Rodrigo Maia é eleito em meio a quebra regimental e a acordos por cargos


Rodrigo Maia (DEM-RJ), eleito hoje (2) presidente da Câmara para o biênio 2017-2018, assumiu pregando a harmonia dentro e fora da Casa, mas a sessão que o elegeu não teve nada de tranquilidade. A sessão durou quase cinco horas e foi marcada por recursos, denúncias de quebra de regimento e de acordos feitos na última hora em troca de cargos para a mesa diretora, que foi disputada amplamente entre os partidos. Também se destacou por atos de solidariedade e condolências à família do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela morte de sua mulher, Marisa Letícia.
Da RBA

Os 293 votos de Maia o fortaleceram, sobretudo diante da expectativa de que fosse para um segundo turno, por conta da pulverização de candidaturas. Até o início da semana, ele tinha como garantidos cerca de 200 votos – recebeu quase 100 a mais, com o apoio da equipe de Michel Temer – que, a princípio sigiloso, tornou-se explícito desde ontem.

Em troca, ele demonstrou sua gratidão logo após o resultado da eleição. Afirmou que vai instalar dentro de poucos dias a comissão para apreciar a minirreforma trabalhista enviada pelo Executivo no final de 2016 e atuar para que a tramitação da reforma da Previdência aconteça de forma célere, por considerar as duas matérias importantes para o país. 

Em segundo lugar na disputa ficou o candidato do Centrão, deputado Jovair Arantes (PTB-GO), com 105 votos. Em terceiro ficou André Figueiredo (PDT-CE) com 59 votos – seguido, respectivamente, por Júlio Delgado (PSB-MG), com 29 votos, Luiza Erundina (Psol-SP), com 10, e Jair Bolsonaro (PSC-RJ), com quatro. Cinco deputados votaram em branco.

Ao longo dos trabalhos, houve várias reclamações dos deputados sobre candidaturas avulsas que terminaram sendo barradas. E, principalmente, queixas por causa da ausência do vice-presidente, Waldir Maranhão (PP-MA), considerada proposital para não atrapalhar a eleição de Maia. Como o presidente eleito vinha presidindo a Casa desde o ano passado, em substituição ao ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) num mandato tampão, coube a Maranhão, como vice, comandar a sessão.

Mas a maior parte dos trabalhos terminou sendo presidida pelo 1º secretário, Beto Mansur (PRB-SP), porque o vice só chegou ao Congresso faltando aproximadamente 30 minutos para a realização da votação. O PT, que oficialmente se posicionou favoravelmente à candidatura oposicionista de André Figueiredo, anunciou logo cedo que ajuizou mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal (STF). O objetivo foi pedir para ser respeitada a norma regimental que garante espaço proporcional dos partidos aos cargos na mesa diretora.

Informações de vários deputados são de que foram negociados mais de 10 cargos da noite de ontem até a manhã desta quarta-feira em troca do apoio a Maia. O deputado Sílvio Costa (PTdoB-PE), que apresentou recurso sobre o tema, denunciou do plenário, aos gritos, que um dos acordos envolveu a entrega de uma diretoria no Banco do Brasil a nome a ser indicado por Maranhão, de forma a garantir o apoio dele a Rodrigo Maia na condução dos trabalhos de hoje – ou a sua ausência.

Waldir Maranhão é conhecido pelo comportamento instável durante as votações. Foi ele quem suspendeu o processo de impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff dias depois do anúncio de abertura, aproveitando um vácuo do então presidente, Eduardo Cunha, na Casa (situação revertida logo depois). Mas o deputado não se manifestou a respeito da acusação de Sílvio Costa.

Peso da Lava Jato

Não podemos votar outra vez em alguém que tenha por intuito focar sua gestão na presidência desta Casa com atitudes que representem quebra do regimento”, afirmou Sílvio Costa, numa crítica direta a Maia.

