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Guilherme Boulos. (Foto: Divulgação/ Twitter). |
Tenho
dito sempre que as eleições de outubro não são a saída para a crise ou o
caminho para a reversão do golpe. As classes dominantes brasileiras têm deixado
claro que não vão se deter por algo tão pequeno quanto a expressão de uma
vontade popular por meio do voto. Nenhuma mudança virá da decisão de um
presidente eleito, por melhor que seja ele, se não houver capacidade de
sustentá-la com mobilização social. A luta política tem que ser pensada para
além das eleições ou do parlamento.
Isso
não quer dizer que as eleições sejam irrelevantes.
O
pleito marcado para outubro, caso ocorra conforme está sendo desenhado,
possuirá baixíssima legitimidade. Uma eleição em que o candidato favorito é
arbitrariamente excluído da disputa não é capaz de gerar um governante
legítimo. Nem por isso, boicotar as eleições é uma opção. Se tivéssemos força
para organizar um boicote significativo, certamente não estaríamos na situação
em que nos encontramos. É melhor aproveitar a oportunidade que a disputa
eleitoral dá para apresentar narrativas diferentes, gerar educação política,
mobilizar e apontar caminhos para a organização popular.
O
melhor candidato para cumprir este papel, no momento, é Guilherme Boulos.
A
luta pela liberdade do presidente Lula e por seu direito de se candidatar é
prioridade para todos os democratas. Trata-se de combater o Estado de exceção e
a criminalização da esquerda. Isso não obriga, no entanto, a aderir ao projeto
político que Lula encarna. A experiência do PT no governo teve méritos
inegáveis: é preciso muita arrogância ou insensibilidade para não ver a
importância da retirada de milhões de pessoas da miséria. Mas também teve
limites profundos, por sua recusa a qualquer enfrentamento com os dominantes.
Se a prudência podia justificar esse comportamento no início, cabe perguntar
por que não se trabalhou no sentido de gerar as condições de dar mais passos
adiante.
O
golpe de 2016 mostrou como a desmobilização, que foi parte essencial do pacto
lulista, cobra um preço alto quando a direita endurece suas posições. Mostrou
que a ausência de enfrentamento não supera as contradições, apenas adia a hora
em que elas emergem. E mostrou também que, mesmo que se quisesse reeditar o
pacto, as condições para tal estão esgotadas. É preciso de um projeto novo para
a esquerda brasileira.
Guilherme
Boulos não é a encarnação deste projeto, até porque o projeto não está pronto.
Mas encarna a disposição de construí-lo, de forma aberta e em diálogo com os
movimentos sociais. Sempre foi uma voz lúcida no debate político no Brasil, tem
firmeza de posições sem cair no dogmatismo e sabe fazer política a partir de
baixo, sem reduzi-la ao jogo eleitoral. Sua companheira de chapa, Sônia
Guajajara, também com trajetória de liderança popular, acrescenta a preocupação
central com o meio ambiente, item em que o registro da experiência petista é
particularmente fraco, numa chave claramente (para não se confundir com alguma
Marina Silva) ecossocialista.
Para
além dos votos que obtenham e do fortalecimento da bancada do PSOL no
Congresso, é importante que as vozes de Boulos e Guajajara se façam ouvir na
campanha eleitoral, qualificando o debate e contribuindo para uma luta que,
eles sabem, vai muito além de outubro. (Por
Luis Felipe Miguel, professor da UnB, no DCM).
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