Os Africanos não venderam seu próprio povo para serem escravizados



Mesmo neste mundo moderno, existem guerras e rumores de guerras não importa aonde você vá. Havia guerra na Europa naqueles dias e o mesmo no continente americano. Tivemos guerras em quase todos os lugares do mundo. Tivemos guerras tribais também na África. A diferença entre as guerras tribais na África e as que ocorriam no resto do mundo é que enquanto lá fora, no mundo, os povos conquistados eram frequentemente exterminados, os povos conquistados na África (exceto árabes e muçulmanos do norte) se tornavam propriedade do conquistador. Em outras palavras enquanto o inimigo era dizimado no resto do mundo, na África eram deixados vivos para servirem a seu conquistador.


Então, sim é verdade que havia “escravos” na África naqueles dias — antes do homem branco chegar. No entanto, esses escravos não eram tirados a força de seus reinos para se tornarem escravos de outros reinos ou impérios. Eram somente vítimas de guerras tribais e isso era melhor do que acontecia mundo afora, aonde a nenhum inimigo era permitido continuar vivo.

Eu li um artigo hoje na internet e fiquei surpreso em ver tanta gente acreditando que africanos vendiam seu próprio povo pra escravidão assim como os europeus fizeram depois. Meus professores e fontes me ensinaram algo bem diferente, eu queria comentar no fórum da página onde li, mas a seção de comentários havia sido desabilitada então, por causa disso, resolvi escrever esse texto para mostrar que nós africanos não fomos estúpidos em vender nossos irmãos e irmãs como querem fazer parecer. Nós fomos estúpidos em permitir que nós mesmos fôssemos manipulados pelos estrangeiros (meu povo costuma se referir ao homem branco como estranhos brancos, então me desculpe se você ler esse termo ao longo do artigo). Nós fomos estúpidos em confiar no homem branco em primeiro lugar e depois deixar o homem branco pisar em nossas terras. Meu povo deixou o homem branco entrar em nossas terras porque disseram que estavam vindo em paz.

Antes de eu continuar gostaria que você notasse que houveram 2 tipos de escravidão na África, a primeira introduzida com a chegada do Islã através dos árabes no norte da África e aquela introduzida pelos europeus (justamente a que estou comentando nesse artigo). A escravidão do Trans-Sahara era profundamente enraizada na cultura islâmica e ainda é praticada nos dias de hoje em países como a Mauritânia por exemplo.

De acordo com meu avô nos dias, nos dias que não existiam o cristianismo e nem os sistemas modernos de governo, na África reis, rainhas e outros líderes comandavam seus impérios como chefes de estado e julgavam casos de acordo com as regras e regulamentações de seus reinos. Aqueles que desobedeciam as leis eram punidos e os que as obedeciam e se sacrificavam pela terra eram generosamente recompensados. No entanto cada terra tinha sua prisão que não eram feitas para abrigar um grande número de criminosos, sendo assim aqueles que matavam eram mortos, os que roubavam tinham que pagar pelo que roubaram, os que dormiam com outras mulheres eram banidos por isso e crianças que desobedeciam os mais velhos também sofriam punições. Meu país Gana, localizado na África Ocidental foi no passado praticamente um quartel general de negócios relacionados a escravidão aonde escravos de diferentes partes do continente eram trazidos e então negociados para embarcarem em caravelas mundo afora.

Quando os estranhos brancos chegaram pela primeira vez, nossos ancestrais não estavam certos de suas reais intenções, então a maioria das comunidades se moveram para bem longe de sua terra natal, mas os homens brancos conseguiram convencer alguns líderes que não chegaram aqui para trazer o mal e sim para trazer boas noticias (Cristianismo e a Bíblia) e também para negociar com o povo local. Alguns chefes ao longo do tempo foram aceitando que os estranhos se alocassem em suas terras, os viajantes brancos então começaram a construir centros missionários usados para rezar e negociar com os nativos. Porém o homem branco posteriormente aumentou o número de centros missionários que foram crescendo até se tornarem igrejas e catedrais, virando assim fortes e castelos que eram usados para abrigar os primeiros escravos que seriam enviados pra fora da África.

Os estranhos brancos inicialmente não perceberam que os nativos não entendiam uma palavra sequer da língua deles, o que tornava a comunicação bem difícil. Para ajudar a quebrar essa barreira o homem branco sugeriu aos líderes tribais cederem algumas pessoas de suas tribos para ensinarem sua língua para facilitar assim a conversa, mas nenhum dos líderes estavam confortáveis e preparados o suficiente para permitir que pessoas do seu povo fossem conviver com os estranhos brancos. Mais tarde alguns líderes tiveram a ideia de ao invés de mandar pessoas da tribo irem conviver com os brancos para aprenderem sua língua, os brancos poderiam levar alguns dos criminosos para escutarem os sermões cristãos e aprenderem a língua deles, visando que era melhor adicionar uma função aos criminosos ao invés de matar todos. Então os líderes tribais negociaram seus prisioneiros em troca de espelhos, garrafas de vinho entre outras coisas trazidas pelos europeus. Foi assim que o homem branco conseguiu seus primeiros escravos. Aqueles nativos (os criminosos) que foram morar e servir os homens brancos em suas fortalezas e castelos e que também aprenderam a língua dos brancos se tornaram mediadores de negócios entre os brancos e os africanos pois podiam agora falar as duas línguas, isso ajudou muito a comunicação entre eles.

