17 de agosto de 2016

Vitória da Educação: Deputados de Estado do Sudeste barram o PL “Escola Sem Partido”


A Comissão de Educação e Cultura da Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) barrou, nesta terça-feira (16), o projeto da Escola Sem Partido no Estado de São Paulo. Os deputados decidiram se posicionar contra a aprovação do projeto de lei número 1.301/2015 por considerarem que ele ia contra a liberdade dos educadores de promover uma educação livre.

Publicado originalmente no R7

O relator foi o deputado Carlos Giannazi (PSOL). Segundo ele, essa foi “uma vitória da sensatez e da democracia”. O parlamentar apresentou um projeto que se contrapõe ao Escola Sem Partido, o chamado Escola Com Liberdade (projeto de lei número 587/2016).


Será feita uma audiência pública para debater o projeto Escola Sem Partido no dia 25 de agosto, às 19h, no plenário José Bonifácio, na Alesp. Professores, alunos, pais e entidades estarão presentes nas discussões.

Deputados decidiram se posicionar contra a aprovação. Cris Faga/11.08.2016/Fox Press Photo/Estadão Conteúdo.

16 de agosto de 2016

Deputado Federal do Psol apresenta Projeto de Lei “Escola Livre”


 Uma escola para a democracia não é uma escola "sem partido", mas com muitos partidos, com muitas ideias, com muito debate, com muita análise crítica do mundo. Uma escola para a democracia é uma escola sem preconceito, sem ódio, sem bullying, sem autoritarismo e sem discriminação. Uma escola para a democracia é uma escola laica e respeitosa de todas as crenças e da ausência delas. Uma escola para a democracia é uma escola que pratica a democracia no seu cotidiano.

Por tudo isso, apresentei hoje um projeto de lei (PL 6005/2016) que cria o programa ‘Escola livre’ em todo o território nacional”, foi com essas palavras que o deputado federal pelo Psol, Jean Wyllys iniciou a discussão da matéria em seu portal.

Ao complementar, diz “Enquanto os fascistas, os macarthistas e os fundamentalistas religiosos falam em "Escola sem partido" e travam uma estúpida guerra contra uma inexistente "ideologia de gênero", eu quero defender uma escola livre. Uma escola democrática, plural, inclusiva, aberta a todos os debates. Livre de censura. Livre de preconceitos e discursos de ódio. Livre de burrice e autoritarismo. Livre para educar para a liberdade!”.



Vídeo sobre Escola Sem Partido é autoritário e induz ao voto, afirma advogada



A polêmica envolvendo o projeto de lei Escola Sem Partido ganha mais um capítulo. Na página online da consulta pública do Senado Federal foi publicado um vídeo em que o senador Magno Malta (PR-ES) defende sua proposta e pede votos a favor do programa. O problema é que apenas argumentos favoráveis estão presentes para avaliação dos internautas.

Na opinião de Nina Ranieri, especialista em direito educacional e professora de direito da USP (Universidade de São Paulo), o fato de constar apenas um ponto de vista numa consulta aberta à sociedade fere o direito do cidadão, pois não dá subsídios para uma interpretação correta dos fatos.

Publicado originalmente no Uol

"Não só induz [o voto das pessoas], como é muito pouco democrático. Chega ser até autoritário ter só um argumento. Isso revela muito o viés do próprio projeto. Essa proposta de tornar neutra a educação tem um fundo altamente político. A preocupação não é com os estudantes", afirma Ranieri.

A consulta pública já bateu o recorde de votações na história do site do Senado. Até o fechamento do texto, 371.851 votos haviam sido contabilizados (180.633 a favor e 191.218 contra o projeto) -- a segunda proposta com mais participação (191.532 votos) é a do projeto que propõe a reformulação da lei do Ato Médico. O espaço foi criado para que os cidadãos possam opinar sobre projetos de lei, medidas provisórias e outras proposições que tramitam no Senado.

De acordo com um dos responsáveis pelo site e-Cidadania, onde está a consulta em que o vídeo foi publicado, qualquer senador pode solicitar a publicação de um vídeo sobre o projeto de sua autoria. A única ressalva é que o conteúdo do vídeo esteja diretamente relacionado à proposta. A responsabilidade sobre o material é total da assessoria do respectivo senador.

