Só 3% das universidades têm equidade racial entre professores

 

(FOTO/ Divulgação).

Análise feita pelo Estadão compara a proporção de docentes negros com a de habitantes negros no Estado; além de democratizar o acesso, especialistas dizem que diversidade melhora ambiente acadêmico.

Eunice Prudente, de 75 anos, foi a primeira negra a se tornar professora da tradicional Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), na década de 1980. Até hoje, é a única. "Sofri questionamentos racistas e tive de enfrentá-los", conta ela, que só nos últimos anos viu suas turmas ficarem mais diversas. Pelos corredores das universidades públicas, é possível encontrar mais estudantes pretos e pardos - graças às cotas. No comando da sala de aula, porém, esse perfil ainda é raro.

Levantamento feito pelo Estadão mostra que menos de 3% das instituições de ensino superior brasileiras têm número de professores negros que espelha a distribuição racial da região onde está. Em uma década, as cotas e programas como Fies e ProUni ampliaram as oportunidades de acesso na graduação, mas transformar o perfil dos professores é um processo mais lento e difícil. Especialistas apontam que a equidade racial na docência melhora o acolhimento dos diferentes tipos de alunos, enriquece a instituição, para todos, com um ambiente mais diverso e traz mais temas e pontos de vista para a pesquisa.

O Estadão tabulou dados do Censo da Educação Superior de 2019, os últimos divulgados pelo Ministério da Educação. A análise considera que há equidade racial na universidade que possui proporção de docentes negros (pretos e pardos) igual ou superior à de habitantes negros na unidade da Federação em que está instalada.

No Estado de São Paulo, por exemplo, 40% da população é negra, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na USP, porém, só 3,8% dos professores se declaram negros. Essa universidade não tem equidade racial, segundo os critérios da reportagem.

Já a Universidade do Estado do Amapá (Ueap) possui equidade racial segundo esse critério. Dentre os docentes, 90% são negros, enquanto a população do Estado tem 81% de pretos e pardos.

O recorte feito pelo Estadão leva em conta as universidades onde ao menos 75% dos professores fizeram autodeclaração de raça e que têm mais de 50 docentes. Abrange amostra de 823 das 2.608 instituições que participaram do Censo. Leia mais sobre a metodologia no fim da reportagem.

Entre todas as universidades analisadas, só 23 têm quantidade de professores negros que reflete a distribuição racial no Estado. A única pública é a Universidade do Estado do Amapá.

No gráfico abaixo, cada círculo representa uma instituição de ensino superior. Quanto mais próxima de um, mais equidade racial há no corpo docente. Quanto mais perto de zero, menos diversa é a universidade.

Todas as 59 melhores universidades brasileiras listadas no ranking da revista britânica Times Higher Education, referência mundial na análise do ensino universitária, têm menos docentes negros do que o perfil regional.

Nas 23 universidades com diversidade semelhante à do Estado na docência, os números nem sempre resultam de uma política de inclusão. Onze afirmam não ter programa do tipo, três disseram ter políticas para elevar o número de docentes negros e nove - entre elas a Estadual do Amapá - não responderam.

As faculdades Projeção de Ceilândia e de Sobradinho (DF), afirmam que assinaram um pacto de inclusão racial no mercado de trabalho e mantêm políticas de diversidade, como o cadastro de vagas em plataformas voltadas a profissionais negros. Já a Faculdade Zumbi dos Palmares, que tem como missão incluir pessoas negras no ensino superior, disse que a equidade racial é um dos critérios observados na hora de contratação de professores.

A presença de professores negros (pretos e pardos) nas universidades aumentou de 13,2% em 2012 para 16,2% em 2019. É difícil mensurar a evolução real porque há lacunas na autodeclaração, visto que os docentes não são obrigados a informar sua raça ao Censo. Em universidades como a Federal de Pelotas e do Paraná, por exemplo, mais de 95% dos professores não informaram sua raça na pesquisa de 2019.

Falta de diversidade é ainda maior em universidades públicas

As universidades públicas têm ainda menos docentes negros do que as particulares. Nenhuma das federais possui equidade racial, conforme o critério adotado pela reportagem. A que mais se aproxima da equidade é a Universidade Federal Rural da Amazônia, com 79,4% da quantidade esperada de professores negros.

Entre as causas, estão a pequena proporção dos que acessam a pós-graduação. O doutorado é exigido em concursos públicos na maioria das federais. Segundo balanço de 2019 da Capes, órgão do Ministério da Educação (MEC), só 29% dos alunos de pós eram pretos ou pardos.

E, mesmo entre os que acessam mestrado e doutorado, há dificuldades de permanência. Racismo estrutural e vulnerabilidade econômica dificultam o caminho até a titulação, uma vez que as bolsas pagam pouco. "Temos número significativo de alunos negros na graduação que acabam indo trabalhar no setor privado", diz Fabiana Schleumer, pró-reitora adjunta de Extensão e Cultura da Federal de São Paulo (Unifesp), negra e professora de História na instituição.

Como a Unifesp, universidades têm apostado em cotas na pós, para permitir que mais alunos negros se formem mestres e doutores e possam entrar no magistério superior. "Independentemente do campo de conhecimento, esse professor traz outros referenciais que vão enriquecer a formação dos alunos", afirma Fabiana.

A aprovação de políticas, no entanto, não significa resultados imediatos. Desde 2014, uma lei prevê reserva de 20% das vagas em concursos para professores nas federais, mas parte das instituições não adota a regra, sob argumento de fazer processos seletivos pequenos.

A lei só é aplicada quando o número de vagas no concurso é igual ou superior a três. Editais por área do conhecimento abrem, em geral, uma ou duas vagas. "O número de instituições que aplicam o porcentual de 20% é muito baixo", diz Luiz Mello, professor de Ciências Sociais da Federal de Goiás (UFG), que estuda o cumprimento da regra nas universidades e outros órgãos públicos.

Levantamento da Escola Nacional de Administração Pública mostra que mais da metade das federais não tem professores nomeados em vagas reservadas para negros. Segundo Mello, há pequenos avanços nos últimos anos, impulsionados pela pressão de docentes. A UFG, por exemplo, mudou a metodologia em seus editais. Pelo novo método, que considera o total de vagas oferecidas em várias faculdades, um concurso de 2019 reservou 12 das 59 vagas para docentes negros.

