11 de fevereiro de 2018

Altaneira registra a maior chuva da região do cariri neste domingo (11)


Depois de dois dias, o município de Altaneira, na região do cariri, voltou a ter precipitações pluviométricas na manhã deste domingo, 11.

A volta das pancadas de chuvas que tiveram início já nas primeiras horas da manhã fez com que a temperatura continuasse baixa, dando, pois, aos agricultores e agricultoras motivos para manterem a esperança de uma quadra invernosa boa, pois voltou a chover na cidade alta e em grande intensidade, além de contribuir de forma significativa para afastar o medo que paira sobre os munícipes acerca do plantio.

Na sexta-feira, 09, um dia após a chuva tímida de 39,00 mm, era visível a esperança estampada no rosto de agricultores e demonstrada na força física através do cabo da enxada a limpar seus pequenos roçados, alguns inclusive na própria zona urbana.

Até as 08h47min deste domingo, segundo dados colhidos junto a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (FUNCEME), Altaneira tinha registrado a maior chuva da região do cariri com 61,00 mm e a quarta maior do Ceará, atrás apenas de Peixes (Russas) com 73, 8 mm), do Brejinho (Araripe) com 66,00 mm e do Sítio Timbauba Macore (Russas) que obteve 64,4 mm.

No acumulativo, em apenas dois dias o mês de fevereiro em Altaneira os índices pluviométricos foram maiores do que todo o mês anterior.

Rua João Barbosa de Oliveira nas primeiras horas da manhã deste domingo, 11. (Foto: Nicolau Neto).



10 de fevereiro de 2018

O desafio de se tornar negro


Não é só uma questão de pele. É um processo de autoafirmação que implica consciência e descolonização.

Eugenia Anna dos Santos, Mãe Aninha Obá Biyi, fundadora do Axé Opô Afonjá, declarou certa vez que queria seus netos com anel de doutor no dedo e aos pés de Xangô. Desde sua morte, em 1938, o povo negro continua a enfrentar inúmeros desafios, principalmente o de sobreviver. Nascida em 1869, Mãe Aninha escapou da escravidão, mas viu de perto o sofrimento, a perseguição, a exclusão. Não sucumbiu porque encontrou no candomblé o espaço e o tempo da resistência.

A ialorixá sabia que o acesso à educação não era prerrogativa de negros e negras, mas vislumbrava um novo horizonte caso seus descendentes frequentassem a escola e, quem sabe, a universidade. Um sonho distante para quem viveu durante e após a escravidão. Algo improvável, uma vez que a legislação vigente por um bom período do Império vetava a admissão de negros nas escolas públicas.

A educação como vetor de ascensão social para a população negra era exceção. Vez ou outra um menino bastardo, fruto da violência do senhor sobre a escrava, era mandado a um seminário. Alguns “filhos do pecado” tiveram oportunidades, até estudaram em universidades conceituadas.

Existem ainda leigos e autodidatas que traziam um conhecimento pouco valorizado, mas que foram peças-chave na construção deste País. Há nomes que figuram como referências no Direito, Medicina, Engenharia, Literatura. Negros que colaboraram na luta pela abolição e influenciaram nos destinos do Brasil.

As estratégias de resistência nos quilombos e nos terreiros eram outras. Não incluíam uma instrução formal, não passavam pelas universidades, não contavam com a imprensa para propagar seus ideais. Era preciso sobreviver.

O candomblé, por exemplo, além de recuperar a família, a tribo e a organização social africana, perdidas no processo da diáspora, possibilitava ao negro a construção de uma identidade que remetia a sua origem.

Contudo, num ambiente hostil, em meio à escravidão, submetidos à colonização, sendo privados de seus nomes, de seus parentes, de suas referências, não restava outra alternativa a não ser aquela de se adequar para sobreviver.

Num primeiro momento, para estar inserido na sociedade, na qual os brancos eram os senhores, ou seja, a classe dominante que determinava o modo e, muitas vezes, o tempo de vida do contingente negro, era preciso se submeter à conversão ao catolicismo. Essa conversão era uma condição para a existência e mobilidade social de negros e negras.

Corpos e mentes colonizados ultrapassaram o período escravista. A condição de escravo, além de real e concreta por quase quatro séculos, é até hoje uma triste herança histórica e segue a determinar os lugares sociais de metade da população brasileira.

