pelo padre Alencar Peixoto, mas ambas estão em acordo, pois procuram destacar a raça a qual pertence Maria de Araújo e fazem questão de salientar a sua debilidade física.

Conforme Peixoto:

__ Maria de Araújo que deve orçar hoje pelos seus cinquenta anos, é de estatura regular; brunduzia, triste, vagarosa, entanguida, essencialmente caquética, porque tem ela uma série de ascendentes caquéticos ou tuberculosos. (PEIXOTO, 2011, p. 42.)

O próprio padre Cícero nas cartas que escreveu ao bispo dom Joaquim José Vieira respondendo as cartas a ele dirigidas pelo chefe do clero cearense também descreve Maria de Araújo como uma pessoa doente e fisicamente decadente. Segundo ele ‘era uma mulher que tinha uma saúde de passarinho, como se diz no sertão’ além disso, informou ao bispo que desde algum tempo Maria de Araújo padecia dos nervos, tinha espasmos constantes e que “...este estado mórbido começou desde menina e continuou com maior ou menor intermitência, até o ano de 1889.” (apud, NETO 2009).

Pode-se perceber como rapidamente foi se tecendo toda uma semântica discursiva masculina com o objetivo único de construir uma representação de Maria de Araújo como a mulher histérica e incapaz de protagonizar qualquer evento ou fato digno de valoração histórica, científica ou teológica. Toda uma casta de intelectuais dentro e fora do clero foi mobilizada para impedir a ascensão dessa mulher a primazia de protagonista da história da igreja ou da própria história do Brasil.

Durante as investigações do milagre da hóstia e principalmente posteriormente, quando o bispo do Ceará e o Vaticano se recusaram a reconhecer a veracidade dos eventos miraculosos, o clero e a intelectualidade brasileira notadamente racista e misógino passaria a atacar de forma virulenta a imagem de Maria de Araújo. Acusou-se ela de tuberculosa, histérica, similar ao homem de Darwin, (isto é, macaca), estúrdia, candorça diabólica, prostituta.

Tais ataques surtiram rápido efeito, pois num período relativamente curto as narrativas sobre os milagres de Juazeiro protagonizadas antes por ela, foram ganhando outro protagonista, dessa vez mais palatável para a história oficial. Um homem branco, descendente das melhores famílias do Cariri, Cícero Romão Batista. Ainda nas primeiras décadas do século XX a figura deste padre assumiu o primeiro plano como personagem principal nas narratividades construídas sobre o milagre da hóstia e igualmente sobre a história de Juazeiro do Norte.

Quando Maria de Araújo veio a falecer no mês de janeiro de 1914, se passara vinte anos de sua condenação e já repousava ela e sobre seu protagonismo histórico e social no movimento político e religioso de Juazeiro um relativo silenciamento. No entanto mesmo após a sua morte, não descansariam os seus detratores. A destruição do seu túmulo e o sequestro de seus restos mortais em 1931 também não seria suficiente para aqueles que estavam empenhados em fazer desaparecer toda e qualquer memória de sua existência.

O intelectual, historiador e escritor mais empenhado em soterrar o protagonismo, a história e a memória de Maria de Araújo foi sem dúvida o padre Antônio Gomes. Em 1956 ele publicou na Revista Itaytera do Instituto Cultural do Cariri um artigo panfletário intitulado “Apostolado do embuste” em que faz a defesa do episcopado de dom Joaquim José Vieira e o converte no grande campeão da campanha movida por este clérigo brasileiro contra Maria de Araújo e os “pretensos milagres” do “sangue bichado”. (apud, GOMES, 1956). Para este historiador Maria de Araújo não protagonizou nenhum milagre, apenas serviu como títere e cobaia, (pois era mulher e fraca) de um ardiloso plano arquitetado por Joaquim Teles Marrocos, jornalista que teria sido o responsável pela divulgação nos jornais da época das primeiras notícias do milagre da hóstia em Juazeiro.