Como já mencionado antes, os nativos que foram viver com os brancos eram criminosos sentenciados, sendo assim, com a proximidade e ganho de confiança do homem branco, até mesmo como forma de vingança, esses criminosos fizeram a vida dos outros africanos e suas tribos um verdadeiro inferno. Por exemplo, enquanto os brancos os enviavam para cobrarem 5 peças de ouro como taxa, os ex-criminosos agora mediadores cobravam 8 peças, cobrando assim sua própria taxa. Com o tempo esses mediadores foram se tornando tão e até mais poderosos que alguns líderes tribais, em outras palavras, a pregação cristã feita pelo homem branco transformou os criminosos locais em pessoas ainda piores do que eram antes da chegada deles. Como os homens brancos eram os únicos a terem armas de fogo, atiravam em qualquer um que esses ex-criminosos mandassem atirar. Foram eles quem ajudaram o homem branco a ter mais escravos. Os mesmos criminosos condenados a morte em suas sociedades por se comportarem de forma não-africana (desleal e indignamente com membros de suas comunidades).

Os nativos que viviam com os homens brancos os serviam tão bem que os brancos se sentiram a vontade para pedir por mais escravos. E por conta das benesses adquiridas através desses servidores locais, muitos homens brancos levavam alguns deles na volta pra casa. No exterior os estranhos brancos descobriam que seus servidores eram bastante úteis e decidiram voltar para trazer mais deles. Assim o homem branco notou que os poderia usar para trabalharem em suas fazendas e plantations como mão de obra barata e produzindo um lucro maior e voltou decidido a trazer mais servidores locais entre os comerciantes de escravos.

Com esse propósito retornaram e pediram por mais nativos, porém os líderes locais não estavam preparados para ceder pessoas livres para os europeus exceto os criminosos. Em Gana nenhum Ashanti ou povo que vivia no interior da região não queriam ter qualquer tipo de proximidade com os brancos. Na verdade os primeiros brancos a terem contato com o império Ashanti jamais retornaram. No entanto os brancos precisavam de cada vez mais escravos para poderem manter seus lucros, mas não encontravam caminho fácil para isso. Sendo assim começaram a criar inimizades entre as tribos, fazendo acontecer mais guerras tribais e consequentemente produzindo mais prisioneiros de guerras que futuramente se tornariam escravos. E foi exatamente isso que fizeram.

Ao longo do tempo os brancos começaram a armar alguns desses prisioneiros de guerra (e criminosos) para facilitar a captura de mais escravos. Tudo em troca de mais benefícios. Favor note que meu povo nunca esteve pronto pra lhes dar pessoas do nosso próprio povo para serem escravos, mas sim que foram os estranhos brancos que manipularam as pessoas criando confusão entre diversas tribos para gerar diversas guerras tribais com o objetivo de conquistarem mais escravos. Quanto mais conflitos tribais os brancos criavam, mais escravos levavam. Em Gana, por exemplo, porque o império Ashanti era tão poderoso para ser derrotado, os brancos criaram inúmeras divergências entre os Ashanti e suas tribos vizinhas. Chegando a muní-las com armas de fogo afim de facilitar a derrota dos Ashanti. Desse jeito acabaram tirando do trono o Rei Nana Prempeh I e a Rainha Mãe Nana Yaa Asantewaa para poderem controlar e colonizar o ouro e o povo Ashanti.

Por fim, quero retificar que nós africanos não simplesmente vendemos nossos irmãos e irmãs para a escravidão. Fomos ludibriados e manipulados pelos brancos que um dia chegaram a nossas terras e a parte mais dolorosa disso é que alguns de nossos irmãos africanos foram cegos demais para enxergarem o perigo e isso ainda é motivo de muita tristeza.

Texto original em inglês publicado no Africaw  e traduzido pelo Lucas Casagrande.


"Brasil vive apartheid e culpam as drogas", diz neurocientista Carl Hart



Primeiro neurocientista negro a se tornar professor titular da universidade de Columbia, em Nova York (EUA), autor do livro Um Preço Muito Alto: a jornada de um neurocientista que desafia nossa visão sobre as drogas, o pesquisador norte-americano Carl Hart, 48, deixa, nesta quinta-feira, 3, Salvador, após cumprir três dias de uma agenda de compromissos com a Iniciativa Negra por Uma Nova Política Sobre Drogas (INNPD) e o governo  estadual, por meio das secretarias da Justiça e Direitos Humanos e da Segurança Pública. Nessa entrevista exclusiva ao A TARDE, na segunda passagem pela capital baiana, Hart fala  sobre o trabalho que vem desenvolvendo em relação à política mundial antidrogas (na visão dele "uma política enganadora").

Entrevista cedida ao portal A Tarde em 2015

Quais são suas principais ideias sobre a política de drogas no mundo?

