Historiadores Pela Democracia - “O golpe de 2016: a força do passado”




O movimento “Historiadores Pela Democracia”, com mais de 5000 membros no facebook, nasceu da ideia de reunir os profissionais de história que vinham se manifestando publicamente para tentar barrar o golpe branco ora em andamento no país. No último dia 7 de junho, mais de 40 historiadores profissionais, entre professores titulares das mais diversas universidades de todo o país e jovens profissionais de história, viajaram por conta própria à Brasília onde foram levar solidariedade e um vídeo manifesto à Presidente afastada Dilma Rousseff, no Palácio da Alvorada.
Publicado originalmente no Carta Maior

No manifesto em vídeo, de 7 minutos, muitos depoimentos endossam a hipótese do golpe parlamentar, jurídico e midiático, enquanto outros reafirmam os riscos à democracia e aos direitos inscritos na Constituição de 1988 representados pelas políticas implementadas pelo governo interino. Outros, ainda, afirmam a necessidade do engajamento dos intelectuais na disputa pela narrativa dos atuais eventos políticos. Heloisa Starling e Lilia Schwarcz, autoras do celebrado livro Brasil: Uma Biografia, estão no vídeo, que abre e fecha com depoimentos por e-mail de Sidney Chalhoub, da Universidade de Harvard e de João José Reis, da UFBA, atualmente pesquisador visitante em Berlim, ambos pesquisadores da sociedade escravista brasileira. Laura de Mello e Souza, professora titular de História do Brasil da Universidade de Sorbonne, em Paris, abre os depoimentos em vídeo.

Nas duas semanas que antecederam o encontro no Alvorada, mais de 80 historiadores gravaram em vídeo seu apoio à presidenta eleita por mais de 54 milhões de votos, acessíveis no tumblr Historiadores Pela Democracia. Muitos são apoios críticos, mas todos guardam em comum a defesa da legalidade democrática e do mandato de Dilma Rousseff. O conjunto de depoimentos está na base da edição do vídeo manifesto.

Professora Titular de História do Brasil na UFF, coordenei a iniciativa do vídeo e do encontro presencial, como editora do blog conversa de historiadoras, blog que publicou muitos dos textos a partir dos quais surgiu o movimento “historiadores pela democracia”.

No Alvorada, encontraram-se com a Presidenta alguns dos principais historiadores brasileiros. Estre eles, especialistas em todas as áreas da disciplina, com ênfase na história do Brasil e da América Latina, na história do tempo presente e, não por acaso, na história da escravidão no Brasil e das heranças e traumas que nos foram legados por este passado. São muitos os historiadores que vão buscar a raiz da crise atual na nossa formação colonial e escravocrata, que fez da lógica do privilégio base da cultura política brasileira. Tânia Bessone, da UERJ, representou a diretoria da Associação Nacional de História e James Green, da Universidade de Brown, nos Estados Unidos, também estava entre os presentes.

Dilma Rousseff abriu o encontro com uma fala em defesa da democracia de cerca de meia hora realmente memorável. O encontro no Alvorada foi ao ar ao vivo e pode ser visto na web. Durante as falas dos historiadores, foi entregue a ela a serigrafia em tela “#Democracia” e uma carta do seu autor, o artista visual André de Castro. Depois da cerimônia, Dilma confraternizou com todo o grupo e conversou longamente com James Green sobre o seu próximo livro, uma biografia de Herbert Daniel, que foi amigo pessoal da Presidenta.

O encontro no Alvorada foi precedido de um debate na UNB. Durante o debate, decidimos publicar em livro os diversos textos que deram origem ao movimento, por enquanto com o título provisório: “O golpe de 2016: a força do passado”.




Informações em Foco supera os um milhão de acessos: Gratidão é a palavra chave



O dia 12 de junho não foi só o dia dos namorados. Foi também o dia de uma marca histórica, pois o nosso blog – Informações em Foco – superou a marca de um milhão de acessos.

