Ando
cada vez mais impressionado com a indiferença das pessoas. Indiferença crônica.
O que faz ou não faz o vizinho, mas quem é o vizinho? Um dia desses, não faz
muito tempo, disse aqui, com todas as letras, que sua casa está pegando fogo.
Você se preocupou?
Por Menalton Braff, no CartaCapital
Não,
simplesmente pensou que este cronista estivesse brincando, ou, quem sabe,
andasse leso das ideias, prejudicado pelo excesso de trabalho, alguma coisa
qualquer que bem poderia ser eufemismo de doido varrido.
Sim
porque a grande maioria das pessoas só conhece um tipo de leitura, que a gente
pode chamar de referencial, mas que, para melhor entendimento, é a leitura da
superfície, as palavras são o que são e se referem a seres determinados, como
manda o dicionário.
Por
isso, volto a afirmar que sua casa está pegando fogo.
Claro
que “sua casa”, acima, é metonímia de planeta Terra. E não é? Eu havia acabado
de ver o filme do Al Gore a respeito do aquecimento global e, sob a impressão
do que vira, foi que escrevi a crônica. Ninguém se manifestou. Ninguém
contestou, ninguém acreditou. Lá se foi minha garrafinha com sua mensagem para
sumir nas profundas do oceano desta vida.
Será
que tenho sido tomado por um “gozador”, como um dia me disse alguém que andou
lendo algumas de minhas crônicas? Uma coisa eu garanto: se o tom às vezes me
sai um tanto jocoso, se em meus lábios você pode imaginar um sorriso sardônico,
isso é porque já desisti de sentar e chorar e acho que nossa curta existência
não fica melhor sob a égide do mau humor.
Então,
pessoal, sem sorriso nos lábios e sem metonímia que possa obscurecer a verdade.
Combinado? Segundo projeções dos cientistas, você ainda poderá criar alguns
filhos e talvez até lamber meia dúzia de netos, mas bisnetos, isso jamais.
Bem
antes disso nosso planeta já terá derretido todas as geleiras, as florestas já
estarão transformadas em carvão e cinzas, e a raça humana nem na história
aparecerá, porque a própria história terá deixado de existir.
Sim,
porque há governantes nascidos e criados acreditando que o maior bem do ser
humano é o lucro, mas lucro verdadeiro. Não que o lucro moral, por exemplo, não
seja verdadeiro, mas por dentro de nosso sistema, é claro que lucro verdadeiro
significa monetário, essa coisa que faz a economia girar, que sobra para alguns
o que falta para outros.
Pois
bem, acho que vocês já me entenderam. Torra-se o mundo, mas não se toca na
indústria que proporciona o lucro enquanto lentamente vai torrando nosso
planeta.
Mas
e o futuro? Ah, o futuro... E aquele senhor de topete nem saiba, talvez, o que
significa futuro.
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Torra-se o mundo, mas não se toca na indústria que proporciona lucro enquanto lentamente vai torrando nosso planeta. Foto: Vanderlei Debastiani/ Wikkipédia Commons. |
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