É uma pergunta ampla. Escrevi um livro inteiro sobre isso. As políticas de drogas são diferentes a depender de onde se está. No Brasil, o principal problema é que as pessoas estão sendo induzidas ao erro, enganadas, em relação às drogas na sociedade. Dizem à população que as drogas são um problema em si, quando as questões estão ligadas à própria estrutura social, discriminação racial, pobreza, falta de educação, falta de inclusão em certos grupos. O que há, essencialmente, é um apartheid. E culpam as drogas, por meio de campanhas contra o crack, como se o crack fosse o problema. O crack apareceu no Brasil por volta de 2005, a pobreza está desde sempre, assim como a violência e o crime. Atribuir essas questões à existência das drogas e dos traficantes é desonesto. Sugiro às pessoas, principalmente aquelas que estão sendo colocadas nas cadeias ou mortas pela polícia, que se levantem e digam: "Essa política antidrogas é besteira!".

A respeito da defesa do sr. da legalização ou descriminalização das drogas nos EUA, o mesmo pode ser aplicado no Brasil?

Claro. Seja legalização ou descriminalização, o que quer que funcione na sociedade seria bom. Devemos perguntar quais questões queremos resolver: se estamos preocupados com traficantes, teremos que pensar sobre a legalização, pois tem a ver com o comércio. Por outro lado, traficantes não terão êxito se houver inclusão social. Até descobrimos como sermos mais inclusivos, sempre teremos problemas com o tráfico. Onde houver drogas e pessoas terá tráfico. Mas, enquanto pessoas não forem incluídas, haverá economia clandestina.

O sr. crê que o uso de drogas passa por um problema de saúde em vez de polícia?

Depende muito. Para a maioria das pessoas que usa drogas não se trata de um problema de saúde, embora possa se tornar. Pense, por exemplo, no uso do automóvel. Muita gente dirige de forma imprudente e acaba tendo problemas, se envolve em acidentes, o que acaba se tornando um problema de saúde. Mas a maioria da população usa o automóvel de maneira segura e tal uso não se configura um problema de saúde pública.

Quais diferenças o sr. percebe na política antidrogas nos EUA e Brasil?

Recentemente, escrevi um artigo mostrando como a política antidrogas dos EUA foi exportada para o Brasil. É uma política criada para subjugar a população negra. Como resultado, lá, um a cada três homens negros estão sujeitos a passar algum tempo na cadeia. É uma estatística terrível. O que contribuiu para isso foi uma política de combate ao tráfico, sobretudo de cocaína e crack, criada em 1986. Agora, estamos revendo essa política, uma vez que percebemos que está errada e inapropriada. O que está sendo feito no Brasil, nos dias de hoje, é basicamente a mesma coisa que adotamos nos anos 1980. Portanto, podemos esperar os mesmos resultados: pessoas negras, particularmente homens, enchem as prisões. Isso quando não são mortas pela polícia.

O sr. foi criado em uma comunidade pobre de Miami. Há alguma similaridade com nossas favelas?

Sim, financeiramente pobre, mas culturalmente rica, em amor, em pessoas brilhantes. Não tínhamos muitos recursos financeiros, mas tínhamos outros. Não é muito diferente das comunidades onde os negros daqui são criados. Eu fui criado como um pobre, não preciso ver como é aqui para saber. Vi a pobreza o tempo todo na minha vida. A favelas daqui, em termos de arquitetura, são as piores que já vi. Já estive em inúmeros lugares, nas favelas da África do Sul, mas as estruturas das casas no Brasil são realmente ruins. Nos Estados Unidos, as pessoas são pobres, porém seus lares não são tão desiguais. Há uma pobreza séria ocorrendo aqui.

Esse talvez seria um dos motivos pelos quais as pessoas enveredam pelo tráfico?

As pessoas sempre perseguem as necessidades básicas, não importa em qual sistema vivam. Elas precisam comer, morar, precisam do mínimo de respeito. Quando não se tem isso, elas vão buscar em outro lugar. De repente, vem alguém que oferece um 'trabalho' no tráfico ou qualquer outra atividade, e essa pessoa simplesmente pega.

Temos um dilema na Bahia: a maioria dos policiais é negra e educada para combater uma população predominantemente negra. Qual a percepção do sr. sobre essa realidade?

Essa pergunta tem uns componentes notáveis. A primeira coisa é que toda pessoa, de qualquer raça, tende a ser morta por um semelhante dela. Por todo o mundo, não é incomum. Quando falamos de negros, achamos que seria incomum, mas não é. Segundo, quando pensamos na polícia, é uma organização que simplesmente faz o que a estrutura de poder quer que ela faça. E a estrutura de poder, nesse caso, é branca. Não é como se a polícia daqui se comportasse de forma anormal. Eles sabem a quem obedecem. É simples. Por isso que estou tentando enfatizar que é um problema não haver lideranças negras aqui. Por que, se houvesse, realmente poderia se traçar um panorama sobre quais são os problemas da violência, de fato. Não é uma garantia de que teríamos um entendimento por completo, até por que nos Estados Unidos temos lideranças negras em inúmeros locais, mas eles são igualmente ignorantes. Eles não entendem o que está acontecendo, enquanto outros são conscientes. Dessa maneira, o fato de haver lideranças negras não é garantia de que tenham uma leitura do contexto. Mas, certamente, essa presença aumenta as possibilidades de compreensão desse quadro.

