11 de janeiro de 2018

Nas eleições, o Brasil estará entre um futuro e a mesmice


(Paulo Pinto/ Fotos Públicas).

A leitura dos intérpretes do Brasil, particularmente de Raymundo Faoro, nos permite concluir que a história brasileira anda em círculo e, a rigor, permanece sempre no mesmo lugar. Não há uma espiral capaz de projetar o País para o futuro. De décadas em décadas ocorrem pequenas rupturas na linha desse círculo, mas logo são recompostas, seja pela via do recurso às armas, seja de arranjos conciliadores ou de golpes parlamentares-judiciais, como foi o último caso.

O caráter circular da história brasileira é impositivo, determinado pela vontade das elites, cujos grupos hegemônicos podem variar, mas mantêm sempre o mesmo objetivo: aprisionar o Estado e usá-lo como instrumento de acumulação de capital, numa relação de extorsão contra a sociedade e contra os trabalhadores, lançando mão de vários mecanismos para alcançar as metas.

Os resultados desses processos têm se traduzido na ausência de um Estado universalizante, na precariedade dos direitos sociais, civis, quando não dos políticos. Numa ordem jurídica e policial enviesada contra os pobres, os índios, os afrodescendentes, as mulheres e outros grupos minoritários. Na perpetuação da desigualdade e da pobreza. No fomento proposital na produção de carências em áreas como saúde, educação e cultura. Na inviabilização do desenvolvimento industrial e tecnológico e na degradação ambiental.


A história tem mostrado que os grupos de interesse que lideram esse verdadeiro assalto ao Estado se alternam e se compõem, ora as elites agrárias, o estamento, setores industriais, comerciais, militares, setores financeiros, e assim por diante. De modo geral, esses setores se compõem com interesses internacionais de forma subalterna para bloquear a projeção global do País.

O tucano Alckmin provavelmente absolverá os votos anti-Lula. Dúvida: Ciro Gomes e o ex-presidente serão capazes de formar uma aliança? (Foto: José Antônio Teixeira e Wanezza Soares).
Os instrumentos fiscais regressivos, os subsídios, políticas públicas igualmente regressivas, a sonegação e a corrupção são os meios prediletos que esses grupos utilizam para se apoderar dos recursos retirados da sociedade, intermediados pelo Estado e entesourados e capitalizados por essas facções predatórias das elites.

A livre competição de mercado por meio de métodos racionais e um capitalismo ascendente orientado pela inovação passam longe das terras brasileiras. O discurso liberal sempre foi uma farsa para acobertar o assalto aos recursos públicos. Os destinos do Brasil enquanto nação, o seu lugar no mundo e o bem-estar do povo não são preocupações fundamentais desses grupos particularistas.

Apenas em três momentos foi possível produzir tênues rupturas na linha circular da nossa história: com Getúlio Vargas, que teve de lançar mão de instrumentos de força para se impor. Com João Goulart, que chegou à Presidência pelas circunstâncias do acaso.

E com Lula, que, pela sua liderança e seu carisma, gerou imensa esperança entre os pobres e espoliados do nosso povo. Apesar de se compor com grupos das elites, a continuidade desses processos no sentido de usar o Estado como meio de universalização de direitos, de justiça e de igualdade foi interrompida pelos golpes militares ou judicial-parlamentares.

A condição necessária para o Brasil ter um futuro minimamente razoável consiste na superação da pobreza e da desigualdade, na garantia de direitos, na revolução educacional (condição de um salto tecnológico) e no acesso à saúde e educação para o povo. Somente a superação desse nó será capaz de gerar emprego, renda e inclusão de forma mais sustentável e, consequentemente, o desenvolvimento econômico e social.

A grande batalha política e ética de 2018 consiste em saber se faremos uma aposta nessa possibilidade de futuro ou se vamos permanecer na mesmice do círculo histórico que nos aprisiona. A questão dramática que se apresenta é que ainda estão em curso desdobramentos do golpe judicial-parlamentar, cujo principal ponto consiste em barrar a candidatura do único com chances eleitorais de chegar lá e provocar uma fenda nesse círculo perverso: Lula.