Ao longo desses cinco anos de atuação constante na rede mundial de computadores, nunca usamos do sensacionalismo e do elitismo para adquirir acessos. O nosso único objetivo como bem demonstra o painel do blog é estar A SERVIÇO DA CIDADANIA e, para tanto, sempre buscamos oportunizar os menos favorecidos, os que por algum motivo não tem voz através da comunicação. Esta (Comunicação) que consideramos uma das principais armas contra a homofobia, misoginia, racismo, conservadorismo, elitismo, enfim... contra as mais diversas formas que corroborem para perpetuar as desigualdades sociais. E é exatamente por pensar assim que além das nossas lutas diárias em vários espaços de poder, seja na escola ou na rádio, resolvemos há cinco anos colocar esse portal como mais uma das ferramentas nessa luta de classe onde estamos do lado dos oprimidos na busca permanente por fazer com que cada vez mais pessoas se sintam parte e se sintam principalmente empoderados/@s.

Por fim, queremos externar a gratidão aos nossos colaboradores (as), parceiros (as) e a cada um que dedica um pouco do seu tempo para nos acompanhar através do Informações em Foco.




20 Anos de advocacia do altaneirense Raimundo Soares Filho


O jurista Raimundo Soares Filho, conhecido entre amigos e familiares por Dr. Soares ou ainda por Deurisberto, usou a rede social facebook para externar a alegria de completar duas décadas no ramo da advocacia.


Formado pela Universidade Regional do Cariri (URCA), Soares que, também é blogueiro, passou a figurar no imaginário dos conhecidos e dos próximos a ele pelas redes sociais pela defesa eloquente de suas convicções ideológicas. Foi, como já tivemos a oportunidade de registrar aqui mesmo no Informações em Foco, um estrategista importante nas campanhas eleitorais, sendo um dos principais símbolos nesse quesito sua contribuição nas últimas campanhas eleitorais do grupo oposicionista em Altaneira, hoje responsável pela administração municipal.

Na pequena nota (junto a ela uma foto da carteira da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB), mas carregada de simbolismo e amor pela profissão, Soares faz questão de afirmar que nessas duas décadas como advogado nunca acumulou riquezas e nem patrimônio, mas que buscou pautar seu trabalho na ética, na defesa dos princípios legais e no respeito aos clientes e colegas de trabalho.

Dezenas de amigos e amigas teceram comentários elogiosos. A professora Socorro Lino afirmou .... “Parabéns. E que tenhas saúde e paz para os anos que virão. Sucesso!”. No mesmo sentido o fez a professora Valneir Costa... “Parabéns Dr. Deus lhe conceda muitos anos de sucesso”, disse. “A cada dia tenho a convicção que é um grande exemplo a ser seguido”, foi o que frisou a também professora Cícera Pereira. “Parabéns Dr, que a ética e os bons costumes continue a pautar sua trajetória”, ressaltou Edglê Arrais. Francisco Chagas preferiu pautar na mesma linha de Edglê ao comentar “Parabéns Dr. permaneça sempre preservando á ética, moralizando esta brilhante Instituição”. O ex-secretário de governo de Altaneira, Dariomar Soares afirmou ter orgulho do caráter e da honestidade de advogado. “Parabéns, tenho muito orgulho do caráter e de sua honestidade e competência, mantenha sempre este seu jeito honesto e verdadeiro de ser. Paz e Bem”, concluiu. “Parabéns. Se não acumulou riquezas materiais, com certeza acumulou o respeito e a admiração daqueles que tiveram o prazer de conhecê-lo. Desejo tudo de bom pra você, inclusive o mais que merecido "sucesso financeiro", foi o que escreveu Eliovan Alencar. 

Atualmente Soares é consultor jurídico no município de Penaforte, estado do Ceará. Mas já exerceu a função de Secretário de Governo em Altaneira no ano de 2011.

Confirma a nota na íntegra

Comemoro hoje (11/06) 20 anos de Advocacia.
Ao longo desse tempo não acumulei riquezas, nem patrimônio, mas busquei pautar o meu trabalho na ética, na defesa dos princípios legais e no respeito aos clientes e colegas de trabalho.
Que seja assim nas próximas duas décadas”.

