Milagre não é Temer se manter, mas povo ter força para se levantar de manhã, diz Sakamoto



O jornalista Leonardo Sakamoto observa que diante dos atuais escândalos envolvendo compra de votos de parlamentares por parte de Michel Temer para se livrar da denúncia de corrupção pela Câmara, da perda de direitos por conta das reformas estruturantes do governo do peemedebista, o "milagre não é Temer se manter, mas o povo ter força para se levantar de manhã".

Em um artigo publicado neste final de semana, reproduzido pelo 247 e por este Blog Sakamoto observa que o cidadão está cada vez mais desestimulado e começa a perceber que "o país não é dele, nunca foi, e que ele é apenas a mão de obra barata que faz a engrenagem funcionar, nunca ganhará uma mala de R$ 500 mil de um dono de frigorífico por serviços prestados e mesmo se fizesse uma tatuagem de hena com o nome do presidente, não levaria milhões em emendas, pelo contrário, seria apenas mais um bobo pobre que acredita no governo". "Respirando fundo, se lembra que tem que acordar cedo amanhã porque o serviço tá atrasado", ressalta.


A caminho de sua sétima filiação partidária, Bolsonaro é recordista de denúncias na Câmara


A caminho de sua sétima filiação partidária, o Partido Ecológico Nacional (PEN), pelo qual pretende se candidatar à Presidência da República, o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) é recordista em representações no Conselho de Ética da Câmara. Com quatro processos, ele é o único que alcançou esse número desde que o conselho foi instalado, em 2001. O filho Eduardo Bolsonaro (PSC-SP), em seu primeiro mandato, foi alvo de outros dois.

Do Congresso em Foco - A lista de acusações contra o pré-candidato à Presidência também é extensa na Corregedoria da Câmara, outra instância que apura a conduta dos parlamentares. O deputado fluminense já foi denunciado, entre outras coisas, por chamar Lula de “homossexual” e Dilma Rousseff de “especialista em assalto e furto”.

Já recebeu seis punições por causa de pronunciamentos agressivos e entrevistas polêmicas. Foram três censuras verbais e duas por escrito. Em todos os casos, escapou da abertura de processo de cassação do mandato. Em 2000, chegou a dizer que o então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) deveria ter sido fuzilado durante a ditadura.

O perfil do político e do homem Jair Bolsonaro é reportagem de capa da nova edição da Revista Congresso em Foco. Em 11 páginas, retratamos a produção parlamentar e as polêmicas do deputado ultraconservador em ascensão nas pesquisas presidenciais. 

Bolsonaro é conhecido por moldar discurso e ações ao gosto da plateia que o aplaude. “Católico fervoroso”, como se definiu, foi batizado no rio Jordão, em Israel, pelo pastor da Assembleia de Deus Everaldo Pereira, presidente do PSC e candidato à Presidência em 2014.

Dono de um discurso radical contra o PT, já admitiu ter votado em Lula  para presidente em 2002. Quando ainda era filiado ao PP, manifestou intenção de ser candidato a vice de Aécio Neves (PSDB) em 2014. Às vésperas do segundo turno, foi esnobado pelo tucano, que não o convidou para tirar fotos nem participar de uma carreata em Copacabana. Naquele ano o deputado se reelegeu com a maior votação da bancada do Rio de Janeiro, com 464 mil votos.

Embora abomine hoje qualquer referência ao comunismo, já fez lobby junto ao ex-presidente Lula, em 2003, pela indicação do então deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) para o Ministério da Defesa. “As coisas mudaram. Hoje comunista toma uísque, mora bem e vai na piscina”, afirmou na época. Ao ser questionado sobre a legalização do aborto, em uma entrevista dada à revista  IstoÉ em 2002, afirmou que a decisão caberia exclusivamente ao casal. Atualmente se diz “a favor da vida” e contra a interrupção da gravidez.

Em 2000, Bolsonaro declarou que o então presidente Fernando Henrique Cardoso deveria ter sido fuzilado durante a ditadura. Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/ ABr.



Cadê a crise? Senado lança licitação de R$ 1 milhão para comprar sofás e cadeiras


A crise econômica no Brasil que atinge em cheio a população, não chegou ao palácio do jaburu. Tão pouco ao senado federal. Como se não bastasse às barganhas que o presidente ilegítimo Michel Temer (PMDB) usou e usa para permanecer no poder, o senado vai gastar cerca de R$ 1 milhão com itens irrisórios.