Também foi registrado por vários parlamentares, entre eles Glauber Braga (Psol-RJ), Júlio Delgado, André Figueiredo e Chico Alencar (Psol-RJ), a preocupação manifestada por muitos políticos sobre possibilidade de nomes eleitos hoje serem substituídos dos cargos dentro de pouco tempo. Isto, caso venham a ser indiciados judicialmente, diante da expectativa de divulgação da lista dos delatores da Odebrecht, na Operação Lava Jato –uma vez que vários deles foram citados em depoimentos de delatores.

A Lava Jato está pesando como uma espada de Dâmocles sobre muitas cabeças, nesta eleição. Sabemos que a lista dos citados na delação da Odebrecht e do que vier pela frente poderá causar muito barulho no Congresso e no Executivo”, avaliou Chico Alencar.

Em sua fala, Rodrigo Maia destacou a importância de o Legislativo ser independente e fez uma crítica velada ao Judiciário e à interferência dos tribunais em assuntos legislativos, por estímulo dos próprios políticos. Em relação ao Executivo, o deputado disse que é preciso tocar as reformas que o Brasil precisa. Maia se queixou, em especial, da judicialização feita pelos adversários sobre sua participação na disputa até o último momento (com ações pedindo para ser avaliado se ele poderia ser candidato tanto na primeira instância como no STF). Lembrou que teve ganho de causa em todas as ações e prometeu atuar para que haja “independência entre os poderes”.

'Manutenção da soberania'

O deputado também afirmou que os parlamentares não podem viver na porta dos tribunais para encontrar, lá, uma solução para a política. “Nossos embates precisam ser resolvidos aqui dentro, para mostrarmos ao Judiciário e ao Executivo que a Câmara exige respeito e quer ter sua soberania garantida”, disse.

Jovair Arantes, considerado principal adversário de Rodrigo Maia, disse ainda que se fosse eleito trabalharia para que a Câmara “voltasse a conquistar o respeito do país”. Júlio Delgado afirmou que em todas as eleições para presidência da Câmara as mesmas promessas são feitas pelos candidatos e, a seu ver, o que está em jogo é a mudança na forma de atuação dos próprios deputados.

André Figueiredo afirmou que sua candidatura teve o propósito de impedir que o presidente para o próximo biênio não fosse “nem um chantagista junto ao governo nem um mero carimbador dos atos do Executivo”. Foi uma menção explícita ao ex-deputado Eduardo Cunha e a Maia.

Luiza Erundina, última a falar, destacou que a eleição de hoje consiste num fato político cujo significado “extrapola a instituição Câmara dos Deputados em si”. Tanto que, segundo ela, “o que está por trás das candidaturas e as articulações sobre as disputas revelam os reais interesses dos que se reuniram em blocos para garantir os nomes de suas preferências”.

Rogério Rosso (PSD-DF), que era candidato até ontem, anunciou a retirada do seu nome da disputa depois que o STF deu aval a Maia para participar do pleito. Com o gesto, ele cumpriu promessa feita por ele à bancada do PSD de que tomaria tal atitude, caso a candidatura de Maia fosse mantida – para não constranger colegas que queriam votar no presidente reconduzido ao cargo.

E Jair Bolsonaro, que num gesto oposto ao de Rosso apresentou ontem sua candidatura, disse bem ao seu estilo que tinha se candidatado por um gesto de “patriotismo” e que o parlamento precisaria se reunir com nomes como o dele no comando. Seu discurso convenceu apenas três colegas, além dele.

Maia foi eleito em um bloco que reuniu, além de seu partido, PMDB, PSDB, PP, PR, PSD, PSB, PRB, PTN, PPS, PHS, PV e PTdoB. Passa a fazer parte da linha sucessória do país em caso de viagem ou afastamento do presidente Michel Temer, ao lado do presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), eleito ontem.

A eleição para escolha dos integrantes da mesa diretora da Câmara, entretanto, continua sendo realizada.



Apoiador do impeachment, Eunício vence eleição no Senado com ampla maioria


Desde que trabalharam para destruir Dilma, Temer e Renan tiveram controle absoluto da agenda. Eunício (esq.) é aliado.
Foto: Fábio Rodriguez Pozzebon/ABR.