Clique aqui e saiba mais sobre Raimundo Soares Filho


“Caio Prado Júnior - uma biografia política”, por Luiz Bernardo Pericás



Um dos mais importantes pensadores marxistas brasileiros, o historiador Caio Prado Júnior, ganhou uma biografia de fôlego neste ano. O professor da Universidade de São Paulo (USP) Luiz Bernardo Pericás escreveu, pela Editora Boitempo, “Caio Prado Júnior - uma biografia política”.
Publicado por Bruno Pavan no Caro Amigos

Nascido em uma família influente política e economicamente de São Paulo, Caio Prado Júnior escolheu o caminho do comunismo, fato que não foi bem aceito nem pelos seus familiares, nem pelos seus vizinhos de Higienópolis. “Teve casos em que a Danda, filha mais velha dele, tomava pedradas na rua, além de pessoas que jogavam cruzes em chamas na casa dele”, lembra Pericás.

Caio foi um dos primeiros marxistas brasileiros. Isso quer dizer que ele não se preocupava em contar a história do Brasil de forma linear, em torno dos grandes nomes e períodos, mas pela ótica dos explorados.

Sua hipótese principal é que o Brasil foi pensado como uma grande empresa agroexportadora, com grande concentração de terras e produção pensada exclusivamente para o mercado externo. Para Pericás, a realidade ainda não mudou tanto da primeira metade do século até agora.

Hoje você tem um processo de desindustrialização e reprimarização da indústria brasileira, que é o fenômeno que ele criticava. Ao invés de estarmos avançando, nós estamos num período que muitos chamam de regressão colonial”, critica.

Confira a entrevista na íntegra:

Como foi a aceitação do Caio comunista dentro da sua família e nas próprias fileiras do partido?

Uma parte da família nunca aceitou seu ingresso no PCB. Foi uma decisão muito dura. Houve casos em que a Danda, sua filha mais velha, levou pedradas na rua. Pessoas jogavam cruzes em chamas na casa dele em Higienópolis.  Dentro do partido, ele também teve problemas: de um lado, Caio Prado Júnior era visto como oriundo da elite; de outro, muitos não gostavam de sua posição teórica, bastante independente. Apesar disso, ele permaneceu no partido a vida inteira, ao contrário de outros camaradas, que foram expulsos ou saíram por conta própria. O Comitê Regional do PCB de São Paulo, em 1932, chegou a ameaçar Caio de expulsão mas ele acabou permanecendo na agremiação.

Formação do Brasil contemporâneo é uma das obras essenciais para entender o Brasil. Quais as diferenças entre a obra dele e Raízes do Brasil (Sergio Buarque de Holanda) e Casa-grande & senzala (Gilberto Freyre)?

Caio, de um lado, está inserido no cânone dos intérpretes “clássicos” do Brasil. Por outro, também está dentro da tradição marxista: é um pioneiro na utilização do materialismo histórico no País. Ele não faz uma história somente narrativa, encadeando os fatos (e na qual as instituições e os grandes nomes são protagonistas), mas utiliza o método dialético para entender a nossa realidade, dando centralidade aos setores marginalizados. Sua análise do sentido da colonização é uma inovação, já que trabalha as especificidades do Brasil e fornece subsídios para entender a realidade de seu tempo. No fundo tudo o que Caio faz é tentar entender o passado para atuar no presente; e ele compreende que essa particularidade brasileira está vinculada ao comércio mundial, ao mercado externo. Chega até a discutir o imperialismo e sua penetração no Brasil. Caio não é o primeiro marxista brasileiro, mas é talvez o primeiro a escrever um livro de fôlego, mais sofisticado que os anteriores. Então tudo isso já diferencia muito sua análise em relação a Freyre e Buarque de Holanda.

E no que consistia essa nova interpretação?

Para Caio, o Brasil não foi constituído como uma nação, mas quase como uma empresa, com grandes propriedades e produção voltada para o mercado externo. Não há interesse em se construir nem uma população politicamente ativa, dona de seu destino, nem o próprio mercado interno no País.  Portanto, é preciso transformar essa experiência histórica, do grande latifúndio e da escravidão, e transitar para outra, de real transformação das relações sociais e ulterior conscientização política das massas. Tudo isso deve ser levado em conta em um processo de longo prazo, que desembocará, teoricamente, no socialismo. Diante disso, as questões serão colocadas e terão de ser respondidas. Depois de resolvidas, novas questões irão surgir e assim por diante.  É nesse processo que se desenvolve a revolução, dialeticamente, de forma gradualista, mas sempre com uma visão popular e democrática.