Segundo informações da Revista Fórum, enquanto a população pena com a crise econômica, o desemprego e a retirada de direitos, o Senado Federal gasta dinheiro com sofás. Ao menos pretende gastar. Foi aberto, nesta semana, um processo de licitação com um orçamento de R$926,88 mil – tudo isso para serem gastos em 729 cadeiras e poltronas e 65 sofás.

"E não são quaisquer cadeiras ou quaisquer sofás", pontuou a revista. A Casa que é presidida pelo cearense Eunício Oliveira (PMDB) faz questão de escolher itens luxuosos: uma das poltronas descritas no edital que serão adquiridas, por exemplo, custa R$1.900. “Conta com estofamento moldado anatomicamente, revestimento de couro e espaldar alto e estruturado em concha”. O item mais barato é uma cadeira que sai por módicos R$562,50 a unidade.


Eunício Oliveira, presidente do Senado.



Escritora Conceição Evaristo recebe Medalha Pedro Ernesto


Aplaudida de pé durante dois minutos, por cerca de 400 pessoas, a atriz Ruth de Souza foi às lágrimas na abertura da sessão que homenageou a escritora Conceição Evaristo, na Câmara Municipal do Rio de Janeiro na noite da última terça-feira, 1/7.

Conceição Evaristo, doutora em Literatura Comparada pela UFF, recebeu a maior honraria da casa legislativa, a Medalha Pedro Ernesto, fruto de requerimento apresentado pela vereadora Marielle Franco (PSOL), aprovado por unanimidade no início de junho.

Do Ceert - Bastante idosa, a primeira atriz negra do teatro, do cinema e da televisão brasileira, dividiu a bancada de homenagens com outras importantes mulheres negras: Flávia Oliveira, jornalista e economista (O Globo), Jurema Werneck, diretora da Anistia Internacional no Brasil, Mãe Meninazinha de Oxum, Iyalorixá, Patrícia Oliveira, membro do Mecanismo de Combate à Tortura do Rio, e a vereadora Marielle Franco (PSOL), que presidiu a sessão. Após a saída de Ruth de Souza, a vereadora de Niterói Talíria Petrone passou a ocupar sua cadeira.

Sob o lema “Eu Mulher Negra Resisto”, Conceição Evaristo foi reverenciada por sua contribuição literata às artes e, sobretudo, por sua trajetória - uma intelectual que nasceu na pobreza e hoje contribui para a autoestima e para que as mulheres negras se apropriem de sua identidade, trajetória e história, tendo os lugares de memória e as experiências de afeto como elementos importantíssimos em suas narrativas.

As quase 400 pessoas presentes à solenidade eram, em maioria absoluta, mulheres negras. Seus múltiplos tons de pele, turbantes coloridos e lindos penteados imprimiram o contraste estético à Casa que, historicamente, é ocupada por homens brancos.  Também foi a primeira vez que a Câmara contou com o serviço de tradução de libras em uma sessão, que foi executado por uma mulher trans negra, Alessandra Makkeda que, com a palavra, ressaltou que estar ali significava seguir o exemplo de Conceição, que é a “escrita de si”.

A sessão foi aberta com a apresentação do teaser do filme em produção “Voz, Cor e Luta”, do coletivo Feminicidade.  Várias mulheres da plateia, representantes de movimentos e coletivos, também foram ao púlpito para prestar homenagens à Conceição, como Clatia Vieira (Fórum de Mulheres Negras), Zica de Oliveira (Criola), Lázia dos Santos (Afoxé Filhos de Gandhi), Cassia Marinho (Iporinchè) e Vilma Piedade (Mulher Preta de Axé e Partida).

À mesa, Jurema Werneck exaltou a potência da mulher negra, responsável pela resistência histórica ao machismo e ao racismo. “Conceição traz a palavra que faz a mulher negra existir na literatura e na vida. Se a dor é real, também é real essa mulher que segue adiante, fazendo existir outras mulheres cercadas pelo silêncio e pela invisibilidade. O racismo diz silêncio, você, Conceição, diz palavra”, concluiu.

