Segundo estudo, homicídios de negras aumentam quase 20% e de brancas caem 12%




Entre 2003 e 2013, a taxa de homicídios de mulheres negras no Brasil aumentou 19,5%, enquanto a taxa de homicídios contra mulheres brancas caiu 11,9%. Os dados são do estudo Mapa da Violência 2015 – Homicídios de Mulheres divulgado nesta segunda-feira (9) e produzido pela Flacso (Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais). Em 2013 (dados mais recentes disponíveis), 7,8 mulheres negras foram assassinadas todos os dias. Em geral, a taxa de homicídios cometidos contra mulheres no Brasil cresceu 8,8% no mesmo período.


De acordo com o estudo, em 2003, a taxa de homicídios de mulheres negras no Brasil era de 4,5 para cada 100 mil habitantes. Onze anos depois, em 2013, a taxa subiu para 5,4/100 mil habitantes. Em contrapartida, as taxas de homicídios de mulheres brancas caíram de 3,6/100 mil habitantes em 2003 para 3,2/100 mil habitantes.

Para o coordenador do estudo, Julio Jacobo Waiselfisz, a discrepância entre as mortes de mulheres negras e brancas é resultado de pelo menos três fatores: terceirização da Segurança Pública, politização da temática da segurança e o racismo.

Na prática, a população branca que tem mais recursos paga por uma segurança extra. Isso acontece nas lojas, nos shoppings para onde esse público vai. Na realidade, a população branca acaba tendo acesso a duas formas de segurança: a do Estado e a privada”, explica Jacobo.

O pesquisador diz ainda que a segurança pública virou um tema muito caro aos políticos e que isso influencia a tomada de decisões dos gestores.




Quando uma empresária branca morre em um bairro nobre, a consequência imediata é que mais policiais são deslocados para aquela área como uma forma de atender ao clamor da opinião pública. O mesmo não acontece quando uma mulher negra é morta em uma favela. Essa politização da segurança gera distorções”, afirmou.

Para Jacobo, o racismo é o terceiro elemento que ajuda a explicar a diferença entre os índices de homicídios contra mulheres negras e brancas.

No Brasil, nem há tanta cordialidade e nem há a tal democracia racial que se prega. Há um coquetel onde o negro e a negra são mais visados no quesito violência. Isso se observa não apenas com relação às mulheres. Em geral, a população negra é mais afetada pela violência e isso, claro, vai atingir as mulheres.

Em relação aos dados totais da pesquisa, o estudo revela que entre os anos de 2003 e 2013 foram mortas 46.186 mulheres. Desse total, 25.637 eram negras, ou 55%. As mulheres brancas assassinadas no período foram 17,5 mil, ou 37% do total.

De acordo com o estudo da Flacso, o Estado com a maior taxa de homicídios contra mulheres negras em 2013 foi o Espírito Santo, onde o índice chegou a 11,1/100 mil habitantes. O Estado com a menor taxa é São Paulo, com 2,7/100 mil habitantes. Em relação às mulheres brancas, o Estado mais violento para elas em 2013 foi Rondônia, onde a taxa chegou a 6,4/100 mil habitantes. O Estado mais seguro para mulheres brancas, segundo a pesquisa, foi Roraima, onde a taxa foi zero.

O estudo critica a impunidade nos casos de homicídios contra mulheres e diz que ela incentiva a violência contra a mulher.

Se a impunidade é amplamente prevalecente nos homicídios dolosos em geral, com muito mais razão, pensamos, deve ser norma nos casos de homicídio de mulheres”, diz o estudo.

A normalidade da violência contra mulher no horizonte cultural do patriarcalismo justifica, e mesmo autoriza que o homem pratique essa violência, com a finalidade de punir e corrigir comportamentos femininos que transgridem o papel esperado de mãe, de esposa e de dona de casa”, registra o documento.