O funcionário explicou que, por enquanto, apenas um vídeo por projeto de lei pode ser veiculado em cada consulta pública, mas que melhorias estão sendo planejadas. Apenas três propostas possuem publicações dos autores.

Como solução para o caso, Ranieri sugere que o vídeo do senador Magno Malta seja retirado da página da consulta pública enquanto os argumentos contrários não forem acrescentados.

Os argumentos do projeto

No vídeo de pouco mais de 5 minutos, o senador defende que o aluno não tem que estar na sala de aula para ouvir "e ser incutido em sua mente aquilo que o professor quer como, por exemplo, o nazismo (...), doutrinas machistas ou doutrinas feministas ou LGBT."

Em sua conclusão ele ainda ressalta: "Nós precisamos de uma escola que ensine e não que pregue ideologia, não de uma escola que ensine política, que ensine religião."

Claramente contrária ao projeto de lei, a professora defende que, segundo o artigo 206 da Constituição Federal, o ensino deve estar baseado na liberdade de aprender e de expressão. Entre os princípios que devem gerir o ensino, o documento ainda assegura o pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas.

Outro lado

A reportagem tenta contato com o senador Magno Malta desde terça-feira (9), mas até o fechamento do texto não obteve retorno. A primeira solicitação foi realizada na terça-feira (9) por e-mail --em meio a tentativas de contato via telefone. No dia seguinte, uma nova mensagem foi enviada para confirmar o recebimento do pedido e não houve retorno. Nesta sexta um novo e-mail foi enviado, mas sem sucesso.

Entenda a polêmica

O movimento "Escola sem Partido" defende a "neutralidade do ensino" por meio da proibição de suposta "doutrinação ideológica" nas escolas.

A inspiração para o projeto de lei no Senado – a qual embasa outros quatro projetos do tipo, na Câmara dos Deputados, e além de sete Assembleias Legislativas e 12 Câmaras municipais – é a proposta idealizada em 2004 pelo advogado Miguel Nagib, procurador paulista.


No último dia 22 de julho, a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, do MPF (Ministério Público Federal), encaminhou ao Congresso Nacional uma nota técnica em que aponta a inconstitucionalidade do projeto de lei 867/2015, que inclui o programa Escola sem Partido entre as diretrizes e bases da educação nacional. O projeto de lei tramita na Câmara, com autoria do deputado Izalci Lucas (PSDB-DF), mas, segundo o MPF, a nota valerá também "para todas as proposições legislativas correlatas".

Imagem capturada do vídeo na página de consulta pública do Senado Federal.



Na calada da noite, Senado aprova fim das férias, do 13º salário e privatizações



Na calada da noite, por 59 votos favoráveis e 21 contra, o Senado deu mais um passo rumo à aprovação do fim das férias, do 13º salário, aumento da idade para aposentadoria, congelamento de salários por 20 anos, privatizações de empresas públicas e troca do nome do Brasil de República Federativa do Brasil para “República Golpista das Propinas do Brasil”.

Publicado originalmente no Brasil 247

O país soube no último final de semana que o interino Michel Temer (PMDB) e seu séquito de ministros provisórios foram delatados por receber propina da Odebrecht. Eles embolsaram, juntos, R$ 33 milhões de dinheiro sujo, segundo procuradores da Lava Jato.

Volto ao golpe desta madrugada. Evidentemente que esse resultado não é definitivo. Já era esperado nessa etapa. Os trabalhadores e o povo brasileiro ainda podem reagir e os senadores podem mudar o voto, como naquela votação dos destaques cujo placar foi 58 votos a 22.

Não é o afastamento de Dilma Rousseff que está em jogo, como foi dito aqui ontem. São os direitos sociais e a CLT — as leis protetivas dos trabalhadores — que correm risco de serem revogadas. Por isso a necessidade de afastar a presidente mesmo sem crime de responsabilidade.

Muita água ainda vai rolar debaixo dessa ponte até o início do julgamento do mérito, pelo mesmo Senado, até o fim deste mês. Tem senador que não quis revelar sua posição na votação desta madrugada, que, no juízo final, pode mudar…

Caso fique tudo como está, se consolide a cassação de Dilma, os movimentos sociais e sindicais que preparem o lombo para encarar a Lei Antiterror. O interino Michel Temer não se fará de rogado para utilizar dessa ferramenta antidemocrática visando a retirada de direitos sociais e trabalhista. Ele já deu mostras na Olimpíada quando censurou manifestações contra o golpe nas arenas dos jogos no Rio.