Eunício Oliveira (PMDB-CE), 64 anos, foi eleito na tarde de hoje (1º) para a presidência do Senado, conforme previsto, com mandato pelos dois próximos anos. Líder de seu partido, ele recebeu 61 votos, de um total de 81 parlamentares. Sem apoio de nenhum bancada, José Medeiros (PSD-MT) teve 10, e houve outros 10 em branco. O presidente do Senado é o segundo na linha sucessória de Michel Temer (PMDB), atrás do presidente da Câmara, cuja eleição será realizada amanhã.
Da RBA

Ex-deputado, ministro das Comunicações no governo Lula de janeiro de 2004 a julho de 2005 e integrante da base aliada no governo Dilma Rousseff, o eleito Eunício votou a favor do impeachment da presidenta, no ano passado. Mesmo assim, recebeu votos de parte da bancada do PT. Antes da escolha – por voto secreto, em urna eletrônica –, o senador Paulo Rocha (PA) disse que o partido quer assegurar sua presença na mesa, acrescentando que isso não interfere na postura de oposição ao governo Temer.

Além de líder do partido no Senado, Eunício responde pelas finanças do PMDB. Seu nome, sob o apelido de "Índio", é citado em delações de executivos da Odebrecht presos pela Operação Lava Jato. No discurso anterior à votação, ele disse reafirmar "compromisso pela democracia" e disse que o desafio é "reaproximar o governo e o Congresso da sociedade brasileira". Segundo ele, também é preciso ser duro quando "um poder parece se levantar contra outro".

Ele defendeu a reforma da Previdência proposta pelo governo Temer, considerando-a "inadiável". "A opinião pública vai compreender essa urgência."


Pouco antes de entregar a presidência da Casa, Renan afirmou que, em um período político turbulento, o Senado "manteve altivez e responsabilidade". E sempre recusou "anomalias políticas e institucionais". Sobre o impeachment, afirmou, a Casa "se pautou pela isenção, equilíbrio e responsabilidade". Renan também pediu quebra do sigilo nas investigações da Operação Lava Jato, "para que a população não seja manipulada".

Também antes da escolha, o senador Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo no Congresso, reafirmou apoio a Eunício e à indicação do atual presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), à liderança do partido – que nesta semana ganhou dois senadores: Zezé Perrella (MG) e Elmano Férrer (PI), ambos saídos do PTB.

No PSDB, Paulo Bauer (SC) passará a ser o líder da bancada. No PTB, essa função caberá a Armando Monteiro (PE). Osmar Aziz (AM) segue na liderança do PSD.

Depois da presidência, começa a escolha dos demais cargos da mesa diretora: duas vice-presidências, quatro secretarias e quatro suplências. Pelo critério da proporcionalidade, o PMDB, dono da maior bancada (21 senadores, 25% do total), tem direito também à 1ª vice. Com 11 representantes, o PSDB fica com a 1ª vice-presidência. Ao PT, com 10, cabe a 1ª secretaria.

O número de bancadas vem aumentando. Em 2002 eram nove e na eleição anterior, há dois anos, 15. Agora, o número de partidos com representação subiu para 17 (confira no quadro). Há um senador atualmente sem partido (José Reguffe, do Distrito Federal).

Por pressão da militância, PT anuncia apoio a candidato do PDT na Câmara


Rodrigo Maia e André Figueiredo: oficialmente, PT vai o nome do PDT.

Para não se “queimar”, segundo palavras de um deputado petista, a bancada do PT na Câmara anunciou na tarde desta terça-feira 31 que vai apoiar o candidato do PDT à Presidência da Câmara, André Figueiredo. A decisão reflete a pressão da militância do partido, que tem feito campanha contra o apoio da legenda ao atual presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), considerado “golpista” pela relação com o presidente Michel Temer.

