10 de abril de 2018

Impedidos de visitar Lula, governadores do Nordeste deixam carta para ex-presidente


Comitiva de governadores e parlamentares com a carta a ser entregue a Lula. (Foto: Reprodução/ O Povo).


Oito governadores do Nordeste e mais os governadores do Acre e Amapá deixaram carta nesta terça-feira, 8, a ser entregue ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A comitiva, da qual faz parte o governador Camilo Santana (PT), foi à Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. Eles tentaram visitar o ex-presidente, mas o pedido foi negado.


A carta manuscrita afirma:

"Estimado presidente Lula,

Querido amigo

Em 09/04/2018


Estivemos aqui e sempre estaremos. Ao seu lado, firmes na luta.


Infelizmente, a Lei de Execução Penal não foi cumprida adequadamente e não podemos abraçá-lo pessoalmente.


Mas, por nosso intermédio, milhões de brasileiros e brasileiras estão solidários e sendo a sua voz por um Brasil justo, democrático, soberano e livre.


Lula livre!


Fortes e fraternos abraços".

Assinam a carta os governadores Camilo Santana (PT-Ceará), Renan Filho (MDB-Alagoas), Rui Costa (PT-Bahia), Flávio Dino (PCdoB-Maranhão), Ricardo Coutinho (PSB-Paraíba), Wellington Dias (PT-Piauí), Robinson Faria (PSD-Rio Grande do Norte) e Jackson Barreto (MDB-Sergipe), além de Tião Viana (PT-Acre) e Waldez Góes (PDT-Amapá). Outros políticos, como o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), também assinam a mensagem.

O juiz Sergio Moro negou condições especiais para visitas ao ex-presidente. O magistrado determinou que Lula se submeta às mesmas condições de outros condenados, que recebem visitas às quartas-feiras, de familiares e advogados. (Com informações do O Povo).

Martin Luther King vs. Deltan Dallagnol


Luther King e Dallagnol: a única semelhança é a fé batista. (Foto: Reprodução e ABr).


Dois acontecimentos relacionadas à fé evangélica apareceram no noticiário: o jejum do procurador Deltan Dallagnol, da força-tarefa da Lava Jato, pela prisão do ex-presidente Lula e a memória dos 50 anos do assassinato do pastor evangélico norte-americano Martin Luther King.

Curioso que dois fiéis de tradição batista ocupem o noticiário e as mídias digitais quase ao mesmo tempo. E mais: que estejam colocados em posições tão diferentes no que diz respeito à forma como tornam pública a sua fé.

Luther King era um pastor batista. Vivia no contexto de segregação da população negra no país, com a negação do direito de votar e a instituição de espaços públicos separados dos brancos.

Ele vivia na carne esta segregação. Sua fé no amor de Deus o instigou não à vingança, mas à compreensão de que este amor incondicional é dirigido a todos, sem distinção, de sorte que todos têm direito a ser tratados com dignidade.

Por isto, o pastor foi compelido a denunciar o racismo em seu país e conclamar a reconciliação e a paz entre negros e brancos.

Luther King tornou-se um grande líder do movimento de superação do racismo nos EUA e por direitos civis, com atos, protestos e manifestações públicas não-violentas.

Recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1964 e no mesmo ano viu o alcance dos direitos concedidos por lei. Ele prosseguiu: liderou a Campanha pelos Pobres, contra a desigualdade econômica, e pregou ardentemente contra a Guerra do Vietnã.

Recebeu também muitas ameaças de morte, mas se manteve firme no compromisso de sua fé no Deus da vida e da dignidade para todos. Em 4 de abril de 1968, foi assassinado com um tiro.

Nesta semana recordamos que, depois de 50 anos, o legado deste evangélico se faz ecoar tanto nas ações contra o racismo quanto na teologia do Evangelho Social, que até hoje inspira cristãos e cristãs a ter uma fé viva, comprometida com atos concretos pela igualdade, justiça, paz e reconciliação.

O jovem procurador, da Igreja Batista de Curitiba, igualmente esteve em evidência. Ganhou notoriedade a partir de 2014, por conta da Lava Jato. Entre suas intervenções políticas, destacam-se as “10 medidas de combate à corrupção”, com assinaturas colhidas em peregrinação em igrejas evangélicas.

A atuação de Dallagnol é divulgada em eventos de igrejas e pelas mídias como vocação cristã. A repercussão acabou por impregnar de um caráter messiânico sua atuação, por conta do punitivismo da força-tarefa. Ela responde a anseios de vingança de parte da população contra alvos da operação, em especial o ex-presidente Lula, vítima de um processo internacionalmente questionado.