Paralelamente a perdas de direitos políticos, sociais e trabalhistas, se içado à condição de titular, Temer não titubeará para cassar partidos e criminalizar ainda mais a oposição para consolidar o golpe de Estado — contra os trabalhadores e o povo brasileiro.

Por 59 votos a 21, senadores/as aprovam fim do 13º salário e acena para privatizações.

15 de agosto de 2016

O “Escola sem Partido”, a Lei da Mordaça e a esperança de formar cidadãos que não pensam


Ao chegar na escola em que trabalha, o professor de Biologia é chamado à sala da diretoria. O diretor informa que ele está suspenso. Dois policiais o aguardam para levá-lo a prestar esclarecimentos na delegacia. O motivo? A aula do dia anterior, sobre a teoria da evolução, do inglês Charles Darwin, contrariou as crenças de alguns alunos e seus pais. O enredo, fictício, pode se tornar uma cena factível no futuro da educação brasileira, se o projeto denominado Escola Sem Partido virar lei. A ideia inspira dois projetos em tramitação no Congresso, em sete Assembleias Legislativas e 12 Câmaras Municipais.

Publicado originalmente na Rede Brasil Atual

O Escola sem Partido contesta qualquer afronta a convicções religiosas ou morais dos pais e dos alunos e a apresentação de conteúdo "ideológico" aos estudantes, considerados "vulneráveis" ao professor – nesse caso há uma evidente partidarização, pois somente conteúdos considerados de esquerda são citados. O projeto foi idealizado em 2004, pelo procurador paulista Miguel­ Nagib, depois de um professor de sua filha comparar Che Guevara a São Francisco de Assis, em virtude de ambos abandonarem a riqueza pela causa em que acreditavam.

A proposta ficou adormecida até recentemente, quando foi encampada por parlamentares de partidos conservadores. Em abril, uma lei (7.800) baseada na proposta do Escola sem Partido foi aprovada em Alagoas. O governador Renan Filho (PMDB) vetou o texto aprovado na Assembleia Legislativa, mas os deputados estaduais derrubaram o veto. O advogado-geral da União, Fábio Medina Osório, disse considerar inconstitucional a lei alagoana. Na Câmara e no Senado, o projeto foi apresentado, respectivamente, pelo deputado Izalci Lucas (PSDB-DF) e pelo senador Magno Malta (PR-RO).

Seus defensores propõem medidas como afixar cartazes em salas de aula indicando o que o professor pode ou não abordar. Quem desobedecer deve ser denunciado à Secretaria da Educação e ao Ministério Público. Para o autor da proposta, "é fato notório" que professores e autores de livros didáticos usam aulas e obras como meio de "obter a adesão" dos estudantes a determinadas correntes políticas e ideológicas. "E para fazer com que eles adotem padrões de julgamento e de conduta moral – especialmente moral sexual – incompatíveis com os que lhes são ensinados por seus pais ou responsáveis", justifica Nagib, em sua página na internet.

O nome do movimento tem certa dose de esperteza. Nenhum especialista ou leigo preocupado com educação quer uma escola "com" partido. Ninguém almeja que seus filhos saiam da escola bradando palavras de ordem, desta ou daquela ideia. Mas o que o projeto propõe já está contemplado na Constituição Federal e na Lei de Diretrizes e Bases (LDB): liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas. E o que ele cria, efetivamente, são proibições de abordar teorias que contrariem crenças ou convicções de seus autores.

Para professores, estudantes e especialistas, a proposta pretende calar professores e esvaziar a educação brasileira de conteúdos críticos ao funcionamento da sociedade. "Na prática, não se poderá debater assunto nenhum. Porque tudo vai contrariar crenças. O projeto determina que você deve respeitar os valores de cada aluno. Isso já é obrigação da escola. Esse vai ser um processo de criminalização do professor. A Escola sem Partido é uma lei da mordaça", avalia o professor João Cardoso Palma Filho, membro do Conselho Estadual da Educação de São Paulo.

Adam Smith x Marx

Como trabalho de classe solicitado pela professora de Sociologia­ Gabriela Viola, alunos do Colégio Estadual Professora Maria Gai Grendel, do bairro Caximba, em Curitiba, fizeram ua paródia do funk Baile de Favela baseados nas aulas a respeito das ideias do filósofo alemão Karl Marx – autor de O Capital e expoente teórico do comunismo. Postado na internet, o vídeo repercutiu entre defensores do Escola sem Partido, que cobraram o afastamento da professora. No entanto, ela já havia passado conteúdos com as ideias de outros pensadores, sem ser incomodada.

