12 de julho de 2021

Por nossos sonhos e histórias: a Lei de Cotas e sua revisão em 2022

 

(FOTO/ Reprodução).

A Lei de Cotas (Lei n° 12.711/2012), marco histórico na luta do movimento negro e do movimento estudantil, completará dez anos de sua promulgação em 2022 e, como previsto em seu artigo 7°, será revisada pelo Congresso Nacional. Levando isso em conta, é urgente que nós, estudantes, iniciemos desde já a mobilização da população em torno desse debate, sob pena de deixarmos escorrer pelas mãos uma década de avanços notáveis no acesso à educação superior – os quais a elite racista que domina o país e controla o Parlamento quer desfazer –, além da oportunidade de expandir e melhorar as políticas afirmativas já existentes.

Mesmo antes de 2012 algumas universidades já promoviam uma política autônoma de cotas, ancorada no entendimento da Constituição de 1988, que entende a educação como ferramenta de desenvolvimento social, concretizando princípios fundamentais referentes à igualdade e ao combate a desigualdades sociais, ainda que de forma incipiente. Na UFPR, por exemplo, ainda em 2004, foi aprovada a inclusão de cotas raciais na 2ª fase do vestibular, processo no qual o Partido Acadêmico Renovador (PAR), que atualmente ocupa a gestão do Centro Acadêmico Hugo Simas (CAHS) da Faculdade de Direito, teve relevante participação, em que pese as várias limitações desse modelo inicial, incapaz de alterar de forma efetiva a composição da Universidade.

A Constituição Federal de 1988 abarca ideais que devem ser efetivados através de políticas públicas, pois se demonstram centrais para a ordem social do pós-ditadura. A igualdade é um importante valor disposto desde o início, que, em sua modalidade formal, reconhece todos e todas como iguais perante a lei. Porém, há a igualdade material, relativa à concepção que transborda o conteúdo das normas, leis e valores e desafia uma conotação vazia e meramente escrita, trazendo a perspectiva da igualdade de oportunidades e concretizando garantias coletivas que não se pautam por segregações baseadas em características sociais, culturais ou pessoais.

Assim, as políticas de ações afirmativas versam sobre equidade e igualdade, valores que devem orientar as bases do desenvolvimento social. A igualdade no plano formal já existe, mas não nos basta. Faltam, aos negros e negras, indígenas, pessoas com deficiência, pessoas trans e populações periféricas, as mesmas oportunidades que determinados grupos sempre tiveram.

Com a aprovação da Lei n° 12.711/12, as políticas afirmativas são de fato institucionalizadas no sistema de entrada das universidades federais, as quais verdadeiramente se transformaram e mudaram de cor. Em 2018, pela primeira vez, o número de discentes negras e negros nas universidades públicas alcançou, pela primeira vez, a maioria das matrículas (50,3%) (IBGE, 2019). Além da população preta, foi garantido também o acesso por renda e de estudantes indígenas, assim como de pessoas com deficiência, com a Lei 13.409/2016, e o de camponeses e camponesas com o PRONERA (Programa Nacional de Reforma Agrária). Outro marco importante é o estabelecimento do SISU, que permite o ingresso através do Enem, facilitando o acesso à universidade pública.

Mesmo com a transformação do perfil dos e das estudantes, ainda estamos muito longe de garantir a igualdade racial no ensino superior. Isso porque as políticas afirmativas vão se tornando escassas à medida que se avança na carreira acadêmica, dificultando a permanência estudantil. Muitas universidades ainda não implementaram políticas de cotas na pós-graduação e nos concursos; devido a isso, conforme os microdados do Inep de 2018, apenas 16% do corpo docente universitário é da negritude. Sob uma lógica semelhante, no caso das pessoas com deficiência, apesar do estabelecimento das cotas, o mesmo acontece em relação à permanência, ainda com o agravante da falta de acessibilidade no meio acadêmico.

Conjuntura de ataques à educação

Somado a todas as questões apresentadas, desde o início de seu governo, Bolsonaro tem mostrado quão comprometido está com a agenda neoliberal desenhada para seu mandato, sendo um dos seus maiores focos a educação como um todo, cabendo destacar alguns de seus atos mais danosos.