A Federal do Rio (UFRJ), em 2020, aprovou resolução interna que prevê os 20% sobre o total de vagas. A Universidade Federal Fluminense (UFF) também adotou o mesmo entendimento este ano.

"O número de professores negros no ensino superior não aumentou da forma que poderia ter aumentado se a lei tivesse sido aplicada adequadamente", diz Delton Aparecido Felipe, diretor de Relações Internacionais da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (ABPN). Nas estaduais paulistas - que não seguem a lei federal - a disparidade é ainda maior.

"Enquanto as federais já contam com mais de 15% de docentes negros após adoção de cotas em concursos, a Unicamp não chega à marca de 5%", reconhece Silvia Maria Santiago, diretora executiva de Direitos Humanos da Estadual de Campinas (Unicamp), que discute adotar cotas para concursos de profissionais de apoio ao ensino, pesquisa e extensão. Procurada, a USP não se manifestou.

Outro desafio é garantir a presença de negros em cargos de direção. Para José Vicente, reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares, gestores das universidades devem estar conscientes da desigualdade racial no País e apostar em mecanismos de inclusão.

"Ter consciência negra é compreender que existe uma distorção racial na sociedade. E é essa distorção que leva à desigualdade". A instituição é a única em São Paulo com número de professores negros compatível com o perfil racial do Estado. Vicente, advogado e doutor em educação, critica a forma de contratar nas instituições públicas.

Ele afirma que esses processos seletivos são baseados exclusivamente na meritocracia, privilegiando quem teve trajetória acadêmica intensa. "Precisa haver mérito, mas não pode ser esse mérito exclusivo dos títulos e do quanto a pessoa sabe sobre um assunto específico. Temos de democratizar os processos seletivos."

"A gente se relaciona com isso de forma cômoda porque o racismo é capaz de naturalizar até o absurdo", diz o reitor, sobre a baixa presença dos negros na docência. Além de mudar os processos seletivos, ele diz que é preciso garantir a jovens negros acesso a programas de graduação e pós, assim como sua permanência.

Felipe, da ABPN, também destaca a importância para a permanência. "O número de alunos negros nas universidades aumentou, mas isso não foi suficiente para haver mais pessoas negras em profissões estratégicas, como Engenharia e Medicina. O sucesso profissional desses alunos depende de uma série de fatores, entre eles a presença de professores negros."

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Com informações do A Crítica. Clique aqui e leia o texto completo.

Douglas Belchior se filia ao PT, que se compromete em fortalecer candidatos do movimento negro

 

Douglas Belchior disputará uma cadeira na Cãmara dos Deputados em 2022. (FOTO/Elineudo Meira).

O Teatro Oficina, um dos mais tradicionais pontos culturais de São Paulo (SP), foi palco de uma importante movimentação na política brasileira, na noite da última segunda-feira (6). O ato de filiação do educador Douglas Belchior ao Partido dos Trabalhadores (PT), que significou uma reaproximação do partido com o movimento negro.

No palco, a presidenta do PT, Gleisi Hoffman, e o ex-prefeito da capital paulista Fernando Haddad, postulante do partido ao governo de São Paulo em 2022, ouviram por duas horas algumas das principais lideranças do movimento negro. No final, Blechior falou sobre a filiação.

O que está acontecendo aqui não é a minha filiação ao PT, é um convite do movimento negro ao PT para que ele corresponda às expectativas da maior parte da população brasileira. Nós estamos fazendo esse convite para vocês”, afirmou o educador, que prevê, para 2022, a eleição de uma bancada do movimento negro.

Por fim, Belchior, que foi filiado ao PT entre 1997 e 2005, deixou um recado aos partido. “Se eu estiver em alguma enrascada, eu estarei no maior partido da América Latina, mas será aqui que serei dirigido. Antes de ser um petista, porque volto a ser um petista de carteirinha e estrelinha, o meu partido é o movimento negro.”

Douglas Belchior chega ao PT após uma série de reuniões com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Haddad e outras lideranças do partido. As negociações para a filiação duraram seis meses. Em 2022, o educador disputará uma vaga na Câmara dos Deputados em Brasília. Antes, ele concorreu às eleições de 2014 (deputado federal), 2016 (vereador em São Paulo) e 2018 (deputado federal). Todas, pelo PSOL.

No evento, Hoffmann saudou a chegada do líder do movimento negro ao partido. “É uma alegria você estar retornando ao Partido dos Trabalhadores”, começou a presidenta do PT. “O Brasil é um país que tem uma dívida imensurável com esse povo. A luta de classe só tem sentido no Brasil se for antirracista, se ela for estruturante do debate. A maioria do povo é preto, pobre e mulher. É um desafio, incorporar essa luta no dia a dia do partido.”

Haddad se comprometeu com o novo filiado. “A massa crítica está crescendo, é um bolo fermentando. Agora, você vai liderar, porque você estará no parlamento, estará nos nossos governos, você terá poder e vai liderar, de dentro, um processo de transformação para passos mais ambiciosos.”

“A tua eleição tem um significado muito importante para nós. Nós temos que assumir um compromisso de público, viemos para cá, eu e Gleisi. Isso será traduzido em políticas públicas e em caminhos para nossos irmãos, pretos e brancos, e enxergar representatividade”, finalizou Haddad.

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Com informações do Brasil de Fato.

SUS, conflitos e direitos: o Brasil andou para trás nos direitos humanos, mas não desiste

 

(FOTO/ Reprodução).

O lançamento, ontem (6) à noite, do livro Direitos Humanos no Brasil 2021 (editora Outras Expressões), relatório da Rede Social de Justiça e Direitos Humanos, aponta retrocessos e resistências. “Para reagir aos impactos da política governamental genocida – que terão consequências de longo prazo para toda a sociedade –, movimentos e organizações sociais buscam construir condições para a superação e a transformação”, diz o texto de apresentação, entre 32 artigos, de 46 autores, publicados na obra.

