4 de dezembro de 2021

Brancos ganham 73% a mais que os negros em 2020, aponta IBGE

Covid-19 vitimou mais pessoas negras – Foto: Thomas de LUZE/Unsplash.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) publicou um levantamento nesta sexta-feira (3), com base nos dados da Síntese de Indicadores Sociais, revelando que as desigualdades entre pessoas brancas e negras aumentou no primeiro ano de pandemia.

O estudo mostra que o rendimento médio da população negras foi de R$ 1.764, já a renda média das pessoas brancas ficou em R$ 3.056, 73,3% maior, em números absolutos. Os homens tiveram uma renda de R$ 2.608, contra R$ 2.037 das mulheres, representando uma diferença de 28,1%.

Em relação ao mercado de trabalho, 53% da força de trabalho, segundo o IBGE, é formada por pessoas negras, mas os salários são abaixo dos brancos. Além disso, o levantamento mostrou também que 64,5% do total de desempregados são pessoas pretas ou pardas. Os dados do IBGE mostram também que 67,3% dos jovens de 15 a 17 anos, estudantes brancos, tiveram acesso a computador, notebook e internet simultaneamente. Já entre os pretos e pardos, esse número cai para 46,8%.

Pandemia e saúde

O levantamento também mostrou que os negros morreram mais que os brancos durante a pandemia da Covid-19. Segundo dados do Ministério da Saúde, na faixa abaixo de 70 anos, o coronavírus tirou a vida de 57.681 homens pretos ou pardos e matou 56.942 homens brancos. “A variação do número de óbitos está relacionada ao estilo de vida individual e às condições de vida de grupos sociais. Pretos e pardos têm menor acesso a serviços de saúde e, portanto, menores condições de prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças”, afirma Leonardo Athias, analista da pesquisa do IBGE.

A Covid-19 atingiu mais a população idosa, mais branca, mas mesmo isso não impediu que morressem mais homens pretos ou pardos, o que evidencia o menor acesso a tratamento”, conclui Athias.

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Com informações do Notícia Preta.

3 de dezembro de 2021

“Há um silenciamento muito grande quando o tema é racismo”, diz professor Nicolau Neto no Papo Social Podcast

 

"Há um silenciamento muito grande quando o tema é racismo", diz professor Nicolau Neto no Papo Social Podcast. (FOTO/ Silvan Mendes).

Por Valéria Rodrigues, Colunista

No último domingo, 28 de novembro, o professor, fundador e editor deste Blog, Nicolau Neto, esteve participando do “Papo Social Podcst”. O programa é uma idealização da Fundação Educativa e Cultural ARCA (Altaneira-Ce) e tem como mediador o educador social Fábio Barbosa e na produção e edição o também educador social Silvan Mendes.

O “Papo Social Podcast”, segundo Fábio Barbosa, foi pensado inicialmente apenas com áudio, mas posteriormente houve a necessidade de transformá-lo em audiovisual e divulgação das conversas no canal de mesmo nome no YouTube. Nomes como o do professor universitário Carlos Alberto Tolovi, do ativista político Paulo Henrique Maia, da nutricionista Maria Vilar e do poeta Zé Mariano já passaram por lá.

As pessoas que eu chamo no Papo Social Podcast elas têm uma representação dentro da comunidade seja no âmbito cultural ou educativo ou em lutas. O Nicolau é um ativista em favor da população negra. Então, o Papo Social vem aqui para dar ênfase as pessoas que tem um papel fundamental dentro da nossa comunidade”, disse o Fábio ao apresentar o professor Nicolau.

Nicolau conversou sobre seu ativismo, suas palestras pelo cariri e fora do Estado do Ceará, sobre a construção e a simbologia do Dia Nacional da Consciência Negra, a Lei 10.639/2003 e do Plano de Combate ao Racismo e de Promoção da Equidade em Altaneira, além da sanção da recente lei que transformou o dia 20 de novembro em feriado municipal em Altaneira, sendo este município pioneiro no Ceará nessas duas últimas conquistas.