Não consegui ler por completo o livro mais famoso de minha mãe, diz filha de Carolina de jesus



15 de julho de 1955 – Aniversário de minha filha Vera Eunice. Eu pretendia comprar um par de sapatos para ela. Mas o custo dos gêneros alimentícios nos impede a realização dos nossos desejos. Atualmente, somos escravos do custo de vida. Eu achei um par de sapatos no lixo, lavei e remendei para ela calçar...” Trecho de abertura do livro O Quarto de Despejo, 1960

As lembranças da infância na favela do Canindé, zona norte de São Paulo, ainda emocionam a professora Vera Eunice de Jesus Lima, 61 anos. Filha de Carolina Maria de Jesus (1914-1977), uma das primeiras escritoras negras do Brasil, ela contou que nunca conseguiu ler por completo o livro mais famoso da mãe, Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada. “Leio pedaços. Começo a ler, leio, abro. Não é um livro que consigo ler na sequência”, disse.


Lançado em 1960, o livro foi um grande sucesso na época, ao reunir os relatos da vida na favela – um universo que começava a surgir nas cidades brasileiras – e revelar o cotidiano simples e forte de uma mulher negra, catadora e mãe de três filhos, que escrevia nos cadernos que encontrava no lixo. Carolina estudou apenas um ano e meio na escola formal, mas mantinha o hábito da leitura.

Carolina Maria de Jesus. Foto: Audálio Dantas.

A conversa com a professora ocorreu durante uma visita à exposição Carolina em Nós, no Museu Afro Brasil, na capital paulista. Ela estava acompanhada de alunos de ensino médio de uma escola pública na qual leciona. Os estudantes não desconfiavam, contudo, que a própria professora era filha da homenageada. “Eles estão aí e olham para mim, não estão entendendo, porque não sabem [que sou filha dela]. Estão andando e não entendem o que acontece”, disse. Ela informou que a ideia é trabalhar o tema da consciência negra em novembro com os estudantes, quando a origem de Vera será revelada. “Será uma surpresa”, afirmou.

Desde o ano passado, muitas organizações e movimentos, especialmente de cultura e de mulheres negras, estão prestando homenagens a Carolina Maria de Jesus pelo centenário de nascimento da escritora, que também gravou discos. No depoimento de Vera, é possível aproximar um pouco do universo de Carolina e conhecer mais sobre sua vida, obra e personalidade.

O centenário

"Até eu estou assustada com a repercussão [das comemorações do centenário] e de como os negros estão valorizando a Carolina, porque estão se espelhando nela. Tem várias Carolinas agora que também estão escrevendo, estão procurando mais o lado da cultura. Como uma pessoa que nasce como ela nasceu, lá na casa de sapê, pau a pique, consegue chegar onde ela chegou, sendo conhecida mundialmente?", questionou Vera.

Carolina viveu altos e baixos. Ela sofreu demais em Minas Gerais. Depois veio para cá, ficou na favela, foi tendo os filhos e quando o Audálio [Dantas, jornalista] descobriu o Quarto de Despejo [publicado a partir dos diários pessoais de Carolina], que lançou o livro, ela ficou no auge. Diz que nunca houve nem haverá uma escritora no Brasil para vender mais livros como ela vendeu em uma semana. Depois,  ficou meio afastada, foi a época em que ficou esquecida e agora, no centenário, ela explodiu.

A mãe e a escritora

Era uma mulher forte, determinada, lutadora, criou os filhos, não dava moleza. Era brava, mas se ela resolvesse que não ia te dar uma entrevista, não dava. Não havia quem fizesse ela falar. Mas, como mãe, tinha aqueles momentos de ternura, me punha no colo, bem preocupada em arrumar comida para a gente. E, nas horas em que, como ela dizia, tinha comida em casa, essas músicas que estão tocando [nos alto-falantes do museu tocam os discos lançados por Carolina], a gente cantava. Todos os filhos tocavam violão, ela ensinou. Imagina, a minha mãe catava papel o dia inteiro e com três filhos para comer, meu irmão adolescente. “Esse homem é famélico”, como ela falava. Com essa situação, não podia estar sempre calma, tranquila.