Por Renan Truffi, na Carta Capital

O anúncio foi feito após reunião dos deputados do partido, no Congresso Nacional. "É uma candidatura muito importante num momento que é necessário marcar posição no País", declarou o líder do PT, Carlos Zaratti após a oficialização do apoio. "Estamos fazendo um gesto de unidade às forças de oposição na luta por uma Câmara mais democrática, que respeita a participação popular".

Apesar do discurso oficial, a bancada estava dividida quanto ao caminho que deveria seguir. Parte dos deputados do PT considera o apoio a Figueiredo um erro, pois essa postura deve implicar na perda de cargos na Mesa Diretora e em comissões importantes para a disputa política num ano em que o governo Michel Temer deve impor as reformas trabalhistas e da Previdência.

A ala de deputados que quer apoiar Rodrigo Maia resolveu, no entanto, ceder para que, oficialmente, a orientação do partido seja pelo voto em Figueiredo. De acordo com um dos parlamentares petistas, isso não significa, no entanto, que de fato todos os nomes do partido vão votar no candidato do PDT, já que a votação é secreta.

Com essa decisão, o PT passa a fazer parte de um bloco que já tem PDT e Rede Sustentabilidade, ambos em torno da candidatura de Figueiredo. Além disso, a postura do PT coloca pressão sobre o PCdoB, que cogita também compor com Rodrigo Maia e os partidos da base aliada de Michel Temer. Mas essa postura também está longe de ser um consenso.


A bancada do PCdoB está dividida, pessoas como a deputada Jandira Feghali não concordam com esse apoio do PCdoB ao Rodrigo Maia”, disse André Figueiredo ao se mostrar “esperançoso” quanto a uma possível mudança na posição do partido. “Precisamos construir uma unidade para enfrentar esses retrocessos”. André Figueiredo conta ainda com a possibilidade de apoio do PSOL, que estuda lançar candidato próprio.

Ao centro, André Figueiredo e Carlos Zarattini, líder do PT. Foto: Renan Truffi.

O racha no PT começou em janeiro, quando alguns dos nomes do partido manifestaram entendimento em estar ao lado de Rodrigo Maia. Além disso, com a presença do ex-presidente Lula, o Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores aprovou, por 45 votos a 30, resolução que permitia a negociação de apoio a Rodrigo Maia e Eunicio de Oliveira (PMDB-CE), candidato à presidência do Senado.

Em resposta, o movimento “Muda PT” – que inclui dezenas de deputados e alguns senadores do partido – divulgou chamamento à militância contra o apoio aos “golpistas do parlamento”. “É hora também de mudar o PT. Essa decisão da maioria do Diretório Nacional que abre as portas para um acordo com golpistas na Câmara e no Senado mostra que o PT precisa de uma nova maioria, sem vacilação e sem conciliação”, diz o comunicado.

A pressão também fez com que o próprio presidente do PT, Rui Falcão, mudasse de posição. Durante a reunião da Executiva nacional em janeiro, ele defendeu que o partido apresentasse uma pauta de reivindicações aos candidatos como condição para o apoio, incluindo Rodrigo Maia. No último domingo, porém, Falcão publicou um artigo defendendo o contrário.

Minha opinião pessoal é que nos unamos aos parlamentares da oposição (PDT, PC do B, Rede e PSol) num bloco a ser encabeçado(a) por alguém deste campo”, defendeu em seu texto.

Altaneira foi o 2º município do cariri com o maior índice de chuva nesta segunda-feira (30)



Depois de registrar 59,0 mm na última terça-feira (24), a maior chuva já registrada em Altaneira neste mês de janeiro, os agricultores e agricultoras tem motivos para manter a esperança de um bom inverno, pois voltou a chover na cidade alta.

Segundo dados colhidos junto a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (FUNCEME), Altaneira registrou entre às 7:00 da manhã do dia 30 ás 7:00 desta terça-feira, 31, a segunda maior chuva entre os municípios que compõem a região do cariri – 30,5 mm – atrás apenas de Nova Olinda com 42,0 mm.

No acumulado do mês, os altaneirenses já receberam 168,7 mm de chuvas. 

