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63 anos de emancipação política de Altaneira. (FOTO/ Fabrício Ferraz). |
Por Nicolau Neto, editor
O
Município de Altaneira, localizado na microrregião serrana de Caririaçu e na
Região do Cariri possui, segundo estimativas de 2020 do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), uma população equivalente a 7.650 habitantes e
veio a ganhar autonomia política e administrativa no dia 18 de dezembro de 1958
segundo a historiografia contada pelas elites da época e sustentada ainda hoje.
De
acordo com as explicações dessas fontes e de alguns populares mais velhos, a
formação desse território que posteriormente veio a ser denominado de Altaneira
teve início nos anos finais do século XIX, quando os primeiros habitantes
começaram a ocupar a área em 1870. Com a fixação e organização desses povos
formou-se um povoado que levou o nome de Santa Tereza. Esta posteriormente foi
concebida como a padroeira do município. Segundo as mesmas fontes, as primeiras
famílias a se estabelecerem na localidade tinham como chefes João Bezerra,
Manoel Bezerra, Joaquim de Almeida Braga, José Almeida Braga, além de José
Braz, Firmino Ferreira Lima e João Correia de Araújo. O que permite perceber
laços familiares no molde patriarcal.
Antes
de se tornar independente politicamente o povoado da vila Santa Tereza foi
subordinado aos municípios de Quixará (hoje Farias Brito) e Assaré. A historiografia local, seja por intermédio
de fontes orais ou escrita, são poucas e até ineficiente para se ter um relato
mais preciso e as que estão a disposição acabam não revelando uma luta pela
independência fervorosa e ou, com grandes conflitos armados. O que leva a perceber a necessidade de um
estudo mais aprofundado para se analisar a historiografia local.
Levando
em consideração esses os relatos, pode-se afirmar que o povoado foi elevado a
categoria de distrito pela lei estadual nº 1153, de 22 de novembro 1951, sendo
pertencente ao município de Quixará. Pela lei estadual nº 2194, de 15 de dezembro de 1953, o distrito de Altaneira
passou a fazer parte do município de Assaré. Toda via, o ponto auge é atingido
somente em dezembro de 1958 quando, de fato, o distrito passa a se tornar
município de Altaneira. O Padre David Augusto Moreira é apontado como o
responsável pela denominação do Município. Ainda no que toca ao processo de
autonomia política, ocorreu em virtude do Projeto de Lei nº. 299/58, cujo o
autor foi o Dep. Cincinato Furtado Leite, nome que, inclusive foi dado ao
plenário da Câmara.
Segundo
as informações de populares mais antigos e de algumas fontes escritas a
religiosidade é uma conotação ávida e se faz presente com vigor ainda hoje. Nas
primeiras décadas do século passado foram dados os primeiros passos para a
construção de uma capela no distrito, sendo que a primeira missa campal se deu
em 1937 sob a organização do Padre Joaquim Sabino Dantas.
Durante
mais de meio século de história, Altaneira já passou por grandes
acontecimentos, a maioria deles ligados a política partidária. Entre o final de
2010 e início de 2011 o município passou pelo momento mais conturbado e
complicado da sua curta história. Antonio Dorival de Oliveira, prefeito no
período, foi cassado por abuso de poder político (acusado de distribuir vales
de combustível durante o processo eleitoral de 2008 com dinheiro público). Em virtude disso, em um período de um ano os
munícipes foram as urnas duas vezes, uma em 2011, na eleição suplementar e, outra
em outubro do ano seguinte, para elegerem seu novo gestor.
Em
2020, em plena pandemia, a cidade sofreu mais um abalo politicamente e
acreditou-se que o município teria em sua curta história mais um caso de
prefeito afastado do cargo quando em uma operação secretários e empresários
foram presos por suspeitas de fraudes em licitação. A operação recebeu o nome
de “Salus.”
Em
63 anos de História nenhuma mulher chegou a ocupar o cargo de prefeita. As mulheres,
inclusive, estão ausentes na história tradicional que conta a formação do
município, fato que em nada se diferencia dos acontecimentos contados sobre a formação
do Brasil. Essa lacuna precisa ser preenchida. Alias muitas lacunas precisam
ser preenchidas, a exemplo do papel das populações negras, dos homens e mulheres
que não pertenciam às elites políticas e econômicas nesse jogo de poder.
Foucault,
por exemplo, um dos filósofos mais estudados quando o assunto é poder, destaca
que o poder ajuda a identificar sujeitos. Na relação de poder, os sujeitos
atuam sobre os outros sujeitos, estabelecendo uma relação de dominação. Poder
é, portanto, dominação. E essa sobrepõe verdade que precisa ser contada e
recontada. Nas sociedades capitalistas, quem tem dinheiro tem poder, tem
dominação e as impõe. As histórias contadas são as histórias dos “vencedores”,
nunca a dos “vencidos”. E é aqui que reside o papel dos historiadores e das
historiadoras – o de demonstrar e analisar essas relações de poder. É contar a história
por outro viés e lembrar, como constatou o historiador inglês Peter Burke, que
nossa função é “fazer lembrar aquilo que
a sociedade quer esquecer.”