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Pautas raciais não têm prazo de validade. (FOTO | Paulo Pinto | Agência Brasil). |
Todo ano é a mesma coisa: novembro chega com campanhas, debates e ações que fazem a sociedade acreditar que há um avanço na luta antirracista. Mas quando o mês termina, fica a sensação de que tudo foi deixado para trás, como se essa discussão tirasse férias até o novembro seguinte. Isso precisa mudar. Consciência racial não é um tema de época, porque atitudes e a própria estrutura racista não têm data para existir.
É
importante reconhecer que algumas conquistas merecem celebração. Ver três
atrizes negras protagonizando novelas na Globo ou campanhas como a da
Confederação Brasileira de Futebol (CBF), que exaltam a ancestralidade africana
de Vinicius Jr., são passos significativos.
Mas
é essencial perguntar: essas ações têm gerado mudanças reais no cotidiano da
população negra? Ou será que muitas vezes há uma preocupação maior em parecer
consciente do que em ser verdadeiramente comprometido?
Ao
mesmo tempo, episódios como os áudios racistas de Ana Paula Minerato lembram
que ainda perpetua uma sociedade profundamente marcada pelo racismo. Esses
casos evidenciam a urgência da educação e do diálogo constante para combater
estruturas opressoras que seguem enraizadas.
Nada
muda da noite para o dia. Mas isso não pode ser justificativa para comodismo ou
ações superficiais. É fácil se engajar quando a pauta está em alta, mas o
verdadeiro impacto só acontece com um compromisso permanente, com continuidade
e intencionalidade.
As empresas
têm um papel essencial nesse processo. A verdadeira inclusão não se resume a
uma campanha bonita ou à escolha de uma pessoa negra para uma peça
publicitária. A inclusão real é sobre criar espaços onde profissionais negros
possam ser contratados, valorizados, promovidos e colocados em posições de
liderança.
Esse
compromisso deve ser genuíno e parte de um esforço contínuo, e não algo
pontual. É assim que se constroem ambientes diversos, acessíveis e
transformadores.
Para
que isso seja possível, é preciso superar a visão de que a luta contra o
racismo é um problema exclusivo das pessoas negras. É um dever coletivo. As
pessoas não negras têm um papel indispensável, que vai além da empatia. É
preciso agir, educar e confrontar o racismo onde ele estiver, com coragem para
encarar desconfortos e desconstruir estruturas impostas há séculos.
Por
outro lado, também é preciso refletir sobre o desinteresse que o mercado tem
demonstrado em relação à pauta racial. Durante a pandemia, houve um boom no
interesse por essas discussões, em grande parte motivado pelos acontecimentos
globais, como o assassinato de George Floyd.
No
entanto, nos últimos anos, esse entusiasmo se esvaziou. A pauta pareceu ter se
tornado mais um negócio, não uma causa. Essa abordagem limitada ignora que a
luta antirracista é, antes de tudo, a coisa certa a fazer.
A
cultura negra é uma das maiores riquezas do Brasil. Ela está presente na
música, na culinária, na maneira de ser do brasileiro. Não faz sentido
celebrá-la em novembro e ignorar a realidade durante o restante do ano.
O
compromisso antirracista precisa estar interiorizado no cotidiano – seja na
forma como as crianças são educadas, no que é consumido, nas conversas ou nas
decisões corporativas.
Como
ensinam os ancestrais, a mudança verdadeira nasce do cuidado contínuo, do olhar
atento e do respeito profundo pelas raízes. É assim que se constrói um futuro
mais justo e equitativo – um futuro onde a equidade racial não é apenas um
objetivo, mas um valor central em todas as ações.
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Com
informações da Alma Preta Jornalismo.
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