A
denúncia apresentada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra
o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), tem uma surpresa. Na
página 40 aparece a ligação da Operação Lava Jato com a privataria tucana, ao
rastrear o caminho do dinheiro das propinas sobre contratos de construção de
sondas pela Samsung para a Petrobras.
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Serra e Baiano. Denúncia do MPF pode conter eloa entre a era das privatizações e a da Lava Jato. |
Segundo
a denúncia do Ministério Público, o representante da Samsung, Júlio Camargo,
recebeu comissão por ter conquistado o contrato – e distribuiu propinas. Três
desses pagamentos, entre junho e outubro de 2007, saíram das contas, em
paraísos fiscais, das empresas Piamonte Investment e Winterbothan Trust
Company, do próprio Camargo, para a Iberbras Integración de Negócios Y
Tecnologia, ligada a Fernando Soares, o Fernando Baiano, chamado por Camargo de
“sócio oculto” de Eduardo Cunha.
A
denúncia registra que a Iberbras tem uma sucursal brasileira – Iberbras
Integração de Negócios, de CNPJ 068.785.595/0001-01 –, registrada em nome de
Hiladio Ivo Marchetti, marido de Claudia Talan Marin que, por sua vez, é
proprietária do Condomínio Vale do Segredo Gestão de Patrimônio Eireli, em
Trancoso, no litoral sul da Bahia. Fernando Baiano tem entre seus bens
sequestrados pela Justiça uma mansão naquele condomínio e realizou
transferências para Cláudia Talan Marin no valor de R$ 1,6 milhão.
Cláudia
Talan Marin e Hiladio Ivo Marchetti são filha e genro de Gregório Marin
Preciado, ex-sócio do senador José Serra (PSDB-SP) em um terreno no Morumbi,
bairro nobre de São Paulo. A mãe de Cláudia, Vicencia Talan Marin é prima do
senador tucano. Por este parentesco Preciado muitas vezes é tratado nos meios
políticos como "primo" de Serra.
Todo
o capítulo 8 do livro-reportagem A Privataria Tucana (de Amaury Ribeiro Júnior,
Geração Editorial, 2011) é dedicado a Preciado, com o título “O primo mais
esperto de José Serra”. No final do capítulo 7, há documentos da CPI do
Banestado obtidos no Tribunal de Justiça de São Paulo comprovando a
movimentação milionária de dinheiro de Preciado em paraísos fiscais, em
negócios com Ricardo Sérgio de Oliveira, ex-tesoureiro de Serra.
As
relações de Preciado com Serra são antigas e profundas. A antiga empresa de
consultoria do atual senador, denominada ACP Análise da Conjuntura Econômica e
Perspectivas Ltda., tinha como endereço o prédio da firma Gremafer, pertencente
a Gregório Preciado. Neste imóvel também funcionaram os comitês de campanha de
José Serra nas eleições de 1994 para o Senado, e de 1996, para prefeito de São
Paulo.
Preciado
também contribuiu para financiar campanhalavas de Serra nos anos de 1990 por
intermédio de suas empresas Aceto, Gremafer e Petrolast. A família de José
Serra visitava sempre as casas de Preciado em Trancoso, região onde ele passou
a fazer negócios imobiliários.
Um
caso rumoroso envolvendo o DEM da Bahia foi na Ilha do Urubu.
A
ligação de Fernando Baiano com a Iberbras foi confirmada nas investigações a
partir do controle de acesso na portaria da Petrobras, onde Baiano
identificou-se como representante da empresa.
Segundo
informações de bastidores a respeito da delação premiada de Fernando Baiano,
ainda sob sigilo, um dos assuntos delatados seria justamente negócios com o
"primo" de Serra. A conferir.