8 de dezembro de 2024

Cerimonial do Novembro Negro 2024 da EEMTI Padre Luís Filgueiras, de Nova Olinda-CE

 

Professores, professoras, palestrantes, ceriminialistas e gremistas por ocasião do novembro negro 2024 da EEMTI Padre Luís Filgueiras. (FOTO | Reprodução).

Por Nicolau Neto, editor

No último dia 21 de novembro a EEMTI Padre Luís Filgueiras, de Nova Olinda-CE, a edição 2024 do Novembro Negro, parte integrante de um conjunto de ações desenvolvidas durante o ano letivo dentro de componentes curriculares da área de Ciências Humanas, sobretudo em Sociologia.

Em 2023, a temática foi “20 anos da lei 10.639/2003 – educação, resistência e equidade racial” e foi marcada com uma grande “caminhada antirracista” pela valorização da história e cultura dos povos negros e originários do Brasil, vindo a percorrer as principais ruas da cidade e uma palestra com o professor Dr. João Luís do Nascimento Mota que versou sobre “a luta do negro e a negritude”.

Este ano, a temática central foi “Mulheres, Educação e Comunicação Antirracista” e contou com a participação Tatiane Evangelista, Ismênia Leite, Victoria Alencar, Ermina Bezerra, além das cerimonialistas Maria Edilaine e Jamile Bispo. (clique aqui e reveja).

Abaixo o cerimonial


Cerimonial do Novembro Negro da EEMTI Padre Luís Filgueiras

 

Tema: Mulheres, Educação e Comunicação Antirracista

 

Cerimonial (Edilaine Lima e Jamile Bispo)

 

(Edilaine). Não há como falar da História do Brasil sem mencionar os mais de três séculos de escravização, tanto dos povos originários quanto dos povos africanos. A História do território que hoje chamamos Brasil se entrelaça com o processo de escravização. Os europeus levaram de forma forçada para o continente americano mais de 12 milhões de africanos para serem escravizados. Segundo Laurentino Gomes, em seu livro “Escravidão”, o Brasil sozinho obteve desses mais de 12 milhões cerca de 5 milhões de africanos na condição de escravizados.

(Jamile). Pois é, Edilaine. Isso significa dizer que não dá para entender a formação do país sem que estudemos de maneira séria a escravidão que tão mal fez e tem consequências desastrosas. Afinal, a principal consequência que temos hoje é o racismo. O racismo é um projeto de poder muito difícil de combater. E ele que mantém os privilégios, a desigualdades e que mantém a população preta e indígena a margem, no desalento. É por isso, por ele ser um projeto de poder bem articulado que o torna tão difícil de combatê-lo. Pois, por um lado, há uma negação constante de que ele exista e por outro lado, há os que não confessam que são racistas. Dentro desse contexto, a gente traz o antropólogo congolês-brasileiro Kambegele Munanga. Para ele, o racismo é uma dupla morte, visto que ele é “um crime perfeito. Não vemos o carrasco do racismo porque ele não se assume como tal. Então é uma morte física e também da consciência do negro.”

(Edilaine). O Munanga tem razão. Mas apesar desse massacre, a população negra e indígena existe e resiste. Fora do continente africano, o Brasil é o país mais negro do mundo. Mais da metade da população brasileira é negra.(55,5%). No Estado do Ceará, por exemplo, esse número sobe para a casa dos 72,5%, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). No nosso município, Nova Olinda, a população negra também é maioria. Negros e negras aqui são 70,3%.

(Jamile). Pois é, Edilaine. E na nossa escola os números não são diferentes dos nacional e estadual. Segundo pesquisa realizada pelo professor Nicolau Neto este ano e publicada no blog Negro Nicolau, 75,3% dos estudantes da Escola Padre Luís Filgueiras se autodeclararam negros.

(Edilaine). Esses números são um tapa na cara daqueles dirigentes que, em um passado não muito distante implementaram a ideologia do branqueamento. Segundo esta ideologia que foi uma política de estado, em pouco tempo dada a mistura de povos, o pais não teria mais negros. A teoria do embranquecimento da população foi uma teria racista e que repercute ainda hoje, o que professor e ativista negro Abdias Nascimento chamou de “política de genocídio” em seu livro “Genocídio do povo negro brasileiro. Processo de um racismo mascarado (1978).” E foi um tapa na cara porque, a biologia explica. Na relação entre pessoas pretas e brancas, a pele preta e dominante e a branca é recessiva. Isso a gente discutiu em uma oficina desenvolvida pelo professor Nicolau no início deste ano nas turmas de 1º ano e eu era monitora.