Com Lula na liderança de todas as pesquisas, com Jair Bolsonaro em segundo lugar, com o governo incapaz de gerar um polo atrativo de poder, com um candidato de centro-direita como Geraldo Alckmin apresentando dificuldades e com o fracasso do aventureirismo do novo via João Doria e Luciano Huck tem-se aqui um retrato de como deverá marchar o cenário até o início da campanha. Podem surgir em variações aqui e ali, se apresentarem novos candidatos, mas mudanças substantivas deverão ocorrer  somente após o início da campanha. A Lava Jato deve continuar a produzir alguns efeitos sobre esse ambiente.

Se o cenário se definir em torno das candidaturas que estão mais ou menos postas, sem a entrada de uma grande novidade, de um outsider que tenha a capacidade de desequilibrar, mesmo com todas as dificuldades apresentadas pela candidatura Alckmin, o fato é que o efeito contágio que a figura de Temer e de seu governo suscitam deve levar o centro-direita a se articular com o candidato tucano em uma chapa PSDB-PMDB. Seria a chapa do golpe. Assim, aos  poucos, Alckmin tenderá a ser o desaguadouro das articulações e dos votos anti-Lula. Sem estrutura e com um perfil agressivo que beira a violência, Bolsonaro irá aos poucos se desinflar.

Não se pode aceitar com naturalidade um Judiciário parcial, liderado pelo STF, que rasgou a Constituição em diversos momentos ao longo dos últimos anos. (Foto: Nelson Jr/STF).
Se nada de extraordinário surgir, a tendência é a de que haverá um segundo turno entre Lula e Alckmin, repondo a polarização das duas últimas décadas. Além da movimentação dos candidatos, haverá uma disputa preliminar para a montagem das duas frentes. Lula deveria buscar agregar todo o campo democrático e progressista e tentar cindir o PMDB, capturando parte dele.

Uma questão que surge é se Lula e Ciro Gomes poderão se compor. Do ponto de vista dos interesses sociais e do futuro do País, a composição é desejável e necessária. As idiossincrasias pessoais de um e de outro deveriam se submeter aos ditames do interesse da sociedade. Líderes autênticos, em regra, devem submeter os seus humores pessoais às determinações dos interesses da sociedade e do País.

O campo que apoia Lula precisa enfrentar outras batalhas.

A mais importante consiste em garantir sua candidatura, mesmo que pela força das mobilizações de rua. A interdição de sua candidatura deve ser algo inaceitável e essas forças devem estar dispostas a produzir um impasse se sua candidatura não for acolhida. É preciso deixar claro que uma eleição sem Lula será ilegítima e que isso abrirá as portas para a desobediência civil e para a exasperação dos conflitos sociais e políticos.

Não se pode aceitar naturalmente as decisões e o jugo de um Judiciário parcial e persecutório, que contribuiu para destruir a constitucionalidade do País. Um Judiciário que tem na sua cumieira o STF, que rasgou a Constituição ao entregar ao Senado e à Câmara dos Deputados o poder de decisão judicial para salvar Aécio Neves e outros corruptos.

O outro desafio da candidatura Lula consiste em construir um programa que supere os limites do que foram os 13 anos de governos petistas. Além de enfrentar de forma mais contundente os desafios da desigualdade, da pobreza, do trabalho, da renda, dos direitos, com destaque para educação e saúde, esse programa deveria ter uma forte ênfase reformista.

Em dois sentidos: 1. Remoção dos mecanismos iníquos que geram a desigualdade e a injustiça. 2. Reconstruir as instituições e a economia, buscando criar um Estado ágil, eficaz e confiável e uma economia sustentável, compatibilizada com os desafios tecnológicos, sociais e ambientais do século XXI.

Somente assim o Brasil poderá almejar um lugar melhor no mundo. As candidaturas dos partidos de esquerda terão um papel importante para pressionar Lula e o PT a saírem dos limites a que se enredaram nos 13 anos de governos petistas. Farão isso se apresentarem programas sérios, viáveis e se fizerem um debate convincente com a sociedade. (Por Aldo Fornazieri, na CartaCapital).

*Aldo é professor da Escola de Sociologia e Política (FespSP)

10 de janeiro de 2018

Temer libera mais R$ 10 bi para deputados votarem reforma da Previdência


Michel Temer partiu para o vale tudo para aprovar a reforma da Previdência. Ele reforçará a munição do ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun (MDB-MS), com até R$ 10 bilhões para a finalização de obras em redutos eleitorais de quem votar pela reforma da Previdência. Assessores presidenciais dizem que essa será uma das armas para pressionar o Congresso na volta do recesso. O dinheiro sairá da própria economia gerada em 2018 com a eventual aprovação das novas regras da Previdência. As informações são de Julio Wiziack e Daniel Carvalho, da Folha de S.Paulo.