Fábio perguntou sobre como a população negra é vista nos livros didáticos e como a lei citada pelo professor Nicolau está sendo aplicada nas escolas. Para o professor, a lei por si só não é o bastante. É preciso formação para a comunidade escolar. No entanto, Nicolau foi taxativo ao discorrer que “há um silenciamento muito grande nas escolas públicas e particulares do Brasil quando o racismo é a temática. O silêncio impera no Brasil quando esta é a temática."

Para acompanhar o bate-papo é só assistir ao vídeo disponível no Canal do YouTube do Papo Social Podcast abaixo:

             

Troca no Arquivo Nacional intimida servidores e ameaça acervo da ditadura, dizem especialistas

 

Novo diretor não tem experiência em arquivologia, bilbioteconomia ou história, áreas correlatas às atividades do Arquivo Nacional - Gov.BR/Divulgação.

O Ministério Público Federal (MPF) anunciou, em 24 de novembro, a abertura de uma investigação para apurar a nomeação de Ricardo Borda D’Água Braga para o cargo de diretor-geral do Arquivo Nacional, órgão federal vinculado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, com sede no Rio de Janeiro.

A decisão é contestada por entidades ligadas à arquivologia, ciência da informação e história, que alertam para o descumprimento de um decreto que exige experiência na área para ocupar o cargo, além de possíveis interferências em documentos sobre a memória recente do Brasil, como os acervos do período da ditadura militar (1964-1985) e sobre as populações indígenas.

A exoneração da bibliotecária Neide de Sordi – seguida da nomeação do desconhecido Braga aos cargos de diretor geral do Arquivo Nacional e presidente do Conselho Nacional de Arquivos (Conarq) – acendeu um sinal de alerta na oposição e em grupos ligados à preservação da memória e motivou a divulgação de uma nota conjunta, contestando a decisão e exigindo explicações.

O pesquisador Marcelo Zelic, membro da Comissão Justiça e Paz e fundador do Armazém Memória, comemora a abertura de investigações sobre o caso por parte do MPF, mas se mantém receoso com a falta de ligação de Braga com as áreas que comandará e com a possível interferência em patrimônios valiosos à memória do país.

O receio grande que a gente tem é que ao se priorizar, como se priorizou em inúmeras nomeações do governo Bolsonaro, pessoas sem trajetória nessa área, é que seja um trabalho de desestruturação”, alerta Zelic.

O pesquisador também levantou a possibilidade de que o novo chefe do Arquivo Nacional dificulte o acesso ou até mesmo interfira na documentação histórica: “Há a possibilidade de censura de documentação, você tem a possibilidade de começar a sumir a documentação. Não é difícil sumir documentação nesse país”.

Segundo Georgete Rodrigues, professora de Arquivologia da UnB (Universidade de Brasília) e membro do FNArq (Fórum Nacional das Associações de Arquivologia do Brasil), uma das signatárias da nota, o Arquivo Nacional possui uma base sólida e capaz de conter eventuais excessos da nova gestão.

A especialista também desconfia das qualificações de Braga, cujo currículo permanece desconhecido, sabendo-se apenas que possui uma empresa de consultoria e treinamento em segurança, além de participar de torneios de tiro esportivo.

“Se você colocar alguém ligado à segurança, alguém que é ligado ao atual ministro da Justiça, existe sim a possibilidade de interferência. Agora a possibilidade de destruição do documento eu acho que é muito difícil. A não ser que se provoque um incêndio. Você tem os próprios servidores do Arquivo Nacional que devem ficar vigilantes, há também boa parte do material digitalizado e espalhado em outras redes”, afirma Rodrigues.

O descumprimento de decreto que determina experiência acadêmica na área para o cargo de diretor geral do órgão também é objeto de preocupação por parte de parlamentares de oposição, que também são alvo de investigação do MPF.

