Luana
Tolentino, historiadora, professora e ativista do movimento negro reusou um
convite do programa Caldeirão do Huck para participar de um quadro sobre o Dia
Internacional da Mulher.
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A professora e historiadora Luana (esq) se recusou a participar do programa de Luciano Huck. |
Em
seu perfil no Facebook, Luana, que já colaborou para Pragmatismo Político, diz
ser contra a conduta do programa de “espetacularizar pessoas que têm histórias
de superação” e em “objetificar o corpo da mulher negra”.
A
professora também lembrou do polêmico episódio em que Luciano Huck, durante a
Copa do Mundo, “usou o programa para oferecer brasileiras aos gringos (relembre
aqui)”.
Leia
a seguir a resposta de Luana:
Hoje
[18 de fevereiro] à tarde fui surpreendida com um telefonema da produção do
Caldeirão do Huck. Em março, o programa fará uma homenagem ao Dia Internacional
da Mulher. Segundo a produtora do programa “sou
uma mulher inspiradora”. Por isso eles acharam que o Luciano Huck deveria
me entrevistar.
Não
aceitei. Minha decisão não se deu pelo fato do Caldeirão do Huck fazer parte da
programação da Rede Globo, emissora pela qual tenho uma infinidade de críticas
e há muito tempo não assisto. Longe disso. Não aceitei porque não me agrada a
espetacularização que é feita com a vida das pessoas que tem uma “história de
superação”.
Não
aceitei porque não vou me prestar ao papel de reforçar o discurso da
meritocracia, que discordo e combato com veemência.
—
Luana, você é a prova de que quando as pessoas realmente querem, elas
conseguem! — Foi o que a produtora me disse.
Mas
não é bem assim. De fato, desejei estudar, desejei escrever, desejei ser
professora. Me sinto grata, rica, realizada em poder fazer tudo o que eu sempre
quis. Porém, provavelmente tudo teria sido muito diferente não fosse a
estrutura desigual, racista e machista do nosso país.
Para
chegar até aqui tive que romper barreiras visíveis e invisíveis. Nesse percurso
fui me arrebentando de tal maneira que às vezes tenho a sensação de que sou
toda quebrada por dentro. São questões que precisam ser ditas, mas a produção e
o Luciano Huck não têm o menor interesse em debatê-las ou enxergá-las.
Concordo
que nós negras e negros devemos ocupar espaços, que as nossas vozes devem ir
para além da internet, da Academia, e no meu caso, da sala de aula, mas não
acho que seja necessário perder de vista os compromissos assumidos: comigo
mesma e com aqueles que represento através da minha fala e da minha escrita.
Respeito
o trabalho da profissional que entrou em contato comigo. Por isso agradeci
imensamente o convite. Por outro lado, não vejo o menor sentido em ser
homenageada no dia 8 de Março pelo Luciano Huck, que durante a Copa usou o
programa para oferecer brasileiras aos gringos, como se fôssemos mercadoria.
Perfeita justificativa
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