Há ainda outras controvérsias em torno do procurador evangélico que comprometem a imagem construída de paladino na luta contra a corrupção. Elas incluem certa ilegalidade de ações, como a prática de escutas telefônicas sem autorização, a apresentação pública de acusações sem provas, que gera a destruição prematura de reputações, a aquisição de apartamentos do Programa Minha Casa Minha Vida como investimento, e o recebimento mensal de verbas públicas para auxílio-moradia (4.377,73 reais), apesar de possuir um imóvel próprio em Curitiba.

Dallagnol voltou às mídias ao tuitar: “4ª feira é o dia D da luta contra a corrupção na #LavaJato. Uma derrota significará que a maior parte dos corruptos de diferentes partidos, por todo país, jamais serão responsabilizados, na Lava Jato e além. O cenário não é bom. Estarei em jejum, oração e torcendo pelo país”.

Sem considerarmos as premissas de que um procurador não deve tomar partido publicamente sobre esta ou aquela situação em julgamento, e de que o Estado é laico e seus servidores não podem ser guiados nas ações de interesse público por preceitos religiosos, importa avaliar suas palavras com base na própria fé cristã que professa.

Na tradição judaico-cristã, o jejum representa uma prática de devoção, seja em arrependimento por atos praticados incoerentes com a fé, seja em busca do favor de Deus em uma situação pessoal ou em causa coletiva.

Segundo a orientação de Jesus de Nazaré, registrada na Bíblia, não se deve fazer do jejum algo banal ou fonte de autopromoção. A prática deve ser realizada com discrição, na intimidade fiel-Deus, sem demonstrações públicas, classificadas nesse ensino como hipocrisia.

Antes de Jesus, os profetas ensinavam que Deus condena e rejeita o jejum hipócrita e espera mesmo é que seus fiéis realizem a justiça plena, como diz Isaías (cap. 58):

De que serve jejuar, se com isso não vos importais? E mortificar-nos, se nisso não prestais atenção? É que no dia de vosso jejum, só cuidais de vossos negócios, e oprimis todos os vossos operários. Passais vosso jejum em disputas e altercações, ferindo com o punho o pobre. Não é jejuando assim que fareis chegar lá em cima vossa voz...”

Prossegue o texto: “O jejum que me agrada porventura consiste em o homem mortificar-se por um dia? Curvar a cabeça como um junco, deitar sobre o saco e a cinza? Podeis chamar isso um jejum, um dia agradável ao Senhor? Sabeis qual é o jejum que eu aprecio?, diz o Senhor Deus: É romper as cadeias injustas, desatar as cordas do jugo, mandar embora livres os oprimidos, e quebrar toda espécie de jugo. É repartir seu alimento com o esfomeado, dar abrigo aos infelizes sem asilo, vestir os maltrapilhos, em lugar de desviar-se de seu semelhante”.

Dallagnol não só praticou o contrário da orientação cristã como relacionou o jejum a uma causa individual (sua insaciável busca de condenação do ex-presidente Lula) transformando-a em causa coletiva, desconsideradas as internacionalmente notórias incongruências em torno do processo.

Busquei mensagens do procurador sobre jejum e oração relacionadas a outras situações de destaque ou causas coletivas em que se espera a aplicação da justiça no País e não encontrei. O jejum acabou instrumentalizado politicamente e Deus usado em um projeto pessoal.

Luther King e Dallagnol: duas formas diferentes de praticar a fé. Uma fé viva e comprometida até a morte, em nome da luta por justiça e paz para que todos sejam tratados com dignidade, face concreta do amor de Deus. A outra, uma fé demonstrada para uma população vingativa e punitivista, por meio de uma religião seletiva de trocas com Deus. Um tem uma herança viva 50 anos depois, o outro... (Por  Magali do Nascimento Cunha, em CartaCapital).


9 de abril de 2018

Adolfo Pérez Esquivel, Nobel da Paz, lança abaixo-assinado para candidatura de Lula ao prêmio


Adolfo Pérez Esquivel, Nobel da Paz, lança abaixo-assinado para candidatura de Lula ao prêmio.
(Foto: Reprodução).

O pintor, escritor e ativista argentino Adolfo Pérez Esquivel, Nobel da Paz em 1980 por combater a ditadura em seu país, iniciou um abaixo-assinado para ser entregue ao comitê do Nobel indicando o ex-presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, para o prêmio.

O documento, de acordo com as regras do prêmio, deve ser entregue até setembro. O objetivo é chegar e 150 mil assinaturas. Até a manhã desta segunda-feira (9), o abaixo-assinado já contava com mais de 93.400 assinaturas.