A deputada federal Erika Kokay (PT-DF) diz que o caso remete à crises também de caráter ideológico em outras áreas do governo, como “a Fundação Palmares, os Ministérios do Meio Ambiente, Educação e das Mulheres”.

Nós estamos elaborando uma representação calcada em qual aspecto legal está desrespeitando a própria legislação. Então nós estamos fazendo um requerimento de informação, vamos tentar fazer uma audiência pública e, ao mesmo tempo, uma representação no Tribunal de Contas”, enumera a deputada, que pretende “utilizar todos os instrumentos disponíveis para tentar impedir esse golpe contra o Arquivo Nacional e contra a memória do povo brasileiro.”

Relevância do acervo

O Arquivo Nacional, órgão responsável pela preservação e difusão de documentos da administração pública federal, tem sua sede no Rio de Janeiro e uma unidade de coordenação regional em Brasília, além de abarcar arquivos municipais, estaduais e privados de relevância pública. Ao todo, são mais de 55 km de documentos textuais, 1,74 milhão de fotografias e negativos, milhares de filmes e outras relíquias disponíveis a pesquisadores e a qualquer cidadão, em formato físico e digital.

Beatriz Kushnir, pesquisadora e membro da Anpuh (Associação Nacional de História-RJ), relembra que o Arquivo Nacional brasileiro é referência na área de arquivologia em toda América Latina e enaltece a importância do órgão em sua trajetória acadêmica.

Desde 1981, eu recorro ao Arquivo Nacional para fazer as minhas pesquisas, desde o doutorado até os pós-doutorados que fiz depois. É, sem dúvida, uma instituição fundamental para qualquer pesquisador no Brasil. Não existe um pesquisador no Brasil que não passe pelo Arquivo Nacional durante a elaboração de seus trabalhos”, afirma.

Georgete Rodrigues, que assim como Kushnir também possui vasta obra relativa ao período da ditadura militar, também ressalta a particularidade da gestão brasileira sobre o Arquivo Nacional, que é o vínculo institucional com Ministério da Justiça e Segurança Pública.

Na maioria dos países, esse órgão é vinculado ao Ministério da Cultura, por essa forte carga histórica e cultural”, pondera a pesquisadora que reforça o assédio de emissários do governo Bolsonaro na “tentativa de dizer que não houve tortura, que não houve ditadura, que se justifica uma comemoração pública de 1964”.

Rodrigues acredita que a nomeação de Ricardo Borda D’Água Braga, por si só, já passa uma mensagem clara e direta: “Colocar alguém ligado à segurança é um processo intimidatório, tanto para os próprios servidores do Arquivo Nacional como para quem pesquisa, como para dizer ‘olha quem está tomando conta disso agora’”.

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Com informações do Brasil de Fato. Clique aqui e leia o texto completo.

2 de dezembro de 2021

Racismo estrutural: O que significa e como combatê-lo?

 

(FOTO/ Reprodução).

"O grande valor do conceito de racismo estrutural é a compreensão de que o racismo não é um desvio da estrutura, mas sim, a própria estrutura. É a ética pela qual se fundamenta de maneira estruturante as relações desiguais entre pessoas brancas e pessoas negras, ou indígenas". A fala é de Bruna Rocha, doutoranda e mestra em Comunicação e Cultura Contemporâneas, e CEO da plataforma Semiótica Antirracista.

O professor, fisósofo e doutor em Direito Silvio de Almeida, uma das referências sobre o tema no país, define que “todo o racismo é estrutural porque o racismo não é um ato, é um processo em que as condições de organização da sociedade reproduzem a subalternidade de determinados grupos que são identificados racialmente".

Para entender as raízes do racismo estrutural no Brasil e como essa história começou e se perpetua até os dias de hoje, de acordo com Silvio, é necessário revisitar os períodos entre o século 16 ao século 19, em que foi instituída a escravidão, marcada principalmente pela exploração forçada da mão de obra de negros e negras sequestrados do continente africano e feitos de escravos pelos europeus colonizadores no Brasil.

