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Território Yanomami vive crise humanitária por conta do estímulo à invasão do governo Bolsonaro. (FOTO/ Divulgação/Ministério da Defesa). |
No
intervalo entre outubro de 2018 e dezembro de 2022, o desmatamento resultante
do garimpo ilegal na Terra Indígena (TI) Yanomami aumentou 309%, de acordo com
levantamento elaborado pela Hutukara Associação Yanomami. Em dezembro de 2022,
último mês do governo de Jair Bolsonaro, a área devastada era de 5.053,82
hectares, ante 1.236 hectares detectados no início do monitoramento.
Pelo
cálculo do Projeto de Mapeamento Anual do Uso e Cobertura da Terra no Brasil
(MapBiomas), as comunidades Yanomami terminaram os anos de 2020 e 2021 com 920
e 1.556 hectares de floresta a menos. A Hutukara, por sua vez, avalia que as
perdas foram, respectivamente, de 2.126,64 e 3.272,09 hectares.
Assim
o Instituto Socioambiental (ISA) estabeleceu um comparativo com os números
coletados pela equipe do MapBiomas, constatando uma curva maior de crescimento
no período. A diferença se deve à qualidade dos equipamentos utilizados.
Enquanto
o satélite usado pelo MapBiomas, o Landsat, processa dados com inteligência
artificial, o sistema da Hutukara tem alta resolução espacial, o que permite
maior precisão e a cobertura de perímetros que, por vezes, deixam de ser
captados. Outro fator destacado pelo ISA é a alta frequência de visitas à Terra
Indígena, por parte da associação representativa dos yanomami, o que influencia
no trabalho de acompanhamento e registro.
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Fonte: Hutukara Associação Yanomami. |
Malária
De
acordo com o presidente da Urihi Associação Yanomami, Junior Yanomami, o
problema do garimpo ultrapassa a questão ambiental. Para ele, é a raiz de
outras consequências, como o bloqueio ao atendimento de saúde. Há algumas
semanas, a TI Yanomami tornou-se centro das atenções da imprensa e do governo
federal, com a difusão de denúncias sobre a condição de saúde da população
local. Fotografias de crianças e adultos yanomami têm inundado as redes sociais
e impactado os usuários, devido à magreza dos corpos. De acordo com a
Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), as imagens mostram a omissão
do governo Bolsonaro diante de inúmeros apelos ignorados.
Além
da desnutrição infantil, outra contrariedade já bem conhecida dos yanomami é a
malária, doença tratável. De acordo com o balanço da Hutukara, somente durante
o governo Michel Temer, foram registrados 28.776 casos da doença. Desse total,
9.908 casos correspondem a 2018, e, no ano seguinte, início do governo
Bolsonaro, a soma saltou para 18.187. Em 2020, a entidade contabilizou 19.828
casos e, em 2021, 21.883 casos.
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Fonte: Hutukara Associação Yanomami. |
Para o líder yanomami, autoridades de segurança pública são fundamentais enquanto o cerco de garimpeiros aos indígenas e a profissionais de saúde permanece. “Não adianta a gente mandar médicos. Garimpeiros vão intimidar com fuzil, submetralhadora. Exército, Polícia Federal tem que combater forte, punir, responsabilizar essas pessoas que estão destruindo a vida, o rio”, afirma Junior.
A
crise que afeta as comunidades Yanomami levou o governo a decretar estado de
emergência para combate à desassistência sanitária na região. No sábado (21), o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ministros de Estado visitaram Roraima
para acompanhar a situação dos indígenas.
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Com informações da RBA.