Em 254 páginas, o livro trata de crise ambiental, exploração de mão de obra em suas várias formas, criminalização de movimentos sociais, moradia, saneamento, militares, trabalho, desigualdade, gênero, cultura, racismo e pandemia. No ano em que “a sociedade civil brasileira viu nossa frágil democracia ser atacada e ferida”, como diz o monge beneditino, teólogo e escritor Marcelo Barros, que assina o prefácio. E aponta o que chamou de “tarefa urgente da reorganização da esperança e da utopia”.

Contra a fome

No artigo da advogada Andréia Aparecida Silvério dos Santos, da Comissão Pastoral da Terra, por exemplo, se expõe essa resistência. “Em contrapartida ao recorde nos números de conflitos registrados em 2020, também a CPT registrou o maior número de manifestações de luta (1.348), incluindo ações de solidariedade, especialmente doações de alimentos realizadas pelos movimentos sociais do campo e entidades populares”, escreve. “Essas ações foram fundamentais para aliviar a fome de milhares de famílias do campo e da cidade, agravada pela pandemia. Em 2021, as manifestações continuam.”

Em outro texto, o diretor técnico do Dieese, Fausto Augusto Jr., e a supervisora de produção técnica, Patrícia Costa, analisam o “pífio” desempenho do mercado trabalhista, somado aos contínuos ataques a direitos. “Em momentos de crise como a vivida pelo país, direitos trabalhistas e sociais podem servir de apoio a toda a sociedade, minimizando impactos econômicos e ajudando na recuperação. Infelizmente, o governo atual faz outra aposta e investe no caos”, afirmam.

Polícia em vez de projetos

Transmitido pela TVT, o evento virtual incluiu, além do lançamento da 21ª edição do livro, a entrega do prêmio João Canuto (líder rural assassinado em 1985). O primeiro a recebê-lo foi o Instituto Paulo Freire. A premiação é do Movimento Humanos Direitos (MHuD, presidido pela atriz Dira Paes.

Assim, também foi feita homenagem ao educador, que completaria 100 anos em setembro. “As violações evidenciam um cenário que é histórico, mas que se acentuou nos últimos anos”, diz o historiador e programador cultural Eleilson Leite, da Rede Social, que escreve no livro. Ele observa, no entanto, que o relatório não traz apenas mazelas. E conjuga o verbo “esperançar”, cunhado por Paulo Freire.

O líder comunitário Rumba Gabriel, do complexo do Jacarezinho (“Quilombo urbano”, como ele define), na zona norte do Rio de Janeiro, ofereceu a premiação todas as favelas cariocas. Ele lembra que o Estado, ao longo dos anos, levou a polícia às comunidades em vez de projetos. “Mas a gente não desiste. Também temos momentos felizes”, afirmou Rumba, que é compositor da Mangueira.

Profissionais da saúde

O João Canuto foi dado também ao Levante Indígena pela Terra, ao líder Daniel Kuikuro, ao MST (Setor de Produção, Cooperação e Meio Ambiente), à Rede de Comunidades Tradicionais Pantaneiras e à pneumologista Margareth Dalcolmo, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Ela agradeceu em nome de todos os profissionais da saúde: “Como médica, pesquisadora, engajada no sentido de promover conhecimento, interpretar a informação científica, certamente nós chegamos mais perto de todos vocês”.

Pela Rede, Cláudia Pinho recebeu o prêmio. “Momentos como este nos fazem refletir sobre a invisibilidade das comunidades, mas também sobre outras formas de buscar ajuda”, afirmou.

Homenagem a Sérgio Mamberti

Outro homenageado foi o indiano Kailash Satyarthi, Prêmio Nobel da Paz, por sua atuação contra o trabalho infantil, “negação de todos os direitos humanos”, como definiu. “Vocês podem sempre me considerar um irmão, um amigo”, disse o ativista.

Quase no final, um momento de emoção foi a homenagem ao ator e ativista cultural Sérgio Mamberti, que morreu em setembro. Seu filho Carlos e o chargista Renato Aroeira se manifestaram. “O esperançar é o tema que vai nos ajudar a pensar em outras possibilidades, na construção de um país mais justo e igualitário”, disse no encerramento Maria Luisa Mendonça, diretora da Rede Social. “Em 2022, estaremos firmes e fortes em nome dos direitos humanos”, completou Dira Paes.

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Com informações da RBA.

Frantz Fanon: um clássico para entender o colonialismo

O psiquiatra e filósofo social Frantz Fanon (1925-1961).CSU ARCHIVES/EVERETT COLLECTION

 

Em 6 de dezembro de 1961, o psiquiatra e intelectual martinicano Ibrahim Frantz Fanon sucumbia a uma impiedosa leucemia que abreviou sua vida no auge da sua produção acadêmica, com apenas 36 anos, e no ano de publicação de sua última obra, o clássico Os condenados da terra. O pensador marcou época a partir de seus escritos e morreu num momento-chave da história africana, o da chegada das independências, época da qual foi testemunha e protagonista ao militar na Frente de Libertação Nacional (FLN) durante a guerra pela emancipação da Argélia (1954-1962). Como psiquiatra, sua vivência foi fundamental para traçar o perfil das pessoas colonizadas, em um livro que se tornou referência obrigatória para os estudos sobre o colonialismo.

Colonialismo e alienação

Ao calor da guerra na Argélia, que já durava sete anos na época da escrita de Os condenados da terra, Fanon escreveu que a colonização sempre é um processo violento e que desumaniza o colonizado, negando-lhe seu passado, sua essência e seus valores. “O colonialismo não é uma máquina de pensar, não é um corpo dotado de razão. É a violência em estado de natureza”, opinava nas primeiras páginas de seu ensaio.

O sistema colonial constrói e perpetua estereótipos. Fanon os denunciou constantemente. Em 1961, argumentava que o opressor foi definido pelo colonizado como inimigo dos valores, desprovido destes, assim como de moral. A desumanização levou ao extremo de comparar o africano aos animais. “A linguagem do colono é uma linguagem zoológica”, acrescentou o psiquiatra.

Essas observações tinham aval no discurso científico da época. Neste campo, na França pré-1954, concluiu-se que o argelino era um criminoso nato, um homicida impulsivo e desumano, que matava por nada, e sempre roubava de modo violento. Inclusive algumas observações similares foram feitas na Tunísia e em Marrocos, com o que se concluiu o estereótipo de um criminoso norte-africano.