Os mais de 300 anos de escravidão no Brasil, condição que só chegou ao término por conta da resistência dos negros escravizados, somado ao interesse econômico internacional, deixaram marcas profundas de desigualdade em todas as estruturas de poder no país. Segundo o autor do livro "Racismo Estrutural", essa desigualdade orienta e conduz, até os dias de hoje, as relações econômicas, sociais, culturais e institucionais do país.

O racismo estrutural não é só uma questão moral, não é uma questão jurídica, não é uma questão somente econômica”, ressalta Silvio, em conversa com a filósofa Djamila Ribeiro, disponível no YouTube.

No período pós-abolição, em 1888, pessoas negras não tiveram acesso à terra, indenização ou reparo por tanto tempo de trabalho forçado. “Muitos permaneceram nas fazendas em que trabalhavam em serviço pesado e informal. Foi a partir daí que se instalou a exclusão de pessoas negras dentro das instituições, na política, e em todos os espaços de poder”, complementa o jurista.

O racismo estrutural também surge a partir de um pressuposto de superioridade de raças, onde a raça ariana (branca) é colocada em posição de maior importância em relação às outras, lembra “Fato que já foi biologicamente derrubado pela ciência e, ainda assim, persiste o racismo enquanto um processo histórico, que se baseia na opressão, na dominação e no acesso desigual às oportunidades e direitos”, considera Bruna, a mestra em Comunicação e Cultura Contemporâneas.

Racismo estrutural em números

Segundo Bruna, a violência institucional ou do Estado, insegurança, criminalização dos territórios, acesso ao mercado de trabalho e educação, em relações interpessoais, na relação das pessoas negras com a cidade e até mesmo nas ruas fazem parte do racismo estrutural.  A desigualdade racial no Brasil persiste devido a fragilidade de políticas públicas para o seu enfrentamento. É o que diz o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com informações do instituto, os negros representam 70% do grupo abaixo da linha da pobreza do Brasil.

Já a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Educação) mostra que 71,7% dos jovens fora da escola são negros, e apenas 27,3% são brancos. O mesmo estudo demonstra a desigualdade de acesso à educação nos índices de analfabetismo: 3,6% das pessoas brancas de 15 anos ou mais eram analfabetas em 2020, enquanto entre as pessoas negras esse percentual chega a 8,9%.

Quanto à violência, a chance de uma pessoa negra ser assassinada no Brasil é 2,6 vezes superior àquela de uma pessoa não negra. A taxa de homicídios por 100 mil habitantes negros no Brasil em 2019 foi de 29,2, enquanto a da soma dos amarelos, brancos e indígenas foi de 11,2, segundo os dados do Atlas da Violência 2021.

Muitas vezes ele [racismo] pode vir apenas no olhar, em outras, em uma abordagem policial violenta. Pode vir num contexto de fome, de pobreza, de viver em um território ou casa que não tenha condições adequadas de sobrevivência, ou não ter acesso a lazer e cultura”, avalia Bruna.

A PNAD Contínua ainda aponta que o percentual de desemprego entre as pessoas pretas em 2020 foi de 17,2%, enquanto a dos pardos foi de 15,8%, ambas acima da média nacional (13,9%). Já a taxa dos brancos de (11,5%), ficou abaixo da média. A taxa de desocupação de 2020 cresceu 1,62 ponto percentual em relação ao ano anterior, mas entre pessoas pretas e pardas a alta foi maior, de 2,6 e 1,75 pontos percentuais, respectivamente.

Como combater o racismo estrutural?

No Brasil, existem leis que protegem a população negra juridicamente. A Constituição possui a Lei 7.716/1989, que torna inafiançável e imprescritível o crime de racismo, e o Art. 140 do Código Penal abrange os delitos de injúria racial. Contudo, de acordo com a doutora em Educação pela Universidade de São Paulo (USP), Adriana Moreira, é necessário pensar em estratégias e instrumentos para combater efetivamente o racismo estrutural na sociedade.