É quase um pacto que por vezes alguns movimentos, nem sempre organizados, tentam romper. Foram muitos ao longo do século XX, mas alguns dados de memória coletiva da minha geração, que viveu boa parte de sua infância nos anos 1980 e frequentou a universidade entre meados dos anos 1990 e 2000, me provocam a pensar neste velho desafio do povo negro: a ascensão social.

Lanço meu olhar sobre negros e negras que tiveram acesso à universidade antes das cotas e das facilidades criadas pelos programas sociais dos últimos anos. Que em sua maioria estudaram em instituições particulares, trabalhavam de dia e estudavam à noite, moravam longe, não tinham carro nem dinheiro sobrando.

Estes, cujas mães eram empregadas domésticas e os pais, quando existiam, exerciam algum tipo de trabalho braçal, constituem um grupo que rompeu com um ciclo, mudando a história de suas famílias e da geração seguinte.

Educação, artes, literatura, história, filosofia, antropologia, religião, sociologia, direito, política são algumas das áreas nas quais se destacaram esses negros que hoje estão com anel de doutor no dedo. Netos e netas de Mãe Aninha e Mãe Senhora, de Mãe Menininha e Procópio de Ogunjá, filhos dessa diáspora africana que, embora plena em consciência e negritude, em certos momentos ainda sofre os efeitos da colonização.

É compreensível, mas devemos lutar para desconstruir esse conceito que nos impele à autodestruição e nos faz enxergar irmãos e irmãs como rivais.

Aqui, falo de gente negra que subiu um degrau a mais, mas fez questão de reforçar seus traços e sua identidade cultural. Falo daqueles que recusaram o branqueamento, daqueles que têm consciência e percebem que o acesso a bens de consumo não altera sua condição de classe.

Conhecemos bem a fragilidade dos movimentos de afirmação racial e vemos territórios de resistência, como terreiros de candomblé e escolas de samba, passar por processos de esvaziamento de significados, tornando-se espaços sem origem, sem cor.

Na verdade, é a branquitude percebendo e aproveitando-se de nossas fragilidades, impondo-se com a mesma sutileza do branqueamento, que transforma a ascensão social numa possibilidade que se processa individualmente, por esforço e mérito.

Esse é um bom exemplo de como se efetua o mito da democracia racial, que, entre tantas fantasias, cria a ideia de que não existe racismo no Brasil, desagregando o grupo étnico e impossibilitando que este aja em conjunto.

Para usar um conceito marxista, o contingente negro não constitui uma classe social, portanto não somos agentes capazes de interferir no processo histórico. Por consequência, nossos problemas deixam de ser coletivos e se tornam individuais. Paramos de ser colaboradores e passamos a ser concorrentes. A quem essa postura serve?

Um grande nome dessa geração é a filósofa Djamila Ribeiro, uma das principais expoentes do feminismo negro. Ganhou projeção, brilhou, atraiu olhares (e não só de admiração). Nela e em tantos outros se realiza o velho desejo de Mãe Aninha, mas como pesa esse anel.

A ascensão social de negros e negras vem acompanhada de desconfiança, juízo de valor e muitos adjetivos. A culpa pode levar a um autoboicote, à interrupção de projetos profissionais e acadêmicos, à rejeição de convites.

Volto a dizer: nossa afirmação coletiva ainda é frágil. Por isso devemos estar atentos e não permitir que a colonização limite nossos corpos e mentes. O lugar de fala deve ser respeitado, o debate tem que ser produtivo e a crítica só vale se for honesta e construtiva. Empatia, afeto, generosidade são legados da nossa ancestralidade e é nossa obrigação cultivá-los.

A máxima “eu não tenho culpa” tem ilustrado meus momentos de realização e felicidade. Cabe a todos e todas de minha geração, a cada um dos meus irmãos e irmãs: aos de fé, aos de axé, aos de cor.

Não somos inimigos, ainda que tenhamos divergências. Somos pares. Nosso inimigo é o racismo, o sistema, a estrutura que nos impede de entrar mesmo quando somos os donos da grife. (Por Pai Rodney, da CartaCapital).