Poucos meses após sua eleição, criticou os cursos de ciências humanas em discursos e, através do ex-ministro da educação, Abraham Weintraub, iniciou os cortes na educação, começando com 30% nas universidades federais, em seguida bloqueando bolsas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), estendendo, por fim, o contingenciamento de verbas para toda a educação básica.

Com a chegada da pandemia, as afrontas apenas aumentaram. O governo Bolsonaro concedeu a Weintraub, através das Medidas Provisórias de número 914/2019 e 979/2020, o poder de nomear reitores, deixando de vincular a chapa mais votada da lista tríplice ao cargo de reitor, e, nesta última, o impedimento da realização do processo de consulta à comunidade para escolha dos reitores. A primeira caducou e a segunda foi devolvida poucos dias depois, mas, durante a pandemia, interventores foram nomeados para ocupar o cargo, estimando-se que ao menos 20 instituições tiveram intervenção federal na escolha de suas respectivas gestões.

Mais recentemente, segundo a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), houve um bloqueio de 18,16% no orçamento discricionário de todas as universidades para o ano de 2021, o que representa pelo menos

1 bilhão de reais. Desde então, muitas universidades têm anunciado o risco de fechar as portas, paralisando milhares de pesquisas e estudos extremamente importantes, principalmente no momento pandêmico em que estamos, comprometendo inclusive o desenvolvimento de vacinas, como no caso da UFPR.

Da mesma forma que os ataques se fizeram presentes, o movimento estudantil se manteve firme reagindo e mobilizando as e os estudantes para manter a autonomia universitária, a liberdade de cátedra e os direitos conquistados tão arduamente visando uma maior inclusão das pessoas a quem sempre fora negado acesso a esses espaços.

Perspectivas para a revisão da Lei de Cotas

A revisão da Lei de Cotas tinha como objetivo possibilitar uma ampla discussão acerca das metas alcançadas, bem como seus resultados, sua amplitude e limitações, visando instruir um processo de melhoria e aprimoramento. Entretanto, com a ascensão bolsonarista, o panorama para 2022 é desanimador. O Congresso, com uma maioria marcadamente alinhada à agenda de desmonte do Estado, destruição de políticas públicas e retirada de direitos de minorias sociais se demonstra profundamente retrógrado e ameaça a permanência das políticas de cotas.

Através de dados coletados pelo Radar do Congresso, plataforma desenvolvida pelo Congresso em Foco, é possível inferir que a atual composição da Câmara de Deputados e do Senado Federal se estabelece como uma sólida base de apoio ao governo Bolsonaro, atingindo um índice de 76% de alinhamento na Câmara e 86% no Senado. O chefe do Executivo possui um histórico volumoso de negação do racismo como problema estrutural do país, tendo inclusive dito a apoiadores que sempre questionou a política de cotas raciais, além de diversas declarações racistas que remontam a discursos escravocratas.

Nesse cenário, é necessário demarcar a importância do movimento estudantil e da mobilização social em torno da defesa das políticas afirmativas que garantem o acesso de camadas da população historicamente afastada dos espaços de prestígio social. Precisamos nos preparar para uma importante batalha em defesa de nossos direitos, em defesa da possibilidade de continuarmos produzindo conhecimento e saber. A população periférica, o povo negro, as comunidades indígenas e as pessoas com deficiência não serão novamente renegadas às margens da sociedade, pelo contrário, serão protagonistas de suas histórias e ocuparão as universidades.

Ainda, é a oportunidade de denunciar a continuidade da exclusão de grupos sociais ainda hoje marginalizados, buscando-se ampliar a política de cotas. Estudantes transexuais, por exemplo, representam apenas 0,1% do total dos alunos e alunas de universidades federais no Brasil, um retrato dos altos índices de evasão escolar decorrente do preconceito e o precoce início no mercado de trabalho informal, uma vez que muitos e muitas são expulsas de casa e se vêm obrigadas a se prostituir, comprometendo o acesso à educação.