Para Mãe Meninazinha de Oxum, não havia palavras que pudessem explicar o quanto é bom ver tanta mulher preta junta: “Nós temos esse  ireito de estar aqui nesse lugar” disse, muito emocionada.

Irmã de vítima da violência do Estado, Patrícia Oliveira lembrou que no sistema prisional, seu lugar de trabalho, a população negra corresponde a mais de 70% dos presos, sendo nos presídios femininos esse número ainda maior. Lembrou, ainda, que são muitos os momentos de luta e violência e poucos os momentos de homenagem e celebrações capazes de juntar tantas mulheres negras. E deu um recado à juventude: “É preciso tomar conhecimento da sua história e aprender a ocupar esses espaços, como faz a Marielle. Somos capazes de sermos juízas, governadoras e escritoras. Podemos chegar aonde quisermos”.

A jornalista e economista Flavia Oliveira também ressaltou a representatividade muito aquém dos matizes e tradições nos espaços como este parlamento, criado por e para a ocupação  de homens brancos. “Eu poderia falar das mulheres negras subrepresentadas no mercado de trabalho, à frente de famílias, na vulnerabilidade, nos subempregos...  isso tudo está nos escritos de Conceição Evaristo. Lá nos reconhecemos.  Mas vou falar sobre algo que aprendi também com ela. Sobre o porquê o povo negro festeja. O toque do tambor nas nossas celebrações nos coloca em contato com o divino. Cantamos e dançamos para ficarmos fortes para suportarmos a barra de existirmos e seguir em frente”, disse muito emocionada.

Flavia pediu licença para falar da campanha “O Brasil é quilombola, nenhum quilombo a menos”, que defende que o Supremo Tribunal Federal (STF) mantenha a titulação de territórios quilombolas no Brasil. A ADI 3.239, apresentada pelo antigo Partido da Frente Liberal (PFL), atual Democratas (DEM) ao Supremo Tribunal Federal, em 2004, pede a paralização dos processos para titulação de terras quilombolas no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), além de ameaçar os já titulados. O julgamento foi retomado e deverá acontecer em agosto.

A vereadora niteroiense Talíria Petrone também reforçou a campanha pela manutenção dos espaços quilombolas ao homenagear Conceição: “Sua poesia é grito para nós, é identidade e ancestralidade, nos retira da cadeia do embranquecimento e resgata nossa força e resistência. Sejamos quilombo!”, bradou.

O grupo Mulheres de Pedra se apresentou ao final do evento, recitando poesias de Conceição e distribuindo flores às participantes da mesa.

Com a palavra, Conceição Evaristo agradeceu a homenagem e fez uma comparação com o momento em que foi condecorada com o Prêmio Jabuti de Literatura. “Seria uma falsa modéstia dizer que o Jabuti não me envaidece. Claro que sim. Mas o que me deixa tranquila e contempla minha literatura é que ela significa mesmo a voz de todas. E isso que aconteceu aqui. Esse lugar de recepção é que tem levado meus textos adiante. Minha vida não começa no Jabuti. Tenho muita honra de ter passado por editoras que nasceram com a missão de publicar autoras negras. Também quero dizer que minha celebração hoje está, sobretudo, ligada à minha vida no magistério. Vim ao Rio para ser professora. Foi para isso que me preparei. Minas Gerais me deu régua e compasso, alguma experiência em movimento social. Mas foi aqui no Rio que encontrei a inserção no movimento negro e de mulheres. Sou uma carioqueira”, brincou Conceição ao receber a maior condecoração oferecida pela Casa a quem mais se destaca na sociedade brasileira ou internacional.


Autora do requerimento que concedeu a honraria à escritora, a vereadora Marielle Franco lembrou que conheceu a literatura de Conceição Evaristo na juventude, através de uma tia. E revelou que, desde o primeiro dia de seu mandato, tinha como meta promover, em nome do Rio de Janeiro, esta homenagem. “Aqui nesta casa, somos resistência. Saímos fortalecidas deste lindo evento, como flores que rompem o asfalto. Ainda ocuparemos muito esse espaço, que precisa ser enegrecido cada vez mais. E nosso mandato, que é coletivo, está aqui para lembrar disso e resistir”, concluiu encerrando a sessão.

Foto: Reprodução/ CEERT.