Para sustentar a proibição, políticos no Brasil defendem que o sistema público de saúde não suportaria uma possível legalização...
Provavelmente, é algo estúpido e errado. Eu realmente não ouço políticos, não são pessoas que devem ser ouvidas nesse assunto, mas pessoas que têm publicações nessa área, que têm evidências, informação. Políticos, geralmente, são idiotas e, nem penso neles.

Muitos pela  proibição do drogas dizem que a maconha leva ao uso de outras substâncias. Quanto há de verdade nisso?

Em 1937, a ciência acreditava nisso. Mas não estamos mais em 1937. As evidências, hoje, são claras e dizer isso é de uma estupidez imensa. Eu fico surpreso que a população permita que esse tipo de pessoa a represente.

E quanto ao álcool?

O alcance é mais amplo e não é nada inesperado que mais pessoas tenham mais problemas em decorrência do consumo do álcool. Volto à comparação com dirigir veículos: a maioria das pessoas que bebe o faz de maneira segura. Quando consumido em doses moderadas, chega a ser associado a benefícios positivos à saúde. Obviamente, se as pessoas bebem demais, em excesso, elas terão problemas, assim como qualquer outra coisa consumida imprudentemente. Uma das consequências do uso abusivo, por exemplo, é a inclinação que as pessoas têm a praticar sexo sem proteção. Fora isso, está tudo bem. Em qualquer sociedade ou qualquer comportamento, potencialmente haverá problemas de todos os tipos. É algo inerente ao ser humano. Se formos pensar que tudo é nocivo, que podemos controlar tudo, a gente não vai nem comer. Não temos como evitar tudo que faz mal, caso contrário, a gente não vive.

Salvador é a cidade com a maior população negra fora da África. Ainda assim, nunca tivemos um prefeito negro. Como o sr. vê isso?

É algo vergonhoso. Percebo que há muito poucos negros em posições de liderança. Por conta disso, penso que os negros daqui deveriam protestar. Deveriam ser educados para dizer: 'Isso é inaceitável!" Até que as pessoas tenham consciência disso tudo vai continuar na mesma. Enquanto houver essa falta de inclusão, toda a conta vai ser creditada às drogas. Há um apartheid silencioso acontecendo aqui.

O sr. acredita que o Brasil, assim como ocorreu com Obama nos Estados Unidos, um dia terá um presidente negro?

Eu não sei se esse deva ser o objetivo primordial do Brasil, por agora. Não faço ideia. Até porque, se você me perguntasse se eu imaginaria que um dia haveria um presidente negro nos Estados Unidos, eu diria não. No final, estaria errado. Não sou muito bom nessas especulações. Penso que a população brasileira deveria se focar mais na igualdade, na inclusão dos cidadãos no mainstream (posição de destaque). Assegurar que deve haver mais negros com educação, moradia, empregos, na classe média. Penso que esse deva ser o foco.

Durante a estada do sr. no Brasi houve algum tipo de preconceito como um homem negro, sobretudo rastafári?

Não, porque eu não sou o típico negro comum, uma vez que ando pelas ruas e as pessoas meio que me reconhecem. Nós deveríamos andar pelas ruas e perguntar aos nativos daqui como eles se sentem. A visão deles é mais importante que a minha, porque eles vivem aqui todos os dias.

Então, o que realmente aconteceu no Hotel Tivoli, em São Paulo, na semana passada?


Nada. Absolutamente nada. Me disseram que um segurança vinha em minha direção para me barrar, mas eu não vi. Pessoalmente, eu não vi nada. As pessoas começaram a me pedir desculpas, sem motivo. Algum repórter falou com outra pessoa e vimos no que deu. No final, eu fiz um vídeo para explicar que não aconteceu nada. A notícia se espalhou como um vírus. Sabemos que há um ressentimento quanto à discriminação racial aqui. Eu acho que as pessoas se envergonharam por algo assim supostamente ter ocorrido comigo, por eu ser um estrangeiro. Por isso, tentaram resolver rapidamente. Mas esse fato não é o que deveria ser discutido, mas, sim, o racismo diário que acontece na sociedade. Fico feliz que esse assunto esteja resolvido quanto a mim.


URCA conquista Mestrado Profissional em Educação


A Universidade Regional do Cariri (URCA) obteve mais uma conquista: a provação do Mestrado Profissional em Educação pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Um dos mais esperados da Instituição, o tão aguardado resultado do projeto foi publicado no final da tarde de ontem (05/01) pela CAPES.
Do site da URCA

O novo curso tem como proposta contribuir, de forma geral, para a melhoria da qualidade da educação básica ao possibilitar continuidade formativa de docentes atuantes na educação básica. O Reitor da URCA, professor José Patrício Melo, agradeceu à Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa e a equipe de elaboração da proposta pelos esforços empreendidos. “A Urca mais uma vez sai na frente para consolidar a melhor política de desenvolvimento regional inclusiva”, afirmou.

A Pós-Graduação terá como área de concentração “Formação de Professores” e linhas de pesquisa “Práticas Educativas, Culturas e Diversidades” e “Formação de Professores, Currículo e Ensino”. O curso ofertará 20 vagas por seleção. A grade curricular e o calendário deverão ser definidos nas próximas reuniões. Essa aprovação representa o 9º Curso de Mestrado da URCA.


