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(FOTO | Reprodução). |
Alexandre Lucas, Colunista
Parei.
Os carros se cruzam, levando destinos. São sete horas. Sete horas e uma
escadaria. A menina apressada desce os degraus, ainda lembra de recolher
flores, no pé da calçada que não anda. Desaparece, entra pela porta azul, lá
dentro tem várias salas, todas podem ser prisão com requintes de tortura, mas tem
momentos de sonhos e de voo.
Prisioneira
ou voadora, já não sei, apenas vi a menina passando apressada e carregada com algumas
flores, nada mais sei.
Tudo
está em movimento: os carros, a menina e eu me achando parada no tempo. O horizonte é um redemoinho.
Ando.
Os seios comprimidos pela censura. Vontade de picotar o sutiã e decretar a
liberdade dos meus volumes. O salto alto me cansa, quero ter a altura das
minhas utopias, mas o mercado sempre insiste com suas plataformas.
Anoto
no caderno a lista de coisas que não se compra, mas parece que tudo está à
venda: o terreno no céu, as bênçãos e a delicadeza da atendente da loja que usa
o mesmo ritual para todas as clientes: o mesmo volume de sorrisos e as mesmas
composições de palavras.
Agora sentada no pé da calçada que já não tem flores. Lembro-me da menina que não vejo sair pela porta azul e fico me perguntando se não existem outras portas.
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