Como seria a visão do Caio do País de hoje?

A situação do Brasil de hoje seria muito criticada por Caio. Há aumento de concentração de terra.  As grandes propriedades voltadas para exportação, com produtos mais rentáveis para o mercado externo, imperam. Ainda não há democratização da terra, nem a modificação profunda da estrutura agrária.

E a reação de Caio ao golpe de 1964, como se deu?

A primeira reação dele foi ir com o Elias Chaves Neto para a periferia de São Paulo e ver como estava se dando a reação dos trabalhadores ao golpe. Ali não notou nenhuma grande mudança: todos, aparentemente, trabalhavam como de costume. Depois ele, Elias e Paulo Alves Pinto pensaram ir até o Sul do País, onde talvez pudessem resistir; mas, na divisa com o Paraná, desistiram de seguir adiante e voltaram a São Paulo.

Naquele período, ele continuou encabeçando a editora Brasiliense. Mas vale lembrar que a Revista Brasiliense foi fechada e que ele foi detido e indiciado por publicar livros com textos e discursos de Fidel Castro. Logo no início da ditadura, por exemplo, Caio Prado Júnior foi preso junto com seu filho Caio Graco.  Costumava ser acusado de publicar livros “comunistas”. Em 1969, o historiador passa alguns meses no Chile, retorna ao Brasil e em 1970, é novamente preso. No cárcere, escreve o texto sobre Levi-Strauss e sua crítica a Althusser. Depois de libertado, no segundo semestre de 1971, já não tem mais qualquer militância direta no partido.

Ele tem alguma crítica à postura do PCB nessa época?

Caio criticou em A revolução brasileira a questão dos resquícios “feudais” ou “semifeudais” na estrutura agrária brasileira e o suposto “reboquismo” do PCB.  O que não quer dizer que ele tivesse a solução para todos os problemas. Ele não discutiu de forma clara a questão da tomada do poder, por exemplo.  Essa é uma das questões que ele deixa em aberto: Caio fala de processos, mas não como se assenhorar do poder.


Como é a retirada de Caio da vida pública?

O PCB sofre muito nessa fase da ditadura, nos anos 70. Depois que o governo militar destruiu boa parte da guerrilha urbana e rural, ele se volta contra o partido, que, por sinal, não apoiava a luta armada. Na época em que Caio sai da prisão, boa parte das lideranças vai para fora do País. No final daquela década, ele mantinha contato com gente que lutava pela redemocratização, estava presente em comícios das “Diretas Já”; mas, àquela altura, era um senhor de idade. Sua participação, portanto, era apenas marginal.  É naquele momento que começaram a surgir os primeiros sinais do Mal de Alzheimer. A partir de 1985, ele sai de cena de vez, por causa da doença e morre em 1990.

O que a esquerda hoje pode aprender com Caio Prado Júnior?

Primeiro, a fazer um diagnóstico correto da realidade. O que se vê hoje são colunistas da imprensa sem qualquer profundidade, que apenas fazem análise de conjuntura. Já  Caio, para entender sua época, precisava ir lá atrás. No caso dele, até o período colonial, coisa que os comentaristas de hoje não fazem.

Depois é a avaliação do papel do Brasil como exportador de commodities (quadro que estamos vendo há vários anos). O processo de desindustrialização e reprimarização da indústria brasileira é um fenômeno que ele certamente criticaria. Ao invés de estarmos avançando industrialmente, entramos num período que alguns chamam de “regressão colonial”.

Além disso, a concentração de terra, avanço dos setores da direita sobre os trabalhadores, criminalização dos movimentos sociais, assassinatos no campo e retirada de garantias sociais dão o tom no momento. É um Brasil arcaico retornando com esse novo grupo golpista no poder. Ele criticaria o atual quadro do País.  E, por certo, defenderia que a luta precisa ser feita pelos próprios trabalhadores. Em outras palavras, eles próprios necessitam construir suas ferramentas de luta.