(Jamile). Tratando especificamente de educação, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) destacou que jovens de pele negra possuem quatro vezes mais chances de morrer do que um branco. As mulheres negras ocupando as mesmas funções de brancos e brancas ainda recebem os menores salários. E é esse mesmo IPEA que constata que a chance de um negro ser alfabetizado é cinco vezes menor do que um branco. No nível superior a realidade é praticamente a mesma. Somente uma a cada quatro pessoas formadas é negra. Sem contar os inúmeros casos de discriminação e racismo que crianças e jovens de pele negra sofrem todos os dias nas salas de aulas.

(Edilaine). Dados que nos entristecem e que nos deixam em sinal de alertas o tempo todo para exigirmos, Jamile, uma educação que dê conta desse problema. Não dá pra pensar em educação só sob a luz de metas. Aliás, se é pra pensar em meta que seja para superar o racismo e construir uma educação voltada para a equidade racial e de gênero. Pois muitos estudantes abandonam as escolas por não serem capazes de superar esse câncer que atinge o país desde a invasão dos portugueses em 1500. Nos livros didáticos, negros, negras e povos nativos não se reconhecem. Não conseguem se perceber nele porque nosso currículo ainda é pautado pela linha do europeu.

(Jamile). Mas se por um lado a gente não pode pensar o Brasil sem estudar a escravidão e as consequências danosas dela originadas, é importante destacar que a compreensão do Brasil, em particular da educação e da comunicação como instrumentos de luta por justiça e equidade, passa primordialmente pelas contribuições da população preta, especialmente de mulheres pretas. Pensou em combate ao analfabetismo? Lá está uma mulher preta, a Antonieta de Barros. Sua crença era que a educação era a única arma capaz de libertar os desfavorecidos da servidão. Foi com essa visão que ela criou um curso que levou seu nome, o “Antonieta de Barros”, com o objetivo de combater o analfabetismo de adultos carentes. E o dia do professor e da professora, celebrado anualmente em 15 de outubro? Foi Antonieta de Barros.

(Edilaine). Se a gente voltar um “bucadinho” na História e pesquisar por libertação e luta contra a casa grande, iremos encontrar muitos exemplos. Comecemos por Aqualtune, fundadora do “Quilombo dos Palmares” e avó de Zumbi dos Palmares. Na mesma linha, temos Tereza de Benguela. Ela que é conhecida por ser símbolo na luta contra o racismo e o patriarcado do século 18, e ter liderado o Quilombo do Quariterê, atual estado do Mato Grosso. Desde 2014, o Brasil celebra, no dia 25 de julho, o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra.

(Jamile). E como esquecer de Preta Tia Simoa, heim gente? Segundo o professor Nicolau Neto, com base em estudos desenvolvidos pela historiadora cearense Karla Alves, “Tia Simoa definiu os rumos da abolição no Ceará.” A Preta “Tia Simoa” foi uma negra liberta que, ao lado de seu marido (José Luís Napoleão) liderou os acontecimentos de 27, 30 e 31 de janeiro de 1881 em Fortaleza – Ce , episódio que ficou conhecido como a “Greve dos Jangadeiros”, onde se decretou o fim do embarque de escravizados naquele porto, definindo os rumos para a abolição da escravidão na então Província do Ceará, que se efetivaria três anos mais tarde.

(Edilaine). E a gente não pode esquecer da historiadora Beatriz Nascimento e sua grande contribuição no campo da educação. Suas pesquisas contribuíram para entender a identidade negra como instrumento de autoafirmação racial, intelectual e existencial. As políticas de reparação que temos hoje são frutos de sua luta incansável contra o racismo.

(Jamile). Do mesmo modo, a antropóloga, filósofa, professora e uma das principais autoras do feminismo negro no país, a Lélia Gonzalez. Suas pesquisas falam as culturas negras e seus saberes a levaram a produzir uma obra de impacto dentro e fora da academia, além de ser notória sua intensa atuação política contra o sexismo e o racismo.

(Edilaine). São tantas as mulheres pretas que contribuíram para entender a formação do país que a gente passaria a manhã inteira e não iriamos concluir. Hoje, dando continuidade a esse grande legado, nós temos Sueli Carneiro, Cida Bento, Cícera Nunes, Zuleide Queiroz, Maria Telvira, Karla Alves, Dayze Vidal, Valéria e Verônica Carvalho e tantas e tantas outras, das quais as nossas convidadas de hoje fazem parte.

(Jamile). É dentro desse contexto que necessitamos construir uma educação voltada para a diversidade, para a pluralidade e que esteja direcionada a combater diariamente o racismo. A nossa educação precisa ser antirracista e um dos caminhos para isso é o debate, a reflexão e a promoção de ações que perceba negros, negras e povos nativos não só como contribuidores na formação do país, mas principalmente como produtores de conhecimentos e de saberes.