Nicolau Neto, professor, blogueiro e ativista das causas negras durante Formação sobre Ensino de História e Cultura Afro-indígena cearense realizado pela Crede 18 em agosto de 2015. (Foto: Lucélia Muniz).

Coragem e luta: Vitória dos povos quilombolas!



Dizia Guimarães Rosa que “a vida quer da gente é coragem”. Esta palavra de ordem, coragem, lema permanente da luta dos povos quilombolas, foi fundamental para garantir decisão do Supremo Tribunal Federal que manteve a validade do decreto que regulamenta a demarcação de terras quilombolas, assinado pelo então presidente Lula em 2003.

A conceituação do critério da autoatribuição como constitucional, entendimento unânime dos ministros da atual composição do STF (exceção a Alexandre de Moraes, impedido de participar desta votação), é a afirmação de uma demanda importante dos povos quilombolas.

Ainda que os ministros não tenham debatido e enterrado a tese do marco temporal, a argumentação dos próprios magistrados denota a dificuldade de produção de fraudes no processo de autoatribuição, garantindo o direito dos quilombolas de irem ao encontro de suas terras e de sua história.

Em tempos onde a resistência deve ser a palavra de ordem num cenário de desestruturação institucional, dilapidação dos valores comunitários e violação sistemática de Direitos Humanos, a luta coordenada pelos povos quilombolas é um ensinamento precioso e inspirador para as jornadas que estão por vir.

Esforço que contou com a atuação obstinada de diversos grupos e entidades que, em apoio aos quilombolas, se somaram nessa batalha, como a bancada do meu partido, o PT, e demais partidos do campo progressista, a Comissão de Direitos Humanos e Minorias, que tanto no período de minha presidência como nas gestões dos colegas que me antecederam sempre pautou essa temática instando o Congresso a se debruçar e defender os direitos humanos dos quilombolas, movimentos sociais, acadêmicos, lideranças da sociedade civil e uma articulação de organizações de todo o mundo, que denunciaram sistematicamente na comunidade brasileira e internacional os riscos da eventual inconstitucionalidade do decreto viabilizado por Lula.

Ressalte-se, também, que depois de um longo período de tibieza e lassidão do STF, o tribunal máximo de nosso país deu um sinal de que ainda tem condições de cumprir seu papel de guardião constitucional, não cedendo a pressões do capital do agronegócio e daqueles interessados em explorar as terras que são de direito dos povos quilombolas. Esperamos que a coragem tão presente no cotidiano dos quilombolas siga presente nesta Corte, e que ela não seja promotora de violações de Direitos Humanos quando instada a fazer valer a Constituição brasileira. (Por Paulo Fernando dos Santos*, na Revista Fórum).

* Paulo Fernando dos Santos, mais conhecido como Paulão do PT, é presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados.

Mantida a validade do decreto que regulamenta a demarcação de terras quilombolas. (Foto: Marcello Casal Jr/ ABr).

9 de fevereiro de 2018

O que leva alguém a votar em Bolsonaro & Cia., e o que isto significa?


Pelo menos, se o homem não se tornou mais sanguinário com a civilização, ficou com certeza sanguinário de modo pior, mais ignóbil que antes. Outrora, ele via justiça no massacre e destruía, de consciência tranquila, quem julgasse necessário; hoje, embora consideremos o derramamento de sangue uma ignomínia, assim mesmo ocupamo-nos com essa ignomínia, e mais ainda que outrora. O que é pior? Decidi vós mesmos. DOSTOIÉVSKI, Fiódor M. Memórias do subsolo.

Responder satisfatoriamente à indagação proposta pelo título não é uma tarefa simples, tampouco acarreta em uma visão otimista com relação à política profissional brasileira. Negligenciei propositalmente, por certo tempo, em escrever sobre um perfil tão nefasto, patético e risível como este, até mesmo por pensar que seria demasiada atenção dispensada a algo relativamente insignificante (como, acertadamente, foi o cômico movimento O sul é o meu país). Não que tenha ocorrido algum acréscimo significativo à visibilidade de Bolsonaro, mas o que se pretende abordar, ainda que seja desafiador, é a abstrusa subjetividade que leva alguém a cogitar, a eleger e/ou ser eleito com base em discursos como os de Jair Bolsonaro & Cia. Desta forma, quaisquer comentários, assim como a polêmica suscitada através deste texto, só serão plausíveis na medida em que forem assimiladas concepções aqui explanadas.