Reflexos das ameaças que se colocam diante de nós já começam a ser percebidos no cenário político: o PL 1531/2019, de autoria da deputada Professora Dayane Pimentel (PSL-BA), propõe a remoção do critério racial de reserva de vagas, ignorando o passado colonial e escravagista que marca nossa história, se fundando na defesa da existência de uma ilusória “democracia racial”. Tais tentativas demonstram os riscos que estamos correndo, pois o acesso ao ensino superior por parte da população negra só atingiu níveis consideráveis através das políticas de cotas e, ainda hoje, estudantes da negritude enfrentam diversas dificuldades para acessar programas de pós-graduação em razão da quase inexistência de políticas afirmativas, o que reforça a importância do critério racial.

A universidade pública é instrumento de emancipação e se pauta por valores de inclusão e igualdade, não podemos permitir que o povo, que sustenta e financia esses espaços através da exploração de sua força trabalho, seja novamente excluído. A fragilização da Lei de Cotas e as tentativas de enfraquecê-la não podem prevalecer sobre o interesse da grande maioria da população, que antes sequer imaginava estudar, pesquisar ou se graduar. Se trata de uma luta por nossas vidas e por nossos sonhos.

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Texto de Amanda Bachmann, Fauzi Bakri, Lucas Monte e Matheus Riguete, do Centro Acadêmico Hugo Simas (CAHS), publicado originalmente na Alma Preta.

Impactos da pandemia sobre a população negra será alvo de discussão na Comissão de Direitos Humanos do Senado

 

Impactos da pandemia sobre a população negra será alvo de discussão na Comissão de Direitos Humanos do Senado. (FOTO/ Amanda Perobelli/ REUTERS/ Direitos Reservados).

Por Nicolau Neto, editor

A partir das 9h desta segunda-feira (12/05) e de modo remoto, a Comissão de Direitos Humanos do Senado (CDH) irá discutir os efeitos e os impactos gerados na população negra pela pandemia da Covid-19.

A iniciativa partiu, segundo publicou o Notícia Preta, do presidente do colegiado, o senador Humberto Costa (PT-PE) e contará com a participação de Silas Félix, coordenador-geral do Movimento Negro Unificado (MNU), representantes do Coletivo Nacional de Juventude Negra, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socieconômicos da Bahia (DIEESE) e da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ).

A discussão se desenvolverá por meio da temática “Nem bala, nem fome, nem Covid: população negra em defesa do bem viver. Impactos da pandemia do novo Coronavírus na população negra do Brasil, bem como, a ausência de políticas públicas para o enfrentamento desta pandemia” e quaisquer pessoas poderão interagir com perguntas, sugestões e apontamentos através do Portal e-Cidadania, podendo ser lidas por parlamentares e pelos debatedores.

Essa interação garantirá a emissão de certificado de participação no evento.

Covid-19 aumentou a pobreza, a fome e as desigualdades. ‘Catástrofe geracional’, afirma a ONU

 

Pela primeira vez, desde 1998, a porcentagem de pessoas vivendo na extrema pobreza aumentou, de 8,4% em 2019 para 9,5% em 2020. Cerca de 90% dos países ainda relatam problemas diversos nos serviços de Saúde. (FOTO/ Nailana Thiely/ Ascom/UEPA).

A pandemia de covid-19 impactou o mundo de forma negativa em muitos setores, aumentado a pobreza e a fome. Pela primeira vez, desde 1998, a porcentagem de pessoas vivendo na extrema pobreza aumentou de 8,4% em 2019 para 9,5% em 2020. Cerca de 90% dos países ainda relatam problemas diversos nos serviços de saúde. A Organização das Nações Unidas (ONU) classifica os efeitos do coronavírus como “catástrofe geracional” na educação.

Diante deste cenário, o Relatório dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 2021, da ONU, aponta para a necessidade de soluções rápidas. “As decisões e ações tomadas durante os próximos 18 meses determinarão se os planos de recuperação da pandemia colocarão o mundo no caminho para alcançar as metas acordadas globalmente que visam a impulsionar o crescimento econômico e o bem-estar social, protegendo o meio ambiente”, afirma o texto.

