18 de julho de 2016

Movimentos Sociais e entidades se unem contra o “Projeto Escola sem Partido”



 “Estudante na escola tem direito de pensar. Escola sem Partido é ditadura militar”. Puxado por grupos de alunos e militantes de diversas entidades do movimento estudantil, foram vários os momentos do encontro em que o grito tomou conta do ambiente. Eram centenas de pessoas espremidas num auditório lotado. Passavam de cem também as instituições e movimentos sociais representados — entre eles, a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz). Com enfoques os mais diversos, os discursos convergiam no apelo à unidade em prol de uma causa comum: o combate, nos parlamentos e nas ruas, ao projeto de lei que quer limitar conteúdos e práticas escolares para acabar com uma suposta “doutrinação” na educação brasileira. Batizado de ‘Escola sem Partido’ pelo movimento que o criou, por onde passa o projeto tem recebido outros nomes. Em Alagoas, por exemplo, foi aprovado na Assembleia Legislativa como ‘Escola Livre’. No evento que reuniu educadores, estudantes, sindicalistas e militantes da educação no Rio de Janeiro no último dia 13 de julho, o nome adotado foi um pouco diferente: ‘lei da mordaça’.

Publicado originalmente na EPSJV/Fiocruz

O encontro marcou o lançamento de uma Frente Nacional contra o projeto Escola sem Partido, que foi identificado pela maioria dos presentes como uma das maiores ameaças colocadas à educação pública na atual conjuntura brasileira. Destacando a presença cada vez mais visível de discursos conservadores em relação às famílias, associados a uma mercantilização da religião, o professor Gaudêncio Frigotto, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), que fez a fala de abertura do encontro, foi direto: “Não podemos deixar esse projeto ser aprovado porque, com ele, a direita fascista terá não só a persuasão mas também a guilhotina”. Isso porque o texto do projeto de lei — que foi elaborado pelo movimento Escola sem Partido e distribuído a parlamentares nas esferas nacional, estadual e  municipal — prevê que os professores que incorrerem em prática de "doutrinação", descumprindo alguma das proibições que o PL estabelece, devem ser denunciados ao Ministério Público. Entre os seis pontos que o projeto impõe como obrigações ou proibições legais ao trabalho em sala de aula estão questões imprecisas e polêmicas, como a garantia de que o professor não “cooptará” os alunos para correntes políticas ou ideológicas (além de partidárias) e de que ele “respeitará o direito dos pais a que seus filhos recebam a educação moral que esteja de acordo com suas próprias convicções”. Afirmando a importância da reação coletiva e a necessidade de resistir às ameaças institucionalizadas que o projeto representaria, Gaudêncio brincou: “Haja cadeia!”.

Fundamentalismos

Por que não estamos contando boas piadas sobre esse projeto?”. Essa é, na avaliação de Roberto Leher, professor, pesquisador e reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que fez a fala de encerramento do encontro, a pergunta que o campo da educação precisa se fazer neste momento. Isso porque, segundo ele, alguns anos atrás, quando o movimento Escola sem Partido foi criado, ele seria, no máximo, alvo de ridicularização, pelo seu caráter “risível” e “inconstitucional”. “Mas hoje estamos aqui”, ressaltou, destacando o espaço que essa iniciativa ganhou nos parlamentos, o que, no nível federal, se expressa, por exemplo, na presença de vários representantes de setores ultraconservadores na Comissão de Educação da Câmara. O mais “preocupante”, destacou, é que esse projeto agora encontra espaço num governo que carece de “legitimidade e legalidade”. “Ele começa a entrar de forma capilarizada no governo central do país”, alertou, lembrando que o ministro interino da educação, Mendonça Filho, se reuniu com o ator Alexandre Frota e representante do Movimento Revoltados On Line para ouvir sugestões sobre política educacional e que, nesta semana, o mesmo ministro nomeou como seu assessor especial Adolfo Sachsida, um pesquisador que já se declarou defensor do Escola sem Partido e, segundo Leher, já teria se manifestado em redes sociais não só pela criminalização da liberdade de pensamento mas também por iniciativas como a ‘cura gay’. Como outros casos que marcaram a curta trajetória do governo  interino, o assessor foi exonerado menos de 24 horas depois da nomeação.

