Pesquisas
de opinião são orientadas, claro, e as eleitorais não constituem exceção. Se
alguém deseja saber quem prefere maçã ou banana deve perguntar justamente isso,
sem confundir o pesquisado com as opções de abacaxis e mangas. Muitas pesquisas
eleitorais desorientam os entrevistados ao introduzir opções que nada mais são
do que abacaxis e mangas, nomes de candidatos sabidamente estéreis no contexto
eleitoral efetivo. Obtêm-se antes de tudo uma idéia da dispersão aleatória da
preferência eleitoral, não as escolhas sólidas a aparecer com perguntas focadas
no que está, de fato, em jogo. Mas nada
impede que se investigue se o freguês é mais afeito a frutas ácidas ou cremosas
– um tanto mais geral e inespecífica do que a pergunta anterior.

Com
maior ou menor generalidade o que importa é que há um mundo de interrogações
adequadas ao conjunto das frutas, todas legítimas, respeitadas modestas regras
de lógica. Simples, mas esquecido quando os institutos divulgam seus
resultados, aceitos com sagrada intimidação. Na verdade, os mesmos tópicos das
pesquisas podem ser investigados por inquéritos variados, nada havendo de interdito
no terreno do mexerico.
Em
pesquisas de opinião são fundamentais a representatividade da amostra dos
pesquisados, a correção dos questionários e, concluindo, a leitura dos
resultados. É intuitivo que em uma comunidade onde 99% são religiosos o
inquérito não pode concentrar-se no 1% restante, exceto se o pesquisador
estiver interessado justamente na opinião da extrema minoria de agnósticos que
ali vivem. Isto respeitado, tudo bem quanto à representatividade dos números.
Mas
a leitura dos resultados pode ser marota. Jogando uma moeda para o ar centenas
de vezes, o número de experimentos em que ao cair a moeda mostrará a “cara”
tende a ser o mesmo número de “coroas”. Ignorando quando e porque acontece uma
ou outra coisa, deduz-se que a probabilidade de dar “cara” ou “coroa” é de 50%,
ou seja, metade das vezes uma, metade, a outra. Em certos convescotes essa
peculiaridade é chamada de “acaso”.
Mas
essa é uma probabilidade diferente da que indica o futuro do clima, por
exemplo. As chances de que chova nas próximas 48 horas não é derivada
diretamente de uma série de 48 horas do passado, mas das condições em que
milhares de 48 horas foram chuvosas: umidade do ar, regime de ventos, formação
de nuvens, etc. explicam com relativo grau de precisão (a probabilidade) as
variações climáticas. O que justifica o probabilismo é o conhecimento das
particularidades associadas ao aparecimento do fenômeno “chuva”, não o mero
fato de sua repetição.
Pois
a probabilidade derivada de uma série de pesquisas eleitorais não importa
quando é análoga à do jogo “cara” ou “coroa”, não à dos prognósticos
atmosféricos. De onde se segue serem um tanto marotas as previsões de
resultados eleitorais apoiadas em séries históricas, por mais extensas que
sejam. A diferença é ontológica: uma eleição não é um jogo de “cara” ou
“coroa”. A seguir, uma crítica, digamos, construtiva.
Rompendo
o tédio da rotina dos questionários elaborados pelos institutos de pesquisa,
formulei seis perguntas cujos resultados me interessariam conhecer. Aí vão:
1
– o Sr(a) prefere:
a) continuar com a presidenta atual (Dilma
Roussef)
b) voltar ao governo do PSDB (Aécio Neves)
c)
indiferente
2
– o Sr(a) votaria em alguém que:
a) defende a manutenção do emprego de
quem trabalha
b) promete medidas impopulares
c) indiferente
3)
– o Sr(a) apóia o controle nacional do petróleo do pré-sal?
a) sim
b) não
c) indiferente
4)
- A oposição atual representa seu ideal de governo?
a) sim
b) não
c) indiferente
5)
Em relação à distribuição de renda o Sr.(a) é:
a) a favor
b) contra
c) indiferente
6)
Os atrasos na conclusão de aeroportos e estádios demonstram que:
a) a iniciativa privada não é confiável
b) há sempre imprevistos em grandes obras
c) indiferente
Escolhi
agregar todos os votos “não sei/prefiro não responder”, brancos e nulos em uma
única opção porque estou interessado somente nas escolhas claras. E indiquei o
nome de dois candidatos na pergunta 1 porque este é o desenho do questionário
e, conforme o manual da boa pesquisa, o entrevistado deve estar de posse das
informações relevantes para responder corretamente. Naturalmente, os
entrevistados com preferência por outros nomes ou por nenhum estariam
representados na resposta c.
O
diabo é que ninguém acredita que os questionários dos institutos são apenas uma
aproximação do que os eleitores perguntam a si mesmos, na hora do vamos ver.
Por isso suas pesquisas ao final de uma corrida eleitoral se tornam mais
diretas e econômicas, reduzindo o percentual de erro. Ainda assim, por vezes o
palpite estatístico é desastrosamente equivocado. É quando o instituto, ao
contrário de tentar replicar o que pensa o eleitor, busca fazer com que o
eleitor pense como ele. Não dá certo.
A
análise é de Wanderley Guilherme dos Santos e foi publicada originalmente no
Carta Maior