A paixão pelos livros

Essa história vem lá de Sacramento [MG]. A mãe dela era casada e apareceu o pai de Carolina na praça. Era um negro repentista, inteligentíssimo. A mãe dela ia na praça, se apaixonou e nasceu Carolina. Minha mãe, já de pequena, era diferente. Como ela falava: “Eu era uma negrinha feia e chata”. Ela queria saber de tudo, era muito curiosa. A mãe dela a levou para o Eurípedes de Barsanulfo, que era um médium, e ele falou: “Ela não é chata. Sua filha vai ser uma escritora, uma poetisa”. Daí, a mãe respondeu: “O que será? Que doença é essa?”. Aí, quando as pessoas falavam: “Nossa, a negrinha é chata, né?”, ela respondia: “Não, minha filha é poetisa”. A mãe dela nem sabia o que era.

Uma fazendeira, dona Maria Leite, disse: “Vamos colocá-la na escola”. Estudou um ano e meio. Não queria ir de jeito nenhum, mas depois tomou gosto pela escola. Ela dizia que no primeiro dia de aula queria ir embora, porque queria mamar. E a professora dela, só teve esta, chamava Lenita, disse: “Você vai estudar e não vai mamar, Carolina Maria de Jesus”. Ela nunca tinha ouvido o nome dela, ouviu ali. Até então, era Bitita.

A mudança para São Paulo

Ela veio a pé. [Primeiro, conseguiu emprego como doméstica, mas depois precisou ficar na rua com o nascimento do primeiro filho]. Ela ficava na rua e era para vir um político famoso, então pegaram todos os pobres que estavam aí, colocaram em um caminhão e mandaram para o Canindé. Conseguiu umas madeiras e fez o barraco. Ela mesmo carregou na cabeça. Carolina falava que toda a força da vida dela vinha da cabeça, tanto para escrever, quanto para carregar o saco de papel.

A vida depois da favela

Nós fomos para Santana. Imagina, um lugar de classe média alta e chega lá uma mãe solteira, negra, três filhos, que tinham saído da favela. Vinha um ônibus e ficava a rua inteira [de fotógrafos, jornalistas]. Aquilo incomodava o dia inteiro. Minha mãe gostava de música, colocava [o volume] nas alturas, dançava sozinha a noite inteira. Os vizinhos não aguentavam aquele barulho. A gente abria a porta e tinha gente, fila, para pedir as coisas a ela, que tentava atender. Virou um inferno. Eles não suportavam a gente lá. Um dia, ela chegou em casa às 7h da manhã e disse: “Vamos embora”. E nós fomos para Parelheiros, um sítio. "Ali tem as árvores que ela plantou, a casa está do mesmo jeito. Eu penso em fazer um museu lá".

Indígenas e os seus rituais




Uma grande parte dos rituais realizados pelos diversos grupos indígenas do Brasil pode ser classificada como ritos de passagem. Os ritos de passagem são as cerimônias que marcam a mudança de um indivíduo ou de um grupo de uma situação social para outra. Como exemplo, podemos citar aqueles relacionados à mudança das estações, aos ritos de iniciação, aos ritos matrimoniais, aos funerais e outros, como a gestação e o nascimento.


Entre os Tupinambá – grupo indígena extinto que habitava a maior parte da faixa litorânea que ia da foz do rio Amazonas à ilha de Cananéia, no litoral paulista-, quando nascia uma criança do sexo masculino, o pai levantava-se do chão e cortava-lhe o umbigo com os dentes. A seguir, a criança era banhada no rio, após o que o pai lhe achatava o nariz com o polegar. Em seguida, a criança era colocada numa pequena rede, onde eram amarradas unhas de onça ou de uma determinada ave de rapina. Colocavam-se, ainda, penas da cauda e das asas dessa ave e, também, um pequeno arco e algumas flechas, para que a criança se tornasse valente e disposta a guerrear com os inimigos.