Finalmente, a questão da legitimidade do poder e da democracia. Ele acreditava na democratização da política, na construção de uma estrutura democrática e popular. Quem olha hoje para o Congresso brasileiro vê poucas mulheres, poucos negros, poucos representantes dos movimentos do campo.  O que se vê são homens, brancos, conservadores, representantes do agronegócio, da grande mídia e dos monopólios. Esse pessoal mostra que a composição da política institucional está longe de ser democrática e popular.

Como foi  importante para ele ser militante e historiador ao mesmo tempo?

Dentro do marxismo, os intelectuais sempre desempenharam um papel militante. Marx, Engels, Lenin e Trotsky, por exemplo, eram ao mesmo tempo militantes e intelectuais. Mariátegui e Che também. Dentro do PCB isso não seria diferente.  Há importantes teóricos no partido, Caio talvez fosse o mais sofisticado entre eles.


Mulheres viram as costas para Feliciano quando este diz não existir cultura do estupro



O Deputado Marco Feliciano, com mandato pelo Partido Socialista Cristão (PSC/SP) não cansa de expor seu conservadorismo, a homofobia, o racismo e o machismo.

O caso mais recente se deu em debate na Câmara dos Deputados nesta quinta-feira (09),onde mulheres representantes da sociedade civil viram as costas para ele quando ao reivindicar seus 10 minutos de fala, ousou dizer que "não existe cultura de estupro no Brasil".

A página do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) na rede social facebook foi uma das primeiras a noticiar o fato que em se tratando de Feliciano não nos surpreende. Mas, ainda assim cabe perguntar - Em que país você vive, Feliciano?


Feliciano diz não existir cultura do estupro no Brasil e mulheres lhe viram as costas. Foto: Mídia Ninja.









Foucault, Deleuze e um diálogo para recordar


Em conversa com Deleuze, Foucault dizia (o que já havia dito em seus livros anteriores, sobretudo em “A defesa da sociedade”) que as lutas antijudiciárias provêm sob o ódio que o povo tem da justiça, das prisões e, portanto, não são contra as injustiças, mas contra o poder. Isso Deleuze viria a completar, com relação à circulação nos jornais, dizendo que o que se encontra na realidade, por exemplo, dentro de uma escola ou de uma prisão, é muito diferente do conteúdo da informação midiática circulante em sua grande parte.

Por Iana Pires*, no Algo Interessante

Hoje notamos um impacto no discurso das pessoas, com destaque para as da classe média, que o inscreve num posicionamento que, como desde há meses, defende a redução da maioridade penal, o apoio a atitudes antidemocráticas, como impeachment da presidente Dilma ou a comportamentos fascistas da polícia militar, entre outros. Desse impacto, as mídias se fazem valer manobrando as deficiências e a falta de clareza da população com relação aos manejos de poder.

De modo mais primitivo, não há clareza sobre a exploração imanente ao sistema capitalista, porque este é o sistema do não-dito, apesar de sabermos quem são as empresas que mais lucram e quem são essas mãos que recebem os lucros. O jogo de poder é difuso, escondido, por isso o discurso das lutas se opõe ao segredo e este é difícil de escavar. Então, o que ocorre com as pessoas que não têm tanto interesse no poder, mas o seguem, o agarram com força e mendigam uma parcela dele? Talvez porque exista o desejo de investimento, nascido do sistema e também alimentado por ele, o que justifica que a população desejou o fascismo em algum momento. Assim, as pessoas conduzidas pelo desejo que modela o poder, e que investem nesse desejo, no sentido econômico, se permitem de maneira confortável ser manejadas pelas mídias amigas do sistema. Essas mídias, por sua vez, também produzem informações de modo mais confortável, que lhe assegurem adesão a seus propósitos articulados ao poder. Portanto, o desejo material, que confere a uma pessoa algum grau de destaque na sociedade, favorece os manejos de poder, caminhando com o conforto do irrefletido, e explica porque esse mesmo poder se encontra tanto na polícia como no Estado.

Assim, as manobras de poder são retroalimentadas pela própria sociedade. Quando pensamos nas mídias como veículo de manipulação dos enunciados da informação, sejam elas televisivas, radiofônicas, impressas ou da internet, faz-se necessário despir das ideologias (ou ao menos fazer esforço para), reconhecendo-se como sujeito quase sempre portador de um direcionamento político. É necessário sair da ilha para ver a ilha, uma vez que os limites delineados pelas direções políticas tornam as informações nebulosas e, com isso, mais confortáveis para serem adotadas superficialmente.