Fanon denunciou o conteúdo do ensino francês a respeito dos súditos a partir de teorias metropolitanas que os associavam à inferioridade e à agressividade. Em um destes estudos, o nativo norte-africano aparece como quase desprovido de córtex cerebral ou, em outro, o africano é comparado a um europeu lobotomizado. A conclusão, segundo vários especialistas franceses da época, era que a estrutura mental do africano o predispunha a ser quase um animal.

O autor de Os condenados da terra o definiu, em um marco de certa ambiguidade, como um ser encurralado. Por um lado, temeroso e até hostil ao opressor; por outra parte, o invejando, desejando ocupar seu lugar e até dormir em sua cama, possuindo a sua esposa. A cidade deste estava vedada ao nativo, a separação entre os dois mundos era uma realidade e, por essa distância e pela própria violência inerente do sistema, o colonizado vivia em um estado de tensão permanente.

O autor caribenho pensava nos colonizados como perseguidos que sonhavam em se tornar os perseguidores.

Tal tensão se manifestava no desejo de ultrapassar os limites que eram impostos sob ameaça ou coerção. Por isso, essas tensões eram sublimadas durante o sono: “São sonhos musculares, sonhos de ação, sonhos agressivos. Sonho que salto, que nado, que corro, que pulo. Sonho que rio às gargalhadas (...). Durante a colonização, o colonizado não deixa de se libertar entre as nove da noite e as seis da manhã”, sintetizou. Como o africano não descarregava sua violência contra o europeu, o fazia com seus semelhantes, através de lutas internas, ou da religião. Em estados de transe, esquecia sua condição de submissão, mesmo que por um momento. Não é casual que durante o colonialismo os hospitais estivessem saturados de indivíduos com a psique extremamente alterada.

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Com informações do El País. Leia o texto completo aqui.

Fortaleza deixa grandes para trás e se firma como o mais forte do nordeste

 

(FOTO/ Reprodução/ UOL Esportes).

Nesta segunda-feira o Fortaleza entrará em campo para enfrentar o Cuiabá com a participação assegurada na fase de grupos Libertadores. O Leão do Pici é o primeiro time nordestino a alcançar tal feito pelo campeonato brasileiro de pontos corridos e levantamento do site FutDados mostra que o tricolor cearense soma mais pontos do que todos os demais times de sua região desde que retornou à Série A, em 2019.

O clube passou oito aos na terceira divisão, bateu na trave algumas vezes, perdendo o acesso de maneira dramática, como diante do Macaé (RJ). Mas obteve a vaga na segundona em 2017 e em 2018 já saltou para a primeira.

Nesses três anos entre os principais clubes do país, até a 36ª rodada o Fortaleza tinha 149 pontos contra 140 do Ceará e 133 acumulados pelo Bahia. Sport, com 76, e CSA, 32; foram os outros nordestinos que disputaram a primeira divisão no período.

No atual campeonato, estão atrás do Leão agremiações como Fluminense, Internacional, Santos, Athletico, São Paulo, Bahia, Grêmio, Sport e Juventude. E nesta segunda-feira uma vitória sobre o Cuiabá leva o time a superar o Corinthians, chegando ao quarto lugar. Todos já ganharam títulos além de seus Estados, como Copa do Brasil, Brasileirão, Libertadores e Sul-americana.

Ainda contando o que fizeram até a rodada 36, ou seja, não o incluídos os jogos da que está em andamento, o Fortaleza tem 44,35% de aproveitamento entre 2019 e a 36ª rodada de 2021, enquanto o Ceará apresenta 41,67%, o Bahia 39,58%, Sport 34,23% e CSA 28,07%. Na história dos pontos corridos, já deixou para trás na soma geral de pontos o rival alvinegro, Atlético Goianiense, Avaí, Náutico e Guarani.
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Com informações do UOL Esportes.

Baobá: a árvore símbolo das culturas africanas

Os velhos baobás africanos de troncos enormes suscitam a impressão de serem testemunhas dos tempos imemoriais. Os mitos e o pensamento mágico-religioso yorubá têm na simbologia da árvore um de seus temas recorrentes.

Na sua cosmogonia, a árvore boabá surge como o princípio da conexão entre o mundo sobrenatural e o mundo material. As árvores “(…) estão associadas a ìgbá ì wà ñû – o tempo quando a existência sobreveio – e numerosos mitos começam pela fórmula ‘numa época em que o homem adorava árvores’…”.

Uma das versões do mito cosmogônico relata que foi através do Òpó-orun-oún-àiyé – o pilar que une o mundo transcendente ao imanente – que os deuses primordiais chegaram ao local aonde deveriam proceder o início do processo de criação do espaço material.

Este pilar – muitas vezes simbolizado pela árvore ou por seu tronco – é uma figura de origem, é um signo do fundamento, do princípio de todas as coisas, elemento de conexão entre a multiplicidade dos “mundos”.

Mircea Eliade vai chamá-la de “Árvore do Mundo”, “Axis Mundi”, “Árvore Cósmica”, cuja função é a de elidir as diversas regiões do cosmo. Para boa parte das tradições místicas e religiosas, os “mundos” dividem-se nos espaços inferiores ou infernais, intermediários ou terrestres e superiores ou celestes.

A concepção católica cristã ainda compreende a existência de outros “territórios” como o purgatório ou o limbo.

Baobá na tradição yorubá

A tradição yorubá fala na existência de nove espaços – orun mýsûûsán -, estando quatro deles localizados sob a superfície da Terra – îrun isalû mýrûûrin.

Uma das divindades de origem yorubá de culto amplamente disseminado no Brasil – Oya Ìgbàlû, mais conhecida como Yásan, cujo nome deriva da contração da expressão ì yá-mesan-orun, a mãe dos nove orun – possui forte relação com a origem do orun e com a árvore que liga os “mundos”.

Esta deusa num de seus epítetos é chamada de Alákòko, a senhora do òpákòko, demonstrando a sua relação com a árvore-mundo yorubá.

Um dos mitos da criação conta que para cada ser humano modelado (a matéria primordial era o barro) por Orisala criava-se simultaneamente uma árvore. Òrì ñàlá é o grande pai da criação yorubá.