O pai, durante três dias, não comia carne, peixe ou sal, alimentando-se apenas de certo tipo de farinha. Não fazia, também, nenhum trabalho até que o umbigo da criança caísse, para que ele, a mãe e a criança não tivessem cólicas. Três vezes por dia punha os pés no ventre da esposa. Nesses dias, o pai fazia pequenas arapucas e nelas fazia a tipóia de carregar a criança; tomava, também, o pequeno arco e as flechas e atirava sobre a tipóia, pescando-a depois com o anzol, como se fosse um peixe. Assim, no futuro, a criança caçaria ou pescaria. Quando o umbigo caía, o pai partia-o em pedacinhos e pregava-os em todos os pilares da oca, a fim de que o filho fosse, no futuro, um bom chefe de família. O pai também colocava aos pés da criança um molho de palha, que simbolizava os inimigos. Quando todas essas práticas tinham sido realizadas, a aldeia por inteiro se entregava às comemorações. Nesses dias, era escolhido um nome para o recém-nascido.

Através desse rito de incorporação, o pai assumia a paternidade e se reconhecia ao recém-nascido, um lugar na sociedade Tupinambá, como homem ou mulher.
Cabe destacar que nesses rituais ligados à gestação e ao nascimento não só a criança, como também seus pais, eram submetidos ao ritual de passagem. O reconhecimento da gravidez da mulher punha o pai e a mãe num estado de cuidados especiais, separando-os, de certo modo, pela maneira de se comportar, dos demais habitantes da aldeia. Ficavam, assim, segregados até que a criança nascesse e os ritos de sua incorporação fossem realizados, momento em que eles eram reintegrados à vida normal, desempenhando um novo papel social: pai e mãe de um novo membro da sociedade.

Indígenas na Amazônia: Principais grupos e as línguas mais faladas



A maioria das tribos indígenas do Brasil vivem na Amazônia, a floresta com maior biodiversidade tropical do mundo.

Segundo censo do IBGE de 2010, na Amazônia vivem cerca de 306 mil índios. Como a população indígena só tende a diminuir, estes números devem estar bem a baixo de 306 mil hoje em dia.

A maior parte desta população de índios da Amazônia vive nas áreas rurais, e embora muitos deles mantêm contato com pessoas de fora das tribos, eles ainda continuam mantendo aspectos culturais de seus antepassados, como: Rituais, danças, crenças, costumes…

A maioria das tribos possui Pajés. Os Pajés são os curandeiros, uma espécie de “professor e sábio”, que transmite a cultura dos antepassados para os mais novos de forma oral.

O Pajé também é responsável por realizar os cultos religiosos e realizar “contato com o mundo espiritual”.

As línguas mais faladas das tribos, são:

Tupi;
Aruaque;
Tukano;
Jê;
Karib;
Pano;

Um dos maiores problemas enfrentados pelas tribos indígenas é a exploração de terras ilegais pelo garimpo, agropecuária, construção de hidroelétricas, rodovias, e diversas outras atividades dos “homens brancos”.

Existem também muitas tribos isoladas na Amazônia, até mesmo tribos que nunca viram nem fizeram contato com o homem branco. São tribos que não conhecem nenhuma cultura fora a deles mesmos.

Acredita-se que estas tribos vivam sem fazer ideia da tecnologia presente no mundo. Mesmo que alguns possam ter avistado aviões ou destroços, dificilmente fariam relação destes avistamentos a outros seres humanos.

Eles vivem mantendo os costumes dos antepassados: Caçando, pescando, plantando…

Os principais grupos indígenas que vivem hoje na Amazônia, são:

Amawáka (Acre)
Arara (Acre)
Deni (Acre)
Nawa (Acre)


Karipuna (Amapá)
Palikur (Amapá)
Wayampi (Amapá)


Kambeba (Amazonas)
Jarawara (Amazonas)
Korubo (Amazonas)
Wanana (Amazonas)


Anambé (Pará)
Jaruna (Pará)
Kayapó (Pará)
Munduruku (Pará)


Arara (Rondônia)
Aruá (Rondônia)
Nambikwara (Rondônia)
Tupari (Rondônia)

Macuxi (Roraima)
Yanomami (Roraima)
Waiwai (Roraima)
Ingaricô (Roraima)

Apinaye (Tocantins)
Guarani (Tocantins)
Karaja (Tocantins)
Kraho (Tocantins)
Xerente (Tocantins)

E se a Tais Araújo não fosse a Tais? Por Pedro Antonio no Curvas e Poesia


Taís Araújo é chamada de macaca na sua página do Facebook e o assunto toma as redes sociais. A polícia se envolve e logo teremos os racistas atrás das grades com todo louvor e aplausos do público. Aí eu pergunto: se a Taís não fosse a Taís, será que teria acontecido da mesma forma? Quantas negras são chamadas de macaca e nada acontece? Muitas, meus amigos, muitas. Mas é preciso que uma atriz global sofra o crime para que ele seja apurado, porque senão, é mais uma macaca na multidão.

