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Não fique dando milho aos pombos




Pessoal, desculpe-me a insistência. O Brasil passa por um dos momentos mais difíceis dos últimos tempos. Penso que é mais que oportuno expor algumas ideias que não é o meu desejo atingir ninguém na sua moral, mas tão somente convidá-los/as a refletir.

A história é fascinante porque é ela que nos permite perceber algo que muitas outras disciplinas não nos outorga, até porque é dela - história e, portanto, dos profissionais que a ela se dedicam - fazer esse tipo de trabalho, qual seja, pensar, analisar, refletir e agir sobre as ações do homem no tempo.

É dever nosso, portanto, se perguntar o porquê de tantas ausências de quem tem mais a contribuir nesse desastroso cenário que foi minado e que foi concluído com desrespeito a vontade da maioria da população no processo eleitoral, com a afronta à constituição federal de 1988, colocando em risco a nossa nova e frágil democracia. Falo de engenheiros (as), advogados (as), juízes (as), arquitetos (as), médicos (as), professores e professoras, até mesmo aqueles que por força maior não estão em sala, mas pela formação é professor, é professora.
 
Muito pouco se viu desses profissionais em relação a se manifestarem acerca do processo de afastamento da presidenta Dilma Rousseff (PT). Seja a favor ou contra. Martin Luther King disse certa vez “O que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética... O que me preocupa é o silêncio dos bons”. Levemos ao pé da letra esse chamamento do Luther King e logo perceberemos que não é se omitindo dos debates que o Brasil irá melhorar. Não. Muda-se com atitude, com ação e isso só ocorre com formação de opinião. É preferível que você fale, emita sua opinião, pois nenhuma nação se faz no silêncio. Paulo Freire afirmou “não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão”.

Foi por nos manter no silêncio que o Brasil ficou durante muito tempo refém de Portugal. Foi por nos mantermos no silêncio que nosso país passou por vários processos de sucateamento da máquina pública e, por tanto, por momentos de torturas físicas e mentais – a legalização da escravidão, o estado novo e o regime civil-militar dão uma dimensão do que ora falo.

Foi por grande parte de profissionais se ausentarem do debate, não se mobilizarem na organização popular que estamos passando mais uma vez por um período em que a democracia conquistada a duras penas está correndo sérios riscos de ser destruída. Mas ainda é tempo. Não basta ter certificados e mais certificados se o conhecimento não é compartilhado. Anos e anos de estudo se tornarão apenas papeis sem serventia a sociedade e tão somente o reforço de ego profissional. Um ignorante sem acesso à educação é fácil entender e isso pode ser resolvido com acesso à escola, mas o ignorante alfabetizado é triste. Costumo sempre dizer tu podes ter mestrado, doutorado ou phd, mas se não utilizas o conhecimento adquirido para desenvolver a capacidade crítica nas pessoas e não se posicionar ante aos fatos continuará sendo um IGNORANTE.

Não podemos ficar inerte vendo tudo acontecer e ficar alheio. Me entristece muito perceber que estamos à beira de um caos e muitos ausentes, como se estivesse em outro pais. Muitos ainda não acordaram para a vida e talvez quando acordarem pode ser tarde demais. Muitos ainda estão na condição do que fala a música do Zé Geraldo que abaixo reproduzo alguns trechos:

Enquanto esses comandantes loucos ficam por aí
Queimando pestanas organizando suas batalhas
Os guerrilheiros nas alcovas preparando na surdina suas
Mortalhas...

A cada conflito mais escombros
Isso tudo acontecendo e eu aqui na praça
Dando milho aos pombos

Isso tudo acontecendo e eu aqui na praça

Dando milho aos pombos....”

Imagem puramente ilustrativa/Divulgação.

“Não tem golpe? Está brincando comigo, companheiro?”, questiona filósofa Marilena Chauí


A filósofa Marilena Chauí se delegou uma “tarefa inglória”, diz ela: demonstrar com argumentos que o impeachment de Dilma Rousseff é um golpe de Estado. Em evento na Universidade de São Paulo, Chauí começou fazendo uma comparação com o golpe civil-militar de 1964: “O que preparou o golpe na época foram o Ipes e o Ibad, que produziram todo o ideário do anticomunismo e da geopolítica na qual o Brasil se insere na área de influência dos Estados Unidos. A isso se incluem os papeis da Fiesp e da Igreja Católica. Esses elementos estão aqui agora: O Instituto Millenium, que produz a ideologia da direita, a Fiesp que continua hoje, e, no lugar da Igreja Católica, os evangélicos”.

Publicado originalmente no Brasileiros

Para contestar aqueles que dizem que um golpe requer o uso da força, Chauí diz que a ruptura democrática pode acontecer por meio de uma conspiração palaciana: “Basta ler Karl Marx, 18 de Brumário”. 