Esta es la carta que presentaré al Comité Nobel Noruego en septiembre de 2018 postulando a Luiz Inácio “Lula” Da Silva al Premio Nobel de la Paz. Te invito a adherir a la campaña #NobelparaLula, para convencer a las personas con posibilidad de postularlo conforme a las normas del Comité Nobel.

(Esta é a carta que apresento ao comitê norueguês do Nobel em setembro de 2018, nomeando Luiz Inácio “Lula” da Silva para o Prêmio Nobel da Paz. Eu convido você a participar da campanha #NobelparaLula, convencendo as pessoas para a possibilidade desta postulação, de acordo com as normas do Comitê Nobel.)

Mais adiante, Esquivel lembra os feitos dos dois governos de Lula no combate à fome e à miséria. “A porcentagem de pessoas que viviam com menos de US $ 3,10 por dia caiu de 11%, em 2003, para cerca de 4%, em 2012, segundo dados do Banco Mundial”.

O texto lembra também que “esses resultados dos programas do governo do PT no Brasil para superar a pobreza e a fome não foram uma política de Estado mantida por outros partidos do governo, mas uma política governamental específica que o Brasil está gradualmente abandonando. Isso é demonstrado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que anunciou que, em 2017, o Brasil tinha mais de 3 milhões de novos pobres por causa das políticas do atual governo”.

O texto finaliza: “Por estas razões, com o mesmo senso de esperança que Martin Luther King transmitiu quando disse ‘se o mundo acabar amanhã, ainda plantarei minha macieira’, somos muitos que acreditam que o Prêmio Nobel da Paz para Lula da Silva ajudará a fortalecer a esperança de poder continuar construindo uma nova aurora para dignificar a árvore da vida”. (Com informações da Revista Fórum).



Lentidão nos trabalhos de construção da estrada Assaré – Altaneira gera desconfiança de moradores


Trecho na altura do Sítio Taboca para a construção da estrada Altaneira - Assaré. (Foto: Raimundo Soares Filho).

Decorridos mais de um mês da data da assinatura da ordem de serviço para pavimentação da CE-388, no trecho Assaré - Altaneira pelo governador Camilo Santana em solenidade realizada em meio as comemorações do aniversário do poeta Patativa do Assaré em 05 de março, mas apenas uma máquina foi enviada pela construtora responsável pela obra.

A obra, mais uma contemplada pelo Programa de Logística e Estradas do Ceará: Ceará de Ponta a Ponta, no total, 20,16 quilômetros receberão as ações de melhoria. O prazo para conclusão dos trabalhos é de 360 dias, envolvendo investimento total de R$ 14.912.152,13, com recursos do Tesouro do Estado e do Banco de Interamericano de Desenvolvimento (BID).

O trecho receberá serviços de pavimentação, revestimento asfáltico, obras d’artes correntes, drenagem, sinalizações vertical e horizontal, além de proteção ambiental. Os serviços tornarão o acesso aos dois municípios, bem como a outros destinos da região, mais rápido e seguro.

Ao assinar a ordem de serviço o governador Camilo Santana apresentou o proprietário da empresa contratada e exigiu que as máquinas iniciassem os trabalhos em Altaneira pediu aos altaneirense presentes que lhe enviassem fotos dos maquinários pelo WhatsApp.

Apesar do prazo contratual para conclusão dos trabalhos ser de um ano o empreiteiro prometeu que concluiria em seis meses, o governador Camilo Santana pediu para os altaneirense fiscalizassem a obra.

Na tarde do dia seguinte (06/03) chegou ao local uma máquina que foi festejada pelos altaneirense e inclusive o prefeito municipal, Dariomar Rodrigues (PT), lançou um vídeo na rede social Facebook registrando o momento.


Única máquina enviada pela Construtora. (Foto: Raimundo Soares Filho).

Até ontem (08/04) era a única máquina na obra e segundo informações de populares não trabalha todos os dias em virtude de problemas mecânicos e até falta de combustível. Além do serviço de limpeza da área, foi iniciada a construção de uma bueira no sítio Prado.

No final do mês de março o jovem Thiago Romão informou ao governador Camilo Santana a lentidão da obra, este prometeu apurar a situação, mas alegou que o atraso poderia está ligado as chuvas, só que o mês de março foi o menos chuvoso dos últimos 10 anos.

Dezenas de trabalhadores aguardam o início efetivo da obra em virtude da promessa de contratação de mão-de-obra local pelo prefeito Dariomar. A desconfiança é geral da capacidade da empresa contratada em executar os serviços.

Também desconfiado o vereador Flávio Correia (Solidariedade) disse que irá apresentar na Câmara Municipal de Altaneira, pedido de informações sobre a lentidão das obras.

A administração do BA procurou o responsável pela obra, mas nenhum funcionário da empresa se encontrava no local. (Com informações do Blog de Altaneira).