Vivemos num país atrasado, o país da "carteirada" onde filho de alguém importante ou um sobrenome de "respeito" burla qualquer processo e passa na frente. Vamos exemplificar: se uma negra que serve o café no camarim fosse chamada de macaca por um ator global, será que teria a mesma repercussão? Provavelmente não. Por aqui, negro e pobre não tem vez e nem voz. Negro na universidade? É cota. Negro na balada? É segurança. Negro correndo na rua? É ladrão fugindo. O táxi não para, mas a viatura chega junto. E se o negro se revolta, dizem que ele está se vitimizando. Tremenda estupidez.

Muitas negras são chamadas de macaca todos os dias, mas só a Maju ganhou uma hashtag. Muitas mulheres têm seus cabelos crespos chamados de esponja, mas só a Taís Araújo teve o direito de ser ouvida. Muitas meninas tiveram suas fotos íntimas divulgadas na internet, mas só a Carolina Dieckmann ganhou uma lei com o nome dela. Muitos meninos negros são expulsos de estabelecimentos, mas precisou ser em uma loja "chique" da Oscar Freire para ganhar repercussão. E agora eu me pergunto: eu que sou uma negra anônima, como eu fico?

Quando “o sofrimento alheio não comove o opressor”, por Nêggo Tom em reposta a Luana Piovani


Caríssima, Luana Piovani!


Li a respeito do seu questionamento sobre que tipo de preconceito a Taís Araújo teria sofrido e se alguém poderia lhe esclarecer melhor. Pois bem! Com o devido respeito que lhe tenho como atriz, pois sou fã do seu trabalho, e como apreciador da sua postura não hipócrita e sempre autêntica diante das câmeras, o que me faz crer que você é o que é, e não "doura pílula", venho por meio deste artigo tentar responder a sua pergunta.



Tenho certeza de que você tem conhecimento que tivemos um período historicamente ordinário no qual seres humanos viviam sob o regime de escravidão. Por acaso isso aconteceu no Brasil também. E também por acaso, esses seres humanos escravizados eram negros trazidos da África em navios chamados "negreiros" e obrigados a trabalhar de graça, dia e noite para os colonizadores europeus. Que por acaso eram brancos. Essas pessoas, Luana, eram vistas e tratadas como verdadeiros animais. Eram acorrentados. Era-lhes privado o direito de ir e vir. Não tinham dignidade. Não tinham escolha. Não tinham liberdade. E caso ousassem a querer ter, eram castigados. Açoitados da forma mais vil e covarde. Isso quando não era-lhes tirada a vida como punição.

Essas pessoas, Luana, eram vendidas como se fossem animais de estimação ou aparelhos de uso doméstico. Por acaso, quem as traficava eram brancos. Essas pessoas, que por acaso eram negras, eram tidas como "sem alma", pelos senhores colonizadores e até mesmo por alguns sacerdotes representantes de Deus da época. Afirmação usada para legitimar a escravidão e os maus tratos a eles destinados. Toda referência à cor negra era usada como ofensa. Negro era um substantivo quase sempre acompanhado de um adjetivo desqualificante. Negro fujão. Negro safado. Negro abusado. Compará-los a um macaco também era uma brincadeirinha comum na época, para desqualificar o indivíduo e igualá-lo a um animal primitivo e de raciocínio limitado.