Mas onde, afinal, encontramos os outros veículos de informação que têm a preocupação de refinar a fidelidade à informação? Essas mídias, raras, existem concentradas na internet, mesmo que ainda em processo de refinamento e amadurecimento, pois é comum trazerem resíduos da parcialidade ou da tendenciosidade. Mas elas trabalham com o esforço para trazer a informação com embasamento intelectual, confrontada com os questionamentos teóricos e históricos. Em geral, por isso, seus textos são mais extensos, de modo a desenvolver reflexão coerente, escavando os fatos, os enunciados e as motivações, com o cuidado de afastar as tendências especulativas totalmente.

Bem, termino com uma inquietação óbvia, mas não menos nebulosa: Embora existam as mídias críveis, ainda assim a grande parte das pessoas não está interessada nesses veículos de informação em sua proposta de verdade. É comum, mas não pode ser tratado como normal. É mais confortável, mas não menos grave. Aliás, gravíssimo.


*Iana Pires é mestra em ciências pela USP e pesquisadora

Deleuze (Esqu) e Foucault.

O deus branco que nos perdoe, por Luara Colpa*



Estamos em 2016, 128 anos pós Lei Áurea.

Há alguns meses cinco garotos foram brutalmente fuzilados, o que motivou a escrever este texto. Esta semana um garoto de 10 anos foi assassinado. Todos os dias eles são executados. Todos os dias. E o que tem em comum?

A negritude.
Publicado originalmente no Negro Belchior

Estou a parir meu filho preto.

Na maca onde a enfermeira impaciente empurra minha barriga. Me livro da dor pensando em seu futuro. De uniforme e banho tomado ele desce a ladeira:

– Cuidado ao atravessar a rua! (Ele olha pra trás e sorri)

– Não esquece a merendeira hein filho? – Tá mãe!!

– Esteja bem vestido (para não te confundirem … com ladrão).

– Não erga a cabeça pro polícia.

Vou franzindo a testa e abaixo o tom de voz:

– Ande com carteira de Trabalho no bolso e apresente-a sempre que abordado.

– Se quiser ter o cabelo colorido, será confundido com bandido. Se quiser homenagear seus ancestrais e fazer dreads e penteados, será chamado de vagabundo.

– Você poderá apanhar na cara – Por que mãe? Porque sim, Não revide

– Você sofrerá revistas vexatórias todas as semanas da sua vida. Porque sim.

– Você será chamado de macaco, “esse preto”, “de cor”.

– Não ande em grupos pra não ser confundido com arrastão.

– Estude filho, vão falar que as cotas o salvou, que é incapaz. Não dê ouvidos à eles.

– Se você se esforçar muito no trabalho, será chamado de “moreninho até que esforçado” e mesmo que te explorem e expurguem, e que seu salário seja menor que o de todos – usarão seu exemplo, pra justificar a Meritocracia canalha que nos imputam.

– Em qualquer furto na empresa você é o suspeito, filho. Sim.

– Você será mal visto o resto da sua vida na família da sua namorada branca. Porque sim também…

Sua mãe vai sofrer violência obstétrica no hospital. Porque é preta. Você vai nascer na contramão da vida. Porque alguma igreja um dia disse que não tínhamos alma.

Que nossa cultura era inferior, e mediram nossos dentes e nossas canelas. E nos deram um terço pra tentarmos nos redimir de termos nascido nessa cor.

Quando acharam oportuno, vestiram nossos turbantes e se apropriaram da nossa capoeira. Quando não nos queriam mais, nos forjaram “livres” na Lei do sexagenário. E então fomos expulsos da escravidão para a escravidão real.

Aqui estamos. Somos a história dos centros urbanos, filho. Fomos expulsos do modelo de cidade e do convívio entre pessoas. Nunca fomos pessoas.

Da periferia pra periferia seguimos, expurgados.