O historiador Antônio Gomes de Araújo acusa José Marrocos de ter planejado tudo, de ter se aproveitado junto a Maria de Araújo da boa-fé do padre Cícero Romão Batista e assim pelos meios mais ardilosos de que dispunha fanatizou os crédulos caririenses bem como o próprio clero e as autoridades políticas do sertão cearense.

José Marrocos, também foi responsabilizado após a sua morte em 1910, como tendo sido o homem que abriu o sacrário da igreja matriz do Crato e furtado os panos ensanguentados que lá tinham sido depositados por ordem do bispo dom Joaquim José Vieira no começo da década de 1890 quando os milagres estavam sob investigação episcopal. Segundo Antônio Gomes de Araújo, o professor José Teles Marrocos fabricou em seu laboratório as hóstias ensanguentadas através de processos químicos e convenceu Maria de Araújo a enganar o padre Cícero Romão Batista e outros clérigos que para Juazeiro acorreram a fim de testemunhar os milagres da ‘hóstia sanguinolenta’.

Para evitar que seu crime fosse descoberto caso os panos fossem analisados em Fortaleza ou na capital da república, José Marrocos os furtou e escondeu em sua casa, na cidade do Crato, onde foram encontrados após sua morte junto com um manual escrito em francês que ensinava como produzir sangue artificial através de processos químicos.

No artigo, Antônio Gomes lança mão de vários adjetivos para predicar Maria de Araújo: “astuta,” “sonsa,” “embusteira,” “solerte,” “tintureira,” “curiboca,” “co-burlã,” “atriz,” “co-taumaturga.” O historiador lhe atribui papel de coadjuvante nos eventos miraculosos, pois para ele o principal responsável pela fabricação do milagre foi José Marrocos que era homem e supostamente cortejava Maria de Araújo, isto é, o historiador chega a aludir durante vários trechos do seu artigo que Maria de Araújo e José Marrocos entretinham uma relação amorosa espúria e sendo uma mulher fraca e de raça inferior Maria de Araújo deixou se arrastar pelos galanteios e pela mente maquiavélica de José Teles Marrocos.

Segundo o historiador brejossantense “José Marrocos osculava a mão de Maria de Araújo,” “Assim, Maria de Araújo não era tão negra e sem atrativo, que não atraísse os encômios babados, de seu simulado devoto [José Marrocos]. (GOMES, 1956). A defesa que o padre e historiador Antônio Gomes faz da ação de dom Joaquim José Vieira no combate aos milagres de Juazeiro estende-se ao padre Cícero Romão Batista que segundo ele foi uma vítima dos dois embusteiros e amantes, pois foi induzido pelo primo José Marrocos e pela sua protegida Maria de Araújo a acreditar nos milagres.

Os argumentos do historiador Antônio Gomes são fundamentados pela autoridade de pessoas que segundo ele são fidedignas, pessoas com as quais ele conviveu e que representaram ao longo da primeira metade do século XX, os melhores homens e os melhores caracteres do Cariri cearense. São padres, políticos e intelectuais caririenses cuja palavra não podia ser posta em dúvida, por isso ele invoca permanentemente os nomes e os testemunhos no artigo-processo-crime contra José Marrocos e Maria de Araújo.

Na década de 1960 a estratégia de invisibilização e esquecimento do protagonismo histórico de Maria de Araújo seria aprofundado com construção na Serra do Catolé (hoje o Geossítio do Horto) do monumento em homenagem ao padre Cícero Romão Batista que desde a década de 1930 era alvo da devoção popular a quem se atribuía realização de milagres e a santidade, além disso a publicação do livro Milagre em Joaseiro do historiador norte americano Ralph Della Cava consolidou nos meios acadêmicos a figura de Cícero Romão Batista como o protagonista da história do movimento político-religioso de Juazeiro.

No livro de Ralph Della Cava a beata Maria de Araújo aparece apenas como a mulher em quem o padre Cícero Romão Batista realizava o milagre da hóstia ou quando muito a mulher na qual ele, o homem santo, testemunhava a realização de um milagre. Além disso, Ralph Della Cava contribuiu para difusão de um equívoco com relação a imagem de Maria de Araújo, pois sendo esta sempre descrita nos documentos do século XIX e início do XX, como uma mulher negra, Della Cava apresenta-nos uma outra fotografia desta, agora a de uma mulher branca com crucifixo nas mãos, como sendo a beata dos milagres.