Precisamos entender os motivos dos meninos negros saírem mais cedo da escola do que os garotos brancos, por exemplo, ou porque negros morreram mais na pandemia, ou porque a polícia atinge mais os corpos negros do que os brancos. São questões fundamentais, que quando a gente discute a estruturação dos processos, constrói a racionalização das instituições e das relações institucionais e interpessoais, ajuda a pensar em possibilidades de desfazer os processos”, argumenta Adriana.

A ausência de negros e negras em cargos de lideranças nas maiores empresas do país mostra que o racismo estrutural atua em diversas dimensões e camadas, segundo a doutora Adriana. Ele estrutura a sociedade a partir da desvalorização e restrição de oportunidades de pessoas negros a na ascensão social.

Uma pesquisa do Centro de Liderança Pública (CLP), no entanto, aponta que seis medidas fundamentais podem ser adotadas para minimizar os efeitos do racismo estrutual no pais. O primeiro aspecto é reconhecer que o racismo é um problema estrutural e, diante disso, adotar uma postura institucional antirracista. O estudo mostra que a negação e naturalização do racismo são fatores que contribuem para a sua perpetuação. Dito isso, a luta contra a desigualdade racial não deve ser uma pauta exclusiva de um grupo formado por aqueles diretamente afetados, "mas um compromisso de todo e qualquer cidadão".

A segunda medida eficaz, de acordo com a análise, é garantir representatividade de raças e etnias nos espaços coletivos de decisão, como conselhos e órgãos colegiados, a fim de deixar que as minorias nesses locais falem por seus próprios interesses, sem a necessidade de porta-voz. Além disso, o CLP aponta a promoção de atividades formativas com foco na redução de preconceitos e estereótipos de raça como essencial para fomentar o conhecimento e diminuir a desigualdade.

Outro ponto é incluir a diversidade de raça como um critério para a ocupação de cargos de liderança nas grandes empresas, criar programas de qualificação de preenchimento e coleta de dados sobre a população negra em geral e falar de políticas públicas transversais, a fim de enxergar que a realidade social é diversa e complexa.

Em termos práticos, de acordo com o estudo, uma política de redução de disparidades de renda e redução da pobreza, por exemplo, precisa estar associada a ações afirmativas em educação e de ampliação do acesso à saúde para que seja efetiva. "Logo, é necessário um olhar cuidadoso por parte dos gestores públicos e a atuação integrada de diferentes setores do Governo".

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Com informações do Alma Preta.

30 de novembro de 2021

Mulheres convocam manifestação nacional “Bolsonaro nunca mais” para 4 de dezembro

 

A lista de locais e horário das cidades confirmadas será divulgada na página @forabolsonaronacional - (FOTO/Jorge Araujo).

 Bolsonaro nunca mais”: com esse mote, mais um chamado nacional é feito para a tomada das ruas pelo impeachment do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Dessa vez a convocatória do ato, marcado para 4 de dezembro, é feita por mulheres das entidades que compõem a Campanha Nacional Fora Bolsonaro, articulação que organizou seis manifestações ao longo do ano.

“O ataque que as mulheres têm sofrido no governo Bolsonaro é inegável”, diz o chamado para o ato, assinado por 29 organizações. Entre elas, estão a Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB), a Marcha Mundial de Mulheres (MMM), o Movimento Negro Unificado (MNU), o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e a União de Negras e Negros pela Igualdade (Unegro).

Assinam também a convocatória os setoriais de mulheres do Partido dos Trabalhadores (PT), do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e da Central de Trabalhadoras e Trabalhadores do Brasil (CTB).

Inspirada na campanha #EleNão, que realizou massivos atos feministas contra Bolsonaro no período eleitoral em 2018, a mobilização atual realizou, como processo preparatório, uma plenária online no dia 23 de novembro. Houve a participação de 470 pessoas de diferentes partes do país.