Como divindade primordial, está ligada a cor branca, e por isso é conhecido como um òrì ñà-funfun (literalmente òrì ñà do branco).

É interessante notar que em Cuba há um costume de solicitar aos turistas estrangeiros que plantem uma árvore antes de retornarem aos seus locais de origem, como forma de permanecerem simbolicamente no país.

Um outro mito relata a origem das árvores sagradas, especialmente o Iròkò. O Iròkò é uma das espécies vegetais mais imponentes da terra yorubá.

O ì tan coloca uma interessante questão ontológica, propondo igualmente a possibilidade de se pensar numa ontologia do sagrado na perspectiva das expressões religiosas arcaicas.

O mito, ao afirmar que “na mais velha das árvores de Iroco, morava seu espírito”, coloca uma nítida distinção entre ser e ente. Entre uma essência transcendente do sagrado e a sua presença material no mundo, na mesma medida em que na mais antiga das árvores mora o espírito.

Porém, em toda a descendência desta velha árvore habita o princípio dela mesma: não só geneticamente, mas principalmente a sua sacralidade.

“No começo dos tempos, a primeira árvore plantada foi Iroco. Iroco foi a primeira de todas as árvores, mais antiga que o mogno, o pé de obi e o algodoeiro. Na mais velha das árvores de Iroco, morava seu espírito.

E o espírito de Iroco era capaz de muitas mágicas e magias. Iroco assombrava todo mundo, assim se divertia. À noite saía com uma tocha na mão, assustando os caçadores. Quando não tinha o que fazer, brincava com as pedras que guardava nos ocos de seu tronco.

Fazia muitas mágicas, para o bem e para o mal. Todos temiam Iroco e seus poderes e quem o olhasse de frente enlouquecia até a morte.(…)”.

No Candomblé encontramos uma importante manifestação da fitolatria. Em vários terreiros da Bahia encontramos grandes e imponentes árvores Iròkò plantadas no espaço sagrado.

Deve-se observar que a árvore em si não é o deus. Para tornar-se sagrada, é preciso cumprir os rituais para que o deus encarne na planta. Após as oferendas e sacrifícios, a árvore deixa de ser um simples vegetal e passa a ser a morada-templo do deus Iròkò. Como um local santo, passa a ser ornamentado como tal: com grandes laços de panos brancos amarrados em seus galhos.

Junto a suas gigantescas raízes expostas, são colocadas oferendas: alimentos, recipientes com água, sacrifícios votivos são realizados; enfim, tudo o que é consagrado ao deus.

Roger Bastide em duas obras distintas – Imagens do Nordeste Místico em Branco e Preto e em Candomblé da Bahia – faz uma importante alusão ao interdito de tocar em uma árvore Iròkò consagrada.

Um dos mitos relatam uma terrível punição sofrida por uma mulher que teria tocado o Iròkò sem ter cumprido o período de abstinência sexual antes de fazer as oferendas ao deus (foi engolida pelo tronco da árvore).

Igualmente, mutilar os galhos da árvore a faria sangrar. Ouvi um conhecido pai-de-santo lamentar-se de que após ter cortado o Iròkò existente no quintal de seu terreiro e que ameaçava uma das casas, a morte de sua mãe carnal foi imediata. O sacerdote nitidamente estabelecia uma correlação entre a infração cometida e a morte como punição para o ato.

“Alguns terreiros possuem igualmente uma árvore sagrada que é vestida, enfeitada de fitas, coberta de tecidos, rodeada por um círculo mágico – a gameleira que os ‘nagôs’ chamam de Iroko e os ‘gêges’ de Loko; se se cortasse um ramo dessa árvore brotaria sangue, pois nesse caso a árvore é um deus”.

“A fitolatria fetichista entre os afro-brasileiros está representada em primeira linha, no culto à gameleira (ficus religiosa?), que os nagôs chamam Iroco e os gêges, Lôco.

Nos bosques e nas matas, nos caminhos do Garcia, do Retiro, do Rio Vermelho, etc., na Bahia, a gameleira Irôco é preparada como fetiche, a quem tributam as homenagens do culto. Irôco, preparada, não pode ser tocada por ninguém. Torna-se sagrada, tabú. Se a cortarem, correrá sangue em lugar de seiva e será fulminado aquele que o fizer”.

Sem dúvida alguma, Roger Bastide foi um dos mais perspicazes observadores dos menores detalhes da tradição dos orixás.

Foi talvez o autor que percebeu de forma mais clara a idéia da árvore como símbolo da conectividade entre os mundos imanente e transcendente, segundo a tradição religiosa afro-brasileira.

Numa de suas obras fundamentais relata: “Encontrei até num terreiro o mito simbólico de uma árvore cujas raízes atravessariam o oceano para unir os dois mundos; seria ao longo de tais raízes que viriam os Orixá ao serem chamados”.

Esta idéia é um pouco mais desenvolvida por Raul Lody, numa extensão simbólica do Iròkò aos princípios de conexão, sustentáculo da tradição, origem e fundamento, suporte “tecno-sacro”, via de comunicação e transporte dos deuses:

“A árvore simbolizada, o tronco ereto e viril – membro fecundante da terra e do céu, elo, cordão umbilical entre o orum e o aiê, na concepção restrita yorubá -, marca espaços públicos dos Candomblés mais antigos e tradicionais.

Alguns espaços privados são também sinalizados com o mastro, poste, tronco rememorizador da árvore geral e fundadora da vida. É o elo entre o céu e a terra (…) por onde vêm os orixás, voduns e inquices aos terreiros”).

Ainda como símbolo e “suporte tecnológico sobrenatural”, a árvore baobá é indicada por Bastide como território transitório entre a vida e a morte, entre a morte e a renovação da vida: “(…) as almas das filhas-de-santo mortas vêm habitar em seus ramos de onde talvez se desprendam para entrar no ventre de uma mulher que passa e continuar, assim, o ciclo das reencarnações, como sucede na África”.

Esta nota já havia sido melhor explicada por Arthur Ramos em 1934 – época do primeiro Congresso Afro-Brasileiro -, a partir das observações feitas no Terreiro da Pedra Preta. Esta casa de Candomblé nada mais era do que o terreiro do legendário Joãozinho da Goméia (pai-de-santo radicado no Rio de Janeiro após 1946, famoso por suas relações pessoais com Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek), nesta época mais conhecido pelo nome de uma das suas entidades – o Caboclo Pedra Preta.