Ao utilizar um funk para transmitir e consolidar a compreensão do tema, Gabriela buscou se aproximar da realidade dos jovens, algo que vem se tornando cada dia mais comum nas escolas, como observa o coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara. "A didática ensinou que para aprender, para querer aprender, o aluno precisa ter uma aula envolvente, precisa dialogar com a realidade dele. O que nega também essa ideia de que eles são completamente passivos diante do professor. Qualquer um que conheça a realidade da sala de aula sabe que isso é falso."

Daniel questiona como um professor terá condições de dar uma aula sobre a Revolução Industrial, ou sobre a luta das mulheres pelo direito ao voto, ou sobre os movimentos de trabalhadores contra o trabalho infantil nos séculos 19 e 20, sem apresentar características de um lado e de outro da história. "É impossível, essa aula não consegue ser dada. O que se quer é ter somente uma versão da história, uma única visão do mundo", afirma.

Para o professor de Ética e Filosofia Política da Universidade de São Paulo (USP) Renato Janine Ribeiro, ex-ministro da Educação, se o objetivo do projeto é evitar a doutrinação, ele devia exigir maior pluralidade de conteúdo, teórico e de ideias, no currículo escolar. Mas de maneira nenhuma vetar determinados conceitos. Um curso de Sociologia ou Economia, explica Janine, deve mencionar tanto a visão de Marx sobre o capitalismo como a de Adam Smith  – liberal, criador do conceito de "mão invisível do mercado". São autores que representam posições diferentes, mas que não podem ser ignorados por sua contribuição para o saber humano.

Para Janine, o objetivo da escola é transmitir conhecimento científico, por isso não se podem aplicar restrições a conteúdos por razões ideológicas ou religiosas. "A escola não tem incumbência de doutrinar a pessoa nem de respeitar a doutrinação religiosa da família. A escola educa. E para educar ela tem de transmitir conhecimento que tem base científica. As pessoas podem acreditar no criacionismo ou não, mas ele não pode ser ensinado na escola, porque trata-se de fé, não de conhecimento científico."

O professor avalia que não é possível considerar a escola como maior formador ou deformador da moral de crianças e adolescentes, descartando o papel da própria família, da igreja e a mídia. "A educação é, nesse conjunto, o protagonista mais fraco. Não me parece justo que seja o único a ser criminalizado", afirma.

Religiosidade e autoritarismo

Apesar de, como o ex-ministro, especialistas e educadores defenderem que a escola deve ser laica – sem controle ou influência de nenhuma religião –, a inserção da fé no espaço educacional vem ganhando terreno nos últimos anos. O Decreto federal 7.107, de 2010, determina que o ensino religioso "católico e de outras confissões religiosas" deve ser constituído como "disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental". O Projeto de Lei 309, de 2011, do deputado Marco Feliciano (PSC-SP), impõe o ensino religioso como "disciplina obrigatória nos currículos escolares do ensino fundamental" e regulamenta o exercício da docência desse conteúdo.

A Constituição contempla o ensino religioso desde 1988. O tema foi reafirmado na LDB, de 1996. Atualmente, está sendo incluído como conteúdo dos nove anos do ensino fundamental na proposta da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) – em discussão no Ministério da Educação. Filosofia e Sociologia ficarão relegadas ao ensino médio. Esse processo pode estar relacionado aos objetivos do Escola sem Partido, na avaliação do doutor em Educação Luiz Antônio Cunha, professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

"Escola sem Partido é uma perna de um projeto mais amplo. Não basta calar, é preciso colocar algo no lugar. Quem mais está agindo para educar dentro da escola pública, nessa perspectiva que se evite o pensamento crítico? São aqueles grupos que pretendem desenvolver o ensino religioso", afirma Cunha. Para ele, o maior objetivo dessa proposta é o esvaziamento de conteúdos ligados às ciências naturais e sociais.

O ato de fazer da educação um espaço vazio de crítica, carregado de exaltação ufanista e de ideais de "moralização" da sociedade começou na ditadura do Estado Novo e se aprofundou após o golpe de 1964. Para o professor Alexandre Pianelli Godoy, doutor em História Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), é esse viés, mais autoritário do que pedagógico, disfarçado de proposta de "educação neutra", o que move os defensores do Escola sem Partido.

No entanto, avalia Godoy, esse movimento contemporâneo tende a ser mais autoritário. Durante a ditadura, embora houvesse cartilhas e vigilância, os docentes não eram pressionados a ensinar desta ou daquela maneira. "Há um retrocesso se voltando contra os conteúdos. Viver em uma democracia com práticas autoritárias acaba com o debate de ideias e com a própria democracia", afirma.

Fechada para o debate, esvaziada de conteúdo crítico e sem conflitar com convicções morais ou religiosas, a escola pode também se tornar incapaz de funcionar como ferramenta civilizatória contra a discriminação. A professora Rosilene Corrêa de Lima alerta que, com o educador proibido de afrontar as convicções religiosas ou morais dos alunos ou de seus pais, conflitos entre estudantes devem se agravar.

"Se um aluno homossexual ou de uma religião não cristã for discriminado por outro, de visão adversa, o professor não poderá intervir. Pois estaria questionando valores religiosos. Na prática, o Escola sem Partido vai liquidar os avanços em direitos humanos que tivemos nos últimos anos", afirma Rosilene, que é diretora do Sindicato dos Professores do Distrito Federal (Sinpro-DF).

A que interessa?

A proposta Escola sem Partido, segundo os especialistas, serve também para encobrir temas importantes da educação que estão em debate atualmente. Ao menos dois projetos com impactos significativos à área estão em discussão. Um é a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 241. O projeto busca limitar ao reajuste inflacionário a evolução dos recursos públicos para gastos sociais. "Isso significa que não vai ter dinheiro novo. Sem isso não vai dar para fazer nada do que precisa ser feito na educação e não vai dar para cumprir o Plano Nacional da Educação. A partir de 2017, nenhuma escola pública vai ser construída, nenhum professor vai poder ter ganho real de salário", diz Daniel Cara.

O segundo tema, alerta ele, é a BNCC, em discussão no Ministério da Educação, com pouco acompanhamento da sociedade, exceto por organizações e empresários da área. "Em vez de debatermos essas questões estamos fazendo um debate sobre algo que, honestamente, não tem nenhum sentido pedagógico."

Além disso, o endosso ao projeto por parlamentares de partidos conservadores tem sido visto, pelos estudantes, como uma resposta às recentes mobilizações, em várias partes do país, contra projetos de concessão da educação à iniciativa privada (como o de Marconi Perillo, em Goiás), de reorganização escolar (como o de Geraldo Alckmin, em São Paulo) e mesmo contra as mobilizações por melhorias estruturais e salariais.

"Querem eliminar toda a organização social que hoje está fazendo com que professores entrem em greve, que estudantes ocupem, fechem e paralisem escolas, que protestem. O Escola sem Partido é só um ponto de partida, um AI-5 da educação (referência ao Ato Institucional Nº 5, que iniciou o período mais violento da ditadura)", diz a presidenta da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), Camila Lanes.

O projeto conquistou a antipatia de empresários do setor. Um manifesto conjunto de tradicionais colégios particulares de São Paulo, entre os quais Mackenzie, Santa Cruz, Vera Cruz e Bandeirantes, defendeu que o Escola sem Partido pode "cercear e até inviabilizar o trabalho pedagógico".

Em 14 de julho, foi lançada no Rio a Frente Nacional contra o projeto Escola sem Partido, reunindo professores, estudantes, sindicatos, movimentos sociais, associações de classe e partidos políticos. A ideia é pressionar parlamentares e mobilizar a sociedade para garantir o livre exercício de um direito universal: a educação.

Padrões de conduta

O movimento Escola sem Partido divulga um "anteprojeto" de lei estadual com suas diretrizes. Genérico, o texto veda práticas que comprometam "o natural desenvolvimento da personalidade" dos alunos, enfatizando "postulados da ideologia de gênero". A proibição se amplia a tentativas de "doutrinação política e ideológica" e atividades "de cunho religioso ou moral" conflitantes com as convicções dos pais ou responsáveis pelos estudantes.

Escola sem Partido: proposta ficou adormecida até recentemente, quando foi encampada por parlamentares de partidos conservadores.

14 de agosto de 2016

O que esperar do dia 25 de agosto?



O Brasil irá voltar suas atenções para o senado federal no próximo dia 25 de agosto. Serão no mínimo três dias para saber se as vontades de 54 milhões de pessoas irão ser respeitadas ou se o desejo de meia dúzia de destronados do poder prevalecerá.

No último dia 12 do corrente mês, a presidenta afastada do cargo por um grupo mais sujo do que pau de galinheiro foi notificada no palácio da alvorada para comparecer ao plenário do senado federal. No momento, será julgada no processo de impeachment. A notificação foi enviada pelo ministro Ricardo Lewandowski, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e também presidente do processo.

Se Dilma irá comparecer para se defender pessoalmente ou não, ainda não se sabe. O fato é que esse é um dos momentos mais cruciais para a manutenção da democracia. Mas por que a democracia está em risco? Vocês poderiam me perguntar. Porque a vontade popular, o desejo da maioria da população eleitora deste país está sendo colocada em xeque. Está prestes a ser desfeita pela simples vontade de um grupo de pessoas que não aceitaram o resultado das eleições presidenciais em 2014.

Mas não é só isso. Questionar o resultado de uma eleição é normal. É algo natural do processo. Agora, os argumentos que se utilizaram para tal é que não convence. São falhos e, portanto, não são aceitáveis para a saída da presidenta. Afinal, quem os denunciam praticaram também. Até mais eu diria. Dinheiro de empresas para o uso de campanhas todos os partidos e todos os candidatos usaram, com raríssimas exceções. Mas o denunciante usou e isso nesse caso basta para a nulidade das acusações.

O que está em jogo é bem mais do que um simples questionamento de resultados. O eleitor e a eleitora deste país precisam ter em mente que o que está em jogo é o privilégio advindo de cargos públicos. A regra do jogo já foi definida sem que nós, povo, pudesse participar dela, porque aqui não temos o direito a vez e muito menos a voz. Até porque ela está sendo silenciada aos poucos. Foi definida quando deputados federais sem nenhuma afinidade com as causas sociais em nome de projetos pessoais decidiram naquela aberrante sessão prosseguir com o afastamento da presidenta. E ali a voz rouca das ruas e de mãos de 54 milhões de pessoas não foram consideradas. Tudo em nome de deus, da família e do projeto particular de cada um.

Está sendo ainda definida, agora no senado, sem que o povo participe. E democracia sem participação popular não é democracia alguma. Se esse processo tiver o fim que todos já esperam, mas que não é a vontade de todos e, portanto, não representa a vontade popular, se tornará muito fácil tirar um prefeito, uma prefeita, um governador, uma governadora, um presidente, uma presidenta. Basta que ele/a contraria os interesses de um pequeno grupo enriquecido às custas da população. Basta que uma gestão desagrade uma mídia que não informa, mas aliena, desinforma.

Senão, vejamos. De que a presidenta está sendo acusada? De crime de responsabilidade fiscal. De praticar as “pedaladas fiscais”. Porém, nem a própria assessoria técnica do Senado, nem o Ministério Público Federal aceitaram que ela (Dilma) praticou esse crime contra a fé pública, contra a administração pública. Não. Ela não praticou. Disse o Ministério Público Federal, a Assessoria Técnica do Senado. Disseram também intelectuais, os mais renomados juristas do Brasil, professores das mais variadas áreas, movimentos sociais e também deputados, senadores, ex-ministros e ex-ministras. Aliás, do crime que estão tentando acusá-la, muitos dos acusadores cometeram. Inclusive o relator do processo no senado. Parece até piada, mas não é. O que importa para esses falsos democratas e surrupiadores da constituição é tirá-la do poder. O que importa para esse grupo é encontrar o culpado, ou melhor, a culpada. Se ela é ou não, não lhes parece muito importante.

Então, o que esperar desse agosto de 2016? Teremos uma redenção democrática ou o esmagamento da democracia, da vontade popular? Pelo que ora se desenha, temo pela segunda resposta. O que não seria novidade. A história do Brasil tem exemplos disso. Os setores conservadores do Brasil usam os mesmos métodos e as mesmas artimanhas para chegar ou voltar ao poder. Basta ter um governo com um pouco de abertura para às classes mais pobres que o medo de uma ascensão social salta aos olhos da elite que não quer perder privilégios. Foi assim com Getúlio Vargas, com João Goulart (Jango), tentaram com Lula e agora estão tentando com Dilma.