A filósofa também apontou que não há crime de responsabilidade de Dilma que justifique o impeachment, e que será posto em prática um projeto de governo que foi derrotado em quatro eleições.

Para Chauí, os direitos democráticos, liberdade, igualdade e participação, estão sendo “pisoteados” pelo governo Temer. “O coração da democracia é a criação de direitos. Como está a igualdade? Os programas de inclusão e de transferência de renda, com a PEC 241, não receberão recursos acima da inflação por 20 anos. Também não terá ajuste de salário acima da inflação. E a liberdade, como está? A primeira medida do governo Temer foi fechar o Ministério de Direitos Humanos, fechar todas as secretarias de ações afirmativas. E qualquer resistência ao golpe pode ser enquadrada na Lei Antiterrorismo. E a participação? Ela existe na resistência nas ruas mas não tem nenhuma expressão política institucional, ela é barrada pela estrutura políico-partidária e pelo monopólio da informação da mídia”.


Chauí diz também que a República está ameaçada: “A autonomia dos 3 poderes está sendo pisoteada. O Judiciário interfere no Legislativo, o Legislativo no Executivo e o Executivo no Legislativo. Com a perda dos direitos democráticos, a reposição do Brasil à área de influência dos Estados Unidos, que irá nos lançar ao horror do Oriente Médio, não tem golpe? Está brincando comigo, companheiro? Tem golpe, sim!”

Foto: reprodução/youtube.

O crime de Dilma, para a Globo, foi ter uma visão ideológica ‘lulopetista com tempero brizolista’



No dia 31 de agosto de 2013, exatos 3 anos antes do golpe midiático/judicial/parlamentar de 2016, foi publicado um editorial no Globo afirmando que o apoio do jornal ao golpe de 64 foi um erro.

A Globo reconhece o erro mas ao mesmo tempo tenta justificá-lo: outros grandes jornais também apoiaram, havia o temor de que Jango instaurasse uma 'república sindical', 'a intervenção fora imprescindível para a manutenção da democracia', etc.

Por Pedro Breier no Cafezinho

Em um trecho o editorial afirma o seguinte:

A História não é apenas uma descrição de fatos, que se sucedem uns aos outros. Ela é o mais poderoso instrumento de que o homem dispõe para seguir com segurança rumo ao futuro: aprende-se com os erros cometidos e se enriquece ao reconhecê-los.
A Globo, no entanto, não aprendeu com os próprios erros.

Podemos dizer com segurança que a empresa da família Marinho é a grande protagonista do golpe de 2016.

Afinal, sem o seu jornalismo furiosamente antipetista e macartista (não só o jornalismo, mas também através de mensagens subliminares nos seus programas de entretenimento: na minissérie ‘Felizes Para Sempre?’, de 2015, por exemplo. há uma cena em que aparece um quadro de Che Guevara na casa luxuosa de um empreiteiro corrupto, numa clara tentativa de ligar a corrupção à esquerda, quando o perfil de empreiteiros corruptos na realidade está muito mais para eleitor de Aécio Neves); sem a sua parceria com a Lava Jato, utilizando vazamentos seletivos para manipular a opinião pública, tentar interferir na eleição de 2014 e depois derrubar o governo; sem o seu poder de assassinar reputações que intimida deputados, senadores e ministros dos tribunais superiores; e sem a convocação do exército coxinha com cobertura em tempo real das manifestações da direita o golpe não seria possível.

O editorial do Globo de hoje, o dia seguinte ao golpe de 2016, é um festival de cinismo, soberba e ameaças.

Não vem com a mentira do editorial do dia seguinte ao golpe de 1964 - Ressurge a Democracia -, mas começa ameaçando os próximos presidentes: o título é ‘Para que jamais haja outro impeachment’ e o subtítulo ‘A partir de agora, governante que desejar tomar atalhos, e não apenas no manejo do orçamento, para contornar a Carta, sabe o risco que corre’.

No final do editorial fica claro que na verdade não são os governantes que ‘contornam a Carta’ que correm o risco de serem apeados do poder:

A partir de agora, qualquer governante que pense em atalhos à margem da lei, no manejo orçamentário, precisará refletir sobre as implicações de seus atos. O mesmo vale para delírios no campo político-institucional. O fortalecimento não é apenas das cláusulas da responsabilidade fiscal, mas da Constituição como um todo, para desaconselhar de vez projetos bolivarianos como o do lulopetismo. Serve de aviso geral à nação.
O impeachment de Dilma serve para “desaconselhar de vez projetos bolivarianos como o do lulopetismo”.