No breve comentário de Roger Bastide ainda se coloca uma questão pouco discutida no Candomblé – a idéia de reencarnação -, cuja natureza é bastante singular e em nada se relaciona com a idéia de evolução do espiritismo de Allan Kardec, tão difundido no Brasil.

“No terreiro Pedra Preta pode ser visto, um tanto afastada, uma árvore escavada pela velhice, e que forma uma espécie de nicho. É lá que as almas das filhas de santo que morreram vão se refugiar no lapso de tempo que separa seu último momento de incorporação ao corpo e seu abandono definitivo da terra.

Garrafas de óleo, aguardente, cachaça, água, vasilhas e pratos muitas vezes partidos, por analogia com a morte destruidora, ossos dispersos, provam o culto dos fiéis.

Ninguém pode se aproximar dessa árvore mortuária, sem cortar as folhas consagradas de um matagal vizinho, e atirá-las em oferenda àquelas que, no terreno ao lado, dançavam antigamente sob os ditames divinos”.

Esta relação do baobá, árvore sagrada como vínculo e conexão entre os territórios da vida e da morte reportam ao princípio feminino. De alguma forma, esta relação já havia sido sinalizada ao falar em Oya Ìgbàlû, divindade que comanda o mundo dos mortos. Oya é uma deusa que tem o poder de dominar os espíritos dos ancestrais – Baba Égun. O também supracitado òpákòko é consagrado como um dos locais de culto dos ancestrais.

As grandes deusas cultuadas no Candomblé guardam uma forte relação com entidades sobrenaturais chamadas Ìyá-mi-Oxoronga. As Ìyá-mi-Oxorongá são senhoras de imenso poder – são as grandes mães ancestrais, detentoras das forças terríveis e destruidoras das mulheres.

São também denominadas ëlëyë: as senhoras dos pássaros, símbolo de seu poder.

Os mitos revelam que estas divindades chegaram ao mundo nos tempos da criação. Numa das belas narrativas coletadas por Pierre Verger com os bàbáláwo da Nigéria, demonstra-se a relação de Ìyá-mi-Òñòrîngà com as árvores, às quais chamam os velhos sacerdotes africanos das artes divinatórias de pilares da terra.

Determinadas árvores sagradas são identificadas no mito como os “Pilares da Terra”, portanto “Axis Mundi”, conforme indica em outra perspectiva Mircea Eliade:

“Instalação e a consagração do tronco sacrificial constituem um rito do Centro. Identificado à Árvore do Mundo, o tronco torna-se, por sua vez, o eixo que une as três regiões cósmicas.

Baobá – pilares da terra

A comunicação entre o Céu e a Terra torna-se possível por intermédio desse sustentáculo”(14). Estas árvores “pilares da terra” cumprem na narrativa a função de conectar estas forças do mundo sobrenatural ao mundo imanente. Com as raízes na terra, no obscuro do subsolo gerador da vida, e com a copa nos altiplanos sagrados, se possibilita o poder destas entidades extra-mundo no àiyé.

Destarte, enquanto conexão entre o espaço da existência humana e território do sagrado, habitat dos deuses, as árvores cumprem na concepção de mundo yorubá e do Candomblé um papel fundamental no processo de manutenção da vida e do equilíbrio da coletividade.

É fonte viabilizadora do intercâmbio e da comunicação em múltiplas dimensões, entre os îrun, dentre os quais a Terra – àiyé – é um deles. Esta função não se insere num caráter ecológico construído ideologicamente, mas numa perspectiva de que a árvore sagrada é um deus vivo e presente, sinalizando que o primado do sentido de ser faz da pre-sença algo pertinente também ao vegetal enquanto ente sagrado, cujas origens remontam ao ser – árvore primeira -, fundamento de toda a sua geração sacralizada no rito.

Esta mesma sacralidade está presente nos aspectos sincréticos das manifestações religiosas afro-brasileiras. A partir da interpretação de Mircea Eliade acerca do simbolismo da Cruz, é possível pensar no significado recorrente da devoção ao Senhor do Bonfim em Salvador (Bahia), associado à Oxalá. oxalá é um dos orixá-funfun (portanto divindade do branco), deus primordial, criador, chegado ao mundo imanente através da árvore – òpó Îrun oun àiyé -, pilar de sustentação dos dois planos da existência.

A Cruz também é símbolo de conexão entre os homens e o Altíssimo. Òñàlá também é ligado à morte – o criador também é chamado Bàbá Ikú, o pai da morte. O branco é a cor do luto para os yorubás. O Senhor do Bonfim está morto, crucificado; porém é a promessa da vida em outro plano da existência. Num terreiro que visitei em Salvador, ao ser conduzido ao local de culto aos mortos da comunidade, encontrei uma cruz plantada ao solo na entrada do templo. Mais uma vez o símbolo, conexão entre dois mundos distintos; contudo, em permanente comunicação.

Baobá, a árvore do mundo

“Ainda mais ousada é a assimilação pela imaginária, pela liturgia e pela teologia cristãs do simbolismo da Árvore do Mundo. Também neste caso estamos às voltas com um símbolo arcaico e universalmente difundido. (…) a imagem da Cruz como Árvore do bem e do mal, e Árvore Cósmica, tem origem nas tradições bíblicas. É, porém, pela Cruz (= o Centro) que se opera a comunicação com o céu e que, ao mesmo tempo, é ‘salvo’ o universo em sua totalidade. Ora, a noção de salvação nada mais faz do que retomar e completar as noções de renovação perpétua e de regeneração cósmica, de fecundidade universal e de sacralidade, de realidade absoluta e, finalmente, de imortalidade, todas noções coexistentes no simbolismo da Árvore do Mundo”.

Texto da Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação

XXIV Congresso de Comunicação – Campo Grande/MS – 2001

Baobá localizado na província de Limpopo no norte de África do Sul e é famoso internacionalmente por ser o maior de sua espécie no mundo.

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Com informações do Geledés.

Mulheres protestam contra governo Bolsonaro neste sábado e dão a largada para o 8 de março

 

Em Curitiba (PR), também foram registradas manifestações contra o presidente / Giorgia Prates.