Por que a comentarista da Globo chama de burro quem não acredita nela


Manifestantes de mãos dadas esperam pela saída de Lula do sindicato na tarde desta sábado (7).
Mundo fora do alcance da Globo. (Foto: Reprodução/ RBA).


Nos últimos dias a imprensa brasileira tem mostrado sem freios nem sutileza todo seu ímpeto despótico. São atitudes que vão desde surrupiar a transmissão de uma emissora, como feito contra a TVT, e ter ainda a desfaçatez de pedir para "tirar a tarja", até um aumento descomunal no nível de agressividade contra uma figura política e, principalmente, contra seus apoiadores.

Não basta usar apenas o adjetivo e classificar como mau jornalismo. É preciso encontrar os substantivos certos. Um deles é agressão. Em um canal pretensamente noticioso, que passa horas e horas de transmissão sem entrevistar uma única fonte, um especialista ou pesquisador acadêmico, profissionais apelam a fontes anônimas para dizer que o fato de o ex-presidente Lula ter sido impedido por manifestantes de sair do sindicato tratava-se de "manobra" para que não se apresentasse à Polícia Federal no sábado. Obviamente o fato foi desmentido pelo próprio desenrolar dos acontecimentos. Não houve um "erramos" no ar, embora a acusação estivesse consumada.

TVT bate maiores canais e estuda ação por uso não autorizado de imagens 

A TVT (Televisão dos Trabalhadores), que transmite pelo canal digital 44.1 e por seu canal no YouTube, bateu recordes de audiência nos últimos quatro dias na resistência à prisão política de Lula. A TVT acionou seu departamento jurídico para avaliar processar os canais comerciais que utilizaram seu sinal sem autorização, como Globo, GloboNews, Band e Record. "Faltou ética e respeito por parte desses veículos", diz Paulo Salvador, um dos coordenadores da TVT. "Claro que temos direitos autorais. Mas estamos felizes por batermos todos os canais da velha televisão. E provamos que em tempos de internet podemos e vamos nos estabelecer como uma emissora popular"

Se a mídia tradicional estivesse realmente preocupada em apurar, talvez soubesse que, em meio à manifestação em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, muitos já falavam, antes do discurso de Lula, em não deixar o ex-presidente sair dali. Sentimento, aliás, que pouco mudou depois do discurso do ex-presidente. Eram pessoas, majoritariamente jovens, não ligadas a qualquer grupo organizado, mas também integrantes de movimentos populares e legendas partidárias que não apenas o PT, como insistiam em dizer os jornalistas convertidos em narradores.

O que em outros tempos seria uma propaganda eleitoral involuntária – afinal, dizer que todos ali eram petistas poderia demonstrar um grande poder aglutinador do partido – era na prática uma forma de simplificar e identificar o "inimigo": todos aqueles que eram contrários à prisão eram petistas obedientes ao comando de participar de uma farsa. Essa simplificação é nada mais que uma tática fascista, adotada com gosto pela mídia comercial.

A defesa enfática de dois presidentes do PT, Gleisi Hoffmann (nacional), e Luiz Marinho (em São Paulo), de que os manifestantes respeitassem a decisão de Lula, foi igualmente desprezada. Até mesmo a "loucura" (termo usado por um dirigente sindical) de Marinho, de submeter a uma "assembleia" a liberação ou não dos portões, foi ignorada.

Mas não interessava a apuração. Interessava, e sempre interessou, a tal da narrativa. E esta era a de sempre, a da criminalização. Assim, Lula era a figura que elaborava uma "estratégia" para não cumprir o mandado de prisão (diferente da decisão judicial que "recomendava" sua apresentação até 17h de sexta, dia 6).

Uma comentarista política – seja lá o que isso for – dizia: "só sendo muito ingênuo para achar que o povo está impedindo a saída de Lula do sindicato".

Só mesmo em meio a uma cultura de ódio, fomentada à exaustão por parte da imprensa, seria possível alguém chamar parte de seus telespectadores, sem rodeios, de "burros". E assim são tratados todos aqueles que pensam diferente dos desígnios dos grandes grupos. Quase todos os dias, mas de forma ainda menos sutil nas últimas horas.

Em uma coluna de jornal, outra pessoa escreve que falar de Lula como um preso político é repetir uma "estultice" e que o ex-presidente "engana" cada vez menos gente. Percebe-se, mais uma vez, o vício de tais profissionais chamarem os que pensam de forma distinta de seus empregadores de burros. Mas ela vai além e diz que Lula se comportou como "chefe de bando".

Como é que uma pessoa que apoia Lula, foi ao sindicato acompanhá-lo ou mesmo viu tudo à distância, deve se sentir quando alguém lhe diz que faz parte de um "bando"?