Infelizmente, ainda é necessário ressaltar que este debate sequer devia existir, assim como este texto; afinal, é inconcebível que um regime político incipiente, como é o caso da democracia brasileira, tenha entre seus quadros político-partidários pessoas que representam um perigo letal às instituições, bem como para com os próprios cidadãos. Causa sincera comoção e admiração que discursos de ódio e intolerância ganhem tanta repercussão e, o que é pior, que sejam representados nas arenas políticas (tanto mais por alguém que defende atrocidades, tais como as cometidas ao longo de duas décadas de autoritarismo civil-militar). Não se trata apenas de Bolsonaro em si, mas de quem e o quê ele representa.

O cenário é tal que, mesmo no ambiente acadêmico-especializado da Ciência Política, e mais ainda no clássico pessimismo da visão culturalista, encontram-se facilmente terminologias técnicas adjetivadas de “crise”. Em termos práticos, o que chega ao cidadão comum, leigo e distante das esferas de poder, é que há uma macilenta crise generalizada, sendo esta responsável pela corrosão das instituições e da política brasileira; ou, pelo menos, é esta a premissa dos discursos propagados. É verídico que o índice de confiança institucional dos brasileiros tende a ser tanto pior quanto maior a proximidade com as arenas político-profissionais, cabendo uma das piores colocações (desconfiança) aos partidos políticos. Eis a gênese da “crise”: não há legitimação e representação, por um lado e, de outro, ausenta-se exponencialmente a confiança e a reciprocidade (as bases da democracia enquanto espelho da sociedade). Em outras palavras, o povo não se vê representado através dos partidos, assim como não crê na política profissional brasileira (e não sem motivos, é claro).

Este cenário de pouca confiança institucional (e também social) forma um campo fértil para semear discursos de crise. Por quê?

Pelo simples fato de apresentar um discurso que já está presente na subjetividade dos brasileiros – encontra ecos no “tradicionalmente concebido”. Por exemplo, é mais fácil aceitarmos que existe uma crise que justifique “explodir o Congresso”, do que aceitarmos que há sim como aprimorar a política profissional. Neste aspecto, ressalvadas as devidas proporções, o que é permitido compreender, através de uma possível comparação entre o “efeito Bolsonaro” e os regimes totalitários da década de 1930/1940? Fora a fertilidade que discursos de ódio, intolerância e crise generalizada possuem, ecoando no âmago de uma sociedade descontente e incrédula, também percebe-se a necessidade vital de, uma vez formulado o problema, apresentar a solução: o “mito” salvador pátria.

Este é um fator fundamental para a compreensão do sucesso, ao menos midiático, de candidatos como Jair Bolsonaro. Ele (e tantos outros, assim como seus assessores) sabe qual é o “ponto fraco” dos brasileiros – é por isso que adjunto a este abjeto jargão de “crise” (o problema), existe a vital necessidade de um líder “sério, honesto, firme” que conduza a nação ao El Dorado (a solução). Mas esta relação não se esgota aqui, pois assim como em todos os discursos extremistas, especialmente os movidos à amálgama de ignorância e ódio, é deveras essencial encontrar um culpado. Temos, então, a tríade “problema – culpado – solução” (cada uma destas terminologias poderia ser infinitamente preenchida com diversos nomes, mas isto exigiria tamanha criatividade e dispêndio desnecessário de laudas e tempo que, além ser um exercício à memória, poderá o leitor amigo entreter-se por longas horas).

O fator primordial consiste no fato de que a relação causa-efeito (problema/solução) pode ser assimilada por qualquer pessoa, independente da classe social, da idade ou do local, pois é fácil; afinal, todo problema exige uma solução. Permitamo-nos uma analogia: para compreender as longas horas de êxtase que uma criança obtém através de um simples brinquedo, deve-se pensar e agir do mesmo modo que ela; para compreender Bolsonaro e seus asseclas, deve-se focar tanto em suas limitadas capacidades quanto nas de seus representados, o que exige uma simplicidade de raciocínio extremamente infantil que, aliás, é bem caro ao cotidiano adulto. Ademais, o que significa este lúgubre comportamento de idolatrar Bolsonaro, representado por jargões como “este é o mito!”, “ele é o único honesto”, “messias”, dentre outras tantas verborragias anencéfalas? Significa analfabetismo político e falta de bom senso, além de milhares de anos de evolução humana jogados fora…

Mas onde se propagam estes discursos?

