O
historiador Fagno da Silva Soares, professor do Instituto Federal do Maranhão e
especialista em escravidão contemporânea, preparou, a convite do Café História,
uma bibliografia comentada para aqueles que desejam conhecer melhor uma das
maiores mazelas sociais de nosso tempo: o trabalho escravo.

A
escravização contemporânea é um fenômeno mundial, ocorrendo nos campos e
cidades, em carvoarias, garimpos, fazendas e indústrias, na produção de carvão
para siderurgia, produção de cana-de-açúcar, de algodão, de grãos, de erva-mate
e na roço da juquira. Trata-se de uma patologia em estágio metástase e se
constitui como uma atividade laboral degradante que envolve cerceamento da
liberdade, por meio de uma dívida, aliado a péssimas condições de trabalho,
alojamento, saneamento, alimentação e saúde, além do uso da violência física e
psicológica. Segundo estatística da Organização Internacional do Trabalho
(OIT), há pelo menos 21 milhões de pessoas no mundo nestas condições, destas
estima-se que no Brasil existam entre 25 a 40 mil trabalhadores rurais vivendo em
regime de escravidão contemporânea, em diversos estados do país. Somente em
1995, o Brasil reconheceu oficialmente junto à OIT a existência de trabalho
escravo em seu território criando mecanismos de combate.
1. LE BRETON, Binka. Vidas roubadas
- a escravidão moderna na Amazônia brasileira. São Paulo: Edições Loyola, 2002.
Trata-se
de uma obra testemunhal o que permitiu a autor nos conduzir para uma aventura
nos confins da Amazônia brasileira para mostrar os envolvidos com o trabalho
escravo no Brasil contemporâneo que vai desde de juízes, políticos até os peões
passando pelos gatos, prostitutas e pistoleiros, um retrato cruel de um Brasil
que ainda existe, embora muitos ainda queiram invisibilizar.
2. FIGUEIRA, Ricardo Rezende.
Pisando fora da própria sombra. Rio de Janeiro: Civ. Brasileira, 2004.
Obra
basilar nos estudos de escravidão contemporâneo no Brasil, o livro é resultado
da tese de doutoramento em sociologia e antropologia de Ricardo Rezende
Figueira, uma das maiores autoridades intelectuais sobre o tema no país e no
mundo. Trata-se de um estudo acerca da ‘escravidão por dívida’ que descreve as
formas de aliciamento de trabalhadores submetidos a escravidão por dívida que
vai do aliciamento até a fuga ou resgate dos trabalhadores. O autor reuniu um
considerável acervo de entrevistas com trabalhadores, fazendeiros, empreiteiros
e pistoleiros desde a década de 70. O livro traz um encarte com cenas do
renomado fotógrafo João Roberto Ripper.
3. MARTINS, José de Souza.
Fronteira - A degradação do outro nos confins do humano. São Paulo, Hucitec,
1997.
José
de Souza Martins é um dos mais importantes cientistas sociais do Brasil, a
temática fronteira é a centralidade desta importante obra sociológica para os
estudos em escravidão contemporânea no país. No transcurso da obra, o autor
traz à tona a fala dos vitimados na fronteira, lugar do conflito, da degradação
e da espoliação do humano. Nos confins do humano eis que surge a terceira
escravidão, a escravidão por dívida, o lugar da peonagem, chegando até a morte.
Discute também as relações entre frente pioneira e frente de expansão.
4.
CERQUEIRA, Gelva Cavalcante de; FIGUEIRA, Ricardo Rezende; PRADO, Adonia
Antunes; COSTA, Célia Maria Leite (Orgs.). Trabalho escravo contemporâneo no
Brasil: contribuições críticas para sua análise e denúncia. Rio de Janeiro:
Editora UFRJ, 2008.
5.
FIGUEIRA, Ricardo Rezende; PRADO, Adonia Antunes; SANT’ANA JÚNIOR, Horácio
Antunes de (Org.). Trabalho Escravo Contemporâneo: um debate transdisciplinar.
Rio de Janeiro: Mauad, 2011
6. FIGUEIRA, Ricardo Rezende;
PRADO, Adonia Antunes; GALVÃO, Edna (Org.). Privação de Liberdade ou Atentado à
Dignidade: escravidão contemporânea. Cuiabá: Mauad X, 2013.
7. FIGUEIRA, Ricardo Rezende;
PRADO, Adonia Antunes Edna (Org.). Olhares sobre a Escravidão Contemporânea:
novas contribuições críticas. Cuiabá: EdUFMT, 2011.
Tratam-se
de coletâneas resultantes de diferentes edições da Reunião Científica Trabalho
Escravo Contemporâneo e Questões Correlatas organizadas pelo Grupo de Trabalho
Escravo Contemporâneo GPTEC/UFRJ, é um centro de excelência em documentação e
pesquisa sobre o processo de escravização contemporânea no Brasil com o
objetivo de contribuir para a elaboração de políticas públicas visando a
erradicação desta prática hedionda no país. É parte integrante do Núcleo de
Estudos de Políticas Públicas em Direitos Humanos – NEPP/DH do Centro de
Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal do Rio de Janeiro –
CFCH/UFRJ. Reúne interdisciplinar de pesquisadores nacionais e internacionais
para discutir a temática. Mantém um sítio atualizado na internet disponibilizando
informações diversas sobre o tema, a saber, http://www.gptec.cfch.ufrj.br/. O
Grupo de Pesquisa Trabalho Escravo Contemporâneo (GPTEC), criado em 2003, faz
parte do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas em Direitos Humanos (NEPP-DH),
do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH), da Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ) e contribui para a produção e difusão de conhecimento
sobre o tema, atendendo à vocação universitária para o ensino, a pesquisa e a
extensão.