Luana, não eram poucas as menções pouco elogiosas às características étnicas dos negros. Seus cabelos eram considerados ruins. Cabelo duro. Cabelo carapinha. Seus narizes eram achatados. Nariz de batata. Suas bocas eram grandes. Beiçolas. Seus traços eram marcantes demais. Tudo visando a inferiorização da etnia para que se justificasse cada vez mais a sua exploração e segregação. Ainda hoje, Luana, alguns brancos se utilizam dessas referências para tentar nos ofender. Talvez numa atitude insana e nostálgica de retornar ao passado, onde tudo era permitido e ninguém era punido por isso. Era tão bom poder maltratar as pessoas e não ter que responder por isso. Hoje é tudo muito chato. Nem uma piadinha de preto se pode contar mais. Não posso mais chamar meu coleguinha de escola de Mussum, tição, suco de asfalto. Tá ficando sem graça! Afinal, o sofrimento alheio não comove o opressor.

Você perguntou se ela foi sacaneada na internet, né? Não! Ela não foi apenas sacaneada, Luana. Ela e muitos outros negros foram ofendidos na sua essência. Na sua honra. Na sua autoestima. No seu direito de serem como Deus os fez e com as características que a natureza os abençoou. Você disse que é "blaster sacaneada e xingada na net" e ninguém nunca saiu em sua defesa. Talvez seja porque nunca fizeram piada com a sua cor. Com os seus cabelos. Talvez seja porque nunca lhe dirigiram ofensas racistas nas redes sociais. Talvez seja porque a sua etnia nunca foi escravizada nesse país. Nunca foi explorada, chicoteada, açoitada. Talvez seja porque é considerado normal um branco ser protagonista de uma série de TV ou postar fotos glamourosas no facebook sem que cause estranheza. Afinal, somos um país europeu, não é verdade?

Em suma, Luana, acho esses ataques racistas algo orquestrado, sim. Não pelo PT ou pela esquerda, como os escravocratas modernos disfarçados de democratas querem fazer a sociedade acreditar. A intenção é manter acesa a chama do preconceito racial. Rende polêmicas. Estimula-se hashtags hipócritas do tipo: somos todos fulano. É plataforma política para os aproveitadores. É deleite fascista. Tem sabor de champanhe e caviar para alguns da elite europeia tupiniquim. É crueldade gratuita. É instigar o ódio de uma etnia contra a outra. É fazer com que racistas mais tímidos sintam-se incentivados a praticar a sua estupidez de forma pública e notória. É tentar fazer com que se enxergue com naturalidade o desrespeito ao outro. É tentar intimidar minando a autoestima. É atacar as políticas de afirmação social.

Uma ferida jamais cicatrizará se ficarmos mexendo nela a todo instante. Mas existe uma "junta médica" paralela, cuidando para que essa ferida nunca cicatrize. É a tal novela de época que vira e mexe está no ar, não para contar a história, mas apenas para te fazer lembrar que a senzala um dia abrigou os seus antepassados. E que por sorte você não está lá ainda. É o enredo do folhetim que coloca os negros apenas como personagens de apoio, como se na vida real fossemos apenas serventes da realeza branca do pau Brasil. É o filme publicitário que escolhe e a etnia que julga superior e mais vendável para falar do que é bom e a outra etnia inferiorizada pela patologia de mentes brilhantemente perversas, para falar do que é ruim ou secundário, porque a imagem do negro não é vendável.

Não existe vitimismo. Existe um sistema perverso que manipula as pessoas como bem entende, se aproveitando da podridão de sentimentos contida na alma de muitos que se dizem humanos. Não se engane Luana! Quem trata alguém com diferença ou indiferença e preconceito pelo fato desse alguém ser negro, branco, índio, gordo, magro, pobre, rico, gay, hétero, cristão, ateu, flamenguista ou vascaíno, tem sérios problemas. Talvez seja o preconceituoso e o racista quem não mereciam estar no convívio da sociedade. Talvez seja o racista, o mal do qual precisamos nos livrar para construirmos um mundo melhor, mais igual e mais justo. Precisamos nos humanizar. Precisamos ser mais educados e respeitosos com as diferenças. Enquanto não agirmos como seres de fato educados e humanos, sugiro que usemos a hashtag: #SOMOSTODOSPORRANENHUMA!