Propositalmente, são através das redes sociais e de aplicativos como o WhatsApp, no qual se conquista pela simplicidade e superficialidade da comunicação, ou, o que dá no mesmo, pela facilidade e agilidade necessárias à (in)compreensão da mensagem. São nestes locais que os discursos prontos, fechados e intolerantes se propagam com inenarrável facilidade. Dificilmente a caríssima (sim, o superlativo se justifica) construção do conhecimento pode ser resumida e verificável através de virtuais abstrações simplistas como as propagadas por este grupo (por exemplo: para alguns, uma piadinha boba; para outros, um preconceito velado). Refletir acuradamente é bem mais difícil do que agir espontaneamente, sem pensar, uma vez que isto exige investimento, tempo e rigor (deve ser por isto que o bom soldado, pregado por Bolsonaro & Cia., deve apenas obedecer, jamais contestar – eis o nonsense estereotipado).

Não é por acaso que o reflexo deste cenário pode ser magistralmente resumido no adágio do Mestre Povo: “nunca se deve discutir com um idiota, pois o mesmo lhe rebaixará ao seu nível e lhe ‘vencerá’ por meio de sua idiotice”, afinal, ele está em seu terreno – no qual existem mitos, messias, salvadores-da-pátria e juízes que defendem um execrável auxílio-moradia, pois seu titânico salário ainda é insuficiente (não generalizemos, todavia, no abrandamento da questão, pois alguns asseclas mais revoltados vociferam “morte aos juízes!”) Este comportamento explica o porquê de uma simples frase/imagem ser capaz de condenar e suscitar ódio, por exemplo, ao Programa Bolsa Família; mas estranhamente também é a chave-interpretativa do porquê não conseguirmos resumir uma explicação que mostre, efetivamente, a importância desta política de Estado em uma simples frase/imagem. Não há como ser tão simplista e irracional, fora o fato de que este público é sempre irracionalmente seletivo: só veem aquilo que lhes soa aprazível e cômodo.

Visivelmente, grande parte do virtual eleitor de Bolsonaro é relativamente jovem, sendo que destes, muitos possuem voto ainda facultativo. Mas há, também, um perfil de eleitor socialmente reacionário e humanamente desumano, apoiador de medidas extremas, na qual a pior é a execução (idolatrada por esta ascosa turba). Este é o perfil de alguém que possui um ódio generalizado e não sabe em quem ou no quê dará vazão ao mesmo. Assim como a dor indica algo errado no corpo, servindo muitas vezes de alerta, este perfil sociopolítico também cumpre semelhante função social. Por isto que afirmo: Bolsonaro, em si mesmo, não é motivo de preocupação alguma; o que preocupa é quem e o quê ele representa. Existe apenas um Jair Bolsonaro, mas cidadãos com este mesmo perfil existem aos milhares – e são eles que compõem o verdadeiro motivo de consternação.

É bom ressaltar que o diálogo com o perfil acima descrito é pífio. No entanto, não podemos generalizar (pois se assim agíssemos, recairíamos em um colossal erro), mas em sua grande maioria, este eleitor é tão estulto quanto o seu representante eleito. Assim como todo profundo e obtuso ignorante, consciente de sua falta de conhecimento e poder argumentativo, este público utiliza-se, para defender o seu ponto de vista, de cômicas justificativas que recaem em ilusórias experiências, tais como “no meu tempo não era assim”, ou nostalgias não-vividas do estilo “meu pai disse que não era assim”, ou até mesmo fantasias virtuais como “salvemos o Brasil dos esquerdistas” ou dos “comunistas que comem criancinhas” (aliás, será que este perfil sabe o que é o comunismo? Será que leram o básico e complexo Manifesto do Partido Comunista? Certamente não). Como diálogo não há, e mesmo se houvesse não haveria muito a ser debatido, este eleitor/eleito tende, quando confrontado, a reagir violentamente (tanto fisicamente quanto simbolicamente), fechando-se em sua colossal arrogância – e nisto consiste toda a sua argumentação!