Na primeira imagem a direita vemos uma mulher branca com um crucifixo nas mãos, representando uma beata das muitas que havia em Juazeiro na primeira metade do século XX, esta imagem foi divulgada pelos historiadores Antônio Gomes e Ralph Della Cava como sendo a fotografia de Maria de Araújo, na segunda imagem a esquerda vemos a fotografia de uma mulher negra que tradicionalmente se considera como sendo a original da beata dos Milagres. (Imagens da Internet).


A divulgação desta imagem já havia sido feita pelo historiador Antônio Gomes de Araújo como ilustração ao seu artigo “Apostolado do embuste.” A divulgação desse suposto retrato de Maria de Araújo como mulher branca destoando completamente da representação discursiva dos documentos do Inquérito I e Inquérito II, bem como das descrições dela feita pelas pessoas que a conheceram e pelas cartas de Cícero Romão Batista e até mesmo da fotografia considerada autêntica dela vestindo um hábito preto, em pé a poiada numa cadeira, tinha como principal objetivo criar uma ambiguidade em torno da memória de sua imagem, facilitando assim o seu esquecimento.

Repercutindo ainda mais a estratégia de apagamento da imagem de Maria de Araújo o filme Padre Cícero e os milagres de Juazeiro (1975) de Hélder Martins de Moraes, veicula uma imagem cada vez mais branqueada dela, pois a pessoa convidada para interpretar esta personagem no cinema foi a atriz e escritora Ana Miranda, uma mulher branca e que representava para as telas do cinema o estereótipo da beleza aceitável numa obra de arte cinematográfica.

Em 1984 a representação de Maria de Araújo como uma mulher branca, frágil e que foi o veículo dos milagres do padre Cícero foi massificada com a transmissão pela Rede Globo de Televisão, da minissérie “Padre Cícero”, que trazia a atriz Débora Duarte como a atriz coadjuvante que interpretava Maria de Araújo. Por ocasião da exibição da minissérie popularizou-se por todas as regiões do país a imagem do padre Cícero como um homem cercado santo que foi injustiçado pelas autoridades intolerantes e discricionárias da igreja católica retrógrada vinculada a um tradicionalismo antimoderno.

Foi assim que a representação de Maria Magdalena do Espírito Santo Araújo chegou ao século XXI. Completamente invisibilizada, sua memória e sua história apagadas, sua imagem envolta sob as brumas da ambiguidade, e muitas vezes confundida com a beata Mocinha, governanta da casa do padre Cícero.

Maria de Araújo teve seu protagonismo negado para que a figura de Cícero Romão Batista como homem, político e representante do clero pudesse emergir para a história do Brasil e também ganhasse as condições necessárias de galgar da oralidade da cultura popular do Nordeste brasileiro até as páginas das hagiografias da Igreja Católica Apostólica Romana, pois como o definiu o historiador Antônio Gomes, ele foi apenas um padre piedoso e de boa-fé que o químico José Marrocos e sua comparsa Maria de Araújo enganaram.

A mobilização de discursos e narrativas foi tão eficaz sobre a história de Maria de Araújo que quase cento e dez anos após sua morte seu cadáver continua desparecido, seu protagonismo continua apagado da historiografia e seu nome e sua imagem envoltos nas sobras do esquecimento.

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, Antônio Gomes de. Apostolado do embuste, A Província Editora, Crato, 2014.

CAVA, Ralph Della. Milagre em Joaseiro, Paz e Terra. Rio de Janeiro, 1977.

NETO, Lira. Padre Cícero: poder, fé e guerra no sertão, Companhia das Letras, São Paulo, 2009.

PEIXOTO, Alencar. Joazeiro do Cariry, Editora IMEPH, Fortaleza, 2011.

http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=029033_06&Pesq=milagre%20de%20joazeiro&pagfis=23147 (acesso em 06 de maio de 2023, 10h30min.)

5 de maio de 2023

Conheça 10 deputadas que são contra a igualdade salarial entre homens e mulheres

 

(FOTO | Reprodução).