Saudações!

No sertão dos Inhamuns há uma cidade fantasma – Cococi e seus sete habitantes



Cococi já foi cidade e hoje é distrito de Parambu, no sertão do Ceará. Os sete moradores da localidade vivem da agricultura de subsistência.

Distrito fica a 27 km de Parambu. O único acesso é por estrada de piçarra. Foto: André Teixeira/G1.
O distrito de Cococi perdeu o status de cidade em 1979 e hoje pertence ao município de Parambu, no sertão dos Inhamuns no Ceará. Sete pessoas de duas famílias vivem na ex-cidade que já abrigou duas mil pessoas. Só restaram duas casas e a igreja entre as ruínas. ''Não acontece nada na maior parte do ano”, diz Maria Lobo, uma das moradoras.

A cidade é de grande importância para a história da região dos Inhamuns. De acordo com a diretora do Museu dos Inhamuns, Dolores Feitosa, foi lá que chegaram os primeiros habitantes a essa área do sertão cearense.

Para Clenilda, na maior parte do ano não "acontece nada" em
Cococi. Foto: André Teixeira/G1.
O lugar começou a declinar por causa da estiagens. “As pessoas foram saindo atrás de melhores condições de vida para seus filhos, para que eles pudessem estudar em centros mais desenvolvidos, porque Cococi estagnou”, diz a curadora do museu.

Os moradores contam que o terceiro e último prefeito da ex-cidade deu um calote na população e fez uso irregular de verba pública, o que revoltou e fez com que o restante da população abandonasse o local.

Atualmente, as poucas casas do local estão em ruínas. A vegetação destruiu a câmara municipal e a prefeitura. O telhado da maior parte das casas já desabou e o moinho de vento não puxa mais água para os sete moradores que ainda habitam o local.

Somente duas casas e a igreja estão conservadas. Maria Clenilda Lobo, de 40 anos, é matriarca de uma das famílias do Cococi. Ela mora com dois filhos e vivem da agricultura de subsistência. Para Maria, Cococi é uma “cidade fantasma onde não acontece nada na maior parte do ano”.

Igreja fica lotada durante novenário e "muda a
cara" de Cococi. Foto: André Teixeira.
Já Ana Cláudia, dona de casa e chefe da segunda família do distrito de Cococi, pensa diferente. “Aqui sempre vêm historiadores, pesquisadores interessados na história do Cococi. Também temos sempre visita de pessoas que vêm gravar entrevista e filme por aqui”, diz Ana.

De 29 de novembro a 8 de dezembro, Cococi realiza um novenário que “muda a cara do local”, como diz Ana Cláudia. O distrito recebe cerca de 300 pessoas por dia, que lotam a igreja de Nossa Senhora. A igreja é preservada pelas duas famílias de Cococi e é o prédio mais conservado da área.

Os católicos vêm das cidades vizinhas e criam um comércio paralelo durante os dias do novenário. Maria Clenilda aproveita a lotação para vender churrasco, cerveja e refrigerante. Em um dia de missa ela consegue cerca de R$ 80. O que ela ganha durante os 11 dias da novena é mais do que durante todo o resto do ano.

Alunos da EEEP Wellington Belém de Figueiredo, em Nova Olinda, por ocasião de visita a I Mostra de Ciência, Cultura e
Tecnologia, do Cariri Oeste, da EEEP Antonia Nedina Onofre, em Assaré. Foto: Prof. Jhon Wille.
Na manhã desta sexta-feira, 06 de novembro do ano em curso,  os alunos da Escola de Ensino Fundamental e Médio Raimundo Moacir Alencar Mota, em Assaré, expuseram trabalho intitulado “Resgatando Nossa História – Cococi, um passado em ruínas”, durante a I Mostra de Ciência, Cultura e Tecnologia, do Cariri Oeste da Escola Estadual de Educação Profissional Antônia Nedina Onofre, no mesmo município. As exposições temáticas receberam várias visitas de outras instituições de ensino, inclusive alunos e professores da Escola Estadual de Educação Profissional Wellington Belém de Figueiredo, localizada no município de Nova Olinda.