No
transcurso do vigésimo sexto aniversário do assassinato do ex-deputado e
advogado de posseiros do Sul do Pará, Paulo Fonteles, ocorrido em 11 de junho
de 1987 é, mais do que nunca necessário avaliar suas ideias e legado para atual
fase da luta pela terra no Brasil.
E isso num momento de franca expansão do Agronegócio, particularmente na Amazônia e a odiosa tentativa de criminalização dos movimentos sociais brasileiros, praticadas pela grande mídia e reacionários de todas as espécies.
A
vida de combates de Paulo Fonteles atravessou três décadas de profundo
compromisso com questões concernentes aos temas mais urgentes da nação
brasileira como a democracia, as liberdades políticas, a reforma agrária e o
socialismo.
A
saga daquele que seria uma das mais contundentes vozes da luta contra o
latifúndio iniciou a atividade política quando o Brasil estava encarcerado pela
quartelada de 31 de março de 1964 que submeteu o país a infame ditadura e a
submissão aos interesses externos, notadamente estadunidenses.
Como
muitos dos jovens de sua geração iniciou sua militância no ambiente da igreja
católica quando a juventude do Brasil e do mundo davam passos insurgentes
naqueles longínquos anos de 68 na qual Zuenir Ventura ensina-nos que jamais
acabou porque fora um marco, verdadeiro divisor de águas e, ainda é referência
tanto na cultura, no comportamento e na política pelo que introduziu na vida
brasileira. Eram os generosos anos das figuras heroicas de Che Guevara, da
passeata dos 100 mil a enfrentar a dura ditadura hasteando o sangue paraense do
estudante Edson Luís assassinado pela repressão no restaurante Calabouço, como
uma emergência para mudar os destinos nacionais através de um poderoso movimento
de massas.
Eram
tempos da rebelião juvenil francesa e da primavera de Praga, de mudanças
tecnológicas e da incerteza da guerra fria, da guerra do Vietnã, da estreia na
Broadway do musical "Hair", do lançamento do "Álbum Branco"
dos Beatles, do acirramento da luta pelos direitos civis nos Estados Unidos e
também do assassinato de Martin Luther King e do engendramento do Apartheid na
África do Sul. As mulheres, historicamente, proibidas de atuar na vida pública
queimaram sutiãs e a juventude passou a ter, na sociedade uma presença social
autônoma. No Brasil de 68 Chico Buarque estreia "Roda-Viva" e logo os
artistas da peça sofrem atentado patrocinado pelo Comando de Caça aos
Comunistas (CCC), Caetano Veloso e Gilberto Gil lançam o manifesto onde apresentam
a "Tropicália", do contundente discurso do jornalista Márcio Moreira
Alves contra a ditadura, estopim para o Ato Institucional 5 (AI-5). É por essa
época que o General Costa e Silva promove torpe censura contra o cinema e o
teatro e é criado o Conselho Superior de Censura.
O
jovem Paulo Fonteles tomou parte nas manifestações que eclodiram naquele
período na qual a cidade de Belém, que por ser terra de legado cabano não
poderia ficar de fora, tendo como referência a necessidade de derrubar os
direitistas de fardas instalados no poder na qual a juventude brasileira ganhou
pessoa e postura.