Não nos perguntaram onde construímos nossa vida, nossa raiz. Somos sem estória. A cada despejo fomos para a região metropolitana que nos colocavam. Em cada plano de habitação que meia dúzia de engomados brancos escreveram, fomos encaixotados nos predinhos de 40m². Bem longe. Longe dos olhos dos gringos.

Taparam nossas casas com tapumes pra Copa do Mundo. Botaram camburão na nossa quebrada, pra nos lembrar que desde “o fim” da escravidão, não sabem o que fazer pra tampar nossa existência.

Vão te dizer que mesmo em Estado de Sítio, você tem direito à ir e vir no seu país (que seus ascendentes construíram lajota por lajota.. paralelepípedo por paralelepípedo).

Mas você será executado à luz do dia filho. Na porta de casa. E eu vou lavar seu sangue.

Você será metralhado, “confundido”. Você e seus amigos pretos. Porque sim. Porque fazem parte da parcela da população que tem que ter regras pra estar vivo. Que é achincalhado desde o nascimento.

Nos exterminarão todos os dias, todos os dias “um crime isolado”.

E jogarão a culpa no policial noiado, no indivíduo sob pressão, na legítima defesa. A sociedade não reconhecerá que são todos cúmplices da sua morte.

Eles estão certos, agem em “legítima defesa”. Te avisei pra não sair sem a carteira de trabalho filho. Aliás, nem deu tempo de mostrar né? Te avisei pra não encarar o polícia…. Também não precisou. É, não deu tempo.

Vamos entrar pra estatística filho.

Eles só têm a televisão. Só tem a visão longínqua e deturpada do que somos. Eles desligarão a TV quando incomodar. Eles não sabem de mim, nem de você.

Só mais uma mulher sozinha parindo sob violência.

Só mais um preto metralhado. O Deus branco que nos perdoe, somos sem alma.
___________________________________________________________________________

Luara Colpa é brasileira, tem 28 anos. É mulher em um país patriarcal e oligárquico. Feminista e militante por conseguinte. Estuda Direito do Trabalhador e o que sente, escreve.

Luara Colpa





Altaneira foi a capital do ciclismo neste domingo (05)


Com uma premiação de mais de R$ 4.000 reais e medalhas para todos os participantes, o município de Altaneira foi a capital do ciclismo de montanha na manhã deste último domingo, 05 de junho ao realizar a III edição do Desafio 3 Horas de MTB.

O evento contou com a participação de 61 competidores divididos em nove categorias, a saber - I – Junior (de 14 a 17 anos); II - Sub 23 (de 18 a 23 anos); III - Sub 30 (de 24 a 29 anos); IV - Master A (de 30 a 39 anos); V - Master B (de 40 a 49 anos); VI - Master C (acima de 50 anos); VII – Feminino (todas as idades); VIII - Turismo Feminino (todas as idades); IX - Ecoturismo: todas as idades, de municípios próximos, de quatro estados vizinhos e da própria localidade.

Segundo Raimundo Soares Filho, do Blog de Altaneira e organizador da competição as novidades deste ano é que a disputa ocorreu exclusivamente no circuito da Trilha Sítio Poças, com extensão de 4.600 metros. A cronometragem foi feita através de um moderno sistema de chips que possibilitou mais segurança, confiabilidade e rapidez na hora de apuração (cronometragem do tempo de cada Dhiogo Correia, da equipe Beto Ciclo, do município de Crato com um tempo de 03h04mim (03:04:41:919), segundo o Cronos Cariri, foi o campeão do desafio, seguido de perto por Ruan Jacinto Martins(Bicicletaria K&A) e João Vidal Saraiva com tempos de 03h06mim e 03h15mim, respectivamente e todos com um total de 11 voltas completadas.

Entre os altaneirenses, Lindevaldo Ferreira (TSP/Mega Som) que na categoria “Sub 23” conquistou o primeiro lugar com um tempo de 03h00 e 09 voltas completadas. O segundo lugar ficou com Evandro Laurentino (TSP/Mega Som) com a mesma quantidade de voltas e um tempo de 03h12mim. Na mesma categoria, Jonathan Soares Lima lacrou a medalha de prata com sete voltas e um tempo de 03h04mim.


Ciclistas antes do Desafio 3 horas MTB de Altaneira. Foto: Anchieta Santana.