No acumulado de janeiro, Altaneira já registrou 168,7 mm. 

“Presidente do STF toma decisão pela metade e estimula incertezas”, diz Kennedy Alencar sobre as 77 homologações


Ao decidir homologar as delações da Odebrecht mantendo o sigilo dos documentos, a presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Cármen Lúcia, tomou uma decisão que prejudica o país. Deixa na sombra fatos que o Brasil merece conhecer porque muita coisa já foi vazada nos últimos meses.

Esses vazamentos causaram incertezas políticas e econômicas e deram margem a manipulações para direcionamento das investigações. Uma das delações veio à tona na íntegra, vazada e distribuída por meio das redes sociais, a de Cláudio Melo Filho.

Kennedy Alencar critica decisão de Carmem Lúcia.
Foto: Divulgação.
Cármen Lúcia obedeceu aos sinais que emitiu publicamente. Não faria sentido ir ao gabinete no sábado estudar um caso que não estava diretamente sob os seus cuidados. Agiu assim para homologar, recorrendo a brechas no regimento do Supremo. Não era o caminho preferido de colegas dela no STF, mas o regimento da corte é suficiente amplo para dar esse poder à presidente.

O novo relator da Lava Jato deverá ser escolhido nesta semana. Logo, do ponto de vista prático, as homologações poderiam ter esperado a escolha do substituto de Teori Zavascki, ainda mais com a manutenção do sigilo. É prudente que esse novo relator seja escolhido ainda neste semana.

A homologação feita pela presidente do STF é uma atitude política de Cármen Lúcia para atender a um desejo da opinião pública. Porém, é uma decisão que vem pela metade. Falta dar publicidade e transparência ao que foi revelado pelos 77 delatores da empreiteira. O segredo tende a elevar especulações.

Delação por si não é prova. São necessárias a denúncia e o processo. Todos os acusados têm direito de defesa. Mas é preciso que o país saiba o que foi descrito pela Odebrecht. Certamente, essa revelações resultarão numa enorme turbulência política e econômica. Melhor que aconteça logo a deixar o país à espera de uma tempestade que só ameaça e não cai nunca.


"Feminismo é algo que liberta homens e mulheres", diz Letícia Sabatella ao Brasil de Fato



Atriz fala sobre os desafios das mulheres na atual conjuntura de avanço do conservadorismo em entrevista ao Brasil de Fato.

Segundo o dicionário mais famoso do mundo, o Oxford, da Inglaterra, a palavra de 2016 foi “pós-verdade”. O adjetivo faz referência a "circunstâncias em que os fatos objetivos têm menos influência na formação de opinião pública do que os apelos emocionais e as opiniões pessoais", segundo o Oxford, que incorporou a palavra no dicionário depois dela ter sido exaustivamente usada nos jornais e redes sociais.

Em tempos de “pós-verdade”, conceitos já consolidados, assim como identidades e as conquistas, parecem suspensos no ar. Estão sendo atropelados pela cultura conservadora. Nesse contexto, pensar e discutir o feminismo é um desafio. Não por acaso, os direitos das mulheres foram os primeiros a serem atacados, mas também partiram das mulheres as lutas mais espontâneas e emblemáticas dos últimos dois anos. Foi assim com a “primavera das mulheres”, no Brasil, o movimento “Ni Una a Menos”, na Argentina, e mais recentemente a “Marcha das Mulheres”, nos Estados Unidos, contra o novo presidente Donald Trump.

Para falar sobre feminismo o Brasil de Fato entrevistou a atriz Letícia Sabatella. Ela foi uma das convidadas do evento Mulheres em Movimento, que está sendo realizado essa semana, no Rio de Janeiro, pela organização ELAS Fundo de Investimento Social. A atriz falou sobre os desafios que mulheres e homens devem enfrentar nesse momento de turbulências políticas e sociais no país.

Brasil de Fato - Qual é o papel do feminismo na conjuntura em que a gente vive no Brasil?