Ilustrar esse comportamento midiático seria tornar esse texto interminável, mas é preciso registrar ainda o incentivo explícito à violência. Atribuir a apoiadores de Lula a pecha de "vagabundos", lugar comum dos agressores de microfone ou de redes sociais, e pedir intervenção policial ou clamar por repressão desmedida é mais um sintoma do ódio de classes travestido de jornalismo.

E é outro tipo de conduta adotada todos os dias nas centenas de programas policiais em todo o país, priorizando a humilhação de pobres e pretos, e tendo como alvo com esse mesmo tratamento, às vezes, inimigos políticos.

Se o cachimbo entorta a boca, talvez tais profissionais nem sequer percebam o quanto seu trabalho cotidiano cumpre um papel anticivilizatório. A violência verbal naturalizada, decorrente da estrutura social brasileira amalgamada pelo ódio classista, adquire agora conotações políticas (e até partidárias) mais evidentes, dialogando de perto com práticas fascistas que buscam a eliminação dos contrários.

E é igualmente triste que as autoridades públicas, essas que buscam se mostrar tão ciosas aos olhos da opinião pública, fechem os olhos diante de flagrantes desrespeitos à legislação praticados em rádios e televisões em vez de destinar o mesmo tratamento rigoroso destinado a agentes públicos – afinal, seus donos e acionistas não passam de empresários detentores de concessões públicas. Essas violações, aliás, são denunciadas publicamente há décadas.

Não existe meia volta: quem estiver interessado de fato em restaurar ou construir um Estado democrático no Brasil precisa voltar seus olhos para os meios de comunicação. Eles são detentores de um oligopólio sem paralelo em qualquer país razoavelmente desenvolvido – e talvez aqui esteja a verdadeira "jabuticaba" brasileira de que tanto se fala.

Eles detonam, no dia a dia, qualquer noção de civilidade, estimulam o ódio e fazem da Constituição e das leis brasileiras letras mortas, submetidas ao seu próprio arbítrio e vontade. Não há democracia possível diante de um poder desses. (Com informações da RBA).

8 de abril de 2018

Lula já é maior que Getúlio. Diferente de Getúlio, Lula entrou pra história sem precisar sair da vida



Lula em discurso para cerca de 60 mil metalúrgicos do ABC em 13 de maio de 1979.
(Foto: Reprodução/Brasil Escola).
"Que Lula há muito tempo deixou de ser homem e se tornou uma instituição é consenso à direita e à esquerda. O que está em jogo, em disputa, é o significado da instituição, o que ela representa.

Lula é o maior corrupto da história do Brasil ou a principal liderança popular que esse país já teve?

A disputa está ai. No atual estado da situação não sobrou muito espaço para meio termo. Ou é uma coisa ou é a outra. Cada um que escolha seu lado.

Na condição de instituição, todo gesto de Lula tem dimensão simbólica, é lido e interpretado por todos, por detratores e admiradores. Lula pega o microfone e o país paralisa em frente à TV. Os admiradores choram. Os jornalistas a serviço da mídia hegemônica silenciam. Ninguém fica indiferente a uma instituição desse tamanho.

Lula sabe perfeitamente que está sendo observado, conhece muito bem o tamanho que tem e explora com extrema habilidade sua capacidade de fabricar símbolos.

Aqui neste ensaio, trato de uma parte muito pequena da biografia de Lula, mas que talvez seja, na perspectiva simbólica, a mais importante. Talvez seja até mais importante que os oito anos de seu governo.

Falo das 34 horas em que Lula esteve no sindicato dos metalúrgicos, sob os olhares do mundo, construindo a narrativa de seu próprio martírio.

Não falo em “resistência”, pois desde a condenação no Tribunal da Quarta Região, em 24 de janeiro, que o destino de Lula já estava selado. Os advogados cumpriram sua função, recorrendo a todos as instâncias e tentando um habeas corpus, mas todos já sabiam que Lula seria preso.

Por isso, seria ingênuo dizer que o que aconteceu em São Bernardo do Campo foi um ato de resistência. Lula é um político experiente demais para resistir em causa perdida.

Alguns companheiros e companheiras, no auge da emoção, tentaram usar a força. Lula fugiu da custódia dos trabalhadores e se entregou à Polícia Federal, pois sabe que contra o braço armado do Estado ninguém pode. Lula sabe que aqueles que ali estavam eram trabalhadores e trabalhadoras, pais e mães de família. Não eram soldados. Não eram guerrilheiros. A resistência não era possível.

Lula sabe que seria impossível sustentar aquela mobilização durante muito tempo e por isso não resistiu. Mas daí a se entregar resignado como boi manso para o abate a distância é grande, muito grande.