Não é 'só um aviso geral à nação', mas uma ameaça aos eleitores e próximos presidentes, feita pela auto-proclamada suprema comandante do país, a Globo: ou o governo se alinha ideologicamente aos Marinho ou cedo ou tarde será derrubado.

Neste trecho, todo o cinismo da Globo:

São um feito os dois impeachments (Collor e Dilma), sem rupturas, num continente cuja trajetória é pontilhada de acidentes institucionais e autoritários, à direita e à esquerda, tendo como ligação, entre esses dois campos que se opõem, o nacionalismo, muitas vezes turbinado pelo populismo, como tem sido na tragédia do chavismo e foi na debacle do lulopetismo, com a mais grave desestabilização da economia brasileira na República.
É de notável ineditismo, na América Latina, o fato de esses incidentes institucionais no país serem contornados sem as rupturas clássicas na região.
Uma empresa que apoiou a ditadura militar chamar os governos ‘lulopetistas’ e o chavismo de autoritários é positivamente ridículo.

E afirmar que o impeachment de Dilma se deu ‘sem ruptura’ é um escárnio.

Mas, como diz Jânio de Freitas em sua coluna de hoje na Folha, ‘nenhum golpista já admitiu ser golpista’.

A Globo ainda lembra várias vezes, no editorial, a ligação de Dilma com Brizola, tripudiando, após essa vitória suja, em cima de seu mais feroz combatente. Outro trecho:

No processo contra Dilma, não há acusações de corrupção, mas crimes que têm a ver com a visão ideológica lulopetista, com o tempero brizolista da ex-presidente. Não passou despercebido que, ao se defender no Senado, Dilma Rousseff usou tática do guia Leonel Brizola: nunca responder as perguntas e falar o que quiser.
Mais uma vez fica claro que o crime de Dilma, para a Globo, foi ter uma visão ideológica ‘lulopetista com tempero brizolista’, portanto desalinhada com o que os Marinho querem para o país: neoliberalismo selvagem e a conta da crise paga pelo povo, para que sua fortuna e seus privilégios permaneçam intocados.

O cientista político Moniz Bandeira afirmou, quando recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal da Bahia, que ‘uma potência é muito mais perigosa quando está em decadência do que quando conquista o seu império’.

Com audiências minguando ano a ano - a internet e o Netflix vão acabar com a televisão como a conhecemos - e a narrativa política sendo disputada por sites progressistas, a Globo é uma potência em decadência.

E provou estar correta a frase de Moniz Bandeira, atuando decisivamente para que estejamos vivendo mais um golpe em nosso país.

Apenas 3 anos depois de afirmar que foi um erro o apoio ao golpe de 64.

Mas em algum momento a decadência será irreversível, e aí uma eventual admissão de culpa por mais um crime contra a democracia será muito pouco.


O fim do monopólio inconstitucional da Globo nas telecomunicações virá, de um jeito ou de outro.


Em Jogo de cartas marcadas e o golpe consumado resta à resistência



Estava tudo decidido. O jogo onde o povo não deu as cartas não podia terminar bem. Aliás, o povo pouco sabia do que de fato estava acontecendo, a não ser de fatos e mais fatos que foi narrado pela grande mídia. A exceção aqui é a regra, pois muitos só têm acesso às informações por meio da televisão ou do rádio. Internet ainda é um mundo para poucos e ainda assim os poucos não estão preocupados com os rumos políticos do país. Mais uma vez cabe lembrar que a exceção aqui também é a regra.

Pouco se ouviu comentar nas ruas, nos bares, nos demais ambientes que aglomera várias pessoas acerca do momento político em que o Brasil atravessa. Na internet, meia dúzia de pessoas escrevendo, comentando e compartilhando textos e imagens sobre o cenário desastroso que a nós foi imposto, enquanto outras não estavam nem ai. Platão, um dos filósofos gregos mais conhecidos e estudados já dizia “não há nada de errado com aqueles que não gostam de política, simplesmente serão governados por aqueles que gostam”. Não é que você precisa está constantemente falando de política, especialmente aquela que nos interessa nesse momento – a partidária – mas você enquanto cidadão precisa se interessar por aqueles temas que vai de forma direta e indireta interferir na sua vida e dos que estão ao seu redor. É necessário que tu participes da vida política do teu município, do teu estado e do teu país, pois é dela que vem o sustento teu e da tua família. Nunca é demais lembrar isso.