A entidade trabalha em cima de 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) como parte da Agenda 2030. A ideia é fomentar ações e direcionar boas práticas para que o mundo alcance, ainda que tardiamente, um modelo de desenvolvimento menos agressivo e propenso às catástrofes. Entre estes objetivos, afetados pela pandemia, é possível citar: erradicação da pobreza; fome zero; saúde e bem-estar; igualdade de gênero; água potável e saneamento; energia limpa e acessível; redução das desigualdades; entre outros.

Desigualdade

Além do aumento na extrema pobreza, os demais índices de desenvolvimento humano foram afetados como um todo. De acordo com estudos da ONU, de 119 a 124 milhões de pessoas foram empurradas para situação de pobreza em 2020, cerca de 255 milhões de empregos foram perdidos. O número de pessoas afetadas pela fome aumentou de 83 para 132 milhões. “Estamos em um momento crítico na história da humanidade. As decisões e ações que tomamos hoje terão consequências importantes para as gerações futuras”, destaca o subsecretário-geral do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas, Lui Zhenmin.

Se por um lado, os mais pobres e a classe média vivem escassez de recursos, por outro, os mais ricos ficaram mais ricos. A desigualdade crescente atinge níveis brutais em todo o planeta. Uma das evidências é a desigualdade vacinal entre as nações. “A pandemia expôs e intensificou as desigualdades dentro e entre os países. Em 17 de junho de 2021, cerca de 68 vacinas foram administradas para cada 100 pessoas na Europa e na América do Norte, em comparação com menos de duas na África Subsaariana”, completa o relatório.

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Com informações da RBA. Clique aqui e confira a integra do texto.

11 de julho de 2021

Movimento Negro Unificado abrirá denúncia no STF contra Bolsonaro por racismo

 

(FOTO/ Reprodução).

O Movimento Negro Unificado (MNU) irá ingressar com queixa-crime contra o presidente Jair Bolsonaro após comentários racistas feitos ao final de live transmitida na última quinta-feira (8). Na saída do Planalto, acompanhado de um apoiador negro que usa o cabelo no estilo black power, diante de apoiadores e microfones de câmeras de TV e rádio, Bolsonaro pronunciou frases associando o corpo negro a barata, piolho e imundície.

Em uma das frases dirigidas ao apoiador negro, Bolsonaro afirmou rindo: “Olha o criador de baratas aqui. Você não pode tomar ivermectina, vai matar todos os seus piolhos”. Em seguida disse: “Tu lavas (sic) esse cabelo quantas vezes por mês?”, que o rapaz respondeu “Por mês não, por semana”

Essa não é a primeira vez que o presidente faz comentários de cunho racista. Em 2017, numa palestra no Clube Hebraica do Rio de Janeiro, Bolsonaro referiu-se aos quilombolas como vagabundos, inúteis, incapazes sequer de procriar e cujo peso deve ser medido em arrobas, unidade de peso utilizada para animais.

Na época, a maioria da 1ª Turma do STF entendeu que não houve crime de racismo. 

Os advogados do Movimento Negro Unificado, Hédio Silva Jr, Wanderson Pinheiro e Silvia Souza, afirmaram que uma mensagem com este conteúdo, veiculada pelo Youtube e por meios de comunicação, propaga um conteúdo criminoso à medida em que induz e incita os receptores a associarem o corpo negro à insetos e falta de higiene.

A Lei Caó (7.716/89) prevê que configura como crime de racismo induzir ou incitar preconceito ou discriminação de raça. Os advogados estão confiantes que, desta vez, o STF irá determinar abertura de inquérito por crime de racismo.

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Com informações da Alma Preta.


Datafolha registra, pela 1ª vez, maioria favorável ao impeachment

Concentração no MASP, na Avenida Paulista, em São Paulo (SP), durante a manifestação Fora Bolsonaro - 26 de junho de 2021 - (FOTO/ Roberto Parizotti/FotosPúblicas).