Após pressão, Ministério dos Transportes retira propaganda racista



O Ministério dos Transportes vai retirar a polêmica propaganda sobre segurança no trânsito “Gente boa também mata”.

Por Douglas Belchior, em seu Blog

O Ministro Maurício Quintella afirmou que os cartazes mais polêmicos deverão ser retirados, sem no entanto, dizer quais seriam. Na próxima semana novas peças devem ser veiculadas na TV, com a promessa de que terá um conteúdo diferente do atual.

A notícia foi confirmada através do Twitter da Secretária de Promoção da Igualdade Racial, comandada pela desembargadora aposentada Luislinda Valois (PSDB-BA).

A grande e negativa repercussão nas redes sociais levou o governo a recuar.

Este Blog publicou uma rápida análise de uma das peças da campanha, onde um jovem negro é exposto ao lado da frase em letras garrafais “O melhor aluno da sala pode matar”.

De fato, segundo a maioria das análises de especialistas e manifestações nas redes sociais, a campanha foi infeliz e equivocada. Ela desvaloriza ações nobres de solidariedade e as relaciona a irresponsabilidade e homicídios. Sobretudo seu resultado parece representar objetivamente o que a parcela mais conservadora da sociedade, muito bem representada por este governo, pensa sobre a comunidade negra e sobre as condutas proativas, comunitárias e solidárias das pessoas.

Seguiremos acompanhando.


No 3º dia como vereador, Holiday do MBL quer acabar com Dia da Consciência Negra



No terceiro dia como vereador de São Paulo, Fernando Holiday (DEM), líder do grupo direitista MBL, disse que vai apresentar uma proposta para revogar o Dia da Consciência Negra, data celebrada em 20 de novembro. O vereador também disse em entrevista à TV Câmara nesta quarta-feira que vai propor o fim das cotas raciais em concursos públicos municipais da capital paulista.

Em novembro do ano passado, Holiday publicou no facebook que é "um absurdo" existir uma data como o Dia da Consciência Negra, que "homenageie um homem assassino escravagista”. Tal declaração sim é um grande absurdo, pois o dia 20 de novembro foi escolhido como homenagem à morte de Zumbi dos Palmares, líder do Quilombo dos Palmares, maior quilombo brasileiro que esteve a frente da resistência contra o tráfico de africanos e a escravidão negra, e foi assassinado neste dia justamente devido a sua luta contra a escravidão.

Fernando Holiday ainda afirmou que levará suas propostas de campanha a frente, que são as propostas da direita racista, machista e LGBTfóbica do MBL. "Vou ter propostas de várias frentes, algumas delas mais polêmicas, como propor o fim das cotas raciais em concursos públicos municipais em São Paulo", explicou na TV Câmara.

O vereador recém eleito, assim como seu grupo MBL, que já investigamos aqui no Esquerda Diário, e também seu partido DEM e toda sua direita misógina e racista aliada, não possuem nenhum interesse em de fato combater o racismo e nem nenhuma forma de opressão. Fernando Holiday surge como uma figura jovem, carismática, negro e homossexual, para ajudar a direita a “surfar na onda” da representatividade - que vem ganhando força principalmente no movimento negro e de mulheres - e assim ganhar a confiança desses setores oprimidos para fazer a política da direita dentro da câmara.

Mais uma vez o discurso da representatividade mostra suas debilidades. A direita consegue se apropriar das demandas democráticas mais latentes dos setores oprimidos e colocar um jovem negro em evidência para defender políticas racistas, uma grande contradição que só é possível quando a opressão é vista de maneira isolada e completamente descolada de elementos de classe.

O Dia da Consciência Negra foi uma conquista do movimento negro para que a resistência contra a escravidão não seja apagada da história do país, sendo feita a partir da memória de Zumbi dos Palmares. Assim como as cotas, que não são reparação histórica, mas representam também uma conquista do povo negro, que estatisticamente (e visivelmente) é o que ocupa os postos de trabalho mais precários, enche as filas do desemprego e as celas da prisão e possuem menor acesso à educação de qualidade. Tanto o Dia como as cotas são medidas elementares que dão um bem pequeno passo em escancarar que a escravidão brasileira acabou oficialmente, mas em seguida os negros foram jogados nas favelas e empregos precários, pagando o custo do racismo institucional até hoje.

Fernando Holiday não representa o povo negro. Não representa LGBTs. Apenas representa a direita ao dizer que a resistência negra é que reforça o racismo, falando da necessidade de uma “consciência humana”, discurso comum dos racistas. Ora, se vivemos em um país onde negros são maioria populacional, mas ínfima minoria nas classes mais altas, entre os ricos, empresários e políticos, e a maioria assassinada pelas armas da polícia e do Estado – inclusive crianças – onde entra a ideia de que todos somos iguais e humanos, e a cor da pele não pode influenciar nisso? Esses são os argumentos de Holiday para suas propostas, mas a realidade mostra na prática que a cor da pele tem sim seu significado quando Rafael Braga segue preso por carregar um pinho-sol, mas racistas destilam seu ódio e violência livre e impunemente.