 Bolsonaro nunca mais”. Esse foi o mote das manifestações que tomaram as ruas do país, neste sábado (4), pelo impeachment do presidente Jair Bolsonaro (PL). O ato foi convocado por mulheres das entidades que compõem a Campanha Nacional Fora Bolsonaro, articulação que organizou seis manifestações ao longo do ano.  

Os atos foram registrados em diversos locais, como Recife (PE), Natal (RN), Fortaleza (CE), Curitiba (PR), Porto Alegre (RS), Pelotas (RS), Belo Horizonte (MG), São Paulo (SP), Campinas (SP), Ubatuba (SP), Santos (SP), Brasília (DF), Palmas (TO), Fortaleza (CE), Juazeiro do Norte (CE), Florianópolis (SC), Chapecó (SC) e João Pessoa (PB).

Luka Franca, jornalista e integrante da coordenação estadual do Movimento Negro Unificado (MNU) de São Paulo, contou que, na capital paulista, cerca de quatro mil mulheres ocuparam a Avenida Paulista, na região central do município.

Muitas mulheres colocando na rua o que significa Bolsonaro no poder e o bolsonarismo na vida das mulheres. Nós hoje damos a largada para a construção do 8 de março dizendo que as mulheres nunca saíram das ruas e construindo o “Bolsonaro nunca mais” contra não só o presidente, mas todo o programa que ele significa”, afirma. 

Nunca podemos nos esquecer da importância das mulheres na política

Para Franca, a importância do ato está em “justamente mostrar que as mulheres nunca saíram das ruas, tiveram um protagonismo fundamental contra a reforma da previdência, contra a reforma trabalhista, contra o governo Temer, contra o racismo e contra o marco temporal nesse país”.

Do Rio Grande do Norte, Michela Calaça, do Movimento de Mulheres Camponesas, afirmou que em Natal e em Mossoró as manifestações foram expressivas. Em outros municípios menores, foram realizadas atividades culturais com o objetivo de expressar a mesma mensagem: Bolsonaro nunca mais.

Aqui em Mossoró [a manifestação] aconteceu pela manhã. Tiveram atividades culturais, teve mística, teve poesia e tiveram mulheres e homens na rua gritando e passando a mensagem de que a carestia não deixa a gente se alimentar bem, que é preciso combater a fome. Para um Brasil melhor, para o Brasil avançar, Bolsonaro nunca mais”, conta.

Para Bruna Camilo, militante da Marcha Mundial das Mulheres (MMM) e secretária geral do PT de Belo Horizonte (MG), a manifestação teve o intuito de dar visibilidade às indignações das mulheres e continuar as ações unitárias iniciadas em 2018 com os atos “Ele não”.  

Se não fossem as mulheres organizadas, Bolsonaro poderia ter tido uma vitória no primeiro turno. Nunca podemos nos esquecer da importância das mulheres na política, nos movimentos populares. Está chegando o último ano do governo federal, que teve uma gestão cheia de retrocessos, com mais mulheres mortas, violentadas e empobrecidas. E nosso ato vai ter esse tom de denúncia”, comenta.

Para Sônia Coelho, integrante da Sempreviva Organização Feminista (SOF) e da Marcha Mundial de Mulheres (MMM) “é importante tirar o Bolsonaro, nem que seja um dia antes dele terminar o governo dele”. Para ela, “é impossível continuar convivendo com um governo que destrói vidas e direitos todos os dias”.

A representante do Levante Feminista Contra o Feminicídio, Rita Andrade, ressalta que o governo do presidente Jair Bolsonaro provocou um imenso desmonte nas políticas públicas que “vinham gerando avanços sociais significativos” para a população brasileira, e que a destruição desses instrumentos teve fortes impactos sobre as mulheres. 

A gente vai vendo que as mulheres negras, as mulheres periféricas, indígenas são ainda mais atingidas nesse cenário”, afirma Andrade. Nesse sentido, o ato deste sábado foi “mais uma forma da gente dizer em conjunto que tem que dar um basta para este governo, que não existe a menor possibilidade de seguir com esse governo nefasto, genocida, ecocida. Um governo que vem matando as mulheres, vem matando nossos filhos, a população negra, um governo que não cuida do povo brasileiro”.

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Com informações do Brasil de Fato.

Orgulho e resistência: Quilombolas do Ceará lutam por titularidade de terras

 

Comunidade Terreiro das Pretas no Crato, Cariri - Mapa Cultural - Secult.

De sorriso largo, roupas coloridas e cabeça adornada por uma coroa de lenço, a descendente do povo Quilombola Verônica Neuma das Neves Carvalho, do Terreiro das Pretas, no Crato (CE), fez da defesa da sua ancestralidade uma missão de vida. Mais que isso: junto com a comunidade, comprou a briga pela regularização das terras que ocupam, algo fundamental para a manutenção da história, do modo de vida e da subsistência dos quilombolas da região.

Nosso terreiro é conhecido como reino encantado, e eu acho que é realmente um reino encantado, cheio de rainhas e princesas”, afirma com contentamento contagiante. “Viver nessas comunidades é muito bom, porque você pode contar com o seu povo, pode contar uns com os outros, você tem uma história, tem um pertencimento, você pertence a terra e a terra é sua, eu sou da terra e a terra é minha por isso a gente diz que a terra foge a identidade das pessoas”.

Mas para além do orgulho, viver nos Quilombos é também sinônimo de luta e de resistência: “É extremamente desafiante, porque as comunidades geralmente ficam distante das sedes dos municípios, então existe uma dificuldade de acesso. As estradas não são boas, não são seguras. Existe a dificuldade de acessar as políticas públicas, de acessar o bem mais precioso que é a água, a gente ainda tem comunidades que tem dificuldade muito grande de acesso à água pra consumo humano”, lamenta.

Apesar de estarem presentes em boa parte do território cearense, até hoje nenhuma comunidades quilombolas do Estado possui titularidade de terra garantida. São 86 comunidades, 56 delas certificadas pela Fundação Palmares, que há décadas resistem e lutam por reconhecimento, reparação e pelo direito à terra.