De acordo com Sonia Coelho, da Sempreviva Organização Feminista e da MMM, entre as cidades com o ato já confirmado figuram, ao menos, Recife (PE), Natal (RN), Fortaleza (CE), Curitiba (PR), Porto Alegre (RS), Belo Horizonte (MG), São Paulo (SP), Campinas (SP), Santos (SP), Brasília (DF) e Palmas (TO). 

"É importante a gente tirar o Bolsonaro, nem que seja um dia antes dele terminar o governo dele”, afirma Sonia, para quem “é impossível continuar convivendo com um governo que destrói vidas e direitos todos os dias”.

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Com informações do Brasil de Fato.

29 de novembro de 2021

'Ou ia pra aula ou comia': como insegurança alimentar está prejudicando universitários brasileiros

 

Estudante de fonoaudiologia, Franciele Rodrigues diz que tem dificuldade para comer desde que entrou na universidade, em 2013 — mas situação piorou na pandemia. (FOTO/ Tiago Coelho/ BBC).

Ao sair com sua bicicleta para fazer entregas de comida a serviço de um aplicativo, a universitária Franciele Rodrigues, 29 anos, "reza" para receber algum pagamento em dinheiro — e, com isso, ter ela mesma alguma quantia em mãos para garantir sua alimentação para os próximos dias.

Ela concilia a graduação em fonoaudiologia na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) com bicos de entregadora na capital gaúcha porque, desde que deixou de viver com sua família na periferia de Porto Alegre e se tornou universitária, "o bicho pegou" na tentativa de atender sozinha suas demandas de estudo, moradia e sustento.

Tudo isso se reflete em uma situação que ela conta já durar anos: ela vem comendo pouco e mal, o que já gerou consequências para sua saúde.

"Entrar na faculdade representou deixar de trabalhar e deixar de ter cuidado com minha saúde. Quando saí da casa dos meus pais e entrei na universidade, foi a primeira vez que precisei racionar comida para ter por mais tempo e diminuir a qualidade da minha dieta para ter o que comer no dia seguinte", contou Franciele por telefone à BBC News Brasil, dizendo já ter passado alguns dias sem comer nada nessa trajetória, além de ter tido anemia.

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As informações são da BBC News Brasil. Clique aqui e leia a íntegra do artigo.

27 de novembro de 2021

Uma história Afirmativa. As cotas raciais 20 anos depois

 

(FOTO/ Joshua Mcknight)

No ano de 2001 vivíamos o limiar de transformações sociais importantes por conta da entrada em vigor de uma lei que instituiu o sistema de cotas raciais nas universidades estaduais do Rio de Janeiro. Há, nesta história, muitos significados, mas destacamos alguns. Com as cotas, pela primeira vez estudantes negros ingressariam de forma significativa no ensino superior, mormente em cursos mais elitistas como Direito, Medicina, Engenharia, etc. Além de tornarem mais democrático o acesso às instituições, as cotas também começariam a trazer um novo desafio para as políticas públicas brasileiras.

A construção de políticas públicas antirracistas no Brasil se insere num contexto de lutas que paulatinamente fazem com que as desigualdades raciais se tornem um desafio para o Estado Brasileiro. Neste contexto, nas últimas décadas, leis foram produzidas, políticas de promoção da igualdade foram criadas e o Supremo Tribunal Federal legitimou esse processo garantindo a constitucionalidade das políticas de cotas. Mas vinte anos depois de todas aquelas tensões que embalaram o início deste período de inclusão racial nas universidades do Rio de Janeiro, o que nos cabe dizer?

Ganhamos todos! É num contexto de avanços democráticos antirracistas que devemos assentar os desdobramentos trazidos pelas políticas de cotas. Os opositores, de um modo geral, foram silenciados pelo próprio caráter de inclusão, redistributivo e democrático que estas políticas trouxeram.