O projeto conservador desse grupo que encontrou apoio de setores do judiciário, de alguns da Polícia Federal, do Ministério Público Federal e de uma imprensa conservadora e reacionária representada pela Globo e suas filiais sairá vencedor? Está tudo caminhando para isso. 

Plenário do Congresso Nacional. Foto: Divulgação.

A Alegoria Da Caverna De Platão retratada em 10 filmes



O Mito, ou Alegoria (como preferir), da Caverna, é um tema proposto pelo filósofo grego Platão. Esse mito – presente no livro A República – consiste em mostrar a escuridão que nos aprisiona e a possibilidade de nos libertar da mesma. Como o próprio nome sugere, a questão da caverna pode, ou não, ser literal. Ou seja, um exemplo mais óbvio (e geral) seria uma pessoa nascer dentro de uma caverna isolada e nunca ter acesso ao exterior dela. Quais seriam os pensamentos desse ser? Quais seriam as dúvidas? Os anseios?

Publicado originalmente no Portal Raízes

No interior da caverna permanecem seres humanos, que nasceram e cresceram ali. Ficam de costas para a entrada, acorrentados, sem poder mover-se, forçados a olhar somente a parede do fundo da caverna, sem poder ver uns aos outros ou a si próprios. Atrás dos prisioneiros há uma fogueira, separada deles por uma parede baixa, por detrás da qual passam pessoas carregando objetos que representam “homens e outras coisas viventes”. As pessoas caminham por detrás da parede de modo que os seus corpos não projetam sombras, mas sim os objetos que carregam. Os prisioneiros não podem ver o que se passa atrás deles, e veem apenas as sombras que são projetadas na parede em frente a eles. Pelas paredes da caverna também ecoam os sons que vêm de fora, de modo que os prisioneiros, associando-os, com certa razão, às sombras, pensam ser eles as falas das mesmas. Desse modo, os prisioneiros julgam que essas sombras sejam a realidade.

A intenção do livro A República é mostrar a linguagem e educação na formação de um “Estado Ideal”. Ao analisar os filmes abaixo, cada um deles possui alguma herança deixada por Platão, concorda?

O Anjo Exterminador (1962) | Luis Buñuel

Depois de uma festa, os convidados simplesmente não conseguem deixar o local, sem que haja uma explicação racional para isso. Conforme o tempo passa, as máscaras dos antes bem relacionados começam a cair e revelar suas verdadeiras e mais profundas facetas.



O Show de Truman (1998) | Peter Weir

Truman Burbank é uma pessoa normal como todas as outras. Porém, faz parte de um reality show, ou seja, desde que nasceu vive em uma cidade completamente projetada para ele, onde seus movimentos são monitorados 24 horas por dia e transmitidos para todo o mundo.



Amnésia (2000) | Christopher Nolan

Rapaz que teve mulher brutalmente assassinada parte em busca de seu criminoso. Só que ele tem um problema: após o ocorrido, ele não consegue se lembrar por muito tempo de situações recentes, o que o deixa a mercê de anotações e na confiança das pessoas. Primeiro trabalho de grande expressão de Christopher Nolan, contado de uma forma bastante interessante, de trás para a frente, utilizando na construção do filme o modo como o personagem pensa.



O Labirinto do Fauno (2006) | Guillermo del Toro

Espanha, 1944. Oficialmente, a Guerra Civil já terminou, mas um grupo de rebeldes ainda luta nas montanhas ao norte de Navarra. Ofelia, de dez anos, muda-se para a região com sua mãe, Carmen. Lá, as espera seu novo padrasto, um oficial fascista que luta para exterminar os guerrilheiros da localidade. Solitária, a menina logo descobre a amizade de Mercedes, jovem cozinheira da casa que serve de contato secreto dos rebeldes. Além disso, em seus passeios pelo jardim da imensa mansão em que moram, Ofelia descobre um labirinto e todo um mundo de fantasias se abre, trazendo consequências para todos à sua volta. Participou da competição do Festival de Cannes de 2006.