Entre o "rosário de más notícias" para Bolsonaro, citadas por reportagem da Folha de S.Paulo, estão os três últimos atos de caráter nacional contra Jair Bolsonaro. Após a mobilização do dia 3 de julho, a Campanha Nacional Fora Bolsonaro, agendou para o próximo dia 24, uma nova série de mobilizações para pressionar pela saída do político de extrema-direita da Presidência da República.

A pesquisa Datafolha divulgada neste sábado (10), registrou pela primeira vez que a maioria dos entrevistados se diz favorável à abertura de processo de impeachment de Bolsonaro na Câmara dos Deputados.

De acordo com o levantamento, 54% são favor da abertura do processo, contra 42% contrários. Na pesquisa anterior, realizada em 11 e 12 de maio, os entrevistados favoráveis ao impeachment eram 49%, contra 46% que se opunham à iniciativa, configurando uma situação de empate técnico.

Nesse sentido, nove partidos de oposição (PT , Psol, PSB, PDT, Rede, PV, PCdoB, Cidadania e UP), associações, movimentos sociais, estudantes, juristas, lideranças religiosas e parlamentares do DEM, PSL e PSDB também preparam um “super pedido” de impeachment, que deve apontar mais de 20 tipos de crimes de responsabilidade cometidos por Bolsonaro.

No total, já foram apresentados 121 pedidos de impeachment. Mas Lira vem resistindo. Também ontem, em entrevista no jornal O Globo, o presidente da Câmara afirmou que a tragédia da pandemia, com mais de 504 mil vítimas, “não é motivo” suficiente para a abertura do processo de afastamento de Bolsonaro. Chegou a afirmar que, mesmo que o governo tivesse antecipado a compra das vacinas, “não teria resolvido o problema da pandemia”.

Covaxin

Contudo, além da demora na aquisição dos imunizantes, a CPI da Covid começa a investigar indícios de corrupção na compra da vacina Covaxin. Além da comissão, o superfaturamento também é investigado pelo Ministério Público Federal (MPF). Anteriormente, o Tribunal de Contas da União (TCU) havia apontado que a dose da Covaxin negociada pelo governo é a mais cara entre todas as que foram contratadas pelo Ministério da Saúde. Enquanto a dose da vacina fornecida pela Oxford-AstraZeneca custa, em média, R$ 19,87, o governo aceitou pagar R$ 80,7 por dose do imunizante indiano. No contrato firmado com o governo, a dose da Covaxin saiu 1.000% mais cara do que o valor informado seis meses antes.

Nesse sentido, em depoimento sob sigilo ao MPF, um servidor da área técnica do ministério afirmou ter “sofrido pressão atípica” da gestão do general Eduardo Pazuello para tentar garantir a importação dessa vacina mais cara. O contrato com a empresa Precisa, que intermediou a importação da Covaxin, totalizou R$ 1,6 bilhão.

Uma das sócias da Precisa é a Global Saúde, que tem ligações com o deputado federal Ricardo Barros (Progressistas-PR), atual líder do governo na Câmara. Ele também é investigado por improbidade administrativa, quando era ministro da Saúde, por favorecimento à Global. Desta vez, ele foi responsável por uma emenda à MP que autorizou a compra excepcional dos imunizantes, incluindo o órgão regulador indiano na lista de dispensa de autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para a importação de vacinas, desde que aprovadas por autoridades sanitárias internacionais reconhecidas.

Crescendo

Essas denúncias têm potencial para aumentar ainda mais a revolta contra o governo. No último sábado (19), mais de 750 mil pessoas saíram às ruas em mais de 400 municípios das 27 unidades da federação, segundo os organizadores. Já nas mobilizações de 29 de maio, mais de 420 mil pessoas em cerca de 200 municípios foram às ruas em atos pelo Fora Bolsonaro. 

Os organizadores prometem redobrar os cuidados com protocolos sanitários, para garantir a segurança dos manifestantes. Assim como nos atos anteriores, todos devem usar máscaras de alta proteção (PFF2/N95) e álcool em gel. Além disso, as manifestações ocorrerão ao ar livre, e os participantes também são orientados a manter o distanciamento.