Para Leher, a peculiaridade deste momento, no Brasil e no mundo, é o fato de — como nem sempre acontece — a “aliança econômica da burguesia” precisar estar associada com a pauta da ultradireita. Segundo ele, essa tem sido a principal saída encontrada para a crise, o que, na sua leitura, significa um caminho para retomar as taxas de lucro do grande empresariado.  “Para isso, foi preciso destituir um governo com o apoio da bancada ultrafundamentalista. Portanto ,a relação do governo com essa bancada é intrínseca, um depende do outro”, disse. E alertou: “Estamos diante do que Walter Benjamin chamou de ‘aviso de incêndio’”.

Gaudêncio também localizou o Escola sem Partido na origem de um “golpismo” que, nas suas palavras, atingiu não apenas ou principalmente o governo Dilma Rousseff, mas sim o que ele chamou de “parca sociedade democrática” brasileira. A gênese mais imediata desse processo estaria, segundo o professor, num certo “estado de exceção” imposto pelo neoliberalismo quando, no Brasil e no mundo, os bancos centrais se tornaram “ad hoc” dos governos, substituindo as decisões do conjunto da sociedade.

Mas, no que diz respeito à escola pública, Gaudêncio identificou o Escola sem Partido como herdeiro também de um processo de “desautorização” e privatização que vem se dando desde a década de 1980. Segundo ele, esse ataque à autonomia da escola começou pela gestão, crescentemente contaminada por uma lógica privada, muitas vezes até com gestores privados. Em seguida, disse, mirou-se nos professores, que passaram a ser alvos de “especialistas que dão as regras do bem ensinar”, processo que culminou com a disseminação de apostilas e sistemas de ensino padronizados produzidos por entidades ligadas a grandes grupos empresariais que são vendidos para as secretarias de educação. Nesse trajeto, destacou Gaudêncio, assistiu-se a um “sequestro paulatino da função do mestre”. “Agora querem tomar a palavra do professor, dizer o que ele pode dizer”, resumiu.

Qual partido?

Seja nas palestras de abertura e encerramento, de Gaudêncio Frigotto e Roberto Leher, seja nas falas das entidades e movimentos sociais, o encontro marcou um consenso em torno da ideia de que o que o projeto de lei visa instituir não é uma escola sem partido, mas uma escola de partido único ou que atenda a interesses de partidos específicos. O primeiro destaque da fala do reitor da UFRJ foi exatamente o fato de o deputado que apresentou o PL na Câmara ser do PSDB, do qual faz parte também o deputado Rogério Marinho, que submeteu projeto de teor semelhante, tipificando o crime de “assédio ideológico”, com foco nos professores.

Mas, para as entidades que compõem a recém-criada Frente, a caracterização do ‘partido’ que orientaria o movimento vai além das siglas eleitorais. “É o partido único da xenofobia, da não-controvérsia, da ideologia única do mercado”, descreveu Gaudêncio. “É, na verdade, a escola de um partido só, que reproduz o racismo e o machismo em sala de aula”, classificou a representante da Federação Nacional dos Estudantes de Escolas Técnicas (Fenet). “É a versão acabada do fascismo”, apontou o representante da Intersindical. Mesmo antes do encontro, o manifesto que convocou a construção da Frente resumia: “Defender a escola sem partido é defender a escola com apenas um partido. Partido daqueles que são contra uma educação laica e contra o debate sobre gênero, fortalecendo assim a cultura do estupro e a LGBTTIfobia presente em nosso país. Defendemos a escola crítica sim, a educação libertadora, a pluralidade de ideias e a liberdade de expressão e pensamento”, diz o texto.

Frente de atuação

A iniciativa de construir uma Frente Nacional contra o projeto Escola sem Partido nasceu durante o 2º Encontro Nacional de Educação (ENE), realizado entre 16 e 18 de junho — na mesma data e no mesmo local em que o ENE acontecia, alunos da Universidade de Brasília foram alvo de ataques racistas e homofóbicos de um grupo de manifestantes de ultradireita. O manifesto de convocação é assinado por mais de cem entidades, que envolvem sindicatos e centrais sindicais, partidos políticos e mandatos de parlamentares, entidades estudantis e movimentos sociais em geral, entre outros. Da publicização do manifesto até o lançamento da iniciativa, muitas outras organizações se juntaram para compor a Frente.