Matrix (1999) | Irmãs Wachowski

Ficção Científica de ação que reinventou vários conceitos no gênero no final dos anos 90. Fala sobre o domínio das máquinas sobre os homens. Um grupo liderado por Morpheus está atrás do “One” – o escolhido – que, diz a profecia, libertará a raça humana dessas máquinas.


eXistenZ (1999) | David Cronenberg

Uma renomada designer de jogos de realidade virtual, criadora de um novo jogo interativo chamado eXistenZ, é vítima de uma intensa perseguição por fanáticos religiosos que querem assassiná-la. Em fuga, é forçada a se esconder com um guarda de segurança novato, decidido a protegê-la. Porém, durante a perseguição os dois experimentam um mundo onde os limites entre a fantasia e a realidade não existem e nada é o que parece ser.



Dente Canino (2009) | Yorgos Lanthimos

Pai, mãe e três filhos vivem nos arredores de uma cidade. A casa é isolada por uma alta cerca que os filhos nunca puderam ultrapassar. Eles são educados, entediados e exercitados da maneira que seus pais acham correto, sem nenhuma interferência do mundo externo. Acreditam que o avião que veem passando ao longe no céu é um simples brinquedo, e zumbis são flores pequenas e amarelas. A única pessoa autorizada a entrar na casa é Christina, que trabalha no escritório do pai e visita o filho a fim de satisfazer suas necessidades sexuais. Toda a família gosta dela, em especial a filha mais velha. Um dia, Christina dá a ela uma bandana que brilha no escuro e pede uma outra coisa em troca.



Sono de Inverno (2014) | Nuri Bilge Ceylan

Aydin, ator aposentado, possui um pequeno hotel no centro da Anatólia junto de sua jovem esposa Nihal, de quem é distante emocionalmente, e de sua irmã Necla, que ainda sofre por seu divórcio recente. No inverno, a neve cobre o estepe enquanto ressentimentos são reacesos, pressionando Aydin.



O Quarto de Jack (2015) | Lenny Abrahamson

Num pequeno quarto, bastante apertado, vivem Joy Newsome e seu filho Jack, de apenas cinco anos de idade. Presos há algum tempo, ele nasceu ali e não sabe nada sobre o mundo, nem mesmo imagina que ele realmente exista, pois tudo que ele conhece é esse pequeno quarto onde cresceu.


Ex-Machina: Instinto Artificial (2015) | Alex Garland

Caleb, um jovem programador de computadores, ganha um concurso na empresa onde trabalha para passar uma semana na casa de Nathan Bateman, o brilhante e recluso presidente da companhia. Após sua chegada, Caleb percebe que foi o escolhido para participar de um teste com a última criação de Nathan: Ava, uma robô com inteligência artificial. Mas essa criatura se apresenta sofisticada e sedutora de uma forma que ninguém poderia prever, complicando a situação ao ponto que Caleb não sabe mais em quem confiar.




13 de agosto de 2016

Corte de 20% das bolsas de iniciação científica é anunciado por governo interino


Um quinto das bolsas de iniciação científica foram cortadas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) por causa do "contexto orçamentário atual", segundo comunicado do próprio órgão.

Publicado originalmente no G1

"Considerando o contexto orçamentário atual e a indicação para 2017 de redução do orçamento do CNPq para o próximo ano, foi necessária a adequação da concessão de bolsas da Agência ao novo cenário", informou o CNPq (leia a íntegra da nota ao final da matéria) .

As bolsas de iniciação científica oferecem aos estudantes um valor mensal de R$ 400 e servem como o primeiro passo na vida acadêmica dos pesquisadores. Segundo professores, a diminuição pode prejudicar a realização de projetos.

Leia a íntegra da nota do CNPq sobre o corte nas bolsas de IC:

"Considerando o contexto orçamentário atual e a indicação para 2017 de redução do orçamento do CNPq para o próximo ano, foi necessária a adequação da concessão de bolsas da Agência ao novo cenário.

Dessa forma, o resultado do julgamento de seleção das propostas para concessão de bolsas, no âmbito dos Programas de Iniciação Científica (IC), divulgado em primeiro de agosto reflete adequação de 20% a menos em relação ao período anterior.

A aplicação dessa porcentagem foi feita a partir da distribuição inicial de cotas às instituições, definida por critérios qualitativos, estabelecidos nas respectivas Chamadas Públicas dos Programas de IC. Com base nessa primeira distribuição, realizada pelos respectivos Comitês de Julgamento, foi aplicada a adequação ao orçamento.


Havendo incremento orçamentário, bolsas adicionais poderão ser concedidas."