Mas o que o momento brasileiro pode nos dizer sobre isso? Tudo. Vimos e ouvimos deputados, deputadas, senadores, senadores, a mídia e demais membros da sociedade afirmando que estavam tirando a presidenta de república porque nós - povo - pedimos, clamamos. Não, ao contrário. A grande maioria do povo brasileiro deu a Dilma o poder de dirigir o país. Foram mais de 54 milhões de eleitores que a uma só vez digitaram na urna o direito que a constituição e a democracia lhe deram. Foram esses mesmos eleitores e eleitoras que deram o poder aquele congresso de legislar e fiscalizar as contas da própria presidenta. O povo é consultado e tem o direito de votar para eleger representantes/as, mas é ignorado sobre a possibilidade de tirar ou não um governante. O seu direito acaba quando termina o processo eleitoral. Assim pensam a esmagadora classe política do nosso país e assim agiram com o desastroso impeachment.

Pouco importa se foi seguido o devido caminho. Pouco importa se a defesa da presidenta foi dada a oportunidade de falar. Pois é sabido que a trama já estava armada. Tanto estava que quando em alguns momentos da fala dos agentes da defesa da presidenta o plenário do senado esvaziou-se. Ora, a defesa foi assegurada, mas falar para quem? O princípio constitucional nesse caso foi apenas para cumprir tabela. É como um time de futebol que chega nas últimas rodadas do campeonato sem chances, mas joga para cumprir a regra. A constituição em si não foi obedecida, como alguns pregaram. Ela foi desrespeitada. Mas, como se lá fala do impeachment? Fala, mas este só pode ocorrer se comprovado crime contra a administração pública, crime de responsabilidade fiscal. E nesse caso não houve.

Não é meu objetivo apresentar aqui os argumentos técnicos e jurídicos do afastamento da presidenta Dilma, pois acredito que já repeti muito em outras oportunidades. Tão pouco quero aqui me aventurar mencionado nomes e mais nomes dos autores e atores do golpe. Sim, atores. Porque a novela que eles criaram com narrativas que não refletem a realidade e portando a vontade popular entrará para os livros de história como uma farsa para distrair atenção do eleitorado e construir uma cena política onde eles e elas junto a partes da mídia conservadora possam usufruir do suor de agricultores, agricultoras, negro, negras, indígenas, homossexuais e outros setores marginalizados. Esses grupos sociais serão sem dúvidas os que mais sofrerão com as ações desse governo que ora usurpou sem nenhum pudor o cargo que a ele não foi delegado.

Sempre fui um crítico do governo Dilma. Foi minha candidata no segundo turno e sempre fui admirador das boas ideias das políticas de inclusão social implementada na sua gestão, mas ao mesmo tempo um crítico ferrenho daquelas ações que em nada contribui para desmarginalizar os sempre à margem do poder, mas que tão somente reforçava a política do mais do mesmo. Fui sempre contra a sua falta de ação para realizar as tão sonhadas reformas de base, como a política e a agrária. Mas, nesse caso, eu estou ao lado da justiça. Estou ao lado da democracia e do cumprimento da constituição. Não há terceira via aqui. Há o lado dos querem o bem comum e o lado dos que querem voltar ao poder a qualquer custo, nem que para isso a vontade popular não seja obedecida.

É ora de lastimar mais um golpe no Brasil. Mas é ora também de resistir e não reconhecer esse governo que ai está. É ora de juntarmos forças e irmos à luta. É ora do povo acordar e participar mais da vida política do seu país. Afinal de contas, quem nos representa importa muito.

Conjunto de imagens de atos de resistência ao golpe/divulgação.







Pós GOLPE PARLAMENTAR, Dilma fala ao povo brasileiro. Confira o pronunciamento na íntegra



A presidenta Dilma Rousseff afirmou nesta quarta-feira (31), em pronunciamento à imprensa e à Nação, que irá recorrer em todas as instâncias contra a fraude do impeachment sem crime de responsabilidade, aprovado pelo Sendo Federal.
Publicado originalmente no seu portal

De acordo com Dilma, trata-se de uma inequívoca eleição indireta, em que “XX senadores substituem a vontade expressa por 54,5 milhões de votos”. A presidenta disse ainda que a os senadores que aprovaram o impeachment rasgaram a Constituição Federal.


Decidiram pela interrupção do mandato de uma presidenta que não cometeu crime de responsabilidade. Condenaram uma inocente e consumaram um golpe parlamentar,” disse.

A interrupção do projeto nacional progressista, inclusivo e democrático que representa não será definitiva, garantiu Dilma. “Nós voltaremos. Voltaremos para continuar nossa jornada rumo a um Brasil em que o povo é soberano.”

A união do campo progressista é sugerida pela presidenta: “espero que saibamos nos unir em defesa de causas comuns a todos os progressistas, independentemente de filiação partidária ou posição política.”


 “Proponho que lutemos, todos juntos, contra o retrocesso, contra a agenda conservadora, contra a extinção de direitos, pela soberania nacional e pelo restabelecimento pleno da democracia.”


Confira a íntegra do pronunciamento:







Globo comemora resultado do impeachment e apaga postagem



Um vídeo antigo no youtube fazia uma memória das posições da igreja diante diversos absurdos históricos. O vídeo terminava justamente perguntando quanto tempo a igreja católica demoraria a pedir desculpas pelas vítimas da AIDS — numa alusão à proibição do uso de preservativos.

O Brasil assistiu a diversos editoriais — inclusive na rede Globo — que pediram desculpas ao país pelo apoio à ditadura militar. A folha de São Paulo — assim mesmo, com minúsculas — pediu desculpas e depois escancarou "ditabranda" em suas páginas. Depois, novo pedido de desculpas.

Em meio ao processo de impeachment, a mesma folha, bem como diversos outros veículos de comunicação, aceitaram, em suas páginas na internet e nos impressos, o dinheiro da FIESP, ao estampar gigantescos patos amarelos — aquele pato, roubado de um holandês — em meio ao noticiário que — eles — dizem ser imparciais.

Enquanto isso, nas ruas, um fotógrafo perde um olho devido a um tiro de bala de borracha da PM paulistana. E é condenado por isso — o termo jurídico não é condenado, o termo correto, sim. A mesma folha, ao ter uma fotógrafa atingida fez editoral considerando abusiva a postura da polícia de Alckmin.

A mesma polícia que ontem (30 de julho de 2016) protegia com escudos e bombas e balas e porretes, a sede do outrora "Folha da Manhã".

O Estadão, imparcial que só ele, foi além. Em editorial publicado hoje "O fim do torpor" afirma que a "a consciência crítica da nação ficou anestesiada" durante os anos de governo do PT. Nem Magno Malta, senador da mais bizarra oposição ao governo — capaz de citar os 10 mandamentos se preciso for, para promulgar uma lei — foi tão longe. Ontem, em seu pronunciamento dizia que o país melhorou muito nos anos de Lula e Dilma, que só um imbecil não via isso, ainda que atribuísse os ganhos sociais ao PSDB. #FicaADica para o jornal.

Pois hoje o jornal O Globo — ou seu estagiário — momentos após o resultado da votação do impeachment — que é golpe — tuitou uma singela bandeira do Brasil. Discreto, mas bastante simbólico da luta de classes que está colocada no país. Os "brasileiros" — que apoiam e já começaram (ontem mesmo, na Câmara dos Deputados) a venda da maior estatal nacional — contra os bolivarianos, comunistas, petralhas do Foro de São Paulo.

O processo iniciado com a chantagem de Cunha teve e terá sempre o apoio das organizações de mídia. Não apenas pelo dinheiro que será injetado em propagandas, mas também com o final da CLT, uma das maiores preocupações das grandes empresas, sobretudo as jornalísticas, onde repórteres e fotógrafos não têm direitos, são todos "pessoas jurídicas", porque o anúncio que paga o dono do jornal, não comporta — em seu lucro — os direitos de quem propaga ao público deturpações da realidade nacional.

E nessa toada seguimos, nós da mídia independente, cada vez mais criminalizados, cada vez mais marginalizados e cada vez com mais credibilidade, alcance e importância.

Porque informação não tem preço. Produto sim.

Quanto tempo a mídia nacional vai demorar a pedir desculpas desta vez?


Impeachment: assalto a vontade soberana popular é confirmada por 61 votos



Por 61 a 20, o plenário do Senado acaba de decidir pelo impeachment de Dilma Rousseff. Não houve abstenção. A posse de Temer ocorrerá ainda hoje (31).

O resultado foi comemorado com aplausos por aliados do presidente interino Michel Temer, que cantaram o Hino Nacional. O resultado foi proclamado pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, que comandou o julgamento do processo no Senado, iniciado na última quinta-feira (25). 
Publicado originalmente na Agência Brasil

Agora, os senadores irão decidir se Dilma perde os direitos políticos por oito anos.

Fernando Collor, primeiro presidente eleito por voto direto após a ditadura militar, foi o primeiro chefe de governo brasileiro afastado do poder em um processo de impeachment, em 1992. Com Dilma Rousseff, é a segunda vez que um presidente perde o mandato no mesmo tipo de processo.

Dilma fará uma declaração à imprensa. Senadores aliados da petista estão se dirigindo ao Palácio da Alvorada para acompanhar o pronunciamento de Dilma.

Julgamento

A fase final de julgamento começou na última quinta-feira (25) e se arrastou até hoje com a manifestação da própria representada, além da fala de senadores, testemunhas e dos advogados das duas partes. Nesse último dia, o ministro Ricardo Lewandowski leu um relatório resumido elencando provas e os principais argumentos apresentados ao longo do processo pela acusação e defesa. Quatro senadores escolhidos por cada um dos lados – Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP), pela defesa, e Ronaldo Caiado (DEM-GO) e Ana Amélia (PP-RS), pela acusação – encaminharam a votação que ocorreu de forma nominal, em painel eletrônico.

Histórico

O processo de impeachment começou a tramitar no início de dezembro de 2015, quando o então presidente da Câmara dos Deputados e um dos maiores adversários políticos de Dilma, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), aceitou a peça apresentada pelos advogados Miguel Reale Jr., Janaína Paschoal e Hélio Bicudo.

No pedido, os três autores acusaram Dilma de ter cometido crime de responsabilidade fiscal e elencaram fatos de anos anteriores, mas o processo teve andamento apenas com as denúncias relativas a 2015. Na Câmara, a admissibilidade do processo foi aprovada em abril e enviado ao Senado, onde foi analisada por uma comissão especia, onde foi aprovado relatório do senador Antonio Anastasia (PMDB-MG) a favor do afastamento definitivo da presidenta.

Entre as acusações as quais Dilma foi julgada estavam a edição de três decretos de crédito suplementares sem a autorização do Legislativo e em desacordo com a meta fiscal que vigorava na época, e as operações que ficaram conhecidas como pedaladas fiscais, que tratavam-se de atrasos no repasse de recursos do Tesouro aos bancos públicos responsáveis pelo pagamento de benefícios sociais, como o Plano Safra.


31 de agosto de 2016: o dia do GOLPE


Neste 31 de agosto de 16 o Brasil viverá o velório de mais um dos seus períodos democráticos. Não é novidade por aqui que a história se realize de golpes em golpes. A Independência de Portugal já foi uma farsa de um auto-golpe, dado pelo filho de um império que recebeu vultuosa quantia para "aceitar" o golpe. Outras tantos viriam depois, alguns celebrados outros nem tanto.

Publicado originalmente no Brasil 247

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Cada golpe vai entrando para a história de um jeito. Em geral, o que os define são as suas características menos sutis.

O golpe 16 já começou a ter a sua história contada. E com exceção da mídia local, já começa a ser tratado no mundo e pelos veículos independentes do Brasil como aquele em que uma presidente honesta foi condenada por um bando.

Por uma corja de corruptos que temia ser presa e que, nas palavras do senador Romero Jucá, um dos que articula a deposição de Dilma e que irá julgar a presidenta hoje, precisava se concretizar para "estancar a sangria". Ou seja, acabar com a Operação Lava Jato.

O golpe 16 também será contado como aquele que se realizou porque após uma disputa eleitoral dura em 14, a elite não aceitou a derrota. E preferiu apostar todas as suas fichas na desestabilização do governo do que esperar 2018. Por calcular que a economia poderia melhorar lá na frente e Lula vir a vencer mais uma eleição.

O golpe 16 ainda tende a ser lembrado como aquele que levou o Brasil a entregar o Pré-Sal, a privatizar empresas estratégicas, a mudar sua lei trabalhista, a fazer a reforma mais dura da Previdência e a criminalizar os movimentos sociais como nas mais retintas ditaduras.

Não será um tempo bom o que virá. Muito pelo contrário. Mas ainda não é possível saber quanto esse tempo durará.

Pode ser bem menos do que o mais otimista dos defensores de Dilma imagine neste momento. Até porque a história se move hoje em velocidade de milhões de bytes. E não mais nem na dinâmica da carroça ou na do relógio de pulso.

E se o poder tem o controle digital das nossas vidas, o contrapoder também se articula em potentes sub-redes de milhões de pontos distribuídos. E pode transformar o que parece desorganização numa imensa tsunami de resistência.

É ainda cedo, muito cedo, para prognósticos.

Mas a narrativa da injustiça contra Dilma já parece se consolidar numa velocidade pouco previsível. E as palavras canalhas e golpistas também parecem se tornar indissociáveis dos seus algozes.

O tempo, senhor da razão, não perdoa.

Ele passa como uma avalanche pelas nossas vidas, marca nossos rostos, mãos, temperamentos e biografias. Ele conhece cada um dos nossos acertos e erros. E nos impõe vitórias e derrotas diárias.

Dilma não tem como vencer a disputa de hoje no Senado. Ela sofrerá o impeachment. Mas isso talvez faça parte da história épica de sua vida. Que nunca foi lírica. E sua passagem pela presidência, olhando para o tempo, não poderia ser diferente.

Ao fim, como nos clássicos épicos, Dilma terá o destino pelo qual lutou reconhecido. E seus algozes de hoje cairão um a um. ´

Se uma certeza parece aflorar deste julgamento é que o deputados e senadores que estão caçando Dilma não resistirão às marcas que o tempo lhes imprimirá. Eles já estão em processo histórico de condenação e humilhação moral. E talvez em quantidade de meses muito pequena, quando ouvirem canalhas, agradecerão. Será quase um elogio perto do que virá.


De defensor da educação a traidor do povo brasileiro. Esse é Cristovam Buarque



Este é o segundo artigo, de uma série de três, com o objetivo de contestar os argumentos do senador Cristovam Buarque (PPS-DF) em defesa do impeachment. Os artigos têm como base a entrevista de Cristovam publicada no Jornal Correio Braziliense no último dia 11 de agosto.

Na entrevista, Cristovam justifica o apoio ao impeachment de Dilma, dizendo que o processo não representa um golpe, pois "... não viu nenhum tanque nas ruas, não viu o fechamento do Congresso, ninguém ser exilado...". Finge ignorar que as instituições democráticas brasileiras foram capturadas por uma coalizão conservadora que não engoliu as quatro derrotas consecutivas nas últimas eleições.

Publicado originalmente no Brasil 247

Convenhamos que para alguém que se diz um educador, membro da "intelligentsia" brasileira e que já foi reitor da Universidade de Brasília, se prender a uma interpretação literal, caricata e tão reducionista de um golpe, é puro cinismo ou má-fé.

O senador argumenta que é necessário virar a página do governo Dilma, que isso seria bom, inclusive, para a presidenta afastada. E vai adiante ao considerar que "Dilma deve ter com todo o sentimento histórico que ela tem, ficar na biografia da guerrilheira heroica e presidente de Estado destituída do que de guerrilheira heroica e presidente fracassada". O senador chega a comparar o eventual fracasso do retorno de Dilma ao governo, ao de João Goulart, que, embora golpeado pelos militares, entrou para a história como um fracassado "querido, respeitado e admirado".

Cristovam tem a ousadia e a arrogância de dizer que vota no impeachment em nome da biografia de Dilma Rousseff, que com esse gesto altruísta estaria fazendo um bem para Dilma e para o Brasil, insinuando que não seria mal negócio para a presidenta privilegiar sua trajetória pessoal em detrimento da democracia.

Quem conhece a trajetória da presidenta Dilma sabe que ela jamais abriria mão da luta democrática, jamais mancharia sua história pessoal, colocando sua biografia acima dos interesses do povo brasileiro e dos valores democráticos.

Estamos falando da primeira mulher presidenta da República, que traz na pele e na alma as marcas de quem enfrentou de forma altiva e corajosa as salas escuras da tortura. De uma mulher que não se curvou diante de uma ditadura que maculou, por 21 anos, a história brasileira.

Essa mesma mulher guerreira e honrada que enfrentou os tanques, as botas e baionetas, enfrenta, agora, com a mesma força e coragem, um golpe parlamentar disfarçado de impeachment, capitaneado por parlamentares corruptos.

De forma absolutamente equivocada, Cristovam acha que pode medir Dilma pela sua própria régua. Mas não pode. Primeiro, porque Dilma não estava num exílio dourado na Europa nos anos mais sombrios do regime militar. Ao contrário, ela dedicou os melhores anos de sua juventude para enfrentar uma ditadura cruel e sangrenta, que penalizava com prisão, tortura e morte aqueles que ousavam lutar por democracia. Segundo, porque Dilma jamais trocaria sua biografia por meros interesses individuais de ocasião.

Portanto, ao invés de se preocupar com a biografia que Dilma deixará para as futuras gerações, Cristovam deveria se preocupar com a sua própria biografia. Ao defender de forma tão cínica a quebra da legalidade democrática, o senador reserva o seu lugar na galeria dos golpistas, que, movidos por interesses escusos, passarão para a história como traidores povo brasileiro.

Cabe ainda perguntar qual o sentido de fracasso para Cristovam? Em que aspectos o senador considera o governo Dilma fracassado?

Parece que Cristovam esqueceu por completo a memória de Darcy Ribeiro, quando este último afirmou: "Fracassei em tudo o que tentei na vida. Mas os fracassos são minhas vitórias. Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu". Cristovam que noutras épocas já perfilou ombro a ombro com os "fracassados", hoje, prefere estar ao lado dos "vencedores". Uma lástima!

O senador se equivoca também ao dizer que está "convencido de que o PT deseja o impeachment de Dilma" com o intuito de se beneficiar com a narrativa do golpe. Apesar de ter sido filiado ao PT, partido ao qual deve as eleições para o governo do Distrito Federal e para o Senado, demonstra, com essa afirmação, que desconhece o partido. O PT nasceu enfrentando a ditadura, tem em sua gênese a luta pela liberdade democrática, uma trajetória que se confunde com a história recente das conquistas de direitos sociais e trabalhistas. Portanto, não negociaria a democracia em nome de interesses meramente eleitorais.

Cristovam tem adotado a estratégia de dar sinais trocados. Reconhece que sua opção pelo golpe é extremamente desconfortável. De um lado, não garante assento entre os conservadores de plantão. Do outro, trai covardemente o voto de confiança que lhe foi concedido por parte de seus eleitores e aliados históricos.

Por isso, em um dado momento da entrevista, manifesta preocupação em relação aos desdobramentos do golpe para a disputa presidencial de 2018. Diz que acha possível uma ruptura, só que a coisa nova pode ser ainda pior que a atual.

"Pode surgir um milagreiro... tem cretinos por aí que querem aproveitar e entrar. Tem gente que defende a tortura, tem gente que defende proibir partidos na escola, tem uma direita que pode ser muito pior do que o que está aí".

No entanto, o senador desconsidera que ao pactuar com o golpismo está abraçando aqueles que ele chama de cretinos. Desconsidera que, ao embarcar na aventura golpista, dá as mãos a figuras como Eduardo Cunha, grande líder dos conservadores, dos defensores da tortura, do Programa Escola Sem Partido. O fundamentalismo religioso, patrimonialista e punitivista, articulado por Cunha na Câmara, está na genealogia desse golpe. Ao votar favoravelmente ao impeachment, o senador confere mais poder político aos que ele classifica como cretinos.

O senador finge ignorar, ainda, que caso Dilma seja definitivamente afastada não assume o novo. Ao contrário, assume a velha e enxovalhada forma de fazer política das elites que sempre governaram este País, que busca a todo custo manter o status quo, os privilégios de uma minoria em detrimento da democracia, "mãe" de todos os direitos.

Estamos falando de um pacto das elites, urdido no subterrâneo da legalidade democrática, que objetiva, entre outras coisas, livrar corruptos da justiça, se apoderar do Estado para saquear os recursos públicos, promover o desmonte dos direitos sociais e trabalhistas, atacar a soberania nacional e submeter o Brasil aos ditames do deus mercado e aos interesses especulativos de banqueiros e rentistas.

Por isso mesmo, não deixa de causar alguma surpresa o adesismo de Cristovam ao golpe. Como alguém que tem a pretensão de ser reconhecido no Brasil e no mundo como um defensor da educação – pode votar a favor de um impeachment absolutamente ilegal e ilegítimo, que visa à destituição de uma presidenta eleita democraticamente pelos votos de 54 milhões de brasileiros, para colocar no poder um governo que, sob o discurso retórico de promover o ajuste fiscal, tem como principal objetivo a supressão de direitos da população brasileira; cassar direitos dos trabalhadores, substituindo o legislado pelo negociado; entregar o petróleo - incluindo o pré-sal - e outras riquezas nacionais ao capital estrangeiro; a demissão de servidores e a terceirização dos serviços públicos; acabar com o SUS, com as universidades públicas e com outros programas de acesso à educação; a privatização das empresas estatais; a supressão dos programas sociais de redução da pobreza e de combate à exclusão social; entre tantas outras propostas de retrocesso social e de desmonte do Estado? Trata-se do retorno da velha cantilena neoliberal, do imperativo de precarizar para privatizar.

Não à toa, a principal matéria do governo golpista enviada ao Congresso Nacional é a PEC 241/2016 que pretende instituir um "novo" Regime Fiscal para a União. A proposta congela, por 20 anos, investimentos em políticas públicas fundamentais como saúde e educação. Para que se tenha uma idéia do que essa proposta significa, basta dizer que, segundo estimativas preliminares de especialistas em políticas sociais e de entidades representativas de gestores governamentais, se a PEC for aprovada neste ano, no período de 2017-2025, haverá uma redução, de mais de R$ 300,0 bilhões nos recursos públicos federais destinados apenas às áreas da Educação, Saúde e Assistência Social, na proporção de 17%, 47% e 36%, respectivamente.

Ao propor essa PEC, o governo golpista assume que, além de rasgar a Constituição, irá rasgar também o Plano Nacional de Educação (PNE). Isso porque, o congelamento de recursos para o setor significa inviabilizar o cumprimento das metas e estratégias definidas no Plano.

Metas que envolvem números grandiosos, a exemplo, da criação de 3,4 milhões de matrículas em creches, 700 mil na pré-escola, 500 mil no Ensino Fundamental, 1,6 milhão no Ensino Médio e cerca de 2 milhões no Ensino Superior público. Ou seja, ao propor a drástica redução das despesas da União na área da educação, para citar apenas um exemplo, o governo golpista assume que não irá cumprir a Lei.

Diante do exposto, fica, pois, a dúvida: qual será a nova bandeira a ser empunhada pelo senador Cristovam em sua vida pública, pois será impossível votar a favor do golpe e ao mesmo tempo querer assumir o discurso de defensor da educação.