Segundo informações do professor Fernando Penna, da Universidade Federal Fluminense, apresentadas em debate realizado na EPSJV/Fiocruz no último dia 8 de julho, o PL do Escola sem Partido tramita hoje em dez estados e vários municípios brasileiros, além do distrito federal e da Câmara dos Deputados. Recentemente, foi aprovado em Alagoas. Alegando que o professor em sala de aula não tem direito à liberdade de expressão, mas apenas à liberdade de cátedra, para o movimento Escola sem Partido a “doutrinação ideológica” pode estar  expressa na ideia de que a escola dever “formar para a cidadania”; no debate de acontecimentos atuais promovido pelo professor em sala de aula; no tratamento de questões ligadas à “moralidade”, que envolvam cultura religiosa ou discussões de gênero, por exemplo; ou na simples leitura de autores considerados “doutrinadores” de esquerda – entre eles, estão Antonio Gramsci e Paulo Freire. Diante dessa amplitude, a ideia da construção de uma Frente, expressa no seu manifesto de convocação, é que, para combater a ofensiva desse projeto, “não são mais suficientes as iniciativas isoladas”.


Foto: Samuel Rosa.

17 de julho de 2016

O que os homens têm a ganhar com o feminismo?



O machismo e o patriarcado são, por definição, sistemas que hierarquizam os papéis de homens e mulheres, dando mais valor para tudo que é entendido como masculino. Por sermos nós as mais violentadas nessa configuração é óbvio que vamos lutar para destruí-lo e não pararemos enquanto houver uma mulher sofrendo no mundo. Mas será que só as mulheres saem ganhando com o feminismo?

Publicado originalmente no Ceert

Eu tenho certeza que não. Simplesmente porque o feminismo preza pela igualdade e pela liberdade de cada um ser como quiser, independentemente de seu gênero. E o machismo também impõe uma série de pressões nos meninos e homens.

Não pode chorar, não pode demonstrar fraqueza, não pode explicitar sentimentos, tem que gostar de futebol, de azul e de mulher. Não pode gostar de dança, de rosa e de estudar. Tem que ser o provedor, o responsável por sustentar a família, não pode ganhar menos do que a mulher. Tem que ser uma máquina incontrolável de sexo, tem que ser corajoso, não pode ter medo do perigo, tem que saber trocar pneu.

Simplesmente não há ser humano que consiga viver dessa maneira sem nenhum tipo de conflito. O machismo demanda coisas impossíveis para homens e mulheres e isso geralmente acompanha uma boa carga de tensão e sofrimento. Não há motivo, portanto, para ele continuar hegemônico.

Nunca, jamais, em hipótese alguma insinuo que homens e mulheres são afetados da mesma forma por esse sistema. Nunca, jamais, em hipótese alguma. Os meninos podem ser cerceados em diversos aspectos, sim, podem ter que seguir padrões e estereótipos com os quais não se sentem confortáveis, mas não são violentados sistematicamente em função de seu gênero. Não são abusados, estuprados e assassinados em massa POR CONTA de valores difundidos socialmente para cada um dos gêneros. Não é a vida deles que vale menos.

Mesmo com normas tão rígidas, o machismo nunca destituiu os homens de sua humanidade. Já as mulheres são constantemente objetificadas e, em todas partes do mundo, valem menos. E é por isso que temos tanta raiva, e é por isso que nós protagonizamos o movimento em busca de nossa plena cidadania. É por isso também que entendo a reação feroz que o feminismo causa na maioria dos homens: não é mesmo confortável abrir mão de seus privilégios. Deve ser horrível ver cada vez mais mulheres reivindicando aquilo que é seu por direito – e que inclui tirar a liberdade de oprimir e o conforto da impunidade.

Mas o feminismo traz outras liberdades, eu garanto. Em um mundo onde o patriarcado não dita a nota, todas as relações são mais saudáveis. Ninguém é obrigado a gostar de algo ou alguém só porque é menino ou menina. Todo mundo é livre para ser o que é. É esse o mundo que eu luto para construir e que, mais cedo ou mais tarde, vai bater na sua porta. Não precisa oferecer resistência.

Foto: Divulgação "Tha Mask you live in". 