Há problemas? Sim. Fraudes, falta de recursos, um monitoramento mais preciso dos impactos das políticas por todo país, além de uma articulação entre as instituições e as empresas para se otimizar a promoção de talentos ávidos por mais oportunidades. Como em toda política contra hegemônica que para se consolidar está sujeita aos mais variados tipos de desafios institucionais, o sistema de cotas precisa e pode ser sempre aprimorado.

Os dados que chegam demonstram avanços significativos no que tange ao aumento de afrobrasileiros nas universidades. As pesquisas apontam que a população negra, de um modo geral, goza de melhores índices educacionais, mas ainda se mantém atrás das pessoas brancas. Neste sentido, a experiencia bem sucedida das cotas revelou a necessidade de construir um sistema de ações afirmativas que contemple um feixe de medidas que vão desde estimular estudantes pobres e negros a ingressarem na graduação, até a pós-graduação e inclusão no mercado de trabalho. Mas quem frequentou as universidades antes das ações afirmativas e volta por lá hoje, se surpreende com o alunado que anda pelo campus. O corpo discente está cada vez mais em sintonia com a diversidade que encontramos na sociedade brasileira.

Podemos dizer que as políticas de ação afirmativa deram certo e se estabilizaram de modo inexorável. Esse fato nos convida a refletir sobre muitos dos seus desdobramentos positivos. As cotas para as pessoas negras, em especial, marcam o fim da democracia racial na educação, democratizam um dos espaços mais importantes para a reprodução do poder e do saber, estimulam nossa juventude a vencer na vida por meio do acesso ao conhecimento crítico, contribuem para diversificar nossas elites e ajudam a transformar a vidas de milhares de pessoas.

Esse processo, ainda em curso, não está mais relacionado somente à graduação. As cotas são medidas poderosas e foram adotadas em mestrados, doutorados, concursos públicos federais, em muitos estaduais e municipais. Em relação ao mercado de trabalho, elas estão desafiando o silêncio corporativo dos que ainda, equivocadamente, pensam que pode haver compatibilidade entre democracia e desigualdade racial.  

Com as cotas, a democratização que o antirracismo promove criou instituições mais justas, uma verdadeira transformação social vem se consolidando, apesar de todo retrocesso dos últimos anos.

O Brasil precisa cada vez mais, reconhecer para libertar. Consignar o consenso de que estudantes negros e pobres a partir das cotas estão mudando a universidade pra melhor, e por elas transformando o país. As ações afirmativas são uma realidade, um fato social potente e democrático, que se desenvolvem em diversas áreas, fomentando a cidadania e tornando possível o que antes delas era impensável.

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Com informações do Notícia Preta.

26 de novembro de 2021

Dos pasquins à internet: jornalismo negro atravessou séculos em luta contra o racismo

 

Imprensa negra sempre debateu desigualdade, violência e racismo no Brasil - WikiCommons

Não é exagero dizer que a imprensa brasileira deve boa parte de sua evolução ao movimento negro. Poucas décadas após o início da prática jornalística no país, a partir da chegada da coroa portuguesa, em 1808, a luta contra o racismo esteve presente e, muitas vezes, chegou a ter papel central no desenvolvimento crítico do setor.

Essa importância, no entanto, não se traduziu em espaço, apoio ou fortalecimento. Embora tenha sido essencial para a construção da comunicação no Brasil, a luta do povo preto foi marginalizada, o que é traduzido na abordagem ainda tímida do racismo e na presença pequena de pessoas negras nas redações e agências.

Em uma pesquisa realizada por iniciativa dos Jornalistas&Cia, Portal dos Jornalistas, Instituto Corda e I’MAX, dados mostram que, entre jornalistas que se declaram pretos, pretas, pardos e pardas, 98% relatam dificuldades para se desenvolver na carreira.