Eunício só sai da disputa pelo governo do Ceará com Tasso candidato


Se o governador Camilo Santana (PT) ainda evita antecipar debate eleitoral de 2018, oposição tomou as rédeas e já faz primeiros movimentos de olho na disputa no Ceará. Em conversas com alia-dos, o senador Eunício Oliveira (PMDB) já confirma que concorrerá novamente ao governo, admitindo sair do páreo apenas no caso de candidatura de Tasso Jereissati (PSDB).

Do O Povo - A afirmação, ainda restrita aos bastidores, é novo sinal de movimento que tenta alçar Tasso – político visto hoje como o de maior potencial eleitoral entre opositores – a candidato. Como o tucano evita falar sobre o tema e prega renovação política no Estado, ele acabou se tornando foco de “disputa” entre pré-candidatos da oposição em busca de apoio.

Um deles é Capitão Wagner (PR), que tenta se aproximar de siglas como o PSDB e PSD para viabilizar sua candidatura. Ontem, o deputado se reuniu com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), em evento com claros ares eleitorais. O tucano é pré-candidato a presidente da República. “O PSDB é um partido aliado, claro que vamos procurar para discutir projetos para o Estado”, disse Wagner ao O POVO.

Rejeitando hipótese de deixar o PR, Wagner cobra apenas que a oposição antecipe para este ano o debate eleitoral de 2018. “Temos menos de um ano até a campanha. Não dá para deixar para escolher e trabalhar um candidato a 45 dias da eleição. Então tenho defendido que os partidos se sentem e comecem a discutir logo a chapa e programa que serão apresentados”.

Eunício e a oposição

A cobrança parece ter como alvo o próprio Eunício, que ainda segue tática de Camilo de “esconder o jogo”. “Eleição é só ano que vem. Esse ano o foco é trabalhar como presidente do Senado”, diz. Apesar da fala, ele destaca ter sido o “candidato mais votado no Ceará” em 2010 e enumera diversos projetos que tem articulado para o Estado como presidente do Senado.

Se Wagner busca o PSDB, o peemedebista tem costurado apoio sobretudo com o deputado federal Genecias Noronha (SD) e o presidente do TCM, Domingos Filho, que exerce influência sobre o PSD e o PMB no Ceará.

Desde aprovação de PEC extinguindo o TCM pela Assembleia cearense, Eunício tem “emprestado” sua base na Casa Legislativa para defesa da Corte. Além disso, ele tem ajudado Domingos nas articulações junto à Justiça para reverter a decisão.

É de autoria do senador ainda PEC já aprovada em 1º turno no Senado que proíbe a extinção de Tribunais de Contas nos Estados. Toda a ajuda, por óbvio, terá sua fatura cobrada na disputa pelo governo em 2018.

Saiba mais

Heitor Férrer é outro político de olho na “onda Tasso”. Ele, que migrou do PDT após filiação de Cid e Ciro Gomes, deve deixar o PSB após o cidista Odorico Monteiro assumir a sigla.

O PSB ficou inviável para mim, porque o Odorico tem ligação muito estreita com os Ferreira Gomes. Já conversei com ele e fui franco. Não vou ficar na base do governo”.

Férrer não confirma para qual sigla irá, mas não descarta o PSDB. “Os partidos são pessoas, e aqui no Ceará o Tasso é maior que o PSDB, é um homem limpo”.

Eunício Oliveira tenta manter aliança com Tasso para 2018. Foto: Marcos Oliveira/ Agência Senado.





Altaneirense lança carta pedindo ajuda financeira para adquirir cadeira de rodas motorizada


A altaneirense Antônia Lizieux Gonçalves, 48 anos, usou seu perfil na rede social facebook para pedir ajuda financeira visando adquirir uma cadeira de rodas motorizada.

Nem Gonçalves, como é conhecida, reside na Rua Dep. Furtado Leite, centro de Altaneira e em carta lançada na rede social afirma que o equipamento de locomoção custa R$ 9.000 (nove mil) reais e é um sonho de consumo, porém não possui condições para compra-lo. Ela ainda solicita ajuda na propagação do anúncio.

Interessados (as) em ajudar Lizieux Gonçalves podem entrar em contato através do seu whatsapp (88) 998097717 ou depositar qualquer valor na Conta Poupança: Agência - 5452-6 e C/C - 0720314-4.