A cor da pele negra para o povo negro significa resistência, e as propostas do MBL servem apenas para tentar tirar do movimento negro as poucas conquistas arrancadas com muita luta. Mas a resistência continua e se organiza, com os trabalhadores e a juventude, contra o racismo e todas as formas de opressão que o capitalismo se apropria para seguir nos explorando mais e mais. Não aceitaremos perder as parcas conquistas, e seguiremos em luta por muito mais, até derrubar não apenas Holidays, MBL e sua direita, mas para colocar fim no racismo, machismo, LGBTfobia e todas as formas e opressão e exploração. Holiday quer nos intimidar, quer nos calar, mas seguiremos, até que caia o capitalismo.




A TV brasileira e a carinha de anjo branca



Negar o Brasil nunca foi novidade na telinha brasileira.

Quando o assunto é programação infantil, a situação é ainda mais clara.

Falta representatividade.

Recentemente, o SBT lançou o remake Carinha de Anjo e a novela já é sucesso entre meninas e meninos do País.
Por Donminique Azevedo, no Correio Nagô

Carinha de Anjo é uma versão nacional da trama mexicana (“Carita de Ángel”), exibida no Brasil entre 2001 e 2002.

Diversas adaptações foram feitas em relação à história original, inclusive núcleos novos foram criados.

No entanto, a maioria do elenco é branca e a única criança negra aluna do colégio de freiras não tem voz.

No primeiro capítulo – aquele utilizado para apresentar as personagens – a garota não tem nome, não fala e pouco aparece. Não tem papel.

Numa busca pelo site da emissora, na seção “personagem”, a menina negra também não aparece.

Fato é que crianças negras da faixa etária da Carinha de Anjo – personagem principal interpretada por uma criança branca – não contam com representatividade.

Mesmo considerando que outros atores negros participem da novela, a invisibilidade negra no núcleo de maior interesse da audiência infantil (o núcleo infantil) é um problema no processo de construção de identidade de meninas e meninos negros.

Permanece a construção de uma identidade de “branquitude”. Do anjo branco. Da beleza branca.

É imensurável o espaço que os meios de comunicação ocupa na sociedade brasileira.

Assim sendo, a teledramaturgia precisa estar mais atenta, uma vez que os limites entre ficção e realidade não têm fronteiras definidas, principalmente no que diz respeito à infância.

A telenovela não acaba quando o controle remoto é acionado. Pelo contrário, durante os meses que está no ar, desperta interesse e envolvimento através dos vários canais de mídia.

É assunto na escolinha. É um produto à venda, consumido não só por crianças brancas, mas também por negras.

A TV pode e deve ser mais diversa, afinal os danos causados pela difusão de uma história única podem ser irreversíveis.

CCo Public Domain

Jesus Cristo ou Bolsonaro?



A corrida presidencial já começou e o ano de 2018 promete ser quente. Alianças já estão sendo costuradas e não esperem bom senso ou lógica nas parcerias que irão se formar. Hoje tomei conhecimento de que o deputado federal Jair Bolsonaro declarou que busca o apoio do pastor Silas Malafaia para chegar ao planalto. Segundo matéria publicada no jornal Extra, o mito ideológico dos desesperados diz que há dez anos mantêm uma relação de amizade com Malafaia, a quem classificou como um cara excepcional.
Por Nêggo Tom, no 247

Mas por que o apoio de um pastor evangélico é tão importante para um candidato à presidência? E logo um candidato que se declara favorável a pena de morte e a tortura, pensamentos que não deveriam ser compartilhados por cristãos. Silas Malafaia já sinalizou que simpatiza com as idéias de J.B, mesmo que elas sejam o oposto dos ensinamentos de J.C, a quem ele jura que segue e obedece. E ai de quem duvidar e ousar a tocar nesse ungido do senhor. Já sabemos que Dom Silas muda de opinião e de lado de acordo com a oferta depositada na sua conta. Não se assustem se ao invés da Bíblia, Malafaia comece a recomendar a leitura do "Mein Kampf" aos seus fiéis, prometendo um Brasil puro, abençoado, próspero e livre da raça esquerdopata, a quem votar em Bolsonaro para presidente.

O deputado afirma que: "Se a gente fechar com os evangélicos, minha candidatura ganha musculatura", o que me leva a crer que ele pretende usar o segmento religioso como anabolizante para fazer crescer as suas raquíticas chances de chegar à presidência. Vale lembrar que Bolsonaro foi batizado pelo pastor Everaldo nas águas do Rio Jordão (São João Batista pira no túmulo), numa espécie de iniciação político-religiosa, visando entronizar no ideológico político-cristão dos fiéis, um novo Messias que em nome de Deus, libertará o país de todo o mal e restabelecerá a ordem, a moral e os bons costumes. E não é que o segundo nome do Capitão é Messias? Nesse caso, qualquer semelhança, é sim mera coincidência. Eu fico tentando imaginar o q ue Jesus Cristo deve achar disso.