De acordo com o governo, cálculos da equipe econômica indicam que os gastos com benefícios que deixarão de ser feitos imediatamente após a reforma vão gerar uma sobra de R$ 10 bilhões no caixa se a mudança ocorrer ainda em fevereiro. Terão prioridade os projetos em andamento que necessitam de pouco dinheiro para serem inaugurados ou entrarem na fase final.

Entre eles estão ajustes finais na duplicação da rodovia Régis Bittencourt, na serra do Cafezal, obra praticamente concluída; a segunda fase da linha de transmissão de Belo Monte; a BR-163, no Pará, os aeroportos de Vitória (ES) e Macapá (AP) e a ponte do rio Guaíba (RS).

O governo trata essas obras como “de campanha” porque podem gerar votos nos municípios afetados. Na avaliação da equipe política do governo, isso faz diferença no momento em que as verbas de campanha estão travadas pelo Orçamento nos dois fundos destinados às eleições. (Com informações da Folha de S.Paulo, do Brasil 247 e da Revista Fórum).

Temer solta R$ 10 bi para deputados votarem reforma da previdência. (Foto: Reprodução/ Revista Fórum).

9 de janeiro de 2018

Cearense Adelita faz vídeo contra Bolsonaro e é alvo de ataques


A militante do Partido Socialismo e Liberdade (Psol) Adelita Monteiro está sendo atacada em comentários de um vídeo publicado em seu Facebook sobre o deputado federal e presidenciável Jair Bolsonaro (PSL - RJ). A cearense foi candidata a deputada federal nas eleições de 2014 e obteve 4.647 votos.

No vídeo, intilutado "BOLSONARO: A CASA CAIU", publicado na madrugada desta terça-feira, 9, Adelita comenta sobre levantamento relativo ao crescimento do patrimônio da família Bolsonaro, que chega a pelo menos R$ 15 milhões. "Pense num destroço grande", anunciou. A investigação foi publicada pelo jornal Folha de S. Paulo no último domingo, 7 e gerou polêmica nas redes sociais. Nas imagens, em tom irônico e bem humorado, ela passeia pela vida do deputado federal e comenta sobre as suas declarações mais polêmicas, algumas interpretadas como racismo e homofobia.

A militante do PSOL mantém um canal no YouTube com
mais de 2 mil inscritos. (Foto: Reprodução/ Facebook).
Natural de Limoeiro do Norte, logo no começo do vídeo, Adelita aparece colocando um capacete na cabeça, como se já previsse a repercussão. "Nada não, tô só me preparando. É, a gente vai falar sobre o Bolsonaro", comentou. A militante é youtuber há cerca de um ano e mantém um canal no YouTube com mais de 2 mil inscrições, onde fala sobre polícia, humor e faz até paródias. Em seu Facebook, possui quase 40 mil seguidores e 35 mil curtidas, "Consigo isso falando de uma forma humorada e descomplicada. Não é difícil falar de política", afirma. 

O vídeo já conta com mais de 1.200 reações, 1.650 compartilhamentos e 790 comentários. Comentários preconceituosos direcionados a Adelita logo começaram a aparecer. "Vai fazer um vídeo mais interessante sua vaca petista", disparou um. "Gorda tosca, otaria... cria vergonha nessa tua cara de bolacha[...]", disse outro.

Resposta

Em entrevista ao O POVO Online, Adelita diz que fica claro o "nível" dos eleitores de Bolsonaro. Ela observa que os ataques não são embasados em argumentos e que, em breve, vai fazer outro vídeo apenas comentando a repercussão. "Eu vou fazer um vídeo comentando os comentários e vou me divertir muito. A reposta não será em tom de ódio ao tamanho do machismo dos comentários", garante.

Ela ainda disse que o preconceito também se apoia no machismo. "Por eu ser mulher, eles me mandam lavar a louça e arrumar o que fazer. Existe também a xenofobia por eu ser nordestina. Eu tenho é orgulho de ser do Nordeste", finaliza. (Com informações do O Povo).

Rodrigo Maia se lança candidato a presidente e vai disputar legado de Temer com Meirelles


O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), parece ter perdido o temor de se afirmar como candidato à Presidência em outubro.

Em entrevista publicada nesta terça em O Globo, o deputado pela primeira vez não descarta o seu próprio nome como uma das opções para o pleito.

"Se estou sendo cogitado [por alguns partidos] como uma alternativa, é porque há uma avenida aberta", afirmou, sobre sua eventual candidatura.

Com o movimento, Maia sinaliza que vai mesmo rivalizar com Henrique Meireles pelo "legado" das reformas do governo ilegítimo de Michel Temer.

Maia já estaria articulando uma série de viagens pelo Brasil e reuniões com aliados para começar a viabilizar seu nome e tentar emplacar nas pesquisas, onde a liderança absoluta é do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. (Com informações do Brasil 247).


Maia  lançou seu nome ao Palácio do Planalto. (Foto: Reprodução/ Brasil 247).

8 de janeiro de 2018

Filósofo Euclides Mance identifica dezenas de equívocos lógicos de Moro em sentença contra Lula


"As declarações de (Léo) Pinheiro Filho soam críveis", assinala Sergio Moro na sentença que condenou Lula a nove anos e meio de prisão, prestes a ser analisada em segunda instância pela Justiça.

O magistrado diz não vislumbrar motivo para o delator do ex-presidente no processo do tríplex admitir "a prática de um crime de corrupção", no caso, o repasse de propina ao petista na forma do imóvel, e negar "o outro", relativo ao recebimento de vantagens ilícitas para o armazenamento do acervo presidencial.

"Caso sua intenção fosse mentir em Juízo em favor próprio e do ex-presidente, (Pinheiro) negaria ambos os crimes", conclui o magistrado. "Caso a intenção fosse mentir em Juízo somente para obter benefícios legais, afirmaria os dois crimes."

A argumentação do juiz pressupõe que a confirmação de um crime e a negação de outro permitem concluir pela veracidade da narrativa de Léo Pinheiro. Como a tese de Moro não pode ser verificada a partir do raciocínio lógico, sua conclusão pode ser considerada uma falácia de "apelo à crença", de acordo com o filósofo Euclides André Mance.

Assim como os desembargadores do TRF-4, que julgarão em segunda instância a condenação de Lula por corrupção e lavagem de dinheiro, o pesquisador debruçou-se sobre a sentença de Moro contra Lula. Em vez de avaliá-la do ponto de vista jurídico, seu objetivo foi identificar equívocos de raciocínio, ou argumentações sem consistência lógica (confira alguns exemplos). A falácia do apelo à crença é apenas um dos erros lógicos identificados pelo filósofo.

Integrante da coordenação geral do Instituto de Filosofia da Libertação e ex-professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), estado que abriga a força-tarefa da Lava Jato comandada pelo juiz, Mance está prestes a publicar o livro "Falácias de Moro", que estará disponível para compra no site da Editora IFIBE nas próximas semanas.

Na obra, o autor identifica dezenas de equívocos lógicos do magistrado na peça. O estudo não é uma abordagem jurídica ou mesmo política da sentença, mas uma verificação das conclusões do magistrado a partir de suas premissas.

Embora tenha sentido perjorativo no senso comum, uma falácia não é necessariamente um ato de má fé. Se for cometida sem intenção, lembra Mance, trata-se de um paralogismo. Quando realizada de forma proposital, é um sofisma. "Os defensores do autor da sentença, possivelmente, verão nessas falácias apenas paralogismos oriundos da análise lógica de um problema bastante complexo. Seus críticos poderão entendê-las como sofismas politicamente motivados", escreve o filósofo.

Mance diz que, ao ler a sentença de Moro, começou a perceber algumas inconsistências. "Lecionei lógica e filosofia da linguagem por alguns anos e percebi essas particularidades". O filósofo elaborou uma versão preliminar do estudo e solicitou a contribuição de outros professores de filosofia. Ele diz não ter parâmetros para avaliar se a sentença de Moro tem mais erros lógicos que a média das peças jurídicas no País. "É a primeira vez que analiso uma sentença, mas fiquei estarrecido".

Muitas das falácias identificadas estão relacionadas a erros de inconsistência ou equivocação, quando há duas afirmações excludentes sobre um mesmo fato. Para reconhecê-las, o filósofo teve de confrontar passagens que estão a centenas de parágrafos de distância.

Em seu estudo, o pesquisador notou que Moro trata o apartamento no Guarujá em certa passagem como um duplex, e mais à frente como um tríplex. A ambiguidade é importante, pois Moro afirma que já havia anotações sobre o tríplex em documentos de aquisição de direitos subscritos pela ex-primeira dama Marisa Letícia, quando na verdade o apartamento ainda era um duplex, diz Mance.

O filósofo lembra ainda da afirmação de Léo Pinheiro de que não havia contado a ninguém no interior da OAS sobre as ilicitudes relacionadas ao tríplex. Em seu depoimento, Agenor Medeiros, diretor da empreiteira, contradiz Pinheiro ao afirmar ter ouvido dele numa viagem que os prejuízos com o tríplex seriam abatidos de uma conta de propinas. "Isso revela que um dos dois, ou talvez ambos, tenham faltado com a verdade em juízo." (Por Miguel Martins, no CartaCapital).


Segundo o filósofo, Moro incorre em equívocos de raciocínios dos mais variados. (Foto: Marcelo Camargo/ Agência Brasil).




Temer tem abertas as portas do SBT de Silvio Santos para defender a reforma da Previdência


Michel Temer vai gravar participações nos programas do Sílvio Santos e do Ratinho para explicar a nova proposta de reforma da Previdência. Ele acertou os compromissos neste domingo (7), em um longo almoço na casa do dono do SBT, em São Paulo. As informações são da coluna Painel, da Folha de S.Paulo.

Temer vai gravar entrevistas para as duas atrações do SBT no dia 18. Anfitrião do encontro, Silvio Santos convidou a família para almoçar com Temer, que foi acompanhado pelo ministro Moreira Franco. O deputado Fábio Faria (PSD-RN), genro do apresentador, também participou.

Dirigentes de partidos da base aliada dizem que, apesar do esforço do Planalto, será difícil aprovar a reforma em fevereiro. Na ponta do lápis, calculam, faltam 30 votos que o governo não tem de onde tirar. (Com informações da Folha de São Paulo, Brasil 247 e da Revista Fórum).

Sílvio Santos e Michel Temer. (Foto: Divulgação).

7 de janeiro de 2018

Fernando Henrique Cardoso volta a destilar preconceito contra pobres


O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso voltou a destilar preconceito contra a população mais pobre, como fez numa entrevista recente. "É curioso ver que em países como os nossos, com um nível educacional relativamente pouco desenvolvido, as pessoas têm muitas carências. Aqueles que dão às pessoas a sensação de que atenderam às suas carências ganham uma certa permissão para se desviar da ética. É pavoroso, mas é assim. É populismo. É a cultura que prevalece nesses países", disse ele, ao jornal Estado de S. Paulo.

Neste domingo, em seu artigo mensal, ele voltou a bater na mesma tecla. "Será que o Bolsa Família (que se originou em governos anteriores e sem tanto alarde) foi suficiente para amortecer a consciência popular e fazer crer que a esperança em dias melhores se contenta com migalhas?", escreveu o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, repetindo a tese de que a população mais carente, que vota predominantemente em Lula, seria mais tolerante com a corrupção. Logo ele, FHC, que blinda o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e ajudou a articular um golpe que derrubou a presidente honesta Dilma Rousseff e instalou no poder a organização criminosa (segundo a procuradoria-geral da República) liderada por Michel Temer.

Ainda há tempo?
Por Fernando Henrique Cardoso

Começo de ano. A praxe indica que nestas ocasiões é melhor expressar os desejos de um próximo ano melhor e lastimar o que de ruim houve no anterior, sem deixar de soprar nas brasas de esperança suscetíveis de serem encontradas no meio de desvarios e extravagâncias porventura havidas. Será?

Não sei. Fui formado com a obsessão da dúvida metódica cartesiana. A certa altura, lendo Pascal, percebi que mesmo para os mais crentes o caminho da salvação não se encontrava no cômodo embalar da fé sem pitadas de dúvidas. Melhor tê-las e tentar responder, com a lógica (e a esperança), ao demônio da descrença. Por isso coloco o ponto de interrogação no título deste artigo.

Mantenho a esperança, mas convém reconhecer que 2017 mostrou que não dá para ter certeza de que os riscos da guerra e do irracional não prevaleçam. Já tivemos sonhos de cooperações entre Estados quando os diplomatas se dedicavam ao multilateralismo para resolver problemas ou pelo menos promover convergências de opiniões, mas só vemos confrontações. Quantos atentados terroristas houve? Muitos. E mesmo que um só tivesse havido, matando crianças e adultos que nada têm que ver com as fúrias políticas e religiosas dos fanáticos, já seria suficiente para assustar a Razão. Que dizer do Boko Haram, das mortes provocadas pela Al-Qaeda e pelo Estado Islâmico, dos atentados na Tunísia, no Iêmen ou onde mais seja, que prosseguem no caminho perverso do ataque, já antigo, às torres gêmeas ou ao Bataclan? O mundo parece percorrer um longo ciclo de desrazão que pode muito bem levar a uma guerra mundial.

Quase a cada mês vem nova má notícia. Pior, não são apenas os ditos terroristas que matam a rodo. Nas cidades brasileiras o crime organizado, muitas vezes com fuzis na mão, em conluio com o narcotráfico e o contrabando de armas, mata nas nossas barbas milhares de pessoas por ano. Estamos longe das terras conflagradas da Síria, do Iraque, da Península Arábica ou de onde mais seja, mas nos morros cariocas, nos presídios amazônicos, nas terras desbravadas do oeste ou nas ermas periferias de São Paulo se mata sem piedade, embora com menos repercussão global do que quando ataques terroristas são realizados em capitais europeias.

E que dizer de outro tipo de matança, não apenas moral, mas concreta, quando a corrupção praticada pelos criminosos de colarinho branco, em escala e despudor sem precedentes, além de arrasar moralmente setores ponderáveis das elites dirigentes, deixa ainda mais à míngua os que dependem dos serviços do Estado, sobretudo os pobres?

Diante deste quadro, cujas tintas espessas sublinho para dar nitidez ao olhar, embora sabendo que também se possam ver paisagens menos sombrias, qual tem sido a resposta dos povos? Nos Estados Unidos, Donald Trump elegeu-se, contrariando o establishment, os partidos, boa parte da mídia e de Wall Street. Na Europa Central e do Leste, governos com participação de forças de extrema direita se afirmam na Hungria, na Áustria e na Polônia. Nas pesquisas brasileiras de opinião, pelo menos até agora, sem o quadro eleitoral formado, despontam um capitão irado de cujas propostas pouco se sabe e um líder populista sobre o qual pesam acusações (e mesmo condenações) que destroem o sonho que outrora representou.

Será que, antes de recobrar a Razão, o mundo precisará passar por novas privações e testemunhar o abrir do cogumelo atômico que a irada Coreia do Norte ameaça despejar no Japão, quem sabe saltando sua irmã do Sul pelo temor do contágio, podendo mesmo alcançar os Estados Unidos? Viveremos os horrores de uma guerra globalizada? Há décadas parecia que a confrontação dos Estados Unidos com a antiga potência soviética ou mesmo com a China, sem falar nas fricções entre Índia e Paquistão, ou na potencial reação atômica de Israel ao Irã dominador da técnica nuclear, estava controlada. O que esperar quando Donald Trump decreta Jerusalém capital de Israel, animando um conflito milenar?

E no Brasil? Já não terá bastado o descalabro econômico-financeiro produzido pelo “capitalismo de laços” que o lulopetismo patrocinou, envolvendo e beneficiando empresas e partidos políticos, para que aprendamos a lição de que não há atalhos fáceis para o desenvolvimento e que este requer o império da lei? Será que o Bolsa Família (que se originou em governos anteriores e sem tanto alarde) foi suficiente para amortecer a consciência popular e fazer crer que a esperança em dias melhores se contenta com migalhas?

É cedo para responder. Mas não para agir com convicção e tudo fazer para que tais horizontes não despejem novas tempestades. Que não se iluda o leitor: o pior pode sempre acontecer. Evitá-lo depende de cada um e de todos nós. Não há fé cega na Razão ou nos bons propósitos que barre o Irracional se não se criarem alternativas que impeçam o pior de prevalecer, pela guerra ou pelo voto. As consequências, já dizia o conselheiro Acácio do Eça de Queiroz, vêm sempre depois...

Posta a dúvida, construamos caminhos mais razoáveis. Pelo menos no que está ao alcance da nossa mão. O Brasil precisa, urgentemente, de bom senso. Se as forças não extremadas se engalfinharem para ver quem entre vários será o novo líder e não forem capazes de criar consensos em favor do País e do povo, o pior acontecerá. No afã de juntar, importa diminuir as divergências sobre o que não é essencial. Com esperança, e falo simbolicamente, as forças representadas (ou que os adiante mencionados gostariam de representar) por Alckmin, Marina, Meirelles, Joaquim Barbosa, ou quem mais seja (incluídos os setores ponderados da esquerda) precisam entender que os riscos se transformam em realidade pela inércia, pela covardia ou pela falta de visão dos que poderiam a eles se opor.

Bom 2018!

*SOCIÓLOGO, FOI PRESIDENTE DA REPÚBLICA

(Com informações do Brasil 247).


A sensação do tempo perdido


Os Carta chegaram a São Paulo da Itália em agosto de 1946, o casal Giannino e Clara, os filhos Luis e Mino. O pai atendia ao chamado de Chiquinho Matarazzo, filho do fundador Francisco, para orientar a reforma da Folha de S.Paulo, da qual o conde tinha maioria acionária. Giannino era um jovem jornalista de 41 anos que preferiu o Brasil à direção do principal jornal de Gênova, II Secolo XIX.

A família vinha da Guerra, durante a qual Giannino fora sequestrado e encarcerado pelos janízaros de Mussolini, no melhor estilo instaurado no Brasil pelo Tribunal do Santo Ofício de Curitiba. Ao escolher a proposta de Matarazzo, Giannino viu no Brasil a terra prometida e segura, diante do que temia, um novo conflito mundial. De fato, se deu, mas foi a Guerra Fria.

Mal chegou a família, o projeto de Ma-tarazzo se desfez, ele não dispunha da maioria absoluta e um pequeno grupo empresarial, muito antes de Frias e Caldeira, entrou em cena e aviou a receita necessária para que outros se apossassem do jornal.

O conde, em compensação, era sócio de outros empresários de origem italiana em uma nova e promissora editora, o Instituto Progresso Editorial, responsável pelo lançamento de muitos autores europeus e dos principais americanos dos anos 20 ainda não traduzidos.

O Brasil era o país do futuro, com todos os méritos que a natureza lhe assegurara, e São Paulo uma cidade bem-comportada de 1 milhão e meio de habitantes e 50 mil carros. O Cadillac do conde Matarazzo ostentava a chapa número 1. Quando os Carta chegaram, os postes da Avenida São João, a grande artéria central, exibiam cartazes gigantescos de Rita Hayworth, protagonista do filme Gilda, em exibição no Cine Marabá. Foi uma acolhida sedutora.

O nome de batismo de Mino é Demetrio, herdado do avô paterno. O menino achava-o pesado demais e passou a ser simplesmente Mino, e assim passou a assinar desenhos, aquarelas, quadros e pequenas telas a óleo, bem como contos relâmpagos, reunidos debaixo do título geral de Esquisitices. Ele queria ser pintor e escritor quando crescesse.

O irmão mais novo, Luis, aos 11 anos já era exímio na máquina de escrever, e como tal cuidou de batucar sobre papel condizente os textos do irmão. Ele queria ser jornalista.

Conto estes momentos da minha vida para explicar como os Carta chegaram confiantes, foram bem recebidos e logo se deram bem. No IPE, meu pai conheceu outro jornalista, Paulo Duarte, que acabou por levá-lo ao Estadão para realizar ali o trabalho que haveria de fazer na Folha. Meu irmão e eu fomos estudar no Colégio Dante Alighieri e a vida fluiu com naturalidade e sem percalços.

E aqui estou agora, a enfrentar a minha Olivetti sem ter atingido em momento algum a eficácia de Luis, a começar pelo fato de que meus dedos têm a inexorável tendência de se inserir entre as teclas com resultados lamentáveis. E assim convoco a memória neste meu ocaso pessoal, ao tentar expor os pensamentos que me tomam neste exato instante.

Fui jornalista por razões mercenárias, embora sempre tenha cultivado ideias opostas às dos patrões. Minha conversão ao jornalismo, digamos assim, consciente e responsável, meu tombo a caminho de Damasco, aconteceu no longo espaço de tempo invadido pela ditadura.

Foi então que percebi a serventia desta complexa profissão sempre que praticada com fidelidade canina à verdade factual e com indomável espírito crítico, na fiscalização desassombrada do poder onde quer que se manifeste.

Durante a ditadura, entendi o valor insubstituível do registro preciso dos fatos e Hannah Arendt tratou de me inspirar. Illo tempore, submetido a uma censura feroz, costumava repetir, para mim mesmo e para quem quisesse ouvir, uma frase da pensadora alemã: “Não há esperança de sobrevivência humana sem haver homens dispostos a dizer o que acontece, e que acontece porque é”.

Houve quem dissesse que eu inventara a segunda parte da passagem do ensaio “Entre o Passado e o Futuro”. Por que é? Que significa isso? Pois é. Hannah Arendt induziu-me também a pensar que o tempo não existe, que a eternidade, se quiserem a imortalidade está em cada átimo da nossa vida registrado para sempre, aparentemente efêmero e no entanto eterno.

Disse átimo, e esta também é medida humana. A vida de cada qual cabe dentro de uma moldura em que entramos por completo, inclusive aquilo que esquecemos. Einstein disse, de resto: “O tempo é a persistente ilusão”.

Neste átimo busco entre o fígado e a alma outro momento igual a este, de desencanto profundíssimo, causado pela situação do País. O golpe de 1964. O golpe dentro do golpe de 1968. A torpe figura que na redação do Jornal da Tarde girava os olhos à procura do pecado. Veja apreendida nas bancas, depois a censura.

O auge do terror de Estado em 69 e começo dos anos 70 e sua retomada nos primeiros anos 80. A derrota das Diretas Já. Sim, foram situações difíceis, não o suficiente, porém, para gerar este atual desencanto. Eu acreditava que ao terminar a ditadura, o País acharia o caminho certo.

O primeiro abalo a esse gênero incauto de fé veio com a chamada redemocratização, uma cilada do destino que sagrou presidente aquele que comandara a rejeição da emenda das Diretas. E me fez pensar na atualidade do príncipe de Salina, quando sugeria mudar alguma coisa para não mudar coisa alguma. Segundo abalo, a eleição de Collor, com o apoio da mídia nativa, a denominá-lo “caçador de marajás”.

Terceiro, o governo de Fernando Henrique, senhor da “estabilidade”, do triunfo do neoliberalismo à brasileira, da reeleição comprada, da maior bandalheira da história (a privatização das comunicações), da míngua das burras do Estado e da falência do Brasil.

Voltei a visitar a esperança com a eleição de Lula, e CartaCapital o apoiou, sem restrições quase sempre, tanto mais em meio ao “mensalão” e da primeira campanha de Dilma Rousseff, embora ele tenha acreditado na famigerada conciliação e aderido, ao menos em parte, ao neoliberalismo, sem detrimento do nosso apoio na sua segunda eleição e nas duas de Dilma. Reconhecemos em Lula o único presidente capaz de dar passos importantes no plano social e de afirmar a independência do País no plano internacional.

Nunca como neste átimo eterno, e nos que virão a me dizer que sou, o País me pareceu tão distante daquele que conheci ao chegar 71 anos atrás. A casa-grande e a senzala então ainda estavam de pé e havia um Brasil risonho e outro muito triste, e resignado na sua tristeza, mas era razoável imaginar que a Idade Média tivesse os dias contados.

Hoje voltamos a tempos muito anteriores aos da minha chegada, sofremos um golpe desfechado pelos próprios Poderes da República com a indispensável contribuição da propaganda midiática e o apoio de setores da Polícia Federal. Há autênticas quadrilhas no poder, a serviço da casa-grande, a qual nunca viveu fase tão favorável, de prepotência, arrogância e irresponsabilidade.

Que esperar de 2018? Como acreditar que Lula não seja condenado na segunda instância e que os golpistas, até hoje tão bem-sucedidos na operação de desmonte do País, se disponham a entregar a Presidência a um candidato de oposição? Nestas condições, até o pleito presidencial está em xeque.

O que pode detê-los? À medida que a crise e o desequilíbrio social se aprofundam e o projeto de saque do País avança, os quadrilheiros serão derrotados por seus próprios desmandos. Neste contexto o desafio de Lula à injustiça e ao insano desgoverno ganha uma extraordinária grandeza, na sua determinação de ir até as últimas consequências. E com ele estamos, na certeza de que seu gesto dará frutos, a partir do fato de que cala fundo e mais calará.

Constato, bastante além da mera melancolia, que o Brasil de hoje regrediu brutalmente em relação àquele que conheci faz quase 72 anos, e a sensação dolorosa é a do tempo perdido. Temo que o País tenha assumido o rosto, melhor, a catadura que merece. O desafio exemplar de Lula, no entanto, e estranhamente, me anima em meio ao desencanto, quaisquer venham a ser seus resultados. (Por Mino Carta, do CartaCapital).

Mino Carta. (Foto: Reprodução).