“O Silêncio”, por Vladimir Safatle*



Há algo de instrutivo no ritual que o Congresso Nacional ofereceu ao país na última quarta-feira, quando um ocupante do cargo da Presidência, gravado em situação flagrante de prevaricação e corrupção passiva, formalmente denunciado pela Procuradoria Geral da União, foi poupado.

É difícil imaginar algum país no mundo que chegaria a um espetáculo tamanho de degradação comandado por uma casta de políticos dignos de filmes de gângsteres série B. Ao menos, depois dessa confissão de desprezo oligárquico pela opinião pública, quem sabe agora parem de falar que estamos em uma “democracia”.

Enquanto o país assiste a universidades públicas suspenderem as aulas por se encontrarem em situação falimentar, serviços públicos entrarem em deterioração, agências de pesquisa decretarem estado de calamidade e 3,6 milhões de pessoas saírem da classe média baixa em direção à pobreza, o ocupante do trono da Presidência, único presidente da história brasileira a ser denunciado pela Justiça no cargo, gastava milhões de reais em suborno explícito de deputados, uso de cargos públicos para aliciamento de votos e liberação de emendas escusas a fim de garantir sua sobrevida.

Ou seja, bem-vindos a uma cleptocracia que agora não faz nem sequer questão de conservar as aparências. Há algo de terminal quando até mesmo as aparências já não são mais conservadas. Tudo isso com o beneplácito daqueles que dizem que o país precisa, afinal, de “estabilidade”.

Com se vê, há algo de muito interessante no conceito de “estabilidade” que circula atualmente. Uma estabilidade da pauperização, da precarização do emprego, do desmonte dos serviços públicos e da redução final da república brasileira a uma farsa macabra.

Contra isso, há aqueles que falam que receberam uma “herança maldita” do governo anterior. Alguém deveria explicar essa repetição compulsiva que nos acomete. Vivemos em um país onde todo governo usa o expediente de culpar a herança maldita do anterior para mascarar sua própria impotência. O cômico é que eles sempre encontram alguém a continuar a vociferar a mesma estratégia surrada de sempre.

Mas o que pode realmente impressionar alguns é o silêncio com que este momento foi recebido por setores da sociedade brasileira ou, antes, os expedientes que vemos para justificar a passividade. Por que as ruas não queimam, perguntam?

Ao menos três fatores deveriam ser levados em conta aqui.

Primeiro, porque estamos falando de um governo que atira em manifestantes em toda impunidade, como vimos na última manifestação de greve na Esplanada dos Ministérios. Ele usa seu braço armado para cegar estudantes com bala de borracha, atemorizar a população nas ruas com sua polícia gestora da desordem, ameaçar com punições os que entram em greve e ridicularizar o fato de 35 milhões de pessoas pararem o país (como na última greve geral). Ou seja, boa parte das pessoas não sai às ruas porque elas têm medo da violência do Estado, já que elas tacitamente sabem que não têm mais garantias alguma de integridade.

Segundo, porque há um setor da sociedade brasileira que nunca teve problemas com corrupção, mesmo que tenham saído às ruas em 2015 falando o contrário. Eles sempre votaram em corruptos notórios e continuarão fazendo isto. O único problema deles era com o governo anterior. Derrubado o governo, todos eles voltaram para casa e continuarão lá para todo o sempre.

Por fim, não há ninguém nas ruas porque a esquerda brasileira entrou em colapso. Presa entre a tentativa de ressuscitar o que morreu e a incapacidade de encontrar outra forma de incorporação genérica de sua multiplicidade de demandas em um ator político unificado, ela encontra-se paralisada e sem capacidade de dizer claramente o que quer, qual seu horizonte.

Queremos simplesmente retornar ao passado recente, conservar o que está sendo desmontado, ou temos algo a mais a propor? Conseguiremos fazer a maioria da população brasileira sonhar e acreditar em sua própria força de transformação e luta ou empurraremos todos a um horizonte desinflacionado de mudanças, como se isso fosse a expressão de um realismo duro, porém pretensamente necessário?

Sem clareza acerca desses pontos, ninguém avançará um passo.

*Artigo do filósofo e professor da USP Vladimir Safatle, originalmente publicado na Folha de São Paulo e reproduzido no site da Luciana Genro.