Vale lembrar ainda, ou talvez seja melhor nem lembrar, que o provável vice na chapa de Bolsonaro é o deputado e também pastor Marco Feliciano, recentemente acusado de estupro por uma jovem seguidora sua. Nada foi provado contra o pastor e a jovem que o acusava acabou sendo taxada como louca e mito maníaca. Mito? Mania? Mas se quem tem mania de criar mitos é doente....Bom! Deixa isso pra lá! Na mesma matéria do Extra, Bolsonaro diz que só não fará barganhas para ter o apoio de Malafaia e dos evangélicos e antecipou que não abre mão de ter um General 4 estrelas no ministério da defesa e de alguém conservador para cuidar da cultura e da educação. Um censor, quem sabe?

Bolsonaro só não traçou o perfil de quem assumirá os cargos de carrasco e de torturador em seu possível futuro governo. Pretendentes ao cargo não irão faltar e temos muitos "cidadãos de bem" com competência e cheios de vontade para exercer tais funções. Apenas precisam de uma oportunidade. Talvez até algum "cristão ungido por Deus" seja escolhido para ocupar um desses cargos. O certo é que o governo Bolsonaro pode ser tanto um divisor de águas, quanto um simples embarque em mares já antes navegados, cujo naufrágio é tão certo quanto a sua não eleição.

É claro que não devemos subestimar a sua candidatura. É inegável que os simpatizantes ao seu discurso são numerosos. O assassino de Campinas era um deles. Mas será que a essa altura do campeonato, precisamos mesmo de uma mentalidade como a de Jair Bolsonaro? A cultura do ódio, o remake do "Dente por dente. Olho por olho" e a reinvenção do pau de arara, trarão de volta a paz, a justiça e a igualdade social dos quais tanto necessitamos? O cerceamento da liberdade de expressão do cidadão, por conta da vaidade e da fanfarronice de um ditador, nos fará retomar o crescimento ou nos fará retornar "10 casas" atrás no caminho do progresso das conquistas populares?

O projeto de poder dos fascistas, conta com o apoio de algumas religiões e de seus líderes midiáticos. Ávidos por glória e poder e ansiosos em transformar o Brasil numa nação de ovelhas emburrecidas, subalternas e dizimistas, eles alienam os seus seguidores e os fazem crer que Deus está por trás de suas indicações. Mas se você se considera um verdadeiro cristão, jamais votará em Bolsonaro ou em qualquer outro que tenha o apoio dessa plêiade sacana e manipuladora da fé, que deturpa os ensinamentos bíblicos em benefício próprio e atribui a si mesmo uma unção que Deus não lhes destinou e nunca lhes destinará.

Bolsonaro, além da exaltação tortura e da instituição da pena capital, prega o armamento da sociedade, o fim das políticas afirmativas e a falsa meritocracia. A mesma meritocracia que fez com que os seus três filhos seguissem a mesma carreira política do pai, sem que esse tivesse influência alguma na eleição dos mesmos. Sem ele, eles conseguiriam se eleger de qualquer forma. Apenas por méritos próprios. Sei. Uma boa parte da nossa sociedade ainda é carente de heróis e dependente de alguém que lhes conduza. Ainda que esse alguém os conduza a um precipício, onde se sacrifica a liberdade, a tolerância, o respeito às diferenças, a igualdade e a empatia com a limitação e a dificuldade do outro.

A Bíblia diz que no final dos tempos o amor de muitos se esfriará, mas eu rogo para que não esfrie tanto a ponto de se deixar orientar por Silas Malafaia e eleger Bolsonaro presidente.

O que menos queremos e merecemos, é que o apocalipse comece por aqui.

Amém?


Conheça a Trajetória Intelectual de Marc Bloch



Escrever sobre a trajetória de uma pessoa não é tarefa fácil, ainda mais quando se trata de um cânone da historiografia francesa. Mais do que apenas o autor de Apologie pour l’histoire, Marc Bloch é o símbolo de uma renovação historiográfica, que teve seu alvorecer na década de 1920, e da luta contra o nazismo na segunda guerra mundial. Mas, para além do mito, quem foi Marc Bloch?


Nascido no dia 06 de julho de 1886, na cidade de Lyon, na França, Marc Bloch foi, desde cedo, incentivado a seguir uma vida de estudos, por influência de seu pai, Gustave Bloch, um historiador especialista em epigrafia, que tinha forte apego por questões relacionadas à história romana e uma grande admiração pelo trabalho de Fustel de Coulanges[1]. Realizou seus estudos secundários no liceu Louis-le-Grand, um dos mais prestigiados de Paris, ingressando, logo em seguida, no ano de 1904, na École Normale Supérieure, uma das principais instituições de pesquisa científica na França, que, além de Marc Bloch, tem em seu histórico a passagem de outros grandes intelectuais, como Émile Durkheim, François Simiand, Lucien Febvre, Michel Foucault e Pierre Bourdieu. Marc Bloch direcionou seus estudos à História e à Geografia, formando-se em 1907. No ano seguinte foi aprovado no concurso d’Agregation d’Histoire et de Geographie,

o concurso mais alto do ensino francês ao qual os professores do segundo grau podem tornar-se professores do ensino superior”[2].

Bloch teve uma formação de primeira qualidade. Este pode ser um indício para entender o sucesso acadêmico que ele alcançou no decorrer de sua vida.