A mobilização por vacinação, auxílio de R$ 600 e Fora Bolsonaro está crescendo”, afirmou o líder do MST João Pedro Stédile. Pelas redes sociais, ele anotou que os protestos estão se ampliando para mais setores da classe trabalhadora. E defendeu uma construção unitária entre os movimentos para dar um “salto de qualidade” até os atos marcados para o mês que vem. “Queremos forçar a Câmara a instaurar o pedido de impeachment e dar apoio à CPI (da Covid)”, disse o coordenador da Central de Movimentos Populares e um dos líderes do movimento, Raimundo Bonfim, em entrevista à agência Estadão Conteúdo.

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Com informações do Brasil de Fato.

10 de julho de 2021

"Está vendo sua base de apoio desmanchar", diz Deputado Renato Roseno sobre Bolsonaro


Sessão na Assembleia Legislativa do Ceará. Dep. Renato Roseno. (FOTO/ Thais Mesquita).

O deputado estadual Renato Roseno (Psol) afirmou, nesta sexta-feira, 9, que o presidente Jair Bolsonaro  adotou nos últimos dias em "tom explícito de ameaça à realização das eleições e à democracia". A fala acontece no mesmo dia em que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, realizou pronunciamento para rebater uma nota recente do comando das Forças Armadas de críticas à CPI da Covid.  

"Bolsonaro está vendo sua base de apoio desmanchar. Ao mesmo tempo em que vê as manifestações de rua do campo democrático e a luta a favor do impeachment ganharem fôlego", disse o parlamentar. Segundo o psolista, o mandatário encontra-se "enredado nas denúncias de corrupção na compra das vacinas, de envolvimento direto no chamado esquema das rachadinhas e nas ilegalidades do “bolsolão”, o orçamento paralelo com o qual comprou apoio político no Congresso com emendas superfaturadas". 

Roseno disse ainda que o presidente "adota a velha estratégia de teorias conspiratórias sem qualquer fundamento" quando coloca em dúvida o atual processo eleitoral. "Apela [Bolsonar] para a narrativa da “fraude” nas urnas eletrônicas e diz que não haverá eleições no ano que vem caso a justiça eleitoral não retome o sistema com votos impressos. Essa ameaça direta ao processo eleitoral é injustificável em quaisquer situações", disse o deputado. 

Sobre nota recente de crítica ao senador Omar Aziz (PSD), presidente da CPI da Covid, elaborada pelo comando das Forças Armadas, Roseno critica que Bolsonaro "não disse uma palavra sobre as tantas e tão graves denúncias de corrupção, preferindo atacar o Senado". O deputado disse que o número de militares no governo supero o da ditadura militar. 

Na manhã desta sexta, ao jornal O Globo, o comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro do ar Carlos Almeida Baptista Junior, retomou tom ameaçador. Roseno avalia que as falas reafirmam a intimidação ao poder Legislativo. "O alto comando das Forças Armadas, ao invés de apurar e punir a conduta ilegal dos seus, preferiu afundar abraçado a Bolsonaro", disse.

O deputado pediu pela mobilização para "apuração dos ilícitos cometidos e pela responsabilização dos culpados" das possíveis ações e omissões durante a Covid-19 no Brasil e reforçou a cobrança por investimentos para a ampliação da vacinação e da renda emergencial. "Mais do que nunca, é hora de defender a democracia contra Bolsonaro, de reafirmar o compromisso com o estado democrático de direito contra as aventuras golpistas e totalitárias", completou o deputado.
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Com informações do O Povo.


Julho das Pretas: Instituto Marielle Franco lança historia em quadrinhos

 

Instituto Marielle Franco lança historia em quadrinhos. (FOTO/ Reprodução/ O Fluminense).


No mês em que se celebra o aniversário de Marielle Franco e o Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha, o Instituto Marielle Franco, dirigido por Anielle Franco, estreia minisérie “Para Onde Vamos” – que será exibida no Canal Brasil e Globo Play, lança Histórias em quadrinhos que conta a vida da irmã, e organiza o livro “A Radical Imaginação Política das Mulheres Negras Brasileiras”

Tendo como ponto de partida inspirar, conectar e potencializar mulheres negras, LGBTQIA+ e periféricas a seguirem movendo as estruturas da sociedade em busca de mais justiça e igualdade, o Instituto Marielle Franco em celebração ao mês de aniversário de Marielle, no dia 27 de julho,e do Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha, 25, vai promover diversas ações. No dia 07 de julho estreia a minissérie “Para Onde Vamos”, que será exibida no Canal Brasil e na Globo Play, feita pelo Instituto, o movimento Mulheres Negras Decidem e a produtora Fluxa.