(Edilaine). Jamile é importante lembrar que pela primeira vez o Dia da Consciência Negra, celebrado ontem, 20 de novembro, é feriado nacional. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou a Lei 14.759, que coloca no calendário de feriados nacionais o Dia da Consciência Negra e o Dia Nacional de Zumbi dos Palmares, em dezembro de 2023.

(Jamile). Que marco importante na História, hein Edilaine. Ano passado o projeto “aCORde uma voz”, da área de Ciência Humanas, apresentou como temática “20 anos da lei 10.639/2003 – educação, resistência e equidade racial.”  E este ano, a gente irá discutir o tema “Mulheres, Educação e Comunicação Antirracista”.

(Edilaine). Sintam-se todes, todas e todos acolhidos no Novembro Negro, edição 2024 do Projeto “aCORde uma voz”, da Escola de Ensino Médio em Tempo Integral Padre Luís Filgueiras.

(Jamile). Para abrir nosso evento convidamos a professora e diretora da Escola Padre Luís Filgueiras, Aparecida Matos, a Tia Cida.

(Edilaine). Gratidão, Tia Cida. Com muita alegria recebamos o professor Nicolau Neto para falar sobre nosso Novembro Negro.

(Jamile). Sem mais delongas, convidamos para compor nossa mesa Tatiane Evangelista. Ela é da Zona Leste de São Paulo e mora no Cariri Ceara desde 2010 É Assistente Social, cursou Filosofia na Universidade Federal do Cariri (UFCA) e Sanitarista egressa da Residência Integrada em Saúde com ênfase em Saúde Coletiva pela Escola de Saúde Pública do Ceará. Poeta e Educomunicadora vive os movimentos sociais desde sua infância, participante da fase embrionária do projeto Educom.radio em 2002 pela Univesidade de São Paulo (USP).

(Edilaine). Recebamos agora Ismênia Leite. Ela é professora de geografia da rede pública municipal de Assaré. Mestranda em educação, pesquisa sobre as memórias das afrodescendências de Assaré na formação civilizatória do lugar e é integrante do Núcleo de Estudo em Educação, Gênero e Relações Étnico-raciais- NEGRER.

(Jamile). Comporá nossa mesa também Victoria Alencar. Ela tem 17 anos. É a primeira mulher transexual presidenta de um grêmio estudantil na história do Cariri, diretora de movimentos secundaristas da União da Juventude Socialista (UJS) de Crato. É militante na frente LGBTQIA+, Antirracista da UJS Ceará e transfeminista negra.

(Edilaine). Para completar. Vamos chamar a moça da casa, Ermina Bezerra. Ela é estudante do 2º ano A e é inegrante do  Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabi), do Instituto Federal do Ceará (IFCE), campus Crato.

(Jamile). Bem vindas, meninas. E vamos começar com uma das formas mais potentes de denúncia, mas também de empderamento. Estamos falando de poesia, gente. Chega pra cá Ronyldo Júnior. Gente, o Ronyldo é estudante, mora em Assaré e irá recitar três poesias, uma delas é de sua autoria.

(Edilaine). Que maravilha. Gratidão, Ronyldo por compartilhar conosco essas escritas. A Jamile, que divide comigo este cerimonial também escreve, gente. E ela tem é autora da poesia que sobre a importância das mulheres vítimas de violência fazerem as denúncias.

(Jamile). Deixe-me aproveitar e chamar minha parceira Edilaine porque eça também é autora de poesias e recitará para nós duas. Uma leva o título de “miseráveis abolidos” e a outra fala sobre “a voz não escutada.”

(Edilaine). Também vou aproveitar que estou na ativa e dizer que nossa mesa terá a seguinte sequência. Primeiro a gente escuta Ermina que falará sobre sua participação no NEABI e a contribuição dele para sua formação antirracista. Depois, será a vez da professora Ismênia que trará as vivências e os atravessamentos enfrentados pelas mulheres negras do interior nordestino. Depois, a gente irá ouvir Tatiane que nos trará contribuições sobre sua atuação nos movimentos sociais e na comunicação. E para fechar nossa manhã, a gente tem a estudante cratense Victória Alencar que falará sobre sua luta cotidiana.

(Jamile). Que mesa, hiem? Cada participante terá 20 minutos de exposição e, findado a rodada, a gente abre espaço para o público fazer considerações.

(Edilaine). Dito isso, fiquemos com nossas convidadas.

(Jamile). A palavra está aberta para perguntas ou qualquer outra contribuição......

( Edilaine). A gente agradece as nossas convidadas, ao nosso convidado e a todos pela contribuição. Grande abraço, gente.

(Jamile). A gente lembra que esse evento é uma realização da área de Ciência Humanas, da EEMTI Padre Luís Filgueiras, com o apoio dos demais professores e professora, equipe gestora e do Grêmio Estudantil. Grande abraço, gente.

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