Sua carreira profissional teve início na década de 1910, quando atuou como professor no Lycée de Montpellier e no Lycée de d’Amien. Já é possível observar, neste momento, a preocupação que Bloch tinha com os métodos da história, pois foi no Lycée d’Amien que ele pronunciou sua famosa aula intitulada Critique Historique et Critique du Témoignage (Crítica Histórica e Crítica do Testemunho), na qual mostrou que a interpretação de um documento histórico é mutável.

Não demorou muito tempo para que Marc Bloch se destacasse no ensino secundário e fosse convidado para lecionar no ensino superior. Sua primeira experiência data de 1919, quando ficou encarregado do curso de História da Idade Média, na Faculdade de Letras da Universidade de Estrasburgo.

Neste período, Bloch estava terminando a sua tese de doutorado, que tinha sido interrompida por causa de sua participação na primeira guerra mundial. Ela acabou sendo publicada no ano de 1920, com o título Rois et serfs: un chapitre d’histoire capétienne. Conforme Caroline Fink,

em sua tese de doutorado, Bloch estudou o desaparecimento do servo nas regiões rurais da Ilha de França, nos séculos XII e XIII. Seu método consistiu em investigar todos os arquivos senhoriais e eclesiásticos disponíveis; o seu objetivo era produzir a primeira análise sistemática dos aspectos sociais, econômicos e legais da libertação de servos em uma zona delimitada”[3].

A partir de então, Marc Bloch iniciou uma jornada de pesquisas e publicações, alavancando sua carreira no cenário acadêmico. Foi neste ritmo que ele publicou, em 1924, uma de suas principais obras, “Os Reis Taumaturgos”, além de ser nomeado titular da cadeira de História da Idade Média, na Universidade de Estrasburgo, em 1927,  e fundar, em 1929, juntamente com Lucien Febvre, a Revue Annales d’Histoire Économique e Sociale, da qual foi diretor até 1940.

Na década seguinte, Marc Bloch se tornou professor de História Econômica na Universidade de Sorbonne, uma das principais instituições de ensino de Paris, e publicou as obras  Les Caractères originaux de l’histoire rurale française, em 1931, e o primeiro tomo de “A Sociedade Feudal”, em 1939.

Cada vez mais consolidado no cenário acadêmico, Bloch entrou na década de 1940 no auge de sua carreira. Entre os anos de 1941 e 1943 começou a redigir aquela que viria se tornar a sua obra mais conhecida, Apologia da História ou o Ofício do Historiador. Entretanto, por conta da perseguição nazista, Bloch, que era judeu, não conseguiu terminá-la, e entrou na clandestinidade, aderindo ao movimento Franc-Tireur. Infelizmente, no dia 8 de março de 1944, Marc Bloch foi preso e torturado pela Gestapo, sendo assassinado em 16 de junho de 1944, na cidade Saint-Didier-de-Formans.

Marc Bloch morreu como um mártir, um símbolo da luta contra a crueldade e a intolerância praticada pelo nazismo. Embora seja passível de crítica, como qualquer obra, seu trabalho influenciou gerações de historiadores e, sem dúvida, continua influenciando até os dias atuais. Para terminar este breve texto, compartilho um trecho de sua obra Apologia da História:

(“O passado é, por definição, um dado que nada mais modificará. Mas o conhecimento do passado é uma coisa em progresso, que incessantemente se transforma e aperfeiçoa”).

REFERÊNCIAS

BLOCH, Marc. Apologia da história ou O ofício de historiador. Rio de Janeiro: Zahar, 2002.

DELACROIX, Christian; DOSSE, François; GARCIA, Patrick. Correntes históricas na França: séculos XIX e XX. Rio de Janeiro: Ed. da FGV, 2012.

DUBY, George. BLOCH, Marc (1886–1944). Encyclopædia Universalis. Disponível em: https://goo.gl/sz0btN

DURKHEIM, Émile. Evolução Pedagógica. Trad. Bruno Charles Mange. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.

ÉCOLE NORMALE SUPERIEUR. Disponível em: https://goo.gl/7TBBUo

FINK, Caroline. Marc Bloch: une vie au service de l’histoire. Lyon: Pul, 1997.

MARC Bloch et L’Étrange Défaite – Repères chronologiques. Disponível em: https://goo.gl/OhHrW4

NOTAS

[1] Fustel de Coulanges foi um dos grandes nomes da historiografia francesa do século XIX. Sua principal obra, A Cidade Antiga, é editada até os dias atuais. Para conhecer mais sobre a sua trajetória, leia: HARTOG, François. O Século XIX e a História: o Caso Fustel de Coulanges. Rio de Janeiro: Ed UFRJ, 2002.

[2] DURKHEIM, Emile. Evolução Pedagógica. Trad. Bruno Charles Mange. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995, p. 3.

[3] Tradução livre do trecho: “Dans sa thèse de doctorat, Bloch cherche à étudier la disparition du servage dans les régions rurales de l’Île-de-France, aux XII° et XIII° siècles. Sa méthode est d’enquêter dans toutes les archives seigneuriales et ecclésiastiques disponibles; il espère produir la première analyse systématique des aspects sociaux, économiques et légaux de l’affranchissement dans une zone délimitée”. FINK, Caroline. Marc Bloch:une vie au service de l’histoire. Lyon: Pul, 1997. p. 42.