Letícia Sabatella - É a busca de equilíbrio para o que vem acontecendo. Nós somos as mais atingidas pelo modo neoliberal de pensar a sociedade, com alguns lucrando com a miséria e nenhum cuidado com o bem-estar social. A melhor coisa que alguém pode desejar na vida é abrir a porta de casa, sair tranquila, em paz, e saber que existe educação, saúde de qualidade, que vai poder crescer na vida. Estamos vivendo um tempo em que os valores individualistas parecem mais importantes que o coletivo. Não querem mais pensar coletivamente, isso virou uma coisa imoral. É nosso papel lutar contra isso e a favor de práticas amorosas.

Brasil de Fato - Toda mulher já sofreu algum tipo de machismo em algum momento da vida, senão durante a vida inteira. O mais te incomoda nessa questão do machismo?

Incomoda o tempo inteiro porque as pessoas introjetam o machismo. O machismo vai por dentro, vai minando nossas forças e daqui a pouco qualquer mulher pode introjetar o machismo, são limites que são impostos e incutidos na cabeça dela. Isso vem da cultura machista. A mulher precisa de mais possibilidades, mais liberdade. A sociedade tem que dar mais poder à mulher, mais possibilidades de realização de sonhos diversos e nos liberar de todas essas ideias que nos oprimem e permitir à mulher ter conhecimentos diversificados.

Brasil de Fato - Aquela vez em que você sofreu uma agressão na rua, de manifestante pró-impeachment, em agosto de 2016, em sua opinião, tinha algum viés machista?

Acho que tudo o que configurou o golpe foi machista, até a maneira como se referiam à presidenta Dilma era uma maneira muito misógina (de ódio e aversão à mulher). Tudo isso foi tirando qualquer questão legítima da pauta e foi entrando uma coisa que era embrutecedora. O que estava vindo era algo que fazia crítica de maneira estúpida, ignorante, sem escrúpulo, sem ética e muito destruidor. Quando penso em feminismo até acho que é um nome meio doido porque parece que pende para um lado da balança, mas na verdade ele equilibra a balança, que está pendendo demais para um lado só. Penso no feminismo como algo que não pertence apenas ao movimento de mulheres, pois é algo que liberta e melhora a situação de homens e mulheres.

Brasil de Fato - Gostaria que falasse também sobre seus trabalhos na atualidade e o que está planejando para esse ano.

Estou fazendo um monólogo (no teatro) que é Ilíada, junto com outros 24 atores, cada um fazendo um monólogo. Com esse trabalho, onde compus a trilha sonora com o Fernando Alves Pinto, concorremos ao Prêmio Shell (2014). Agora também estamos fazendo a Caravana Tonteria (um show musical com intervenções teatrais) com algumas músicas próprias e algumas escolhidas. Esse ano estamos ainda com alguns projetos para continuar fazendo a peça A Vida em Vermelho de Edith Piaf e Bertolt Brecht (peça de Aimar Labaki que narra um encontro fictício entre a cantora e o dramaturgo). Vou fazer uma participação na minissérie Carcereiros, na Globo (baseada no livro homônimo do médico Drauzio Varella, sobre o sistema penitenciário). Recentemente também fiz o filme Happy Hour, do diretor Eduardo Albergaria, em uma coprodução Brasil-Argentina.

Brasil de Fato - Por fim, queria que você deixasse uma mensagem para todas as pessoas que estão resistindo e lutando contra retrocessos.


Tenho recebido tanto afeto, tanto amor, tanta adesão e tenho visto tanta gente linda e corajosa lutando que confesso que tenho esperança. Muitas conquistas serão inevitáveis diante do que tenho visto de luta, nisso tenho muita esperança. Me compadeço de todas essas perdas que a gente está tendo. Vejo as dificuldades que estamos vivendo, isso fica claro nas falas lindas de muitas mulheres do movimento negro, indígena, lésbica, movimentos populares importantes. Me emociono com todas elas, com todas as causas das mulheres trabalhadoras. Nossa resposta a tudo isso é o afeto e a reorganização desse feminino que incomoda tanto.