16 de julho de 2016

Maia blinda grandes fraudadores da Receita e tenta enterrar a CPI do Carf, por Ivan Valente


Em seu terceiro dia como presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia decidiu cancelar a prorrogação da CPI do CARF, ao rever a decisão de seu antecessor, Waldir Maranhão, que havia concordado em ampliar em 60 dias o período de investigações.

Com informações da Assessoria de Imprensa da Liderança do PSOL na Câmara e Viomundo

De acordo com o despacho divulgado agora à tarde, o prazo passa a ser de apenas 26 dias, e não permitirá a realização de oitivas no período – o que livra os principais potenciais fraudadores da Receita Federal de serem investigados pela CPI.

Embora ainda precise ser referendada em Plenário, a decisão de Maia – que contraria a deliberação coletiva dos próprios membros da comissão – acontece no momento em que a CPI e a operação Zelotes estão em pleno funcionamento, e uma semana após o conselheiro do Carf João Carlos de Figueiredo Neto, representante da Confederação Nacional das Indústrias (CNI), ter sido preso na semana passada chantageando o banco Itaú.

Uma razão evidente para a prorrogação dos trabalhos da CPI, que, lembre-se, já estava concedida.

Rodrigo Maia já deixa sua marca de blindador das grandes empresas ao cancelar a prorrogação da CPI do CARF. Certamente, tem acordo com o PSDB e outros partidos. O PSOL denunciará manobra que visa proteger fraudadores da Receita Federal, que deveriam ser multados em bilhões de reais, muitos dos quais já estão indiciados e até denunciados”, afirma o líder Ivan Valente.

O PSOL já havia apresentado na CPI do Carf diversos requerimentos convocando empresários envolvidos em escândalos (Operação Zelotes), inclusive André Gerdau, da Gerdau, e Luiz Carlos Trabuco, do Bradesco.

Outras empresas que estão sendo blindadas com a medida de Maia são Safra, Santander, RBS e algumas montadoras de veículos.

Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil, via Fotos Públicas. 

15 de julho de 2016

Grunec Cariri e Coletivo Camaradas promovem oficinas de turbante durante Expocrato



O Grupo de Valorização Negra do Cariri (Grune) e o Coletivo Camaradas, movimentos sociais de forte atuação na área dos direitos humanos e de reconhecimento de negros e negras na construção do Brasil, promoveram entre os dias 11 e 14 de julho do corrente ano concomitantemente as festividades da Expocrato oficinas que remetem a cultura africana e afro-brasileira.

As oficinas tiveram muita adesão e foram ministradas por Maria Renata, do Coletivo Camaradas e Marquinhos Abu, do Coletivo Aparecidos Políticos. A primeira, sobre Turbantes, realizada na última quinta-feira, 14, contou com participação mulheres do GRUNEC e do Coletivo Marias e fazia menção a estética e identidade negra como forma de luta contra a discriminação e o preconceito racial, além de se configurar como um ato de resistência que, conforme pontuou o coletivo camaradas em sua página “vai muito além da moda e do estilo”.

No último dia 11, Marquinhos Abu, integrante do Coletivo Aparecidos Políticos, realizou a oficina de Stencil que servirá de base para o projeto que envolverá fotografia, stencil e arte de rua. 

Faz-se necessário destacar que a oficina de turbante foi idealizada e realizada pelo Grunec. Já a de Stencil teve a organização e promoção do Coletivo Camaradas, contando com o apoio dos (as) ministrantes supracitados (as). 

Oficina de Turbante com Maria Renata, do Coletivo Camaradas. Foto: Divulgação.


Ministério Público manda arquivar a denúncia sobre “pedaladas fiscais”, por entender que não houve crime



Do ponto de vista formal, a presidente eleita Dilma Rousseff está sendo submetida a um julgamento. Há espaço para testemunhas de defesa, acusação e, dentro de algumas semanas, os senadores darão seu veredito na comissão especial de impeachment.

No entanto, por mais que se trate de um julgamento de natureza política, a Constituição Brasileira garante que nenhum presidente pode ser afastado sem que tenha cometido crime de responsabilidade. Ou seja: é isso o que confere o caráter também jurídico ao processo.

Publicado originalmente no Brasil 247

No processo em curso, Dilma é acusada por professores de direito ligados ao PSDB, partido derrotado nas últimas eleições presidenciais, de ter infringido a Lei de Responsabilidade Fiscal, com suas "pedaladas fiscais", que seriam "operações de crédito disfarçadas".