Ainda de acordo com o estudo, a sub-representação é expressiva. Apenas 10% dos e das profissionais de imprensa se autodeclararam negros ou negras. A maior parte dos cargos de coordenação e chefia é ocupado por pessoas brancas, que estão em mais de 60% dessas posições. O cenário se inverte na realidade de trabalhadores e trabalhadoras pretos e pretas, mais de 60% estão na linha de frente da produção de notícias, são repórteres, editoras, editores, produtoras e produtores.

Há disparidade também nos salários. Pouco mais de 20% das pessoas brancas estão na faixa de remuneração mais baixa, entre as pretas, esse percentual ultrapassa 40%. O cenário é resultado de uma realidade que tem suas estruturas baseadas no racismo e que pouco avançou na reparação por séculos de desumanização e escravidão.

No cotidiano de profissionais, esses números viram experiências dolorosas e esforços multiplicados para o crescimento profissional, "tem microagressões que a gente não sabe nem como nomear. É tão sofisticado, que parece que está na nossa cabeça", relata a jornalista Yasmin Santos, pesquisadora em direitos humanos e em questões raciais.

Ela percebe uma melhora gradual na representatividade nas redações, mas lembra que os cargos de chefia e as funções com autonomia para tomada de decisões seguem ocupados predominantemente por homens brancos.

"Existe a sensação de que está melhorando, mas isso não quer dizer que a gente não tem muito a caminhar. Se a gente pega quem são os chefes dessas empresas, a porcentagem de profissionais negros e que cargos eles ocupam, a gente vê ainda uma desigualdade muito grande".

A pesquisadora ressalta que o cenário ideal também passa por remunerações mais justas, "Se a gente vê, por essa pesquisa, que profissionais negros têm dificuldade de crescer dentro da carreira, temos que construir um ambiente de trabalho em que profissionais possam crescer por seus próprios méritos. Que não precisem trabalhar duas, três, quatro, cinco vezes mais, para conseguir o primeiro aumento da carreira cinco anos depois".

A reação

Tentativas de contraponto a essa dinâmica crescem com a internet, espaço que hoje abriga boa parte das experiências de jornalismo negro no país. O Brasil de Fato conversou com jornalistas responsáveis por veículos online que tratam exclusivamente das pautas negras. As mudanças e avanços são celebrados, mas ainda há obstáculos econômicos e políticos.

Uma dessas profissionais, Tânia Regina Pinto, criou o site Primeiros Negros, que nasceu de “um blog sobre o pioneirismo do povo negro” e, hoje, se dedica à promoção do antirracismo, da igualdade e do desenvolvimento das potencialidades de pretos e pretas. Por mais de dez anos, ela escreveu sobre “como é existir”.

No início da pandemia, em conversas com o filho Pedro Otávio sobre os impactos que a crise sanitária causaria ao povo preto, ela decidiu transformar o projeto em um site. De início, Tania e o filho, que é designer e DJ, definiram que a iniciativa operaria com uma equipe totalmente preta.

Eu tenho mais de 40 anos de jornalismo e é a primeira vez que eu trabalho com uma redação totalmente preta. Isso nunca aconteceu. Eu sempre fui a única. Essa meninada que está chegando hoje traz um olhar novo”, celebra.

Pedro Borges, co-fundador e editor-chefe do site Alma Preta, agência de jornalismo especializada na temática racial, também destaca a coletividade preta como ponto fundamental para existência e manutenção do projeto.

O site nasceu a partir de um coletivo de estudantes pretos da Unesp, que se juntou impulsionado pelas discussões sobre cotas raciais em 2014. O nome da página surgiu como um contraponto à expressão racista “preto de alma branca”.

As coisas que estão acontecendo hoje, são coisas que a gente sonhava no começo. Que era a gente, de alguma maneira, criar um espaço para produzir sobre o tema. Mais do que isso, trazer um pouco da centralidade da questão racial e olhar como pano de fundo das desigualdades do país”.

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Com informações do Brasil de Fato. Clique aqui e leia o texto na íntegra.