Quanto aos idiotas, os deixemos com Horácio Quiroga, que em A galinha degolada demonstrou o poder nocivo destes “inofensivos seres”; quanto ao seu papel político, empreguemos a expressão de Brecht: são “analfabetos políticos” (sem jamais esquecer que estes votam, e, votando ou não, servem como infalível massa de manobra). Aliás, é importante ressaltar esse ponto. Este eleitor/cidadão desinformado, com a característica picardia de homem hobbesiano em estado de natureza (ou selvagem), serve como um atuante político responsável pelo suporte de regimes extremistas, além de diversos autoritarismos e golpes de Estado.

No Brasil não é diferente, pois temos lá nossas tropicais insanidades, muitas vezes fomentadas conscientemente por uma viperina elite tupiniquim que lhes brinda com patos amarelos e lhes esvaziam as panelas, para delas se servirem como instrumentos para variadas sonatas e sinfonias (aliás, sejamos mais realistas, pois eles(as) gostam mesmo é de uma “vai malandra”, afinal, por mais moralistas que sejam, o predomínio do primitivo instinto sexual sempre fornece alguma exceção à monogamia).

Defender medidas enérgicas contra a criminalidade, por exemplo, é essencial, independentemente da ideologia política (mas não sejamos, todavia, deterministas míopes ou imediatistas, como é este público que exalta em sanguinária verborragia jargões do estilo “redução da maioridade penal” e “execução”). Neste quesito, é papel constitucional do Estado reinserir o cidadão, após pena cumprida, na sociedade. Mas sabe-se ser falho este processo, e é desta falha nas instituições que é retirado o âmago do discurso que forma diversas plataformas políticas; assim como leva alguém a votar em Bolsonaro. A violência, criminalidade, ineficiência, morosidade, descrença, pessimismo, crise generalizada, etc., são fatores chaves para compreender a ascensão de discursos de ódio. É por meio destes comportamentos, jamais propositivos, ou melhor, beneficamente propositivos, que tais afetados representantes “da moral e dos bons costumes” fazem o seu desesperado apelo à antiga “ordem” estabelecida. Mas como fazem isto? Por meio do apelo tradicional (vide, por exemplo, a agenda da bancada evangélica).

Eis o porquê da viável e necessária parceira com instituições tradicionais, tais como as representações religiosas (geralmente reacionárias em termos sociais). Inclusive, este ponto é crucial, pois sabendo que os culpados são os “esquerdistas” (que em suas limitadas visões são homogêneos e unidos), é natural que concebam qualquer viés social como uma premissa “esquerdista” e, por isto, sem valor. Como resolver mais este paradoxal contratempo? Pode-se supor que, dentre as alternativas cogitadas por este público, esteja o desmantelamento do Estado, tornando-o mínimo e entregando-o à acumulação de capital financeiro (permanece, entretanto, a dubiedade: será que eles seriam capazes administrar esta selvageria proposta ou serviriam apenas como meros instrumentos de administração – os vulgos testas-de-ferro?).

Não podemos menosprezar o poder corrosivo que essas pessoas disseminam em meio à sociedade, pois basta analisar o exemplo dos Estados Unidos, Argentina e, também, o caso singular do Brasil e do Paraguai. A atual gestão política destes países demonstra que há, de fato, certo poder nos delírios destas pessoas, sendo que as mesmas são capazes de levar muitos oportunistas e/ou demagogos ao poder. Em outras palavras, elas são usadas, sem assim o saberem, por aqueles que verdadeiramente possuem capacidade de transformar este ódio generalizado em votos válidos, o que não é o caso de um simples Bolsonaro. Maquiavel dizia que deveríamos aprender com a História, e que esta é melhor professora. Então exercitemos: para quem diga que políticos ou governos são todos iguais (como é o caso dos eleitores de Bolsonaro), questiona-se: acaso não mudou nada, não importa se para melhor ou pior, entre a gestão de Rousseff e de Temer? É claro que mudou! Políticos não são todos iguais…

Aliás, suponhamos um exemplo hipotético deste comportamento irracional. Se Lula, o “culpado de todos os males” na versão dos asseclas de Bolsonaro & Cia., viesse a óbito neste exato momento, será que este ódio dissipar-se-ia? É bem provável que não. Nesse caso, este mesmo ódio seria somente transferido para outra pessoa, ou grupo de pessoas; afinal, ele é babilônico. Por falar nisto, soa bem interessante o fato de que sem uma liderança representativa da esquerda, Bolsonaro também entra em ostracismo, justamente por não ter a quem opor-se (ora, uma vez unidos culpado e problema em uma só pessoa, e esta é eliminada, também elimina-se a necessidade de uma solução). E, bem sabendo desta relação política, as alas verdadeiramente organizadas e com potencial eleitoral (PSDB e PMDB), garantem expressividade neste cenário.