No entanto, ontem, o Ministério Público Federal, que é o titular de qualquer ação penal, determinou o arquivamento da investigação pedida pelo Tribunal de Contas da União, apontando que nem houve operações de crédito e que, além disso, as chamadas "pedaladas" não configuram ilícito penal.

Numa situação de normalidade democrática, o impeachment seria sumariamente arquivado, como defendeu a senadora Gleisi Hoffmann. Além disso, toda a imprensa nacional destacaria que a presidente Dilma Rousseff, eleita por 54 milhões de eleitores, foi inocentada do crime que lhe é imputado por adversários políticos.

No entanto, a notícia do pedido de arquivamento feito pelo Ministério Público foi solenemente ignorada por jornais como Folha de S. Paulo e Valor Econômico. Estado de S. Paulo e O Globo a registraram, mas sem destaque em sua primeira página.

Isso demonstra que a imprensa brasileira, que apoia o golpe parlamentar de 2016 assim como apoiou o golpe militar de 1964, nem se preocupa mais em manter as aparências. O julgamento de Dilma é apenas um simulacro, onde todos os atores parecem já conhecer, de antemão, o resultado.

No entanto, por mais que seja um jogo de cartas marcadas, a decisão do Ministério Público Federal coloca os 81 senadores diante de uma saia justa: como condenar a presidente Dilma por "crime de responsabilidade", se o próprio MPF, titular da ação penal, garante que não houve crime?



14 de julho de 2016

"Sem a esquerda eu não teria vencido a eleição", diz Rodrigo Maia


Rodrigo Maia (DEM-RJ), 46, é o novo presidente da Câmara dos Deputados. O deputado foi o mais votado no primeiro turno, com 120 votos, e venceu também no segundo turno com outros 285 votos. Agora, ocupará o cargo até fevereiro de 2017 – quando haverá nova eleição para a Mesa Diretora.
Publicado originalmente no Pragmatismo Político

Candidato de Aécio Neves, Maia teve como principal base eleitoral os partidos PSDB, PPS, PSB e DEM. Curiosamente, para se eleger, também contou com o apoio de PDT e PCdoB. Tanto Maia, quanto o deputado derrotado, Rogério Rosso (PSD-DF), tinham o apoio do presidente interino Michel Temer.

Maia chegou a ser cotado para ser o líder do governo Temer na Casa, mas, por influência do “centrão”, grupo suprapartidário liderado pelo ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Temer escolheu André Moura (PSC-SE).

“Sem a esquerda eu não teria vencido essa eleição”

Na primeira entrevista coletiva concedida à imprensa após a eleição, Rodrigo Maia admitiu que não teria chegado à presidência da Câmara sem o apoio da esquerda. “Preciso reconhecer que sem a esquerda eu não teria vencido essa eleição”, disse Maia, que mostrou disposição para dialogar com todas as frentes.

Durante discurso em plenário antes do 2º turno, Maia chegou a lembrar do ex-deputado petista José Genoíno e disse que votou pelo ajuste fiscal de Dilma Rousseff e sempre dialogou com a esquerda.


Rodrigo Maia é o novo presidente da Câmara dos Deputados.




13 de julho de 2016

Como o idiota fascista é produzido historicamente em 5 maneiras, por Douglas Rodrigues Barros*



Quando Adorno escreveu Educação após Auschwitz, ele tinha como objetivo prevenir a catástrofe fascista. O crítico chamava a atenção para a importância da análise sociológica como aquela que informaria “sobre o jogo de forças localizado por trás da superfície das formas políticas”. Com efeito, um sintoma de proto-fascismo se evidencia quando a sociologia é posta em dúvida, ou é alvo de piadas em alguns centros de risadas forçadas e irreflexivas.

Publicado originalmente no Negro Belchior

Não é à toa que o que se oculta no interior do programa Escola sem Partido é, na verdade, aquele incomodo sexagenário gerado pelo retorno da filosofia e da sociologia à “grade” curricular. Os defensores de tais programas revelam assim seus inconfessáveis desejos de ver a velha Educação Moral e Cívica que, subserviente a interesses escusos, – esta sim – doutrinava e excluía de si toda a dúvida. O que estes temem de fato é a potencialidade crítica da dúvida que essas matérias promovem no interior da sala de aula, gerando inclusive o inconformismo dos estudantes ante a total desagregação da educação pública no país. Mas isso será tema de um próximo artigo.