Dez deputadas de direita, alinhadas com o bolsonarismo, votaram contra o Projeto de Lei do governo Lula que prevê que as empresas sejam obrigadas a pagar salário idêntico a homens e mulheres desempenhando a mesma função, sob pena de multa. O projeto foi aprovado nesta quinta-feira na Câmara e vai ao Senado, com o voto contrário de 36 deputados da direita ou extrema direita. Votaram a favor 325 parlamentares.

As deputadas mulheres que votaram contra foram: Adriana Ventura (Novo-SP), Any Ortiz (Cidadania-RS), Bia Kicis (PL-DF), Carla Zambelli (PL-SP), Caroline de Toni (PL-SC), Chris Tonietto (PL-RJ), Dani Cunha (União-RJ), Julia Zanatta (PL-SC), Rosângela Moro (União-SP) e Silvia Waiãpi (PL-AP). Guardem estes nomes para rechaçar na próxima eleição.

inda se entende que um homem seja a favor das mulheres ganharem menos. Mas uma mulher? Como é que pode? Fica a sugestão para as deputadas que votaram contra a igualdade salarial: ganhem menos que seus colegas homens! Ou isso só vale para suas eleitoras?

A desculpa esfarrapada que estas parlamentares mulheres estão dando para votar contra um projeto de interesse do seu próprio gênero é que "a lei já existe", se referindo a um artigo da CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas), destroçada desde o golpe contra Dilma Rousseff pela própria direita. Mas o projeto que Lula enviou ao Congresso tem uma inovação fundamental: altera a CLT para tornar obrigatória a equiparação salarial entre homens e mulheres. A empresa que não cumprir será multada.

O texto aprovado também determina que empresas com mais de 100 empregados publiquem, a cada 6 meses, relatórios de transparência salarial. “Falar de igualdade salarial é falar sobre a emancipação das mulheres", disse a relatora Jack Rocha (PT-ES). “Este será mais um passo para avançarmos no enfrentamento à desigualdade no ambiente de trabalho, que se aprofundou durante a pandemia de Covid-19.”

Além disso, ao apresentar o projeto, o governo federal concluiu o processo de adesão à EPIC (Coalizão Internacional de Igualdade Salarial), que envolve entidades como a OIT, a ONU Mulheres e a OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico). Outra mentira que vem sendo repetida pela direita e extrema direita para justificar a oposição à equidade salarial é que "não existe mais" desigualdade salarial entre homens e mulheres, o que é desmentido pelos números oficiais sobre o tema no Brasil e no mundo.

De acordo com a ONU, se os governos dos países não contribuírem para acelerar o processo, como Lula fez agora, a desigualdade salarial entre homens e mulheres levará 257 anos para acabar. Atualmente, segundo o IBGE, as mulheres brasileiras ganham em média 20,5% que os homens exercendo o mesmo cargo. Em algumas áreas, como a agricultura e o comércio, a diferença ultrapassa os 35%.

A situação é ainda mais desigual para as negras: mulheres negras com ensino superior recebem 55% menos que homens brancos com o mesmo grau de escolaridade. Por isso o projeto prevê que, se for comprovada a discriminação em função de raça, etnia ou gênero, "além do pagamento das diferenças salariais devidas, o juízo determinará o pagamento de multa cujo valor equivalerá ao décuplo do maior salário pago pelo empregador, elevado em 100% em caso de reincidência".

O voto destas mulheres de direita e extrema direita contra um projeto que beneficia as próprias mulheres espanta, mas não surpreende: o presidente em quem todas elas votaram e felizmente não foi reeleito já defendeu que mulher tem que ganhar menos porque engravida. Mas ainda se entende que um homem seja a favor das mulheres ganharem menos, afinal ele vai continuar a ganhar um salário acima do delas. Mas uma mulher que defende isso? Como é que pode?

Fica a sugestão para as deputadas que votaram contra a igualdade salarial: ganhem menos que seus colegas homens! Ou isso só vale para suas eleitoras?

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Com informações da Revista Fórum e Agência Câmara.