O que significa, em uma visão racional e branda, votar em Bolsonaro?

Significa uma ânsia e um descontentamento desesperado, junto ao clamor por mudanças reais e efetivas. Até aqui, tudo bem, mas a questão é em quem é depositada esta fé, assim como nos meios utilizados para tal apoteose. Além da mais sincera comiseração que despertam, estas pessoas necessitam, desesperadamente, tomarem consciência do mal que fazem não apenas para si, mas para todos os brasileiros, ou melhor, para todos nós, humanos. Ser um cidadão consciente de seu potencial ou um mero “eleitor de Bolsonaro & Cia”, o que é melhor? Decidi vós mesmos. (Por Marconi Severo*, no Pragmatismo Político).

* Marconi Severo é Cientista Social & Político e colaborou para Pragmatismo Político.

Jair Bolsonaro. (Foto: Reprodução/ Pragmatismo Político).

Horário das sessões ordinárias da Câmara de Altaneira é alterado


Uma resolução aprovada na noite da última quarta-feira, 07, na volta do recesso parlamentar, alterou o horário de realização das sessões ordinárias da Câmara do município de Altaneira.

De autoria do vereador professor Adeilton (PSD), a resolução deu nova redação ao Art. 125 do Regimento Interno da Casa que passa a vigorar apregoando que as sessões continuam sendo realizadas semanalmente nas quartas-feiras, porém às 10h00 da manhã. Antes os encontros ocorriam às 18h00.

Conforme informações veiculadas no portal oficial do legislativo municipal, o texto foi apresentado em sessão ordinária e convocada uma extraordinária na mesma noite apara deliberar acerca da temática. O autor da propositura arguiu sobre o bom diálogo que teve com os demais edis, vindo a ressaltar que todos acataram a sugestão de mudanças sem nenhuma argumentação que a colocasse em xeque.

A justificativa apresentada pelo relator da Comissão Permanente, o vereador Flávio Correia (SD) e endossada pelo próprio autor da proposição, se deu para adequar o horário das sessões ao tempo de disponibilidade deste último em face de sua atuação como professor na Escola de Ensino Médio Santa Tereza.

A integra da Resolução Nº 001/2018 que também alterou ainda o horário das reuniões da Comissão Permanente, está disponível no Diário Oficial dos Municípios do Estado do Ceará, na Edição 1878, desta sexta-feira, 09.

Pequeno Histórico de Mudanças

Somente em 2017 os horários das sessões ordinárias sofreram duas alterações. A primeira, de autoria do presidente da casa, o vereador Antonio Leite (PDT), fez com que as reuniões saíssem das sextas-feiras à tarde para as quartas-feiras à noite, com previsão para início às 19h00. A segunda veio com menos de um mês. Esta última apenas modificou o horário das 19:00h (dezenove horas) para às 18:00h (dezoito horas). Naquela ocasião, o vereador Cier Bastos (PDT), autor da propositura, argumentou que isso se fazia necessário para que os munícipes pudessem acompanhar os trabalhos via Rádio Comunitária Altaneira FM.

Antes de todas essas mudanças, as sessões que entraram para o imaginário dos altaneirenses eram realizadas nas tardes de terças-feiras às 15h00, com transmissão pela Rádio Comunitária Altaneira FM.

Câmara de Altaneira altera horário de realização das sessões ordinárias. (Foto: Júnior Carvalho).



8 de fevereiro de 2018

Trevas: Projeto que criminaliza exibição de órgãos genitais na arte será analisado na Câmara


Apresentado em outubro do ano passado pelo deputado Delegado Francischini (SD-PR), o projeto de lei que visa alterar o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) para tornar crime a exibição de órgãos genitais para fins artísticos voltou a ser pauta de discussão entre os deputados com o início do ano legislativo.