Por enquanto falemos da gravidade da situação política que se espalha não só pelo Brasil, mas pelo mundo como um todo. O fascismo sem dúvida é uma idiotice. No entanto, é uma idiotice que não se pode, em hipótese nenhuma, ser subestimada. Quando um aloprado deputado, que cospe reacionarismo, se joga, tal como um rockstar, da carroceria de um caminhão e se estabaca no chão sobre o aplauso e histeria de centenas de seguidores, apesar da grotesca cena e da babaquice em questão, é um sintoma para ser levado a sério.

Uma das questões mais importantes que o fascismo nos legou é que, apesar das formas grotescas de sua expressão, ele deve ser objeto de denuncia constante. Afinal, na Alemanha pré-nazista ninguém levava a sério um baixinho de bigode raspado, com estandartes ridículos que esbravejava impropérios contra a civilização, querendo romanticamente uma sociedade na qual o super-homem nietzschiano – obviamente integrado e desvirtuado pela ideologia nazista – teria espaço.

Nesse sentido, o que apresento aqui é uma síntese cabível neste espaço sobre como o fascismo é produzido na oficina da história pela crise e falta de perspectiva. Aqueles que se interessarem pelo tema e quiserem se aprofundar podem pesquisar não apenas Adorno e os escritos da, vulgarmente chamada, Escola de Frankfurt, como também, um dos livros mais sagazes e profundos sobre o fascismo: Labirintos do Fascismo de João Bernardo.

Vamos às cinco características:

1 – O fascismo é uma revolta dentro da ordem
Ele aparece como uma potencialidade de transformação, mas esbarra nos limites de uma mudança feita para nada mudar. Isso porque seus adeptos geralmente esbarram em questões que pairam na superficialidade dos problemas. Numa moralização unilateral que evidencia somente os aspectos mais pragmáticos e, por isso, propagandísticos nas crises políticas e econômicas. Por exemplo:o principal motor da xenofobia em 1930 e na presente fascitização europeia e paulista é enxergar o problema do desemprego no imigrante e não na crise estrutural pelo qual passa a economia. Do mesmo modo, a propaganda contra a corrupção se torna unilateral. Ela não denuncia que a própria engrenagem político-econômica fomenta a corrupção como algo necessário para sua própria manutenção.

2 – O fascismo é fenômeno de crise e falta de perspectiva de mudanças profundas

O fascismo nasce de alguns desastres históricos. Não apenas de uma profunda crise econômica, mas de uma crise político-social que lá atrás arrastou a Europa para a Grande Guerra. E o horizonte hoje com o começo da dissolução da zona do euro e ressentimentos de toda ordem não se apresenta tão diferente. Do mesmo modo, a crise estrutural no Brasil fomenta atividades e ressentimentos de classe e posições altamente conservadoras e reacionárias. Separatismo e paixões provincianas, além do nacionalismo tacanho, marcam também algumas de suas características fundadas na falta de perspectivas reais de melhorias.

3 – As instituições democráticas são irrelevantes para o fascista

Já em 1921 Benito Mussolini discursava marcando algumas características que permeariam a noção do ser fascista: “Estaremos com o Estado e a favor do Estado sempre que ele se mostrar um guarda intransigente” dizia o idealizador fascista, “mobilizar-nos-emos contra o Estado se ele vier a cair nas mãos de quem ameaça a vida do país e atenta contra ela”. Com certeza, uns cem números de leitores dessa revista devem ter gostado e simpatizados com a fala do líder, Mussolini, que muito tem em comum com aquele outro que deu de cara no chão.De um lado, o respeito pelas instituições democráticas só é feito tendo em vista a participação dos próprios fascistas na partilha do poder. Por outro lado, o fascismo pretende substituir o poder estatal quando a democracia não compartilhar de suas crenças.