Letícia Sabatella: "Penso no feminismo como algo que não pertence apenas ao movimento de mulheres". / Cláudia Ferreira.

Associação dos Ciclistas de Altaneira divulga data da IV Edição do MTB


Em reunião realizada no último dia 24 de janeiro na Trilha Sítio Poças, a Associação dos Ciclistas de Altaneira (ACICA) aprovou o regulamento da IV Edição do Campeonato Municipal de MTB.

Segundo informou o Blog de Altaneira, apedido de vários ciclistas ficou fixado que a data de início da competição será no próximo dia 19 de fevereiro. Eles justificaram que a antecipação se dá em face do carnaval. Assim como as três edições anteriores, esta se dará em 10 etapas, com a última programada para o dia 25 de dezembro.

Ainda conforme o Blog supracitado, pontuarão os 10 primeiros colocados sendo 24 pontos para o primeiro e o décimo recebe um ponto que serão somados a cada etapa para definir os campeões. A novidade é que cada volta no circuito será atribuído um ponto ao ciclista.

Os ciclistas são divididos em dois grupos “Local” e “Visitantes” e concorrem nas categorias: Elite (todas as idades), Júnior (até 18 anos) e Veterano (acima de 30 anos), mas todos são agrupados para a Classificação Geral onde os 10 primeiros colocados dividirão uma premiação de R$ 4.100,00.

Além de medalhas para os três primeiros colocados nas respectivas categorias em cada etapa, os cinco melhores colocados de cada grupo, no final do certame, receberão troféus padronizados.

Direção da ACICA e ciclista em face da reunião que definiu a data de início do IV Campeonato de MTB. Foto:João Albino.

A mudança de gênero e etnia nos quadrinhos de super-heróis



Homem-Aranha, Capitão América e Thor são retratados de novas formas. Entenda a dinâmica das alterações e as críticas que elas despertam.

Não é recente a polêmica em torno da mudança de gênero e, principalmente, de etnia nas histórias em quadrinhos protagonizadas por super-heróis clássicos, como Homem-Aranha, Thor e Capitão América.
Do Nexo

Em 2014, uma mulher assumiu os poderes de Thor, deus do trovão na mitologia nórdica. Naquele mesmo ano, o Capitão América, antes branco e loiro, passou a ser negro. Em 2015, o personagem Peter Parker, o Homem-Aranha, morreu e foi substituído por um adolescente negro de 13 anos de origem hispânica, Miles Morales.

Um exemplo recente foi a substituição da etnia de personagens da série “The Flash”, da Warner Channel. A coadjuvante e histórica parceira romântica do herói, Iris West, na produção, passou de branca e ruiva para negra, assim como seu pai e seu irmão, Wally West, o Kid Flash. Outra mudança de gênero e etnia nos quadrinhos foi a da Capitã América do Futuro, que se tornou uma mulher negra, filha dos heróis Luke Cage e Jessica Jones (ambos representados em séries da Netflix).

Em que contexto essas mudanças ocorrem

As mudanças surgem em um contexto de globalização, crescimentos dos debates sobre relações raciais e de gênero e de uma demanda por mais representatividade. E não é só com os super-heróis. Em 2015, por exemplo, a boneca Barbie ganhou uma versão negra com cabelos trançados. Essas mudanças são reconhecidas pelos movimentos negro, feminista e LGBT.

Além de uma adaptação à demanda por mais representatividade, é comum que, de tempos em tempos, editoras como a Marvel e DC Comics reiniciem as histórias de seus heróis clássicos, apresentando novas origens, poderes, situações e, inclusive, mudando suas características. Algumas dessas mudanças — que não necessariamente estão ligadas a gênero, orientação sexual ou etnia — sofrem resistência de parte dos fãs mais puristas e promovem debates acalorados.

