João Goulart, o Jango, governou o Brasil de 1961 a 1964 |
O
corpo do ex-presidente João Goulart, morto em 1976, será exumado, por decisão
da Comissão Nacional da Verdade e do MPF-RS (Ministério Público Federal do Rio
Grande do Sul).
A
despeito da versão oficial da morte de Goulart, por ataque cardíaco durante
exílio na Argentina após ser deposto pelo golpe de 1964, a família do
ex-presidente acredita que ele possa ter sido envenenado. O corpo de João
Goulart está enterrado no cemitério de São Borja, no Rio Grande do Sul.
A
advogada criminalista Rosa Cardoso, integrante da Comissão da Verdade, disse
que os "indícios concludentes" de que Goulart foi vigiado no exílio
pela "Operação Condor" (uma aliança entre as ditaduras do Cone Sul
nos anos 1970 para perseguir os opositores dos regimes militares da região)
sugerem, também, que ele pode ter sido assassinado por ordem da ditadura
brasileira. A exumação deve confirmar ou não essa premissa.
Por
enquanto, Rosa evita afirmações categóricas. "Nós temos que perguntar agora
se já é possível que a comissão se posicione a respeito de um
assassinato", disse. Mas, "como criminalista", afirmou que tem
visto casos nos quais o Judiciário se pronuncia [pela condenação de criminosos]
"com uma quantidade muito menor de indícios concludentes" do que os
disponíveis na apuração sobre a morte de Jango.
Ainda
de acordo com a advogada, os indícios incluem os fatos narrados na
representação da família Goulart, que por intermédio do Instituto Presidente
João Goulart motivou o início do inquérito civil público em curso no MPF-RS
desde 2007.
Ela
também mencionou o documentário "Dossiê Jango" (2012), de Paulo
Henrique Fontenelle, e o depoimento do ex-agente uruguaio Mário Neira Barreto,
preso no Rio Grande do Sul, que confessou ter sido "cúmplice" do
assassinato do ex-presidente por envenenamento, na Argentina.
Tese de envenenamento
Segundo
o neto de João Goulart, Christopher, que encaminhou a petição à Comissão,
reforçando o pedido e a autorização para a exumação do corpo do ex-presidente,
a família está convencida de que Jango foi assassinado e recebeu garantias da
Sedh (Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República) de
que já há tecnologia para detectar traços do veneno mesmo décadas após a morte.
A
tese é que o ex-presidente foi envenenado por um agente argentino sob ordens do
ex-delegado Sérgio Fleury e com o conhecimento do ex-general Orlando Geisel.
Uma
cápsula com a substância teria sido colocada entre medicamentos tomados
regularmente por Jango em um hotel em Buenos Aires. Ele morreu alguns dias
depois em sua fazenda em Mercedes, na província de Corrientes.
Com informações do Valor