Penso mesmo que Lula fez mais que resistir, já que a resistência seria quixotesca, irresponsável. Lula pautou a própria prisão, saiu da posição de simples condenado pela justiça para se tornar o dono da narrativa. Lula foi sujeito do próprio encarceramento, deu um nó nas forças do golpe neoliberal.

Muitos achavam que Lula deveria ter fugido para uma embaixada amiga e de lá partido para o exílio no exterior. Confesso que também pensei assim. Mas Lula é muito mais inteligente que todos nós juntos.

Lula sabe que já viveu muito, sabe que não lhe sobra muito tempo de vida. O que resta agora é a consolidação da biografia, o retorno às origens, seu renascimento como ícone da esquerda brasileira, imagem que ficou um tanto maculada pelos oito anos em que governou o Brasil.

É que no capitalismo não existem governos de esquerda. Governo de esquerda só com revolução e Lula nunca foi revolucionário, nunca prometeu uma revolução.

Todo governo legitimado pelas instituições burguesas será sempre burguês. No máximo, no melhor dos cenários, será um governo de centro sensível às demandas populares. O lulismo foi exatamente isso: uma prática de governo de centro sensível às necessidades dos mais pobres. O lulismo transformou o Brasil pra melhor, com todos os seus limites, com todas as suas contradições.

Mas para encerrar a vida em grande estilo carece de algo mais. Era necessária a canonização política. E só a esquerda canoniza líderes políticos. A direita é dura, cinza, sem poesia.

O golpe neoliberal conseguiu reconciliar Lula com as esquerdas, o que há poucos anos parecia algo impossível de acontecer.

É que pra ser canonizado pelas esquerdas nada melhor que ser perseguido pelo poder judiciário, habitat histórico das elites da terra. Basta lançar no google os sobrenomes da maioria dos nossos juízes, procuradores e desembargadores e veremos os berços de jacarandá que embalaram os primeiros sonhos dos nossos magistrados.

É claro que Lula não planejou a perseguição. É óbvio que ele não queria ser perseguido. Se pudesse escolher, estaria tendo um final de vida mais tranquilo, talvez afastado da política doméstica e atuando nas Nações Unidas. Mas já que a vida deu o limão, por que não espremer, misturar com açúcar, cachaça, mexer bem e mandar pra dentro?

Lula fez exatamente isso: uma caipirinha com os limões azedos que seus adversários togados lhe deram.

Primeiro, ele fez questão de esgotar todos os mecanismos legais. A sentença de Moro, os votos dos desembargadores, os votos dos Ministros da Suprema Corte não são palavras ao vento. São “peças”, para falar em bom juridiquês, que ficarão arquivadas e disponíveis para a consulta, para análise.

Imaginem só, leitor e leitora, os historiadores que no futuro, afastados da histeria e das disputas que hoje turvam nossos sentidos, examinarão a sentença de Sérgio Moro, verão que o juiz não foi capaz de determinar em quais “atos de ofício” Lula teria beneficiado a OS para fazer por merecer o tal Triplex do Guarujá.

É como se Moro estivesse falando: "não sei como fez, mas que fez, ah fez".

E o voto dos desembargadores do TRF 4, atravessados de juízos de valor, quase sem relar no mérito da sentença?

E o voto de Rosa Weber? Por Deus, o que foi aquele voto de Rosa Weber?

“Sei que estou votando errado, mas vou continuar votando errado só porque a maioria votou errado. Uma maioria que só vai votar porque eu vou votar errado também.”

Lula, ao se negar a fugir, obrigou cada um desses togados a deixar impressos na história os rastros da própria infâmia.

Uma vez decretada a prisão, o que fez Lula?

Deu um tiro no peito? Se entregou em São Paulo? Foi pra Curitiba? Fugiu?

Não!

Lula se aquartelou no sindicado mais simbólico da redemocratização brasileira, o sindicado que representa as expectativas que nos 1980 apontavam para um Brasil mais justo, mais solidário.

No apogeu da crise que significa o colapso do regime político fundado na redemocratização, Lula decidiu encenar o seu martírio onde tudo começou.

Naquele que talvez seja o último grande ato de sua vida pública, Lula voltou às origens.

Protegido pela massa de trabalhadores, Lula não cumpriu o cronograma estipulado por Sérgio Moro. Cercado por uma multidão, o Presidente operário transformou o sindicato dos metalúrgicos numa embaixada trabalhista.

A Polícia Federal, o braço armado do governo golpista, disse que não usaria a força. A Polícia Federal sabia que o povo resistiria, que sem negociação não tiraria Lula do sindicado sem deixar uma trilha de sangue.