Para o dia 27 de julho já está marcado o lançamento da “HQ Marielle Franco Raízes”, que será uma ferramenta para inspirar uma nova geração de jovens negros e periféricos, narrando o início da história da vereadora e suas lutas enquanto jovem negra e favelada.

“O julho das pretas é um momento muito importante para os movimentos negros, em especial para os movimentos de mulheres negras, onde se celebra a trajetória, a luta, o pioneirismo e a resistência das nossas mais velhas, das nossas ancestrais e das nossas que aqui estão. Como uma organização que tem como missão potencializar mulheres negras e como pilar a defesa da memória, estamos fazendo diversas ações neste sentido neste mês”, explica a escritora Anielle Franco.

Com entrevistas e imagens dos bastidores da atuação de mulheres negras, “Para Onde Vamos”, em formato de minissérie documental, com cinco episódios – apresenta uma narrativa de ação, potência e perspectiva positiva que desconstrói e subverte os espaços marcados por exclusão e violência. Áurea Carolina (Minas Gerais), Elaine Ferreira do Nascimento (Piauí), Paula Beatriz de Souza Cruz (São Paulo), Anielle Franco (Rio de Janeiro) e Vilma Reis (Bahia) são as personagens que, de dentro da política institucional ou na sociedade civil, atuam em seus territórios e são representantes da maior força de progresso e renovação hoje no Brasil.

Filmada durante a pandemia e com equipe 100% feminina, sendo 80% mulheres negras e de cinco cidades, a websérie se construiu a partir do levantamento de histórias e de dados realizados pelo Movimento Mulheres Negras Decidem e pelo Instituto Marielle Franco e recebeu o mesmo nome do relatório ‘‘Para Onde Vamos’’. E, assim como a pesquisa, pretende ser um processo de visibilização da atuação de mulheres negras frente ao atual contexto social, político e econômico no país. A minissérie apresenta o Movimento das Mulheres Negras do Brasil através de histórias de ativistas que estão liderando verdadeiras revoluções no modo de pensar, agir e executar políticas públicas no país.

Considerando de extrema importância as ações no mês de julho, Anielle, cria da favela da Maré (RJ) e defensora dos direitos especialmente das pessoas marginalizadas socialmente, como a população negra, pobre e favelada, escolheu a data do dia 27 de julho para lançar a “HQ Marielle Franco Raízes”, que será um livro no formato de histórias em quadrinhos, em versão física e digital, e pretende ser uma ferramenta de inspiração para jovens e meninas, especialmente negras e de favelas e periferias, como foi Marielle.

O intuito é fazer com que a sua história seja conhecida pela nova geração e que essas meninas tenham em Marielle Franco uma referência para saberem que podem ser e fazer o que quiserem. Este projeto narra o início da história de Marielle Franco e suas lutas enquanto uma menina jovem negra, favelada e mãe. “A missão do Instituto é potencializar os sonhos de mulheres negras em busca, também, da transformação de suas realidades. Além do dia 25, dia histórico da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, o dia 27 é o dia em que celebramos a vida da Marielle. Como boa leonina, ela adorava comemorar e fazer da luta também uma celebração. Por isso, fazemos questão de manter essa tradição, entendendo que a defesa pela memória da sua vida, do seu modo de fazer política e ativismo, é também lutar por justiça” conclui a diretora , que criou o Instituto com sua família no intuito de lutar por justiça, defender a memória de Marielle, multiplicar o legado e regar suas sementes.