4 – O fascismo avança quando os progressistas retrocedem

A partir dos duros golpes sofridos e no retrocesso da tentativa de superar a desigualdade histórica; a ideia de uma revolução dentro da ordem, para salvaguardar a sociedade do comunista comedor de criancinhas, se consolida e ganha aos poucos as mentes e os corações.A assim chamada “revolta dentro da ordem” como uma das características centrais do fascismo assume muitos dos aspectos tradicionais da luta dos trabalhadores, mas para colocá-lo na perspectiva da ordem da economia imperante. Assim, quando uma massa amorfa de verde-amarelo sai as ruas e utiliza palavras de ordem e formas de luta tradicionalmente de esquerda (como por exemplo a ocupação da Paulista) ela não está sendo original, esse caminho já é conhecido.

5 – O ser fascista detém a capacidade de maquinar, remodelar e recriar fatos históricos e corriqueiros

Nenhuma outra corrente política recorreu tanto a estetização da política como forma de impor seu pensamento, em termos mais simples, nenhuma outra corrente recorreu tanto a possibilidade de ludibriar, mentir e persuadir aqueles que querem. Como nos mostra João Bernardo (2015): a versatilidade das palavras, a possibilidade de moldá-las a seu favor e unir isso a uma propaganda massiva foi um dos grandes atributos do fascismo, assim como; escrachar figuras públicas, criar factoides e manipular dados.

Qualquer semelhança com nossa época atual não será mera coincidência.Os números oficiais indicam que todos os dias morrem duas pessoas por erros policiais. A cada dez minutos uma pessoa é assassinada no Brasil, o Anuário de segurança pública revela ainda que, por dia, seis pessoas foram assassinadas por policiais no Estado de São Paulo em 2013. Acaba de sair uma matéria no New York Times indicando que o Brasil é o país mais perigoso do mundo para os homossexuais. De tal maneira, qualquer estudo mínimo sobre as estatísticas da guerra particular no Brasil revela os horrores instaurados e provenientes de uma ditadura não encerrada.

Não faz muito tempo, entretanto, que tal violência, pelo menos no nível do discurso, era combatida, mesmo pelos meios hegemônicos de comunicação de massa.Atualmente, porém, parece que algo se alterou no quadro de interesses da elite sempre conservadora do país. Agora a carnificina diária apreciada e difundida pelos programas policialescos instaura um sentimento de terror que se orienta na criação de um inimigo comum. Aonde isso vai dar, eis a questão, se é fascismo ou não, é um problema a se pensar. Talvez seja algo ainda pior, posto que não identificado, mas, já amplamente naturalizado.

*Escritor e mestre em filosofia, atualmente é doutorando em ética e filosofia política pela Universidade Federal de São Paulo.




12 de julho de 2016

Condutores/as de trilhas de Altaneira promoverá I colônia de férias


Nos dias 22 e 23 do corrente mês o grupo de Condutores/as de Trilhas e Esportes de Aventura de Altaneira, estará disponibilizando diversas atividades de lazer com base no turismo comunitário, proporcionando o conhecimento e prática dos esportes aos participantes da localidade e visitantes.
Texto de Francilene Oliveira*

O evento terá inicio na tarde da sexta-feira (22) com uma caminhada na Trilha do Sitio Poças, uma roda de conversa com os condutores/as, culminando com um acampamento dentro da trilha. No sábado, após o café da manhã, o grupo se desloca até a Pedra dos Dantas Sitio Taboca, onde haverá local prática de Rapel. À tarde as atividades se encerram com a prática do Arvorismo na trilha do Sitio Poças. Ainda será disponibilizado o slackline para a prática no primeiro dia de atividades. A alimentação será advinda da Agricultura camponesa e Orgânica sob-responsabilidade de Jõao Bel e Família.

As inscrições já estão abertas e estão sendo realizadas na Fundação Arca com um dos condutores, João Paulo Silva. Os interessados podem ainda entrar em contato pela página Acontrial Altaneira na rede social Facebook.

O grupo Acontrial é formado por jovens e adultos que na preocupação com o bem está socioambiental se dispõe ir além de uma atividade de condução de trilha e uma atividade de esportes de aventura. Se articulando com base no  turismo comunitário, buscando contribuir com os meios educacionais, dentro e fora deles, com uma integração entre ambos.

*Francilene Oliveira é membra da Acontrial e estudante do curso de História da Universidade Regional do Cariri (URCA).

Imagem retirada da página da Acontrial no facebook