O quadrinista e editor brasileiro Rogério Campos afirma, porém, que as alterações ligadas à representatividade mexem com preconceitos dos leitores. “Acho que os fãs reagem forte porque quadrinho é um gênero que expressa o machismo”, disse Campos ao Nexo. “O quadrinho de super-herói foi criado para a ilustração de um romantismo de aço, masculinizante. O universo dos quadrinhos sempre foi dessa forma e a mudança é uma invasão ao mundo deles. É visível o desconforto desse caras em eventos, pela presença feminina”, afirmou.

Há dois anos, a Marvel introduziu a fase “All-New, All-Different” (Tudo novo, tudo diferente) em suas HQs, as histórias de super-heróis seguiram por universos paralelos onde os personagens se tornaram mais representativos, como a Mulher-Aranha grávida. As mudanças acompanham as duras críticas que a empresa sofreu em 2014 ao hiperssexualizar essa mesma personagem. Elas mostram um esforço da editora em se adaptar às novas demandas.

Quais são as críticas às mudanças

O quadrinista inglês John Byrne, responsável por histórias como “Quarteto Fantástico”, chegou a classificar mudanças de etnia de personagens como racista. Para ele, que é branco, delegar à etnia negra assumir heróis que são originalmente brancos é, também, uma forma de racismo. No entanto, ativistas do movimento negro discordam e comemoram as mudanças.

Byrne chegou a questionar, entre 2014 e 2015, se a mudança de etnia do personagem Tocha Humana, no filme mais recente do “Quarteto Fantástico”, era realmente necessária ou se não seria “dar migalhas” a atores negros em vez de criar novos personagens para eles.

Ramon Vitral, responsável pelo blog “Vitralizado”, disse em entrevista ao Nexo que fãs, em especial os de quadrinhos, costumam ter atitudes conservadoras, esperando resultados próximos daquilo ao que já estão familiarizados, mas que isso está mudando. “É incrível quando o homem de ferro se torna uma mulher negra, quando o Hulk se torna um cara asiático. É preciso haver representatividade e identificação dos leitores, que não são apenas brancos, com os heróis”, disse.

A dinâmica das mudanças  

Maurício Muniz, jornalista especializado em cultura pop, disse ao Nexo que no universo das histórias em quadrinhos as produções são cíclicas e estão sempre em movimento, o que explicaria o surgimento de novos heróis e a inovação em histórias já conhecidas, para dar fôlego novo a personagens clássicos. “É uma característica das editoras fazer alterações nos personagens de tempos em tempos para chamar a atenção do público. Às vezes eles morrem, às vezes eles casam, às vezes eles mudam de etnia ou de sexo”, afirma.

O editor da Veneta explica que dentro das próprias produtoras existem conflitos e tensões quanto às mudanças. E que o objetivo de mercado, de buscar novos públicos, está posto e é transparente. “Existem várias complexidades nesse negócio. O fator determinante [para a indústria] é atingir novos públicos. Não existe movimento dentro da indústria que não seja nesse sentido. [...] porém, lá dentro, mesmo com vários impedimentos, há seres humanos, pessoas que se recusam a desenhar histórias sobre negros associados a pessoas ‘burras’, ou histórias que ridicularizam gays e mulheres”, conclui.

A DC Comics — criadora da Liga da Justiça, Super-Homem e Batman —, segundo Muniz, é pioneira nas mudanças e inovações no sentido de garantir maior representatividade em suas histórias:

As primeiras grandes super-heroínas e as personagens fortes surgiram na DC nos anos 1940, como a Mulher-Maravilha, a Mulher-Gato, a Tornado Vermelho e a Canário Negro. Nos anos 1950, veio a Supergirl, nos anos 1960 a Batgirl. Enquanto a Marvel, nos anos 1960, tinha pouquíssimas heroínas, a DC já tinha várias, com personalidades fortes, inclusive na Legião dos Super-Heróis, um grupo de heróis que tinha diversas mulheres, personagens de etnias diferentes e que, em algumas ocasiões, tinha mais mulheres que homens em sua formação.”

Em 2011, o manto do Homem Aranha foi passado para Miles Morales, um garoto negro e hispânico de 13 anos.
Foto: Reprodução/ Marvel.