Sobre o livro

A Radical Imaginação Política das Mulheres Negras Brasileiras” foi lançado virtualmente dia 21 de junho e é uma contribuição no processo de visibilização das respostas e soluções empreendidas pelas mulheres negras brasileiras frente ao atual contexto de crise social, política e econômica. Com organização de Ana Carolina Lourenço (Mulheres Negras Decidem) e Anielle Franco (Instituto Marielle Franco), e com o apoio da Fundação Rosa Luxemburgo, a obra reúne escritos, entrevistas, projetos de leis e discursos de mulheres negras que dão as pistas do porquê a presença feminina na política pode representar mudanças da qualidade na democracia e na sociedade.

Dentre as autoras que aceitaram o desafio da escrita ou que cederam seus textos estão Andréa Lopes, Áurea Carolina, Benedita da Silva, Diana Mendes, Erica Malunguinho, Fabiana Pinto, Gabrielle Abreu, Juliana Marques, Leci Brandão, Renata Dias, Regina Sousa, Vilma Reis, Lúcia Xavier e Talíria Petrone. O livro conta ainda com as “escrevivências” de Lélia Gonzalez, Luiza Bairros e Marielle Franco e teve as participações de Christiane Gomes (mediação), Anielle Franco e Ana Carolina Lourenço (organizadoras do livro) e Vilma Reis (uma das autoras) no lançamento. O arquivo em PDF da publicação pode ser acessado com download gratuito em https://url.gratis/QOM5C 

Aniele Franco

Escritora, esportista, palestrante, professora e colunista, Anielle Franco dirige o Instituto Marielle Franco, uma organização sem fins lucrativos, criada pela família de Marielle Franco com o objetivo de lutar por justiça, defender sua memória, multiplicar o legado e regar suas sementes. Cria da favela da Maré no Rio de Janeiro, Anielle é Bacharel em Jornalismo e Inglês pela Universidade Central de Carolina do Norte, Bacharel-Licenciada em Inglês/Literaturas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Mestra em Jornalismo e Inglês pela Universidade de Florida A&M e, atualmente, é Mestranda no CEFET, Universidade Federal no Rio de Janeiro, cursando Relações Étnico-Raciais Com O Foco Na Identidade Das Mulheres Negras.

Instituto Marielle Franco

O Instituto Marielle Franco é uma organização sem fins lucrativos, criada pela família de Marielle Franco com o objetivo de lutar por justiça, defender sua memória, multiplicar o legado e regar suas sementes. Sua missão consiste em inspirar, conectar e potencializar mulheres negras, LGBTs e periféricas a seguirem movendo as estruturas da sociedade em busca de mais justiça e igualdade, através do legado e da memória de Marielle Franco.

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Com informações de O Fluminense.

TSE reage a declaração de Bolsonaro sobre fraudes nas eleições

(FOTO/ Nelson Jr/ SCO/ STF).

O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luís Roberto Barroso, divulgou uma nota nesta sexta-feira (9) rechaçando as declarações infundadas do presidente Jair Bolsonaro de que houve fraude na duas últimas eleições presidenciais e as ameaças feitas pelo mandatário sobre a não-realização de um pleito em 2022.

A realização das eleições é pressuposto do regime democrático. Qualquer atuação no sentido de impedir a sua ocorrência viola princípios constitucionais e configura crime de responsabilidade”, diz trecho da nota publicada pelo ministro.

Na quinta-feira (8), Bolsonaro clamou novamente pela implantação do voto impresso e tornou a fazer acusações falsas sobre supostos episódios de fraude eleitoral. “Eleições no ano que vem serão limpas. Ou fazemos eleições limpas no Brasil ou não temos eleições”, disparou.

Nesta sexta, ele voltou a fazer falsas suposições e atacou diretamente o presidente do TSE. “Só um idiota para fazer isso aí. É um imbecil. Não pode um homem querer decidir o futuro do Brasil na fraude”, disse.

Na nota, Barroso ainda afirma que “desde a implantação das urnas eletrônicas em 1996, jamais se documentou qualquer episódio de fraude” e que a acusação de fraude ofende a ele e a outros 4 ministros do Supremo Tribunal Federal: Dias Toffoli, Gilmar Mendes, Luiz Fux e Rosa Weber.
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Com informações da Revista Fórum.