Lula negociou e, nos limites dados por sua posição de condenado pela justiça, venceu e humilhou a instituições ocupadas pelo golpe neoliberal.

Lula não estava foragido. O mundo inteiro sabia onde ele estava e mesmo assim o Estado brasileiro não foi capaz de prendê-lo no prazo determinado pela justiça golpista. Durante um pouco mais de 30 horas, Lula foi um exilado dentro do Brasil, como se São Bernardo do Campo fosse um República independente, a "República Popular dos Trabalhadores".

Lula fez de uma missa em homenagem a Dona Marisa Letícia um ato político e aqui temos mais um lance simbólico do Presidente operário: restabeleceu as pontes entre a esquerda brasileira e a Igreja Católica, aliança que tão importante nos anos 1970, quando sob as bênçãos da Teologia da Libertação foi fundado o Partido dos Trabalhadores.

No palanque, junto com o Padre, estavam Lula e as futuras lideranças da esquerda brasileira. Lula dividiu seu epólio em vida, tomou pra si esse ato mórbido ao abençoar Boulos, Manuela e Fernando Haddad.

Lula unificou em vida a esquerda brasileira. Não só unificou, mas pautou, apresentou o programa, cantou o caminho das pedras.

Lula deixou claro que o povo mais pobre precisa comer melhor, precisa consumir, viajar de avião, estudar na universidade. Lula, o operário que durante a vida inteira foi humilhado por não ter diploma de ensino superior, foi o professor de milhões de brasileiros que sonham com um país melhor.

É como se Lula estivesse dizendo: “num país como o Brasil, a obrigação mais urgente da esquerda é transformar o Estado burguês em agente provedor de direitos sociais”.

Lula discursou durante uma hora em rede nacional, se defendeu das acusações. Não foi uma defesa para a justiça, mas sim para o tribunal moral da nação. Não foi um discurso para o presente. Foi um discurso para a história.

Não, meus amigos, acuado pelas forças do atraso, Lula não deu um tiro no próprio peito.

Lula mandou trazer cerveja e carne e fez um churrasco com seus companheiros e companheiras. Foi carregado pelos seus iguais, foi tocado, beijado. Saliva, suor, pele.

Lula não deu um tiro no próprio peito.

Getúlio é gigante, sem dúvida, mas também era herdeiro das oligarquias. Lula é o único trabalhador que, vindo da base da sociedade, conseguiu governar e transformar o Brasil. Lula já é maior que Getúlio.

Diferente de Getúlio, Lula entrou pra história sem precisar sair da vida”. (Por Rodrigo Perez Oliveira, em sua conta no Facebook).

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1 - Rodrigo Perez Oliveira é bacharel e licenciado em história pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, mestre e doutor em história social por essa mesma instituição e professor adjunto de Teoria da História e Historiografia Brasileira da Universidade Federal da Bahia. (Informações colhidas junto ao Lattes e ao Escavador).

2 - Título dado por este professor e blogueiro baseado nas informações do texto.

Açude Pajeú, em Altaneira, está perto de sangrar


Açude Pajeú, em Altaneira, está perto de sangrar. (Foto: Antônio Leite).


O Açude do Valério - popularmente conhecido por Pajeú -, localizado no Sítio Serra do Valério, responsável pelo abastecimento do município de Altaneira, após os 90 mm de chuva já registrado nesses primeiros dias de abril, segundo dados colhidos junto a Fundação Cearense de meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), está bem perto de sangrar.

O anúncio foi feito pelo vereador e presidente da Câmara de Altaneira, Antônio Leite (PDT). Segundo ele, ao compartilhar imagem que ilustra este texto na manhã deste domingo (08/04), falta apenas 30 cm para que o reservatório hídrico sangre.

Uma simples pesquisa no Portal Hidrológico do Ceará, responsável pelo monitoramento do nível dos açudes, é possível verificar que o Pajeú está com capacidade entre 90 e 99% desta.

A última sangria do Pajeú foi registrada em 17 de março de 2017 após chuva de 120.7 mm, a maior do ano e a maior do Estado do Ceará naquele dia.

E, no final, Lula reescreveu a história de sua própria prisão



E, no final, Lula conseguiu o que queria. Ao invés de obedecer ao roteiro proposto pelo juiz federal Sérgio Moro e comparecer por conta própria à Polícia Federal, em Curitiba, no final da tarde desta sexta (6), o ex-presidente fez com que fossem busca-lo, no começo da noite deste sábado, no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, onde esperava rodeado por milhares de militantes e eleitores. Escoltado pela Polícia Federal, dirigiu-se até a sede da instituição e de lá para o aeroporto de Congonhas e a capital do Paraná.