Um mapeamento realizado pelo estado em 2019 aponta que pelo menos 30 mil pessoas com mais de 18 anos vivam em comunidades quilombolas. “Isso, inclusive, refuta aquela falsa ideia de que o Ceará não tinha escravos. Teve escravos e foi um grande porto do comércio escravagista. Isso isso justifica o fato de nós termos hoje 86 comunidades quilombolas mapeadas”, disse a coordenadora especial de Políticas Públicas de Promoção da Igualdade Racial do estado, Martír Silva, para quem o número, apesar de expressivo, ainda é subdimensionado.

              

João Luís Nascimento, professor e liderança do Quilombo do Cumbe, localizado em Acarati (CE), conta que apesar dos avanços no reconhecimento de seu povo, faltam políticas consistentes para a regularização fundiária: “no Ceará, não temos nenhuma comunidade com o título da sua terra. É um Estado que nos reconhece e tem orgulho de quatro anos antes de a princesa Isabel abolir a escravidão ter tido um movimento liderado pelo Dragão do Mar que fez do Ceará a primeira província a abolir a escravidão. Porém, não avançamos na questão da regularização fundiária”.


João do Cumbe em seu território no município de Aracati. / Galba Sandras.

Para Renato Baiano, membro da comunidade quilombola de Encantados de Bom Jardim, no município de Tamboril (CE), é fundamental contar e recontar sua história para que as futuras gerações reconheçam a força de seu povo e sua importância histórica na constituição do Brasil. “Primeiro é importante resgatar a história, conhecer de onde viemos e quem somos nós, para que a gente possa nos fortalecer. Ser descendente de escravos traz preconceito, mas a gente não pode se deixar levar por isso, a gente tem que se fortalecer cada vez mais, conhecer nossa identidade, conhecer nossa origem”, afirma.

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Com informações do Brasil de Fato Ce.



Brancos ganham 73% a mais que os negros em 2020, aponta IBGE

Covid-19 vitimou mais pessoas negras – Foto: Thomas de LUZE/Unsplash.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) publicou um levantamento nesta sexta-feira (3), com base nos dados da Síntese de Indicadores Sociais, revelando que as desigualdades entre pessoas brancas e negras aumentou no primeiro ano de pandemia.

O estudo mostra que o rendimento médio da população negras foi de R$ 1.764, já a renda média das pessoas brancas ficou em R$ 3.056, 73,3% maior, em números absolutos. Os homens tiveram uma renda de R$ 2.608, contra R$ 2.037 das mulheres, representando uma diferença de 28,1%.

Em relação ao mercado de trabalho, 53% da força de trabalho, segundo o IBGE, é formada por pessoas negras, mas os salários são abaixo dos brancos. Além disso, o levantamento mostrou também que 64,5% do total de desempregados são pessoas pretas ou pardas. Os dados do IBGE mostram também que 67,3% dos jovens de 15 a 17 anos, estudantes brancos, tiveram acesso a computador, notebook e internet simultaneamente. Já entre os pretos e pardos, esse número cai para 46,8%.

Pandemia e saúde

O levantamento também mostrou que os negros morreram mais que os brancos durante a pandemia da Covid-19. Segundo dados do Ministério da Saúde, na faixa abaixo de 70 anos, o coronavírus tirou a vida de 57.681 homens pretos ou pardos e matou 56.942 homens brancos. “A variação do número de óbitos está relacionada ao estilo de vida individual e às condições de vida de grupos sociais. Pretos e pardos têm menor acesso a serviços de saúde e, portanto, menores condições de prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças”, afirma Leonardo Athias, analista da pesquisa do IBGE.

A Covid-19 atingiu mais a população idosa, mais branca, mas mesmo isso não impediu que morressem mais homens pretos ou pardos, o que evidencia o menor acesso a tratamento”, conclui Athias.

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Com informações do Notícia Preta.

“Há um silenciamento muito grande quando o tema é racismo”, diz professor Nicolau Neto no Papo Social Podcast

 

"Há um silenciamento muito grande quando o tema é racismo", diz professor Nicolau Neto no Papo Social Podcast. (FOTO/ Silvan Mendes).

Por Valéria Rodrigues, Colunista

No último domingo, 28 de novembro, o professor, fundador e editor deste Blog, Nicolau Neto, esteve participando do “Papo Social Podcst”. O programa é uma idealização da Fundação Educativa e Cultural ARCA (Altaneira-Ce) e tem como mediador o educador social Fábio Barbosa e na produção e edição o também educador social Silvan Mendes.

O “Papo Social Podcast”, segundo Fábio Barbosa, foi pensado inicialmente apenas com áudio, mas posteriormente houve a necessidade de transformá-lo em audiovisual e divulgação das conversas no canal de mesmo nome no YouTube. Nomes como o do professor universitário Carlos Alberto Tolovi, do ativista político Paulo Henrique Maia, da nutricionista Maria Vilar e do poeta Zé Mariano já passaram por lá.

As pessoas que eu chamo no Papo Social Podcast elas têm uma representação dentro da comunidade seja no âmbito cultural ou educativo ou em lutas. O Nicolau é um ativista em favor da população negra. Então, o Papo Social vem aqui para dar ênfase as pessoas que tem um papel fundamental dentro da nossa comunidade”, disse o Fábio ao apresentar o professor Nicolau.

Nicolau conversou sobre seu ativismo, suas palestras pelo cariri e fora do Estado do Ceará, sobre a construção e a simbologia do Dia Nacional da Consciência Negra, a Lei 10.639/2003 e do Plano de Combate ao Racismo e de Promoção da Equidade em Altaneira, além da sanção da recente lei que transformou o dia 20 de novembro em feriado municipal em Altaneira, sendo este município pioneiro no Ceará nessas duas últimas conquistas.

Fábio perguntou sobre como a população negra é vista nos livros didáticos e como a lei citada pelo professor Nicolau está sendo aplicada nas escolas. Para o professor, a lei por si só não é o bastante. É preciso formação para a comunidade escolar. No entanto, Nicolau foi taxativo ao discorrer que “há um silenciamento muito grande nas escolas públicas e particulares do Brasil quando o racismo é a temática. O silêncio impera no Brasil quando esta é a temática."

Para acompanhar o bate-papo é só assistir ao vídeo disponível no Canal do YouTube do Papo Social Podcast abaixo: