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Estudantes da EEMTI Padre Luís Filgueiras, em Nova Olinda-CE, durante evento sobre educação antirracista. (FOTO |Professor Nicolau Neto). |
Vinte e dois anos após a promulgação da Lei do Ensino da História e Cultura Afro-Brasileira, menos de 40% dos municípios institucionalizaram a obrigatoriedade nas escolas. Os dados são referentes a 2024 e fazem parte do levantamento realizado pela Política Nacional de Equidade, Educação para as Relações Étnico-Raciais e Educação Escolar Quilombola (Pneerq).
A
legislação mudou pontos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) com
objetivo de garantir o reconhecimento do papel da população negra na formação
social, econômica e política cultural do Brasil. Embora seja obrigatória tanto
para escolas públicas quanto particulares em todo o território nacional, ela
ainda está distante do cotidiano da maioria das instituições.
Em
entrevista ao Brasil de Fato, a pedagoga e doutora em educação, Mônica
Sacramento, coordenadora programática da ONG Criola, afirma que o principal
obstáculo para implementação efetiva da lei é justamente o racismo estrutural,
realidade da sociedade brasileira que a norma tenta combater.
"É uma lei, há 22 anos promulgada, com
resoluções, com diretrizes, com um bom número de material produzido. Em 22 anos
se fez muito para suprir as lacunas identificadas lá em 2003. Então, essa
dificuldade de incorporação é creditável ao racismo institucional. Existe, de
fato, há 22 anos um conjunto muito grande de materiais, de estudos, de
pesquisa, de documentação, de ferramentas pedagógicas e, até hoje, as pessoas
dizem que não estão preparadas, que não sabem abordar esse assunto.”
Um
artigo recente, de autoria dos especialistas em direito do consumidor Jonas
Sales Fernandes da Silva e Igor Rodrigues Britto, afirma que a não adequação
das instituições à lei, pode gerar questionamentos. Os dois juristas são
ligados ao Instituto Brasileiro de Política e Direito do Consumidor (Brasilcon)
e ao Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) e publicaram o texto no site
especializado Conjur.
Os
autores argumentam que a ligação entre estudantes e escolas privadas configura
uma relação de consumo. Portanto, o descumprimento da legislação pode ser
denunciado aos Procons, por exemplo. Além disso, a prestação do serviço deve
implicar uma alta carga de regulação por parte do poder público. Nesse
contexto, as escolas têm obrigação de garantir que seu conteúdo cumpra as
exigências legais.
Na
conversa com o Brasil de Fato, Mônica Sacramento ressalta que, tanto nas instituições
privadas quanto públicas, é preciso inserir o tema no cotidiano das gestões
como uma preocupação constante. “Sem
isso, ou não será feito ou será feito como algo que é quase que um uma
corruptela da lei. Serão tratados aspectos folclóricos. Isso não é o que está
posto na lei. A lei fala da compreensão e da introdução da cultura afrobrasileira
nos currículos escolares.”
Para
a especialista, é urgente que cidadãos e cidadãs compreendam a realidade
social, o passado histórico e os conflitos sociais que estão postos no Brasil,
a partir da percepção do racismo. “Isso
requer um compromisso ético e político de cada brasileiro e de cada brasileira
com a resolução de um problema histórico. Não é uma questão de culpabilizar ou
responsabilizar, mas uma convocação à ética política, àquilo que enxergamos
como potencial para a democracia brasileira.”
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Publicado
originalmente no Brasil de Fato
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