Nesta quarta-feira (7), o site da Câmara divulgou uma nota em que repercute a tramitação da matéria, que deverá ser analisada, em breve, pelas comissões de Cultura; de Seguridade Social e Família; e de Constituição e Justiça e de Cidadania, e pelo Plenário.

O Projeto de Lei 8740/17, segundo o autor, tem como objetivo “combater a erotização disfarçada na forma de arte”.

Motivações

Uma das principais motivações para a criação da proposta foi a polêmica envolvendo a exposição Queermuseu, no Santander Cultural de Porto Alegre. Na ocasião, após pressão de grupos direitistas, a mostra foi censurada sob a acusação de incentivar a erotização de crianças e praticar blasfêmia com relação ao uso de símbolos religiosos.

Pouco tempo depois a caçada moralista atingiu o Museu de Arte Moderna em São Paulo (MAM), que estava exibindo uma performance envolvendo nu artístico. Assim como o Queermuseu, a performance foi alvo de ataque dos direitistas. (Com informações da Revista Forum).


O nascimento de vênus. (Foto: reprodução/ Revista Fórum).




Altaneira registra chuva de 39 mm nesta quinta-feira


Depois de um mês de janeiro com intenso calor em Altaneira, os primeiros dias de fevereiro não foram muito animadores, principalmente para aqueles/as que dependem quase que exclusivamente da agricultura.

As tradicionais cenas de agricultores e agricultoras deixando suas residências com destino ao roçado estão se tornando cada vez mais escassas em face da falta de regularidade de pancadas de chuvas. Durante todo o mês de janeiro só choveu em apenas 5 (cinco) dias, totalizando 65 mm.


A chuva desta quinta-feira, 08, que banhou a cidade alta desde as primeiras horas da manhã, pode servir de estímulo para o plantio. Segundo dados colhidos junto a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), as precipitações atingiram 39 mm.

Não foi encontrado nenhum registro do momento da chuva, mas o professor e sindicalista José Evantuil usou a rede social na manhã de ontem, 07, para postar foto da Rua Joaquim Soares, afirmando que o clima tinha amanhecido diferente e que isso seria prenúncio de chuvas, conforme foto que ilustra este artigo.

"O Clima amanheceu diferente. Prenuncio de chuvas", disse José Evantuil ao compartilhar esta foto
da Rua Joaquim Soares na manhã de quarta-feira, 07.





7 de fevereiro de 2018

Bebê morre após médico se negar a socorrê-lo por ser de "outra cidade"



Uma criança teve atendimento negado por um médico no hospital Materno Infantil na cidade de Pinheiro, no Maranhão (MA), e morreu dentro da ambulância na porta do local na madrugada da última quinta-feira (1).

Segundo informações divulgadas no “Pragmatismo Político, Paulo Roberto Penha Costa, de 44 anos, foi preso em flagrante e autuado por homicídio culposo, quando não há intenção de matar e se não pagasse fiança correspondente a 50 salários mínimos (equivalente a R$ 47,7 mil), o médico seria transferido para o presídio ainda no dia do ocorrido.

O Pragmatismo apurou junto a Polícia Militar que o recém-nascido chegou em estado grave ao Hospital em uma ambulância da cidade de São Bento, que fica a 63 km de Pinheiro. No entanto, Paulo Roberto alegou que não atenderia um paciente de outro município por determinação do hospital.

Ainda de acordo com a polícia, o médico não saiu do seu quarto nem para atender a criança e nem para dar explicações aos policiais. Diante da recusa de Paulo Roberto, os policiais decidiram prender o médico pelo crime de omissão de socorro.

O bebê, que segundo a polícia apresentava insuficiência respiratória, morreu minutos depois dentro da ambulância na porta do hospital.

Hospital divulga nota

Não querendo assumir responsabilidades, a direção do Hospital Materno Infantil informou que, ao chegar à unidade de saúde, o recém-nascido já estava morto por conta do transporte inadequado.

A direção do hospital ainda responsabilizou o médico que realizou o transporte da criança e informou que todos os hospitais do município de Pinheiro sempre prestam atendimento a todos os pacientes de todos os municípios do Maranhão. (Com informações do Pragmatismo Político).

(Foto: Reprodução/ Pragmatismo Político).