Ele não conseguiu controlar os desdobramentos da Lava Jato, vendo sua escolhida sofrer impeachment, seus aliados serem perseguidos e presos e as denúncias e processos se avolumarem contra ele. Também não conseguiu impedir que ele próprio se tornasse o preso mais famoso da operação e, segundo os críticos, razão principal de sua existência, devido à escancarada seletividade partidária.

Contudo, se era incapaz de manter sua liberdade, a principal liderança popular brasileira conseguiu reescrever a narrativa de sua própria prisão.

Ele queria que o registro que ficasse para a posteridade desse momento fosse o do antigo líder de massas, protegido e carregado pelo povo, no sindicato que é seu berço político e um dos símbolos da luta pela redemocratização do país. E não imagens de um Lula derrotado, caminhando em direção ao seu carrasco para a execução de sua pena. Situação em que ele não teria voz, mas seria alvo passivo das avaliações e críticas de terceiros. E veio a conseguir.

Lula é carregado após discurso no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC neste sábado (7).
(Foto: Francisco Proner Ramos).

Desejava ter controle da história de sua prisão não apenas para garantir sua popularidade e, portanto, influência nos processos decisórios do PT e nas eleições de outubro, mas também orientar o sentido do discurso a ser adotado por seu partido e por parte dos movimentos sociais da esquerda daqui em diante. Não é à toa que manteve perto de si durante esses dias de trincheira montada no sindicato tanto Guilherme Boulos, coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), quanto a deputada estadual Manuela D'Ávila (PC do B – RS), pré-candidatos à Presidência da República. Ele precisa deles para o futuro, mas eles precisam dele para o presente.

Lula desejava, acima de tudo, defender o seu legado. Gostando-se ou não dele, há de se convir que é a liderança política mais importante que o país produziu na segunda metade do século 20. Cioso de como a história contará sua trajetória e os anos de seu governo, repete, incansavelmente, o papel que desempenhou no processo de retirada de milhões do mapa da fome em seus discursos.

Quando estava para deixar o prédio do sindicato escoltado pela polícia, parte dos manifestantes não o deixou sair. Por conta disso, vi e ouvi muitos comentários de analistas indignados, afirmando que isso era forjado, ou seja, um bloqueio organizado estrategicamente para não deixar ele se entregar. O que mostra que uma parte da classe média antipetista ou mesmo da imprensa não consegue entender o que uma parte do povão mais pobre pensa dele.

Havia quem não queria que ele fosse preso por ser ele o Lula, como toda mitificação em torno dele. Mas para outras que impediam sua passagem, Lula não é mais uma pessoa, mas uma ideia – como ele mesmo disse em seu último discurso, após a missa, nesta manhã, em homenagem ao aniversário de sua falecida esposa Marisa Letícia. E quem quer deixar uma ideia ser presa assim tão facilmente?

Antes que o governo do Estado de São Paulo mandasse a Tropa de Choque para o sindicato a fim de ajudar a cumprir a ordem de prisão, Lula saiu a pé do prédio e entrou no carro que o levaria embora.

Conseguiu o que queria. Para uma parte da sociedade, ele se entregou à polícia e cumprirá pena em Curitiba, sendo o primeiro ex-presidente preso por crime comum. Para outros, contudo, passa como um preso político, arrancado dos braços de um povo que não queria deixar que partisse, mantendo-se como inspiração para a militância em todo o país.

Qual a memória que a maioria das pessoas terá desse dia ainda é cedo para dizer. Da mesma forma, é difícil imaginar o que a história pensará de Lula. Pois, se retirou milhões da fome, decepcionou outros tantos devido aos seus acordos com setores atrasados do país nome da governabilidade.

Além disso, a distribuição das narrativas é feita de desigual devido ao poder de difusão dos meios disponíveis a cada lado. Mas, para ele, é uma vitória ter conseguido impor sua narrativa para disputar o jogo.

Fina ironia. A Operação Lava Jato, tão boa de marketing, criou as condições para aprofundar a mitificação de Lula na ânsia por garantir aquilo que já era certo.

Em tempo: Cansei de denunciar a violência contra jornalistas que cobrem atos e manifestações, da direita à esquerda, ao longo dos anos. De agressões a quem cobre protesto contra a prisão do ex-presidente até tiros no ônibus que levava os jornalistas na caravana de Lula no região Sul, seguimos um caminho perigoso contra a liberdade de expressão e os profissionais de comunicação. Se nossa categoria se visse como trabalhadora, já teria cruzado os braços diante da percepção de que veremos (mais) colegas sendo mortos até as eleições em outubro. Feliz 7 de abril, Dia do Jornalista. (Por Leonardo Sakamoto, em seu Blog).